segunda-feira, 24 de março de 2014

SÓCRATES VÍTIMA DE CILADA



REGRAS ALTERADAS COM O JOGO A DECORRER
José Sócrates entrevistado por Rodrigues dos Santos

 

Mal ou bem – e a nosso ver mal – as televisões enveredaram pelo comentário político da autoria de antigos responsáveis políticos que estabelecem a agenda dos assuntos a tratar em cada semana limitando-se o representante da televisão a fazer a passagem de um assunto para o outro com perguntas mais ou menos simbólicas.

No fundo, trata-se de atribuir aos dois maiores partidos, principalmente ao PSD, um assinalável tempo de antena relativamente aos demais, escondendo-se a voz partidária sob a capa de uma pretensa independência de juízo, como se essas personalidades investidas no papel de comentadores adquirissem por essa razão uma distanciação relativamente aos partidos a que pertencem e deixassem no essencial de pensar dentro dos quadros e dos interesses estratégicos dos respectivos partidos. Isso não significa que não possa acontecer – e às vezes acontece - que alguns desses comentadores não tenham divergências com os partidos a que pertencem ou, em alguns casos, não tenham até uma agenda política própria, que os leva naturalmente a marcar as respectivas distâncias relativamente à linha oficial sem contudo deixarem de neles estar inseridos.

Como se sabe, entre os comentadores, que já desempenharam importantes funções políticas e que em solilóquio nos dão semanalmente a sua opinião sobre os assuntos da actualidade, estão: Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Morais Sarmento, Augusto Santos Silva, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Francisco Louçã e José Sócrates. Pelos nomes indicados, também logo se fica a saber como é entendida pelas televisões a pluralidade de opiniões…

Estes comentadores têm um espaço televisivo semanal para, como antes se disse, comentarem os acontecimentos da actualidade. Se eles fossem à televisão para serem interrogados ou entrevistados sobre os actos que praticaram como governantes a sua participação ficaria esgotada ao fim de uma sessão, no máximo de duas e o programa deixaria de ser de comentário político para passar a ser qualquer outra coisa, já que não faria sentido manter vários programas semanais com os mesmos intervenientes para permanentemente  estar a comparar o que cada um deles fez com o que agora defende. Ninguém está agora muito interessado em escalpelizar o que, por exemplo, Bagão Félix fez ou deixou de fazer como Ministro das Finanças para depois comparar o resultado dessa pesquisa com o que ele agora defende. Ninguém excepto porventura o Governo que pode estar interessado em o desacreditar como comentador cotejando permanentemente as posições que agora defende com os actos que praticou ou as posições que defendeu enquanto governante.

A alteração do formato do programa sem aviso prévio, transformando-o numa contundente acusação contra o comentador que passa de um momento para o outro a entrevistado/acusado só pode interpretar-se como um “frete”, um vergonhoso “frete”, que alguém sob a capa de jornalista se propôs fazer ao Governo provavelmente a troco de alguma vantagem, já que não é crível que quem na vida política actue com um mínimo de moralidade, com o "chamado mínimo ético", tome a iniciativa de alterar de uma semana para a outra a natureza de um programa, transformando-o num libelo acusatório contra o comentador, sem que este tivesse sido previamente avisado.

A esta completa ausência de ética na profissão de jornalista, a esta violação do “mínimo ético”, assistiu-se ontem na RTP quando o habitual comentário semanal de José Sócrates foi inopinadamente transformado pelo “entrevistador de serviço” numa permanente acusação à sua personalidade e ao seu carácter.  

Não está de forma alguma em causa a condenação deste “exercício” contra José Sócrates ou contra qualquer outro comentador em espaço próprio. O que está em causa é que se transforme um espaço de comentário político da responsabilidade do comentador num tempo de antena contra o próprio comentador por alteração, à falsa fé, sem aviso prévio, das regras que até então regiam esse espaço, procurando-se mediante a apresentação de declarações políticas avulsas e descontextualizadas colocar o comentador na obrigação de se defender de actos pelos quais até já foi politicamente “julgado”.

Esse frete ao Governo esteve uma vez mais a cargo de um conhecido porta-voz da direita reaccionária que ainda há bem pouco tempo teve oportunidade de demonstrar os “critérios jornalísticos” que guiam a sua acção na RTP. Ele é exactamente o mesmo que ainda há dias na Ucrânia apoiou o bando nazi-fascista que domina o poder em Kiev, branqueando a natureza política do poder em exercício, escamoteando factos essenciais à compreensão da situação e dando uma imagem propositadamente deturpada da realidade política ucraniana.

O episódio ontem ocorrido na RTP não é relevante pelos incómodos que possa ter causado ao comentador, já que ele tem experiência política suficiente para não se deixar enredar pelas artimanhas do “pivot”, mas apenas e só pela personalidade perversa que indiscutivelmente revela – a mesma personalidade que antes da reaparição de Sócrates nos écrans de televisão apresentou em peça autónoma, passada imediatamente antes da entrevista, um longo e faccioso libelo acusatório contra o entrevistando e a mesma personalidade que ainda recentemente, sob a capa de falso repórter, pretendeu transmitir aos portugueses durante vários dias uma imagem deturpada da situação política ucraniana. E poderia ainda acrescentar-se a mesma personalidade que nunca na televisão perdeu a oportunidade de bajular os político de direita ou os "seus patrões" sempre que lhe cabe a vez de os entrevistar.

9 comentários:

  1. Ingénuos! Alguém pensou que o JRS deixaria de ser solidário com a geração dos retornados que nos governam, sendo ele próprio um deles?

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  2. ~
    ~ Quem é o cobarde rato de Lisboa que com tal aproveitamento torpe, insulta retornados?

    ~ Nunca estive ao lado de JRS, mas pela ordem do seu medíocre raciocínio, Sócrates é um retornado de Paris...

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  3. O Sócrates está ligado ao lado mais sórdido da política nacional: mediocridade (ai a Cova da Beira), tráfico de influências, corrupção, servindo por isso na perfeição os grandes interesses instalados e também, marginalmente, os mais pequenos instalados e a instalar: uns lugarzinhos, uns favorzinhos, umas listazinhas. No esgoto emergiu JRS, qual outra face de Janus. Como quaisquer meretrizes, um e outro ao serviço de quem mais lhes paga em cada momento. É só isso e nada mais.

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  4. Nunca tinha ligado muita à personagem a não ser o permitir-se comentários, gestos e tiques impróprios de que apresenta o principal noticiário de uma estação pública.
    No entanto, as reportagens que fez da Crimeia atingiram o absurdo, o inqualificável desprezo pelos seus destinatários.
    Para além dos comentários absolutamente tendenciosos e partidários e evidentemente mentirosos, atingiu o climax com uma "reportagem" de rua em que recolhe o testemunho de 7 pessoas, supostamente habitantes da capital da Crimeia, e (espantosa coincidêncida!!!) numa população de que ninguém questiona a maioritária tendência, todos, mesmo todos, eram adversários das posições pró-russas, alguns deles com arqumentação de alguma refinação. E isto passa sem qualquer consequência ...
    lg

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  5. Sinceramente não entendo todo este sururu.

    É verdade que a maioria dos comentadores políticos não têm contraditório, pois os jornalistas limitam-se a fazer perguntas préviamente combinadas, mas também é verdade, que o tempo de antena do Socrates , tem muito pouco de comentário politico, e muito de auto-elogio aos seus governos.

    E pelo que já escreveu o José Rodrigues dos Santos, ele até terá almoçado com o Socrates nesse Domingo , e te-lhe-á dito com antecedência, que o iria confrontar com as suas afirmações.

    Sendo assim, é mais uma manobra de vitimização tão cara a Sócrates e aos seus apoiante.

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  6. Muito obrigado pelos comentários, muito especialmente a lg cuja falta se tem feito sentir. Espero que volte para ficar, para satisfação de todos os que o lêem com agrado.

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  7. Que Sócrates é o alvo a abater por toda a direita ninguém duvida.Que grande parte do Ps o teme e detesta,também se sabe. Valha-nos a certeza que o homem Sócrates chega para todos eles e sempre os destrói,dialécticamente,sem falhar uma ocasião.Não me esqueço das monumentais tundas na AR,onde as discussões se assumiam como espectáculos taurinos,onde os adversários eram rabejados para gáudio da assistência. O JRS sofreu o mesmo destino e lá foi para os curros lamber as feridas. Que se console,jogando lá uma suecada com o Cavaco,o Coelho e o Portas e que vá piscando o olho naos forcados...

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  8. Concordo na generalidade com o seu escrito e a tese de ter sido alvo de cilada até a subscrevo... mas das razões da cilada tenho outra perspectiva:

    Quem decide como se manipula são os media e é preciso defender o chamado "arco do poder". Sócrates faz número na avalanche de comentadores desses sectores. Até aí tudo bem, para o cds, psd e ps... Mas depois vem a outra (forte) motivação: as audiências. A RTP1, "chama" Sócrates para concorrer com Marcelo, mas a coisa não corre bem... Havia que fazer qualquer coisa! E aí está toda a gente a comentar o wrestling em que o contendor traiu o jogo combinado. É um bom empurrão para segurar aquele tempo em horário nobre, que estava tão pobre e em queda!

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  9. Não é que tenha grande importância, mas apenas por uma questão de ética, principalmente para quem tanto a apregoa na política: quem copia os títulos do Politeia deve referir a proveniência...

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