REGRAS ALTERADAS COM O
JOGO A DECORRER
Mal ou bem – e a nosso ver mal – as televisões enveredaram
pelo comentário político da autoria de antigos responsáveis políticos que
estabelecem a agenda dos assuntos a tratar em cada semana limitando-se o
representante da televisão a fazer a passagem de um assunto para o outro
com perguntas mais ou menos simbólicas.
No fundo, trata-se de atribuir aos dois maiores partidos,
principalmente ao PSD, um assinalável tempo de antena relativamente aos demais,
escondendo-se a voz partidária sob a capa de uma pretensa independência de juízo,
como se essas personalidades investidas no papel de comentadores adquirissem
por essa razão uma distanciação relativamente aos partidos a que pertencem e
deixassem no essencial de pensar dentro dos quadros e dos interesses
estratégicos dos respectivos partidos. Isso não significa que não possa
acontecer – e às vezes acontece - que alguns desses comentadores não tenham
divergências com os partidos a que pertencem ou, em alguns casos, não tenham
até uma agenda política própria, que os leva naturalmente a marcar as respectivas
distâncias relativamente à linha oficial sem contudo deixarem de neles estar inseridos.
Como se sabe, entre os comentadores, que já desempenharam
importantes funções políticas e
que em solilóquio nos dão semanalmente a sua opinião sobre os assuntos da
actualidade, estão: Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Morais Sarmento,
Augusto Santos Silva, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Francisco Louçã e
José Sócrates. Pelos nomes indicados, também logo se fica a saber como é
entendida pelas televisões a pluralidade de opiniões…
Estes comentadores têm um espaço televisivo semanal para,
como antes se disse, comentarem os acontecimentos da actualidade. Se eles
fossem à televisão para serem interrogados ou entrevistados sobre os actos que
praticaram como governantes a sua participação ficaria esgotada ao fim de uma
sessão, no máximo de duas e o programa deixaria de ser de comentário político
para passar a ser qualquer outra coisa, já que não faria sentido manter vários programas semanais com os mesmos intervenientes para permanentemente estar a comparar o que cada um
deles fez com o que agora defende. Ninguém está agora muito interessado em
escalpelizar o que, por exemplo, Bagão Félix fez ou deixou de fazer como Ministro das
Finanças para depois comparar o resultado dessa pesquisa com o que ele agora defende. Ninguém excepto porventura o Governo que pode estar interessado em o
desacreditar como comentador cotejando permanentemente as posições que agora
defende com os actos que praticou ou as posições que defendeu enquanto
governante.
A alteração do formato do programa sem aviso prévio,
transformando-o numa contundente acusação contra o comentador que passa de um
momento para o outro a entrevistado/acusado só pode interpretar-se como um
“frete”, um vergonhoso “frete”, que alguém sob a capa de jornalista se propôs
fazer ao Governo provavelmente a troco de alguma vantagem, já que não é crível que quem na vida
política actue com um mínimo de moralidade, com o "chamado mínimo ético", tome a
iniciativa de alterar de uma semana para a outra a natureza de um programa,
transformando-o num libelo acusatório contra o comentador, sem que este tivesse sido
previamente avisado.
A esta completa ausência de ética na profissão de jornalista,
a esta violação do “mínimo ético”, assistiu-se ontem na RTP quando o habitual
comentário semanal de José Sócrates foi inopinadamente transformado pelo
“entrevistador de serviço” numa permanente acusação à sua personalidade e ao seu carácter.
Não está de forma alguma em causa a condenação deste
“exercício” contra José Sócrates ou contra qualquer outro comentador em espaço próprio. O que está
em causa é que se transforme um espaço de comentário político da
responsabilidade do comentador num tempo de antena contra o próprio comentador
por alteração, à falsa fé, sem aviso prévio, das regras que até então regiam
esse espaço, procurando-se mediante a apresentação de
declarações políticas avulsas e descontextualizadas colocar o comentador na
obrigação de se defender de actos pelos quais até já foi politicamente “julgado”.
Esse frete ao Governo esteve uma vez mais a cargo de um
conhecido porta-voz da direita reaccionária que ainda há bem pouco tempo teve
oportunidade de demonstrar os “critérios jornalísticos” que guiam a sua acção
na RTP. Ele é exactamente o mesmo que ainda há dias na Ucrânia apoiou o bando
nazi-fascista que domina o poder em Kiev, branqueando a natureza política do
poder em exercício, escamoteando factos essenciais à compreensão da situação
e dando uma imagem propositadamente deturpada da realidade política
ucraniana.
O episódio ontem ocorrido na RTP não é relevante pelos
incómodos que possa ter causado ao comentador, já que ele tem experiência
política suficiente para não se deixar enredar pelas artimanhas do “pivot”, mas
apenas e só pela personalidade perversa que indiscutivelmente revela – a mesma
personalidade que antes da reaparição de Sócrates nos écrans de televisão apresentou
em peça autónoma, passada imediatamente antes da entrevista, um longo e faccioso
libelo acusatório contra o entrevistando e a mesma personalidade que ainda
recentemente, sob a capa de falso repórter, pretendeu transmitir aos
portugueses durante vários dias uma imagem deturpada da situação política ucraniana. E poderia ainda acrescentar-se a mesma personalidade que nunca na televisão perdeu a oportunidade de bajular os político de direita ou os "seus patrões" sempre que lhe cabe a vez de os entrevistar.
Ingénuos! Alguém pensou que o JRS deixaria de ser solidário com a geração dos retornados que nos governam, sendo ele próprio um deles?
ResponderEliminar~
ResponderEliminar~ Quem é o cobarde rato de Lisboa que com tal aproveitamento torpe, insulta retornados?
~ Nunca estive ao lado de JRS, mas pela ordem do seu medíocre raciocínio, Sócrates é um retornado de Paris...
O Sócrates está ligado ao lado mais sórdido da política nacional: mediocridade (ai a Cova da Beira), tráfico de influências, corrupção, servindo por isso na perfeição os grandes interesses instalados e também, marginalmente, os mais pequenos instalados e a instalar: uns lugarzinhos, uns favorzinhos, umas listazinhas. No esgoto emergiu JRS, qual outra face de Janus. Como quaisquer meretrizes, um e outro ao serviço de quem mais lhes paga em cada momento. É só isso e nada mais.
ResponderEliminarNunca tinha ligado muita à personagem a não ser o permitir-se comentários, gestos e tiques impróprios de que apresenta o principal noticiário de uma estação pública.
ResponderEliminarNo entanto, as reportagens que fez da Crimeia atingiram o absurdo, o inqualificável desprezo pelos seus destinatários.
Para além dos comentários absolutamente tendenciosos e partidários e evidentemente mentirosos, atingiu o climax com uma "reportagem" de rua em que recolhe o testemunho de 7 pessoas, supostamente habitantes da capital da Crimeia, e (espantosa coincidêncida!!!) numa população de que ninguém questiona a maioritária tendência, todos, mesmo todos, eram adversários das posições pró-russas, alguns deles com arqumentação de alguma refinação. E isto passa sem qualquer consequência ...
lg
Sinceramente não entendo todo este sururu.
ResponderEliminarÉ verdade que a maioria dos comentadores políticos não têm contraditório, pois os jornalistas limitam-se a fazer perguntas préviamente combinadas, mas também é verdade, que o tempo de antena do Socrates , tem muito pouco de comentário politico, e muito de auto-elogio aos seus governos.
E pelo que já escreveu o José Rodrigues dos Santos, ele até terá almoçado com o Socrates nesse Domingo , e te-lhe-á dito com antecedência, que o iria confrontar com as suas afirmações.
Sendo assim, é mais uma manobra de vitimização tão cara a Sócrates e aos seus apoiante.
Muito obrigado pelos comentários, muito especialmente a lg cuja falta se tem feito sentir. Espero que volte para ficar, para satisfação de todos os que o lêem com agrado.
ResponderEliminarQue Sócrates é o alvo a abater por toda a direita ninguém duvida.Que grande parte do Ps o teme e detesta,também se sabe. Valha-nos a certeza que o homem Sócrates chega para todos eles e sempre os destrói,dialécticamente,sem falhar uma ocasião.Não me esqueço das monumentais tundas na AR,onde as discussões se assumiam como espectáculos taurinos,onde os adversários eram rabejados para gáudio da assistência. O JRS sofreu o mesmo destino e lá foi para os curros lamber as feridas. Que se console,jogando lá uma suecada com o Cavaco,o Coelho e o Portas e que vá piscando o olho naos forcados...
ResponderEliminarConcordo na generalidade com o seu escrito e a tese de ter sido alvo de cilada até a subscrevo... mas das razões da cilada tenho outra perspectiva:
ResponderEliminarQuem decide como se manipula são os media e é preciso defender o chamado "arco do poder". Sócrates faz número na avalanche de comentadores desses sectores. Até aí tudo bem, para o cds, psd e ps... Mas depois vem a outra (forte) motivação: as audiências. A RTP1, "chama" Sócrates para concorrer com Marcelo, mas a coisa não corre bem... Havia que fazer qualquer coisa! E aí está toda a gente a comentar o wrestling em que o contendor traiu o jogo combinado. É um bom empurrão para segurar aquele tempo em horário nobre, que estava tão pobre e em queda!
Não é que tenha grande importância, mas apenas por uma questão de ética, principalmente para quem tanto a apregoa na política: quem copia os títulos do Politeia deve referir a proveniência...
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