sexta-feira, 31 de outubro de 2014

ANTÓNIO COSTA NA QUADRATURA DO CÍRCULO


 

UM SIMPLES APONTAMENTO

Repararam na indignação manifestada ontem à noite por António Costa na Quadratura do Círculo a propósito da gaffe do PM sobre a reposição dos salários? Embora o que se passou no debate parlamentar não tivesse sido assim tão grave como os socialistas o estão a “pintar”, o que interessa agora não é discutir as discrepâncias do PM a propósito da reposição. O que interessa é saber o que fará o PS em 2016 se for governo. Pois sobre isso, Costa, apesar de toda a indignação, não disse nem uma palavra. E no Parlamento o PS fez o mesmo. Mais: Vieira da Silva interpelado directamente por um jornalista sobre o assunto, esquivou-se, uma, duas vezes e, continuando a ser apertado, acabou por dizer que não sabia bem o que o Tribunal Constitucional tinha decidido.

Meus amigos: tudo isto cheira a fraude. O PS não se pronuncia sobre nada do que interessa aos eleitores mantendo-os propositadamente naquele engano auto-induzido em que a maior parte se encontra por força das meias-palavras proferidas durante as primárias e das críticas com que vai acompanhando a governação PSD/CDS.
 
Todas estas questões são da máxima importância porque contendem com a essência da democracia. A democracia representativa não está apenas em crise pela divergência cada vez mais cavada entre o mandato concedido e o mandato exercido, entre a promessa e o cumprimento, está também em crise por via desta nova técnica que consiste  em induzir o eleitor em erro mediante a criação de condições que o levam a supor que o mandatário executará uma política diferente daquela que ele (mandatário) já sabe que vai executar.

Com Seguro, todos sabíamos o que o PS iria fazer: “O PS não tem condições para repor os cortes feitos pelo governo Passos Coelho”. Seria isto que a Nomenklatura do PS reprovava em Seguro?

ADITAMENTO

Informam-me que o PS já tomou posição hoje de manhã sobre este assunto. Vai respeitar a decisão do TC. Mal seria que assim não fosse já que este era um dos tais casos em que estava juridicamente obrigado a actuar contra aquilo que parece ser a opinião do Governo. Mas quanto ao resto, a ambiguidade mantém-se. Este caso foi sublinhado porque era escandaloso o silêncio do PS sobre ele. Vamos esperar que as demais ambiguidades igualmente se dissipem em tempo útil num ou noutro sentido.



 

9 comentários:

  1. O PS já tomou posição, hoje de manhã. Espero que se tenha desfeito o equivoco. Cumprimentos

    http://economico.sapo.pt/noticias/ps-a-reposicao-integral-dos-salarios-e-mesmo-para-2016_205053.html

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  2. Não! O que o PS reprovava em Seguro era este facto: durante 3 anos, não fez outra coisa senão calar-se, senão engolir, senão pactuar, senão ser cúmplice com o discurso anti-PS e anti-Sócrates, por parte deste governo inqualificável.
    O tal governo que em 2011 o PCP acolitou ao altar, por cegueira sectária e oportunismo eleitoral. Que rendeu bem eleitoralmente, como é sabido.
    As eleições estão a um ano e lá chegaremos! Mas até nessa febre de saber o que é que o Costa pensa, e o que é que o Costa diz, e o que é que o Costa vai fazer, há unanimidades com a direita que são vergonhosas!

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  3. Silencioso o povo aprecia o silencio de Costa
    mas um dia a casa vai abaixo

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  4. "até nessa febre de saber o que é que o Costa pensa, e o que é que o Costa diz, e o que é que o Costa vai fazer, há unanimidades com a direita que são vergonhosas!"

    Lá vem o cretinismo militonto e policial.

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  5. Há sempre um xuxalista a querer explicar ao PCP e ao BE como é o que PCP e o BE devem pensar, conceber a sociedade e votar de modo a mantê-los agarradinhos aos lugares de onde despacham as PPP, os Tratados de Lisboa, as Swaps, o endividamento público.

    Nessas cabecinhas, a coisa funciona num modo que nada tem de político, de escolha, ou de democracia mas que em compensação tem tudo de alarva. O PS, o PSD e o CDS-PP vão a votos com programas em muito convergentes. Se o PS ganhar, o BE e o PCP aprovam tudo que eles apresentarem que é para os ajudarem a ser reeleitos e poder manter-se a ordem.

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  6. "A democracia representativa não está apenas em crise pela divergência cada vez mais cavada entre o mandato concedido e o mandato exercido, entre a promessa e o cumprimento, está também em crise por via desta nova técnica que consiste em induzir o eleitor em erro mediante a criação de condições que o levam a supor que o mandatário executará uma política diferente daquela que ele (mandatário) já sabe que vai executar."

    É mesmo isso!

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  7. Rogério Pereira,

    No fundo está a repetir-se (ou quase):

    divergência entre

    A) o mandato concedido e o mandato exercido,

    B) a promessa e o cumprimento

    C) induzir o eleitor em erro mediante a criação de condições que o levam a supor que o mandatário executará uma política diferente daquela que já sabe irá executar.

    Mas pode acresecentar outra sugestão aqui avançada por um comentador crítico e que volta a bater no mesmo: que é omitir o que se vai fazer ou deixar de fazer.

    Nessa democracia de acéfalos ou nessa acefalia democrática, o povo não tem direito a querer saber para ir pensando no assunto a não ser na exacta medida em que o incumbente achar que a tem informação valor estratégico eleitoral.

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  8. O materialismo dialético é a teoria que valorizo.Pedir ao PS que diga, tim tim por tim tim,, o que fará,sem a maioria actual sequer dizer se vai concorrer às eleições coligada parece-me tonteria!

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  9. Isso de não dizer o que se pretende dizer que se fará quando eleito tem pouco de democrático, já que a democracia passa por transparência.

    Os eleitores têm o direito de conhecer as leituras que os partidos fazem da realidade até de modo a que façam curso outras ideias fora do vendido diariamente pelos OCS bem desde os tempos de Sócrates.

    O que não existe no debate público não tem existência real nem se configura como alternativa para os eleitores. quando surgir qualquer coisa, ou a reconhecem (tipo, mais austeridade) ou duvidam dela enquanto solução (menos austeridade).

    De qualquer modo fazer depender o dizer coisas sobre os caminhos da governação do assumir (ou não) pela actual maioria a continuação da actual maioria pode indiciar é a rede de alianças que o PS equaciona.

    Se PSD/CDS-PP forem coligados, o PS não tem parceiros, se forem em separado, pode ter, e aí nem sequer tenta já fazer valer junto da opinião pública aquilo que são os seus princípios e condições de governação.

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