A HIPOCRISIA COMO REGRA DE CONDUTA
O
que é lamentável em toda esta triste história dos “Vistos Gold” é a
hipocrisia com que o assunto é tratado pelo Governo, principalmente por Paulo
Portas, o “pai” e promotor da ideia em Portugal.
A
ideia de vender o direito de residir por uma avultada quantia em
dinheiro já constitui em si um exemplo de corrupção moral e de completa
ausência de escrúpulos, que retira aos responsáveis políticos que a promoveram
ou que a defendem a legitimidade para censurar aqueles que prevaricaram,
aproveitando-se do pântano por eles criado.
Os
"Vistos
Gold" tinham e têm em vista dois objectivos: aliviar os
bancos e os promotores e construtores imobiliários de activos que não
conseguiam transaccionar e simultaneamente fazer entrar no país dinheiro,
qualquer que fosse ou seja a sua proveniência.
A
tese do investimento estrangeiro produtivo é totalmente desmentida pelos factos
(mais de 98% do dinheiro que entrou destinou-se à aquisição de casas de luxo
que estavam sem mercado) e o pretenso controlo da origem do dinheiro não passa
de uma hipócrita tentativa de fazer passar a ideia de que há uma preocupação
ético-jurídica na “venda” do direito de residência no espaço Schengen, como a
simples enumeração dos países donde o dinheiro é proveniente amplamente
comprova.
Este
capitalismo neoliberal de dominante financeira e especulativa, que explora
desapiedadamente os mais fracos e desapossa gradual mas implacavelmente a
classe média que o keynesianismo tinha permitido criar, é de todos o mais
dissimulado e aquele que exige dos que o combatem uma luta sem quartel,
desmascarando-o sem rodeios aos olhos dos que infelizmente continuam a
deixar-se enganar pelas suas mentiras e hipócritas justificações morais.
Toda
a gente sabe que os off
shores legalizados no interior da União Europeia “lavam” dinheiro e recebem
biliões de “dinheiro sujo”, assim como desde há muito todos sabem que o
Luxemburgo e a Irlanda negociavam acordo secretos de tributação fiscal com as
grandes empresas multinacionais neles sediadas. Mas nem por isso deixa de se
encenar um enorme espanto quando no quadro de guerras políticas e de controlo
de influências alguém que está bem por dentro destes “negócios” entrega aos
jornalistas provas inequívocas de comportamentos que já antes esses mesmos, que
agora hipocritamente os reprovam, conheciam e com eles pacificamente conviviam.
Como
também toda a gente sabe que uma parte muito significativa dos biliões que
diariamente alimentam a especulação financeira nas grandes praças da alta
finança mundial não é sujeita a qualquer controlo quanto à sua
proveniência.
Se
não fosse esta hipocrisia intimamente associada ao capitalismo, modernamente
exacerbada pelo capitalismo financeiro e especulativo, a corrupção do género
daquela que agora está sendo investigada em Portugal não existiria. Esta
hipocrisia que faz de conta estar muito preocupada com a origem do dinheiro por
que avidamente anseia e despudoradamente deixa morrer nas margens do
Mediterrâneo dezenas e dezenas de pessoas que pretendem residir na Europa em
busca de uma vida melhor. Se o capitalismo pudesse prescindir dessa imensa e
intrínseca hipocrisia e concedesse os “Vistos
Gold” mediante normas de aplicação vinculada não haveria espaço
para a corrupção, já que a corrupção está sempre associada ao poder
discricionário, neste caso ampliada e favorecida pela dita hipocrisia!
Se
é certo que nada disto serve para jurídica ou moralmente justificar ou
sequer atenuar os comportamentos de que nos últimos dias fomos tendo
conhecimento, serve pelo menos para explicar o contexto em que os mesmos
ocorreram.
Vamos lá ver uma coisa: os prédios foram construidos, pode dizer-se que tem a sua contrapartida divida externa. Então onde esta o pecado de tentar troca-los por dinheiro do exterior? Imagine-se qu o imóvel esta no balanço de um banco: a venda a um chinês equivale a limpar do balanco um activo de realizacao problematica (custos de manutencao degradacao etc) e um passivo gerador de pasados encagos financeiro e nao so.
ResponderEliminarO problema nao esta aqui. Era possivel estimular o negocio sem lhe associar tudo o que se cojnhece, a vigarice a corupcao mmaterial e moral mas era pedir demais para antro de podridao em "isto" se tornou. o
A podridão está nos vistos. Não nas vendas.
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