quarta-feira, 19 de novembro de 2014

OS VISTOS GOLD


 

A HIPOCRISIA COMO REGRA DE CONDUTA

O que é lamentável em toda esta triste história dos “Vistos Gold” é a hipocrisia com que o assunto é tratado pelo Governo, principalmente por Paulo Portas, o “pai” e promotor da ideia em Portugal.

A ideia de vender o direito de residir por uma avultada quantia em dinheiro já constitui em si um exemplo de corrupção moral e de completa ausência de escrúpulos, que retira aos responsáveis políticos que a promoveram ou que a defendem a legitimidade para censurar aqueles que prevaricaram, aproveitando-se do pântano por eles criado.

Os "Vistos Gold" tinham e têm em vista dois objectivos: aliviar os bancos e os promotores e construtores imobiliários de activos que não conseguiam transaccionar e simultaneamente fazer entrar no país dinheiro, qualquer que fosse ou seja a sua proveniência.

A tese do investimento estrangeiro produtivo é totalmente desmentida pelos factos (mais de 98% do dinheiro que entrou destinou-se à aquisição de casas de luxo que estavam sem mercado) e o pretenso controlo da origem do dinheiro não passa de uma hipócrita tentativa de fazer passar a ideia de que há uma preocupação ético-jurídica na “venda” do direito de residência no espaço Schengen, como a simples enumeração dos países donde o dinheiro é proveniente amplamente comprova.

Este capitalismo neoliberal de dominante financeira e especulativa, que explora desapiedadamente os mais fracos e desapossa gradual mas implacavelmente a classe média que o keynesianismo tinha permitido criar, é de todos o mais dissimulado e aquele que exige dos que o combatem uma luta sem quartel, desmascarando-o sem rodeios aos olhos dos que infelizmente continuam a deixar-se enganar pelas suas mentiras e hipócritas justificações morais.

Toda a gente sabe que os off shores legalizados no interior da União Europeia “lavam” dinheiro e recebem biliões de “dinheiro sujo”, assim como desde há muito todos sabem que o Luxemburgo e a Irlanda negociavam acordo secretos de tributação fiscal com as grandes empresas multinacionais neles sediadas. Mas nem por isso deixa de se encenar um enorme espanto quando no quadro de guerras políticas e de controlo de influências alguém que está bem por dentro destes “negócios” entrega aos jornalistas provas inequívocas de comportamentos que já antes esses mesmos, que agora hipocritamente os reprovam, conheciam e com eles pacificamente conviviam.

Como também toda a gente sabe que uma parte muito significativa dos biliões que diariamente alimentam a especulação financeira nas grandes praças da alta finança mundial não é sujeita a qualquer controlo quanto à sua proveniência.

Se não fosse esta hipocrisia intimamente associada ao capitalismo, modernamente exacerbada pelo capitalismo financeiro e especulativo, a corrupção do género daquela que agora está sendo investigada em Portugal não existiria. Esta hipocrisia que faz de conta estar muito preocupada com a origem do dinheiro por que avidamente anseia e despudoradamente deixa morrer nas margens do Mediterrâneo dezenas e dezenas de pessoas que pretendem residir na Europa em busca de uma vida melhor. Se o capitalismo pudesse prescindir dessa imensa e intrínseca hipocrisia e concedesse os “Vistos Gold” mediante normas de aplicação vinculada não haveria espaço para a corrupção, já que a corrupção está sempre associada ao poder discricionário, neste caso ampliada e favorecida pela dita hipocrisia!

Se é certo que nada disto serve para jurídica ou moralmente justificar ou sequer atenuar os comportamentos de que nos últimos dias fomos tendo conhecimento, serve pelo menos para explicar o contexto em que os mesmos ocorreram.

 

 

2 comentários:

  1. Vamos lá ver uma coisa: os prédios foram construidos, pode dizer-se que tem a sua contrapartida divida externa. Então onde esta o pecado de tentar troca-los por dinheiro do exterior? Imagine-se qu o imóvel esta no balanço de um banco: a venda a um chinês equivale a limpar do balanco um activo de realizacao problematica (custos de manutencao degradacao etc) e um passivo gerador de pasados encagos financeiro e nao so.
    O problema nao esta aqui. Era possivel estimular o negocio sem lhe associar tudo o que se cojnhece, a vigarice a corupcao mmaterial e moral mas era pedir demais para antro de podridao em "isto" se tornou. o

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  2. A podridão está nos vistos. Não nas vendas.

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