MAIS UM BREVE
APONTAMENTO
A imprensa espanhola, principalmente a próxima do PSOE, como,
de resto, a portuguesa próxima do PS, não se cansa de dar lições de moral aos
gregos e de criticar o Syriza pela sua actuação. São raríssimas as excepções,
mas não é das excepções que queremos falar, mas sim do que é normal e corrente.
Diz o El Pais de hoje que o “Não” ameaçará a irreversibilidade da moeda única e minará a
credibilidade da União Europeia numa época de crescente euro-cepticismo. Mas
logo acrescenta que a factura será ainda pior para a Grécia, cujo primeiro-ministro
Alexis Tsipras, promotor da consulta e da ruptura de pontes com a Europa, queimou em
seis meses o seu capital político. E traça a seguir um cenário
apocalíptico sobre o futuro da Grécia.
É sobre a parte sublinhada em itálico que gostaríamos de
dizer alguma coisa. Em primeiro lugar, por que razão se afirma que Tsipras
rompeu as pontes com a Europa? Por que não o contrário, conhecidos que são os
relatos das reuniões havidas entre as partes? Porque para os jornalistas desta
corrente quem “rompe as pontes” é quem não aceita os diktats da Europa. E com
que legitimidade se afirma que Tsipras “queimou em seis meses o seu capital
político”? Para responder a esta segunda questão convém demorar mais algum
tempo.
A chegada do Syriza ao poder foi saudada pela esquerda
europeia, foi também saudada por uma direita nacionalista que não aceita a
subserviência a Bruxelas e foi ainda saudada, com algumas reticências, por
alguns partidos socialistas e social-democratas do sul que se encontram na
oposição e que vislumbraram na chegada ao poder do Syriza a possibilidade de os
patrões da Europa fazerem certas concessões aos críticos da austeridade. Logo,
porém, que se começou a ter a certeza de que as exigências dos credores não
abrandavam, pelo contrário, cresciam de tom e de intensidade, e que as
promessas eleitorais do Syriza não eram “papel molhado”, mas para levar, tanto
quanto possível, a sério, a posição dos ditos partidos socialistas e social-democratas
alterou-se radicalmente. Da vaga e interesseira simpatia inicial rapidamente se
passou ao distanciamento e à crítica ao “radicalismo” do Syriza para daí partirem
para a conclusão inevitável: “Tinham razão, mas perderam-na; destruíram em seis
meses o capital de simpatia com que partiram”.
Não pode haver maior hipocrisia, nem pior covardia e servilismo
políticos do que os daqueles que se abrigam sob a falsa capa de uma moral
comportamental. De facto, o que os partidos socialistas, social-democratas e
seus acólitos criticam é que o Syriza tenha tentado pôr em prática as suas
ideias e promessas eleitorais e o que eles escondem é que, como sempre, nunca
estiveram dispostos a lutar por uma via diferente para a Europa e a arcar com
as consequências dessa luta, mas antes esperavam, como normalmente espera quem
não tem a coragem de lutar, que sejam os “senhores” a satisfazer os seus interesses.
E aqui reside a razão da tal “queima do
capital político” com que partiram. Queimou-se,
porque confrontaram corajosamente os patrões e os credores da Europa com as
suas propostas não se aninhando perante as suas exigências. Romperam as pontes, porque restituíram ao
povo o direito de se pronunciar e de decidir sobre o sentido desse confronto.
Para os socialistas normal e coerente seria aceitar o que vem de cima e esperar,
depois dessa manifestação de boa vontade, que no regaço lhes caia a
generosidade de uma migalha magnanimamente prodigalizada pelos "senhores da Europa"
Perguntar-se-á, porquê este ataque aos socialistas e nem uma
palavra sobre a direita? A razão é simples. Quanto à direita, o chamado “povo
de esquerda” não tem qualquer ilusão: sabe que é uma direita servil e antipatriótica
que ataca os pobres, os velhos, os desempregados, os doentes, as crianças carenciadas,
o estado social e que defende os ricos e os poderosos depois de servidos os
credores. Quanto a estes não há equívocos, nem enganos. O perigo vem de outro
lado…
Povo grego exemplar
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