E PARA OS SOCIALISTAS
ENVERGONHADOS QUE COM ELE CONCORDAM
Para aqueles socialistas que, nas redes sociais, entendem que
Cavaco andou bem quando chamou Passos Coelho para encetar negociações com o PS
com vista à formação de um Governo estável, ou que, não tendo andado completamente
bem, também não violou a Constituição e ainda para aqueles que, assentando a sua argumentação nestes pressupostos,
magnanimamente consideram que não deveria tão explicitamente ter excluído o Bloco e o PCP (porque
isso o fariam eles de acordo com o princípio da divisão partidária do
trabalho), convém lembrar-lhes o seguinte:
Os resultados eleitorais ainda não estão apurados. Há quatro
lugares por distribuir e, embora esses votos tenham inúmeras semelhanças com
os da antiga União Nacional, vamos admitir que, desses quatro, dois são para o
PS, um para o PSD e o outro para o CDS (hipótese provável; outras menos
prováveis mas igualmente legítimas se poderiam formular).
Com o Parlamento com esta composição o PS e o PSD teriam, cada
um, 87 deputados. Que norma constitucional permite, neste contexto, ao Presidente
da República encarregar o presidente do PSD de encetar negociações com vista à
formação do Governo? Nenhuma, absolutamente nenhuma!
Dirão alguns: como PSD concorreu coligado com o CDS é a soma
dos mandatos de ambos que deve ser tida em
conta. Não é assim de um ponto de vista estritamente jurídico nem sequer de um
ponto de vista prático. Com efeito, as coligações pré-eleitorais extinguem-se
com a eleição dos deputados e é esse resultado, e não o que poderá acontecer
depois, que o Presidente da República tem de ter em conta na aplicação do
artigo 187.º da Constituição.
Por outro lado, não é nada seguro que uma coligação pré ou
pós eleitoral possa constituir um grupo parlamentar. Se relativamente às coligações
pós-eleitorais parece não haver dúvidas, talvez a mesma conclusão se deva tirar relativamente às pré-eleitorais. E nem vale a pena invocar em defesa da
tese contrária o artigo 180.º, 1, da Constituição, nem o artigo do Regimento da
AR que o reproduz, já que a sua letra sustenta qualquer das duas interpretações.
Tendo porém em conta que a figura do grupo parlamentar visa
afastar uma concepção liberal do parlamento, como um conjunto de deputados
individualmente considerados, ela acaba por estar intimamente ligada ao papel
constitucional dos partidos políticos que detêm como se sabe o monopólio da
apresentação das candidaturas às eleições parlamentares ( Canotilho e Vital
Moreira, Constituição anotada). Esta porventura a razão por que na vigência da
actual Constituição todas as coligações pré-eleitorais tenham depois dado lugar
a tantos grupos parlamentares quantos os partidos que as integram.
Do ponto de vista prático, a qualificação da diligência ontem
comunicada ao país por Cavaco Silva merece a mesma resposta. Tanto Passos
Coelho como António Costa podem, teoricamente, fazer coligações ou negociar apoios parlamentares
que lhes garantam a formação do Governo.
Porquê então o convite a Passos Coelho? Porque Cavaco é um
chefe partidário, sectário, que apenas está interessado numa solução governativa
que garanta ao seu partido a chefia do Governo. E também nenhuma dúvida poderia
subsistir, se acaso outra hipótese se vislumbrasse, que Cavaco usaria todos os
meios necessários à criação de um clima interno e internacional que na prática
a inviabilizasse quaisquer que fossem os prejuízos daí decorrentes. Agitaria
como já deixou enunciados os espantalhos da NATO, de Bruxelas, do BCE, da
Merkel e do Schäuble, do holandês impronunciável, dos mercados, enfim, de toda
aquela tralha que a direita reaccionária lança mão para não perder o poder. O
que tem a indiscutível vantagem de também nos não deixar dúvidas sobre como
tomar-lhes o poder e os tratar depois…
A questão que se coloca não é saber se Cavaco indigita Passos ou Costa, claro que indigitará Passos. A questão é saber se as Esquerdas se entendem em torno de um Programa Comum para rejeitar o Programa da Coligação. Se assim for, Costa pode perfeitamente apresentar a Cavaco uma Maioria sólida. É assim que funciona em todos os Países com Democracias Parlamentares (veja-se o caso recente da Dinamarca, onde foi o terceiro partido mais votado, o Venstre, que formou Governo, sozinho, com o apoio do Bloco Maioritário da Direita no Folketing). Sinceramente, não acredito que se possam entender, e portanto o caminho natural é que seja a Direita a formar Governo, com o apoio do PS, ou a sua abstenção para aprovar Orçamentos. As Esquerdas poderiam encetar já um diálogo e partir pedra para chegarem a um Programa Comum, mas isso demorará meses, talvez anos. Mas vá lá, surpreendam-me e façam isso já...
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ResponderEliminar~ Apreciei - com gosto - a sua assertiva opinião.
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Ficará na história como um Coiso
ResponderEliminarUm "Compromisso Histórico" faz lembrar a mala de um Fiat 131,onde encontraram Aldo Moro,assassinado.E esses assassinos andam a solta,por aí. Coragem,é necessária muita coragem para ser homem. Arrisca-se imensamente menos quando queremos ser "prudentes".
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