quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PRESIDENCIAIS

MARCELO, MARIA DE BELÉM E A ESQUERDA

A corrida a Belém não será a que Marcelo imaginou quando há meses atrás decidiu candidatar-se. Marcelo supunha que poderia fazer uma campanha para Presidente da República na base do comentário da sua própria candidatura e da dos demais candidatos. Não vai ser a assim. Pelo rumo que as coisas estão a tomar a eleição será muito mais extremada. Não vai ter tempo nem vai ter ambiente para comentários.

Santana Lopes já ontem lhe demarcou o terreno: ou se apresenta como um dos seus, desde logo na questão que está em cima da mesa (formação do Governo) ou vai ter muito que dar ao pedal sozinho. A seu favor Marcelo tem a desistência de Rui Rio que, reduzido à sua banalidade, logo percebeu que não tinha hipóteses e a candidatura de Maria de Belém que, embora concorra com ele em certas franjas do eleitorado, impede que o assunto fique resolvido a favor da Esquerda numa primeira volta ou até, o que para Marcelo ainda é mais vantajoso, lhe abra uma possibilidade de vitória no primeiro turno.

Não se compreende bem, politicamente, a candidatura de Maria de Belém. De facto, com sua candidatura está inequivocamente a direita do PS que, à falta de outro meio para combater Costa, aproveitou este para fragilizar a candidatura de esquerda e simultaneamente enfraquecer a posição do Secretário Geral e também conhecidos elementos daquela massa mole e algo viscosa genericamente denominada como partidários do Bloco Central (sendo nesta dimensão que a Candidatura de Maria de Belém concorre com a de Marcelo). Todavia, encontram-se também nesta candidatura militantes do PS que, embora sejam tradicionais perdedores, quer nas contendas internas, quer nas disputas nacionais, se apresentam a si próprios como elementos da esquerda do partido e que, inclusive, na presente disputa entre as linhas que se digladiam quanto à estratégia a seguir para a formação do Governo, já se declararam inequivocamente favoráveis a um governo de esquerda (sendo nesta dimensão que a candidatura de Belém divide a esquerda).

Quem está nesta candidatura deve saber que a ex-presidente do PS não reúne condições para juntar todo o voto de esquerda, indispensável à eleição de um candidato da aérea do Partido Socialista. Aliás, ainda ontem, numa questão vital no presente momento político, Maria de Belém recusou-se a assumir uma posição, certamente por táctica para manter a convergência entre os apoiantes da sua candidatura, mas sem evitar que tal ambiguidade fora do seu exíguo espaço político seja interpretada num sentido favorável à direita – ao PAF e aos que no PS com ele se querem coligar!

Desta análise poderá concluir-se que numa segunda volta – se houver segunda volta – uma parte dos votos de Maria de Belém, independentemente do compromisso assumido no interior do PS, irá inevitavelmente para Marcelo ou para abstenção, embora a parte restante não pareça ter grande dificuldade em somar-se à esquerda.

Como as coisas estão muito extremadas na sociedade portuguesa, principalmente por força das campanhas sectárias e antidemocráticas da direita que não tem hesitado em recorrer à parafernália habitual de meios que usa em circunstâncias tais, é seguro, havendo governo de esquerda em funções, que o seu eleitorado se mobilizará a cem por cento para derrotar Marcelo.


A actual situação não é semelhante à que levou à eleição de Soares, nem os dois lados da equação podem hoje configurar-se nos mesmos termos. Todavia, as desvantagens que sob certos aspectos existem são suficientemente compensadas pelas vantagens que acrescem resultantes de um quadro político novo e nunca antes visto.

2 comentários:


  1. Ó Puma.não te tresmalhes tu,que o resto da manada sabe bem qual é o caminho! E de tanto gritar "aí vem lobo!" ainda acabas recusado como tenor ligeiríssimo!

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