terça-feira, 26 de janeiro de 2016

E EM ESPANHA COMO VAI SER?






PEDRO SANCHEZ LUTA, ESTREBUCHA, MAS CONSEGUIRÁ?


Os partidos socialistas ainda não compreenderam bem a situação em que se encontram. A situação decorrente do estado de coisas que eles muito ajudaram a criar na Europa.

Depois do que se passou na Grécia, os militantes mais avisados desses partidos, principalmente os da faixa mediterrânica, estão ensaiando, por força do papel neles desempenhado pelas gerações mais novas, tentar tirar os socialistas do atoleiro em que se meteram. Mas não é fácil. As velhas gerações e os interesses instalados resistem e são hostis à mudança.

Não admira que assim seja. Como sempre, os mais velhos, porque já têm pouco futuro, sonham muito no regresso do passado, enquanto os mais novos, exactamente porque têm pouco passado, têm uma compreensão mais límpida do presente e antevêem com mais facilidade o futuro próximo.

Vejamos o que se passa em Espanha. Como se sabe, as eleições de 20 de Dezembro mudaram radicalmente o quadro eleitoral em que os espanhóis tinham vivido desde a transição. Do bipartidarismo temperado pelo papel desempenhado pelos partidos nacionalistas, principalmente do País Basco e da Catalunha, passou-se para um multipartidarismo a nível nacional com perda considerável das posições dos dois partidos tradicionalmente de governo (PP e PSOE) em todo o país, mas muito mais acentuadamente nas nacionalidades históricas, principalmente do PSOE já que o PP há anos que estava em perda nessas regiões, com excepção da Galiza.

O novo quadro parlamentar espanhol caracterizado pela ascensão meteórica de dois partidos emergentes (Podemos e Ciudadanos), pela consolidação dos partidos independentistas e pela perda considerável de posições do PP e do PSOE, não permite a governação de um só partido. Tanto o PP como o PSOE para governarem carecem ou de uma coligação ou do apoio de outro ou outros partidos ou da abstenção dos demais.

Nenhuma destas múltiplas variantes é fácil de alcançar. O PP, muito fustigado pela política de austeridade, mas talvez ainda mais pela corrupção, não consegue atrair para o seu campo o apoio do partido que dele está mais próximo (Ciudadanos), que continua a manter como ponto de honra da sua agenda política a recusa de qualquer apoio ao PP, seja ele um apoio directo ou indirecto mediante a simples abstenção. Igualmente difícil (mas não impossível) se revela a formação de uma grande coligação entre os dois maiores partidos, liderada pelo PP, com abstenção dos Ciudadanos, por a direcção do PSOE ter até agora recusado essa convergência com a direita. Convergência que dada a gravidade do problema territorial não é liminarmente recusada pelos chamados “barões” do PSOE.

Face a este impasse, o PP pela voz de Mariano Rajoy já comunicou ao Chefe de Estado que não tem condições para (por agora) formar governo, sem que tenha contudo perdido a esperança de ainda o poder vir a fazer no actual quadro parlamentar.

Depois desta constatação, Pedro Sanchez, Secretário Geral do PSOE, apesar das múltiplas reservas que o último Comité Federal do partido levantou a qualquer acordo à esquerda e com os independentistas, tem prosseguido (contrariamente ao que aqui havíamos previsto) na tentativa de formar governo mediante a celebração de um acordo com Podemos, a Esquerda Unida, o PNV e a abstenção dos partidos independentistas da Catalunha (ERC e Liberdade e Democracia).

Numa primeira fase esta negociação pareceu impossível de se concretizar não apenas pelas linhas vermelhas que os “barões” do PSOE tinham demarcado a Sanchez (de que adiante falaremos), mas também por o Podemos ter ficado profundamente desagradado pelo acordo (a que Iglesias chamou a “troika do bunker”) alcançado entre o PP, Ciudadanos e PSOE para a composição da Mesa do Congresso. Acordo do qual Podemos foi excluído, como rejeitada foi a pretensão de Iglesias da constituição de quatro grupos parlamentares (o Podemos propriamente dito (42deputados), En Comú Podem (12 deputados), da Catalunha, En Marea (6 deputados), da Galiza e Compromis (9 deputados), da Comunidade Valenciana).

Entretanto, a situação evoluiu. Sanchez veio a Portugal encontrar-se com António Costa, a imprensa espanhola começou a falar numa solução “à portuguesa”, o Podemos voltou a abrir a porta a um entendimento, mediante a sua participação no governo, Sanchez deixou cair a exigência de Podemos renunciar ao “direito a decidir” imposta pelos “barões” do Partido, Iglesias aceitou não exigir de imediato a concretização daquele princípio (aliás impossível sem revisão constitucional) sem contudo renunciar a ele, os partidos independentistas também baixaram ligeiramente o nível das suas reivindicações e as negociações prosseguem com vista à formação de um governo liderado por Pedro Sanchez, com a composição e os apoios e abstenções que mais tarde se clarificarão…ou não…

Simultaneamente nos grandes meios de comunicação social (de que El País é apenas um exemplo entre vários) cresceu de intensidade a luta contra um acordo “à portuguesa” ou similar. Os “barões” do PSOE, que parecem não estar em sintonia com as bases do partido e, principalmente, com os seus eleitores, dão indícios de estarem dispostos a tudo, à investidura de Rajoy inclusive, para evitar o acordo com Podemos e com os independentistas da Catalunha.

Sanchez, apesar de muito pressionado pelos “senhoritos” do PSOE, prossegue, apoiado pela sua direcção, na busca de um entendimento que lhe permita governar, sabendo, como sabe, que a realização de novas eleições lhe custaria o lugar e remeteria o PSOE para um lugar secundário relativamente ao Podemos, risco que os “barões” parece preferirem correr a um entendimento à sua esquerda.

Esta complexa partida de xadrez ainda está longe do seu desfecho, tanto mais que mesmo que haja acordo, ele terá de ser ratificado pelo Comité Federal no qual têm assento todos os, até agora, “intocáveis” do PSOE.

Lá como cá é muito difícil inovar em política. Lá como cá também no PSOE há uma importante corrente (importância não significa representatividade) que tudo fará para impedir um entendimento à esquerda. É certo que a Espanha, para além da questão social propriamente dita, se depara com um gravíssimo problema territorial para cuja resolução o PSOE tem tido, até ao momento, no essencial uma resposta idêntica à do PP, sem com isto esquecer que foi o PP que por via das suas medidas sectárias e ultranacionalistas agravou, porventura irremediavelmente, a questão territorial.

Em conclusão, vai ser difícil a Sanchez formar governo no actual quadro parlamentar. Apesar das múltiplas resistências essa possibilidade ainda não está excluída. Seria bom para a Europa e para Portugal que o conseguisse. Um governo que se fizesse eco das novas vozes que o eleitorado de esquerda reclama!

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