AINDA SOBRE A CATALUNHA
A EVOLUÇÃO DOS ACONTECIMENTOS
“Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse”.
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse”.
Noto pelo que vou lendo que há quem compreenda muito mal os que
não tomam partido no diferendo da Catalunha. Encimo este texto com os versos de
Gabriel Celaya (A poesia é uma arma
carregada de futuro) exactamente para sublinhar que há uma diferença muito
grande, enorme, entre não tomar partido no conflito catalão e no conflito que
em Espanha ou em qualquer outra parte do mundo dividia ou divide os que
combatiam ou combatem a direita reaccionária e opressora e os que, beneficiando
dessa situação, a defendem e apoiam.
Na Catalunha essa questão não se põe. O choque, a luta se
quisermos, é transversal, na medida em que tanto na sociedade espanhola como na
catalã, exploradores e explorados, patrões e empregados, amos e servos,
políticos e não políticos, institucionais e não institucionais, estão
indiferenciadamente situados de ambos os lados do conflito. O choque seria
quando muito um choque de nacionalismos. Talvez tenha começado por o não ser,
mas corre o risco de o ser cada vez mais. E como neste conflito não tenho por
certo o que seja mais vantajoso para Portugal, como país peninsular, nem para
os ideais democráticos de liberdade com justiça social, vou-me mantendo neutral
quanto ao fundo da questão. O que não significa que não tente com objectividade
compreender o que se está a passar.
E, de facto, o que se está a passar é para já muito simples de
explicar, embora muito difícil de resolver.
Do lado da Catalunha é difícil não criticar o irrealismo, a
“insustentável leveza do ser” dos responsáveis políticos catalães, que assentam
a sua actuação numa mensagem que não tem qualquer possibilidade de se
concretizar nos termos em que é veiculada. É certo que a independência da
Catalunha tem de contar com a vontade dos catalães. Pelo menos, com a vontade
inequivocamente maioritariamente dos catalães. Sem essa vontade não haverá quem
a defenda. Mas já será uma irresponsabilidade fazer crer aos catalães que eles
podem decidir essa questão democraticamente. Não podem, como aliás aconteceu
com quase todas as independências e continuou a acontecer com as mais recentes.
Sem apoios internacionais de vulto e apostando apenas num processo
de vitimização, que somente resulta até certo ponto, a independência não será
alcançada a curto prazo nem sem grandes provações. E a ideia com que se fica,
face a este inevitável desfecho, é a de que os catalães não estão preparados (e
quem estará na Europa ocidental?) para uma dura e longa batalha que envolva
sacrifícios e privações por que até hoje nunca passaram. E é preciso ter
presente que esta luta pode custar a privação da liberdade por anos a pessoas
que apenas executam ordens e que agem na convicção de que não terão de
responder pelos seus actos, exactamente por decorrerem do cumprimento de ordens
superiores. Para a Espanha será sempre mais fácil agir contra estes, pelo
efeito desmobilizador que estas sanções podem ter, do que contra os principais
responsáveis políticos
Pelo lado de Espanha, Rajoy alinhou pelo “politicamente correcto”.
Ou seja, Rajoy situou o conflito no plano exclusivamente jurídico. A via que o
Governo da Catalunha pretende seguir para alcançar a independência é ilegal,
logo a nulidade dos actos praticados e a proibição dos actos a praticar serão
suficientes para impedir a concretização do efeito pretendido. Rajoy, a quem o
fantasma de Franco incomoda e persegue, tem resistido a aplicar meios mais
drásticos, convencido de que o uso proporcional da força será suficiente para
resolver o problema.
A verdade é que não é. Por várias razões. Primeiro porque não se
pode tentar resolver no plano jurídico um conflito que é político e que já
atingiu um nível de crispação elevado.
Quando a lei que se pretende aplicar não é reconhecida como
válida pelos seus destinatários no
território a que presuntivamente se
aplica e quando as decisões dos tribunais em geral também não são reconhecidas
por aqueles contra os quais foram ditadas nós deixamos de ter num problema
jurídico ou de ordem pública para passarmos a ter um conflito político, o qual,
como todos os conflitos políticos, apenas se resolve por meios pacíficos
(diálogo, mediação, negociações, bons ofícios ou que se lhe queira chamar), ou
pela força.
Ora, acontece que Rajoy não parece dispor de uma base de apoio que
lhe permita “dialogar”. A direita franquista acantonada no PP sob vários matizes
exige uma resposta musculada para o problema da Catalunha e o PSOE, dividido
entre uma direita quase idêntica à franquista (Gonzalez, Guerra, Ibarra,
Borrell, e tantos e tantos outros) que reclama medidas igualmente drásticas, e
uma esquerda dialogante, embora com grandes dificuldades em estabelecer as
bases do diálogo, não constituem nem um nem outro uma base com que Rajoy possa
contar para viabilizar a sua política.
De facto, Aznar e a sua gente já culpam Rajoy pela situação a que
se chegou, acusando-o de uma governação titubeante. O mesmo fazem os falcões do
PSOE, os mesmos que combateram a ETA com os GAL. Há ainda o silêncio do PSOE que
pouco ou nada se manifesta (Zapatero) e a direcção de Pedro Sanchez que tudo
está fazendo, embora possa fazer muito pouco, para impedir uma catástrofe na
Catalunha.
Restam o Podemos, que defende o direito a decidir, de influência sempre incerta na sociedade
espanhola relativamente a assuntos críticos e os Ciudadanos que igualmente
exigem uma via dura. Ou seja, não nem um nem outro oferecem algo de
novo relativamente ao que já existe.
O Rei tendo alinhado completamente com Rajoy também não trouxe
nenhum contributo à resolução do conflito, salvo o que realça a sua completa
inutilidade à frente do Estado espanhol.
Como a via de Rajoy não tem saída - ele não dialoga, nem pode
juridicamente resolver o problema – o mais provável é que as posições se
extremem e Madrid, seja com Rajoy ao leme, seja com qualquer outro, acabe por
ocupar militarmente a Catalunha.
O que acontecerá depois, logo se verá.
Parece mais que óbvio que a independência irá provocar graves problemas económicos....
ResponderEliminaras grandes e boas empresas só vêem problemas ....e os empregados é que vão sofrer
até o "nosso" caixabank já mostrou não gostar da brincadeira das crianças....incluindo Piquê e outros..
Constato três coisas
ResponderEliminar1ª - Que não refere a posição da Izquierda Unida
2ª - Que Alberto Garzón terá tido conclusões muito próximas da sua ao considerar que as posições de Rajoy irão conduzir "uma situação de repressão, provavelmente inédita, nas sociedades democráticas"
3ª - que apesar de lhe apontar uma omissão, sou da mesma opinião e tomei a liberdade de, na minha página, linkar este seu texto
Meu Caro Rogério G.V. Pereira, quando escrevi o post não tinha lido nem tomado conhecimento da posição da Esquerda Unida, mas pelo que percebo destas coisas não deve andar muito longe do que eu penso. Negociações com vista à criação de Estado plurinacional, com várias línguas e culturas, de preferência republicano. É que qualquer pessoa de esquerda defende. Espero não me ter enganado.
ResponderEliminarObrigado