A DIFERENÇA ENTRE O PROVÁVEL E O DESEJÁVEL
O provável é que as posições se extremem. O mais provável é que
os nacionalistas espanhóis condicionem Rajoy, impedindo-o da mais leve cedência
e de dar qualquer passo que possa ser interpretado como sinal de fraqueza. Com
um Rei sem autonomia, incapaz de uma palavra de concórdia, à frente de uma
instituição que apenas se mantém por horror à mudança daqueles que a sustentam,
com um PP que sempre encarou com desconfiança as autonomias da Catalunha e do
País Basco, tendo chegado ao cúmulo de inventar mais de uma dúzia para
desvalorizar o efeito daquelas, com uma direita que nas suas lutas tribais só
apoia a vitória com submissão e humilhação dos vencidos, com um PSOE dividido
entre barões de mentalidade idêntica à dos franquistas do PP e uma ala jovem
que tenta, sem êxito, lançar as pontes do diálogo mas que actua permanentemente
sob o receio de lhe ser imputado o “crime” de traição e o risco de voltar a ser
corrida da chefia partidária, desta vez sem regresso, por via de um golpe
semelhante ao de 2016, com uma cidadania igualmente dividida e cujas manifestações são ostensivamente deturpadas
pela interpretação dos media nacionalistas espanhóis, pouco mais resta esperar
que a ocupação policial e militar da Catalunha e, porventura, a prisão dos seus
principais dirigentes.
Do lado da Catalunha, face à ausência de qualquer sinal de
concórdia de Madrid, é de esperar a Declaração unilateral de independência no
princípio desta semana. De facto, uma declaração que se limite a reconhecer a validade o referendo e a consequente constatação de que a Catalunha continua no caminho para a independência, embora deixe entreaberta a porta do diálogo, corre também o risco de ser interpretada como um recuo, um sinal de fraqueza, susceptível de minar a unidade do campo independentista. Uma das duas posições, Puigdemont adoptará com certeza.
A base do diálogo, que alguém de fora deveria defender e
impulsionar (mas quem? A UE? difícil encontrar quem, se não for por vontade dos
próprios), poderia ser a seguinte:
A Espanha retirava da Catalunha as forças policiais e
militares que para lá tenha enviado;
O governo da Catalunha suspendia a declaração de
independência por tempo indeterminado;
As disposições do Estatuto da Catalunha, aprovado pelo
Governo e parlamento catalães, bem como por referendo do povo catalão, assim
como pelo governo de Espanha, e declaradas inconstitucionais pelo Tribunal
Constitucional, entrariam novamente em vigor dentro de um prazo o mais curto
possível, mediante os arranjos jurídico-constitucionais necessários, como base
para uma negociação destinada a regular o problema territorial de Espanha.
Em conclusão: a ocupação militar da Catalunha – não se vê
como o art.º 155.º da Constituição Espanhola possa ser aplicado sem ocupação
militar - e por arrastamento a militarização
da Espanha, nunca serão uma boa notícia para vizinhos militarmente fracos.
Rajoy diz que somente negoceia no quadro da lei. Será que ele não percebe que é exactamente a lei que está em causa? Os jornais de Madrid e os da Catalunha espanholistas dão por certo que Puigdemont declarará amanhã a independência. Dão por certo ou estão a fazer o que podem para que tal aconteça? É que outras fontes, historicamente muito bem informadas, acham que o Presidente do governo catalão vai ficar a meio caminho. Não só continua a deixar uma porta aberta para o diálogo, como também deixa apodrecer por mais uns tempos a situação, desgastando o governo de Espanha, já muito mal visto pelos críticos da linha dura do PP e do PSOE.
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