MARCELO IGUAL A SI PRÓPRIO
A ser verdade o que o Público
hoje titula na primeira página, acho que nós é que temos de nos sentir chocados por o
Governo estar chocado com Marcelo.
Talvez tenhamos sobrestimado a argúcia política de Costa que durante cerca de 20 meses demonstrou uma capacidade política
invulgar para lidar com um par desavindo, tentando a ambos contentar, contra
outro par ressabiado que, nada tendo para oferecer, para além da destruição que
deixou, a todo o momento anunciava a vinda do Diabo como medida salvífica de
que ambos precisavam para se recolocarem, pelo lado da tragédia, como
alternativa política à sua governação. E ter obtido neste difícil contexto bons resultados, tanto do ponto de vista de quem lhe prestou apoio, como de quem tanto o criticara, não pode deixar de considerar-se um feito difícil de igualar.
Convencido de que a economia é
tudo nos tempos que correm e esquecendo-se que a adversidade dos meios de
comunicação social é no actual contexto uma arma tão poderosa
quanto o Banco Central Europeu, Costa, anestesiado pelos “afectos” de Marcelo,
descurou o que de mais óbvio na política hoje se impõe: o comando da agenda
mediática.
Sem nunca ter dado verdadeira
importância à animosidade com que as estações públicas de rádio e de televisão
tratavam o Governo, sem ter tomado as medidas adequadas para garantir uma
informação independente e rigorosa e sem ter assegurado uma opinião,
diversificada, mas capaz de contraditar eficazmente a campanha de direita,
Costa ficou refém dos tais “afectos” e dos resultados desta campanha.
Quanto aos “afectos” o que é de estranhar
é que, sendo Costa um político já com algumas décadas de tarimba, não
conhecesse suficientemente Marcelo. Marcelo não é um “saltimbanco”, como
Freitas, que hoje diz uma coisa e amanhã outra, que agora apoia um partido e
logo depois outro, que ontem era fascista, depois spinolista, a seguir “socialista
personalista”, mais tarde apoiante do ELP e por aí fora até acabar como
ministro de Sócrates. Marcelo não é nada disto. Marcelo é o que sempre foi: um
homem de direita, fiel ao seu ideário, que actua politicamente sob a pulsão da
perfídia, que aliás distribui em doses às vezes até iguais pelos seus
correligionários e pelos seus adversários políticos. Sempre assim foi desde que
em Janeiro de 1973 se tornou publicamente conhecido como jovem sub director do
Expresso. Portanto, para resumir, era uma personalidade política relativamente
à qual Costa deveria ter actuado com as cautelas e a distância devidas, tendo
sempre bem presente que a única forma de o desarmar é, tal como no futebol,
antecipando-se. Deixando-lhe o campo livre ou confiando nele é meio caminho
para o desastre.
E daqui para a frente o que interessa
é continuar a fazer o que até aqui se fez bem e passar a fazer o que
antes se não fez, sem entrar em guerra aberta ou em guerrilhas, artes em que
Marcelo, pela sua longa experiência e pelos meios de que dispõe, é claramente
superior e perigoso.
Magistral. Partilho e abraço.
ResponderEliminarA segunda (ou terceira) linha do PS quis fazer do 'caso dos incêndios' (mais de 100 vítimas mortais) um caso de chicana política.
ResponderEliminarLamentável.
Claro que Costa não está chocado com Marcelo, que conhece bem. O Governo pôs-se a jeito e o PR, qual escorpião, aplicou a sua picada. Agora, o Governo faz-se de vítima, para não deixar de fazer Marcelo perceber que Costa acusou o toque. Repare-se que tudo provém de uma 'fonte do Governo', não identificada, como é óbvio. Aliás, já Daniel Oliveira tinha dito o mesmo.
ResponderEliminarOs conflitos de coabitação normalmente não beneficiam os Governos e sim o PR, sempre mais popular e que não sofre do ónus de ter que tomar decisões. Por isso, esta 'tempestade de Verão' rapidamente deverá passar.
Agora, quem é de Esquerda deverá perceber de que fibra Marcelo é feito e perder as ilusões relativamente a um voto nele em 2021. Sugere-se aliás que essa mesma Esquerda se una ao menos nisso e apresente desde logo um candidato único contra MRS à primeira volta...