A RESPONSABILIDADE DE QUEM GOVERNA
Muitas são
as fases que a filosofia política permite demarcar desde que Heródoto contou
nas Histórias (Livro III) aquela célebre discussão entre três persas sobre a
melhor forma de governo a adoptar depois da morte de Cambises, rei dos persas.
Certamente, mas se quisermos ser mais sintécticos e simultaneamente rigorosos,
o que verdadeiramente separa o Antigo do Moderno é Maquiavel.
Sem entrar pelo caminho que o parágrafo anterior poderia fazer supor, f...aço
apenas esta referência, para questionar se faz sentido criticar um governante
por ser aparentemente pouco afectuoso, como simples cidadão, no seu desempenho
político. E, simultaneamente, que consequências podem decorrer dessa maré alta
de afectos quando quem os presta não dispõe dos meios nem tem a competência
necessária para tornar efectivos os resultados que eles supõem.
Que importância tem para os negócios da grei que um governante aparente
distância afectiva relativamente aos assuntos de que se ocupa e,
simultaneamente, grande proximidade política nas soluções que encontra para os
resolver? Alguém explica?
E que relevância tem, no puro plano político, os beijos e abraços que um
governante prodigaliza aos seus concidadãos se a sua capacidade para obter um
resultado político correspondente a esses afectos é praticamente nula?
Dir-se-á, é um consolo. Mas um consolo que cria expectativas que se não
confirmam tende a tornar-se numa frustração.
Ou dito de outra maneira, mais assertiva: os afectos em política,
prodigalizados intensa e frequentemente, quer quando visam consolar uma dor,
quer quando vão ao encontro do entusiasmo de quem os espera, por quem não tem
politicamente competência para encontrar as soluções e respostas que esses
afectos deixam supor, objectivamente tendem a ter por consequência fazer recair
o azedume da frustração não sobre quem os presta, mas sobre quem, tendo a
responsabilidade de governar, não dispõe de meios para encontrar as tais
respostas que eles supõem. Meios materiais e até jurídico-constitucionais, sob
pena de os princípios em que assenta o estado de direito democrático não
passarem de uma figura de retórica moldada em conformidade com os sentimentos
do “chefe”.
(Texto publicado no facebook, hoje)
Estranhei muito a sua ausência no blogue durante um ano. Pensei o pior e que ninguém se tivesse dado ao trabalho de ...
ResponderEliminarAgora vejo que se transferiu para o Facebook. Como continuo a recusar tal coisa, fico feliz por estar a colocar aqui os seus textos. Óptimo.