sábado, 21 de outubro de 2017

OS AFECTOS E A POLÍTICA


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A RESPONSABILIDADE DE QUEM GOVERNA

Muitas são as fases que a filosofia política permite demarcar desde que Heródoto contou nas Histórias (Livro III) aquela célebre discussão entre três persas sobre a melhor forma de governo a adoptar depois da morte de Cambises, rei dos persas. Certamente, mas se quisermos ser mais sintécticos e simultaneamente rigorosos, o que verdadeiramente separa o Antigo do Moderno é Maquiavel.
Sem entrar pelo caminho que o parágrafo anterior poderia fazer supor, f...aço apenas esta referência, para questionar se faz sentido criticar um governante por ser aparentemente pouco afectuoso, como simples cidadão, no seu desempenho político. E, simultaneamente, que consequências podem decorrer dessa maré alta de afectos quando quem os presta não dispõe dos meios nem tem a competência necessária para tornar efectivos os resultados que eles supõem.
Que importância tem para os negócios da grei que um governante aparente distância afectiva relativamente aos assuntos de que se ocupa e, simultaneamente, grande proximidade política nas soluções que encontra para os resolver? Alguém explica?
E que relevância tem, no puro plano político, os beijos e abraços que um governante prodigaliza aos seus concidadãos se a sua capacidade para obter um resultado político correspondente a esses afectos é praticamente nula? Dir-se-á, é um consolo. Mas um consolo que cria expectativas que se não confirmam tende a tornar-se numa frustração.
Ou dito de outra maneira, mais assertiva: os afectos em política, prodigalizados intensa e frequentemente, quer quando visam consolar uma dor, quer quando vão ao encontro do entusiasmo de quem os espera, por quem não tem politicamente competência para encontrar as soluções e respostas que esses afectos deixam supor, objectivamente tendem a ter por consequência fazer recair o azedume da frustração não sobre quem os presta, mas sobre quem, tendo a responsabilidade de governar, não dispõe de meios para encontrar as tais respostas que eles supõem. Meios materiais e até jurídico-constitucionais, sob pena de os princípios em que assenta o estado de direito democrático não passarem de uma figura de retórica moldada em conformidade com os sentimentos do “chefe”.

(Texto publicado no facebook, hoje)


1 comentário:

  1. Estranhei muito a sua ausência no blogue durante um ano. Pensei o pior e que ninguém se tivesse dado ao trabalho de ...
    Agora vejo que se transferiu para o Facebook. Como continuo a recusar tal coisa, fico feliz por estar a colocar aqui os seus textos. Óptimo.

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