segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O FORUM DAS ESQUERDAS



QUE CONSEQUÊNCIAS?


Tanto quanto à distância percebi, o Forum das Esquerdas reuniu gente do Bloco, os chamados Renovadores Comunistas, o Movimento Intervenção e Cidadania, animado por Helena Roseta, alguns independentes de esquerda, alguns militantes do PS próximos de Manuel Alegre e um ou outro comunista.
Da intervenção de Alegre, parece deduzir-se a intenção de ir a votos com as ideias que saírem do Forum. Como a principal força do Forum das Esquerdas já vai a votos, só há mais duas formas de dar cumprimento àquela intenção: ou formar mais um partido, ou construir uma coligação eleitoral com todos os componentes do Forum. Por razões logísticas, burocráticas e organizativas o mais provável, se a intenção vier a cumprir-se, é a formação de uma ampla coligação eleitoral liderada pelo Bloco de Esquerda, nos termos em que isto seja legalmente possível.
Seja uma ou outra a via, que consequências decorrerão para as demais forças políticas, nomeadamente para o PS, da intenção anunciada por Alegre?
Marcelo Rebelo de Sousa, hoje à noite, nas “Escolhas de Marcelo”, considerou o dia histórico, pelas alterações que pode trazer ao quadro eleitoral com que se contava para as próximas eleições. Previu que o PS, que já tinha a maioria absoluta tremida, a poderá perder, e que o PSD ainda poderá vir a ser o partido mais votado em consequência da perda de votos do PS para a esquerda. Admitiu ainda que Alegre optou por não se recandidatar à Presidência da República, deixando, assim, Cavaco mais à vontade.
Não tenho por certo que esta previsão se confirme, caso, insisto, a intenção de ir a votos por parte de Alegre se confirme.
Em primeiro lugar, é indiscutível que Alegre desempenha no PS um papel de fixação de um certo eleitorado do partido situado à esquerda, principalmente em épocas de contestação da política do governo. Mas eu não creio que este eleitorado seja assim tão numeroso, nem que esteja disposto a votar massivamente noutra força política em caso de cisão de um ou dois notáveis. A história do PS demonstra que o partido nunca perdeu para a esquerda, mesmo quando é governo, mas sempre para a direita. A saída de Alegre e mais uns quantos notáveis, sempre muito poucos, arrastaria consigo alguns votos, porém insuficientes para causar grave dano ao PS. Maior seria o dano para o Bloco e muito mais reduzidamente para o PC, se Alegre formasse uma nova força política com a qual fosse a votos. Como esta hipótese não é nada provável, inclino-me a supor que a ida de Alegre a votos numa coligação com o Bloco não resultaria num acréscimo significativo de votos dessa frente eleitoral e redundaria, em caso de relativo desaire, na desagregação a prazo curto do próprio Bloco.
Agora, percebe-se melhor a intervenção de Jerónimo de Sousa no Congresso do PCP. Prevenindo várias hipóteses, o PC fez o que fazem todas as organizações que se regem por princípios: reforçam a ortodoxia para evitar a desagregação ou até a simples dispersão. Por outras palavras: Jerónimo actuou à Bento XVI. Pelo seguro…
Quer isto dizer que a Esquerda está condenada a ser oposição e que não pode aspirar ao poder? Claro que pode e deve, mas para isso necessita de ser maioritária. Infelizmente, não o será tão cedo, porque a sociedade portuguesa é politicamente muito reaccionária.

1 comentário:

  1. Marcelo falou, de cátedra, com aquele seu habitual voluntarismo político, fazendo ressaltar aquilo que gostaria que ocorresse: ao decretar a desistência de Alegre das presidenciais; ao tentar empurrar Alegre para a formação de um partido com possibilidades de ganhar as próximas legislativas, deixando Cavaco sem concorrente forte...
    Quanto a Alegre, fiquei siderado, há dias, quando declarou que não contassem com ele para bater em Sócrates. Para já, as suas atitudes têm beneficiado o PS, que se gaba de ser um partido aberto.
    Assim, poderão compreender-se melhor agora as declarações finais de Jerónimo, no último Congresso do PCP, sobre estas movimentações. No entanto, na altura, tais declarações pareceram demasiado duras e com laivos de sectarismo.

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