quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O GUETO DE GAZA



DEPOIS NÃO SE QUEIXEM...

Há um ano o exército israelita atacou sem dó nem piedade os palestinianos na Faixa de Gaza a pretexto de que estava a levar a cabo uma acção de retaliação contra o Hamas. Sabe-se hoje, como então já se sabia, que a maior parte das vítimas foram civis e que as infra-estruturas mais elementares à vida em comunidade foram destruídas. Poderia pensar-se que tal destruição se enquadrava numa acção de guerra e visava obter vantagens imediatas no campo de batalha, independentemente do juíz que tal comportamento pudesse merecer. Acontece que a questão é muito mais grave: como se conclui da posterior actuação do governo de Israel aquela destruição tem em vista privar os palestianos de bens e serviços essenciais pelo tempo que for necessário aos objectivos da potência ocupante.
Dizemos propositadamente ocupante, porque a retirada de Israel da Faixa de Gaza não passou de uma farsa. A actual situação é sob muitos aspectos pior para o milhão e meio de palestinianos que lá vive do que a ocupação pura e dura.
A chamada “Comunidade internacional” (leia-se os países ricos, com os EUA à cabeça) convocou pouco depois de concluídas as operações bélicas de destruição uma conferência para ajudar à reconstrução de Gaza. Foram feitas muitas promessas e até houve (falsas) advertências para quem (Israel) impedisse o livre-trânsito da ajuda. Como se vê, tudo não passou de um mediático gesto de hipocrisia. Cerca de um ano volvido, Israel transformou Gaza num gueto, rigorosamente controlado do exterior, com frequentes acções punitivas no interior, sem que haja da parte dos que lá vivem a menor hipótese de iniciarem a reconstrução.
Os judeus que hoje governam Israel, seguramente também uma parte considerável dos seus nacionais, não são dignos dos antepassados do gueto de Varsóvia. Pelo contrário, estão muito mais próximos dos algozes nazis com os quais se identificam cada vez mais.
Os americanos, a Sra Clinton, os seus “aliados” da “comunidade internacional”, como o nosso Ministro dos Estrangeiros tanto gosta de referir, bem podem clamar contra o que se passa no Iémen. Ninguém de boa fé os acompanhará nos países árabes. Toda a gente percebe que os crimes não são avaliados da mesma maneira. A censura que merecem depende muito mais de quem os pratica do que da sua gravidade objectiva.

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