QUE ERA, JÁ SABÍAMOS, MAS TANTO, NÃO!
As declarações que a presidente do PSD hoje fez a propósito da situação económico-financeira do país, num evento de uma organização estrangeira para que foi convidada, são a todos os títulos estúpidas.
Já sabíamos que a Senhora não prima pela inteligência, mas tanto não. Nós sabemos que para ela o que conta são os “valores”, as “convicções”, a “verdade”, enfim, aquilo de que se alimentam as almas simples e que terão como recompensa, prometida desde há dois milénios, o Reino dos Céus.
Mas vir dizer publicamente que a situação portuguesa é igual à da Grécia e fazer o elogio das agências de notação de risco, depois de os próprios “sacerdotes” das instituições financeiras relevantes – FMI, BCE, entre outros – terem dito o contrário, não pode deixar de ser interpretado como uma prova de insensatez.
É bom esclarecer desde já que não se trata de fazer a defesa de uma qualquer espécie de patriotismo, que, com toda a franqueza, continuo sem saber bem o que seja, já que me sinto muito mais próximo e solidário de uma brasileira, angolana ou alemã que partilhe algumas das ideias fundamentais que defendo do que da Sra Ferreira Leite, portuguesa como eu!
Agora, há duas coisas que a Senhora desconhece: a primeira tem a ver com a dívida e o défice. Por muitos que tenham sido os erros do governo socialista e do dela, a dívida e o défice vão muito para além dessa causa próxima e filiam-se em causas bem mais complexas comuns a todos os países desenvolvidos. Basta atentar no aumento vertiginoso da dívida pública dos países da OCDE, da União Europeia e da zona euro para se perceber que, com excepção da Alemanha, que resiste melhor do que os restantes, ninguém evita um crescimento exponencial.
Isto, ao contrário do que a Senhora pensa, tem causas comuns, umas, pelas quais ela, o PS e os demais governos dos países referidos são politicamente responsáveis, outras prendem-se com factores ainda mais complexos que têm a ver com o modelo de desenvolvimento dos países emergentes e do modo como se relacionam com os países desenvolvidos. Sim, o problema é grave, mas não é substituindo Sócrates por um Sócrates do PSD que ele se resolve.
Se a Senhora fosse como alguns outros economistas que regularmente nos aparecem nos ecrãs uma simples defensora do capital financeiro e estivesse a actuar em seu nome, ainda se compreenderiam as suas palavras. Mas não creio que se trate disso. Creio que se trata mesmo de ignorância.
A segunda razão pela qual as suas declarações são insensatas é que se o seu partido for governo proximamente e entretanto o capital financeiro e especulativo atacar sem dó nem piedade este país, como já fez com a Grécia e se preparava para fazer com outros, a situação em que o vai deixar ficar não será recomendável para ninguém.
2 comentários:
Caro amigo JMCorreia-Pinto,
É de facto inacreditável que alguém com responsabilidades políticas assuma a aleivosia de proferir declarações deste teor no actual quadro económico nacional e internacional... fez-me sorrir o seu apelo justificativo à ignorância... e, a propósito de ignorância -ou má-fé- escrevi há pouco sobre as declarações de Ramos Horta em relação ao Tibete mas, desculpar-me-á a ousadia!, gostaria muito de conhecer a sua perspectiva sobre o assunto...
Abraço.
Às vezes, apetece-me usar linguagem de direita, arcaica, com lastro de medieva: traição à pátria!
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