O QUE FAZ FALTA
Alberto João Jardim surpreendeu ontem os portugueses ao admitir, face ao que se passou na Assembleia da República para a aprovação da Lei das Finanças Regionais, a possibilidade de algo semelhante ao “compromisso histórico” italiano da década de setenta como solução para a grave crise política, económica, financeira e social em que o país está mergulhado.
O compromisso histórico italiano tinha como protagonistas o Partido Comunista Italiano, independente de Moscovo e defensor de uma via democrática e parlamentar para o socialismo, e a ala esquerda da democracia cristã. Ambos tinham como inimigos, que minavam o futuro democrático da Itália, os grupos armados de extrema-esquerda, nomeadamente as Brigadas Vermelhas, os neo-fascistas e o crime organizado (vulgo Mafia) estreitamente ligado a amplos sectores da democracia cristã, a outras formações políticas e contando ainda com a colaboração da CIA, que desempenhou durante o período de hegemonia democrata-cristã um papel muito importante em todos os domínios da política italiana.
Do lado do PCI o grande impulsionador foi Enrico Berlinguer que, na revista Rinascita, em quatro artigos que fizeram história, propôs, na sequência do golpe chileno, à Democracia Cristã um entendimento programático de incidência governamental, que eliminasse o anterior conventio ad excludendum (do PCI no governo), e que contou com o apoio da ala esquerda da Democracia Cristã, nomeadamente do presidente Aldo Moro e do Secretário Benigno Zacagninni.
Como se sabe, a experiência acabou mal: rejeitado pelos Estados Unidos e pela direita da Democracia Cristã, nomeadamente Giulio Andreotti, exactamente no dia em que ia apresentar no Parlamento a propsta de participação dos comunistas no governo Aldo Moro foi sequestrado no centro de Roma e depois assassinado numa acção nunca completamente esclarecida mas onde há fortes razões para supor que de uma ou outra forma estariam envolvidos todos os grandes inimigos do compromisso histórico.
Sem Aldo Moro na democracia Cristã, o PCI retirou o apoio ao Governo de Solidarieda Nacional presidido por Giulio Andreotti e terminou uma experiência que verdadeiramente nem começou.
Há condições em Portugal para algo semelhante, entre os dois partidos de direita e os dois de esquerda, todos com assento parlamentar, e, neste momento, com maioria absoluta no Parlamento?
Há na acção dos quatro partidos um denominador comum que nesta legislatura já serviu, por mais de uma vez, depois de negociações verdadeiras e próprias, para derrotar o Partido Socialista. E esse denominador comum é a rejeição absoluta e completa de Sócrates como chefe do governo. Os quatro partidos podem não ter condições políticas para o destituir neste momento, mas sabem, e com eles a maioria da população, que Sócrates é hoje uma fonte permanente de problemas e de crispação da sociedade portuguesa.
Também já se viu que o PS “vai para a cova” com Sócrates. O partido não tem tão cedo força moral e política para se libertar de Sócrates. E não há igualmente dúvidas para ninguém que Sócrates e a sua gente – e por arrastamento o Partido Socialista – constituem hoje o grande problema do país. Em todos os domínios. Primeiro que todos, o da credibilidade, e depois Sócrates é um factor permanente de agravamento do défice e da divida, da situação política, económica, financeira e social do país.
Há condições em Portugal para algo semelhante, entre os dois partidos de direita e os dois de esquerda, todos com assento parlamentar, e, neste momento, com maioria absoluta no Parlamento?
Há na acção dos quatro partidos um denominador comum que nesta legislatura já serviu, por mais de uma vez, depois de negociações verdadeiras e próprias, para derrotar o Partido Socialista. E esse denominador comum é a rejeição absoluta e completa de Sócrates como chefe do governo. Os quatro partidos podem não ter condições políticas para o destituir neste momento, mas sabem, e com eles a maioria da população, que Sócrates é hoje uma fonte permanente de problemas e de crispação da sociedade portuguesa.
Também já se viu que o PS “vai para a cova” com Sócrates. O partido não tem tão cedo força moral e política para se libertar de Sócrates. E não há igualmente dúvidas para ninguém que Sócrates e a sua gente – e por arrastamento o Partido Socialista – constituem hoje o grande problema do país. Em todos os domínios. Primeiro que todos, o da credibilidade, e depois Sócrates é um factor permanente de agravamento do défice e da divida, da situação política, económica, financeira e social do país.
Há assim uma inequívoca convergência nos partidos políticos da oposição e da maioria dos portugueses no sentido da rejeição de Sócrates. Só que, para governar, é preciso muito mais do que isso. É preciso um acordo de governo.
Não seria impensável um acordo de governo por três anos baseado em metas claras e acções concretas, negociadas ano a ano, com prevalência para a criação de emprego, apoio social, cessação do programa de privatizações, suspensão dos investimentos inúteis ou desnecessários nos próximos anos, ataque generalizado ao despesismo e ao desperdício e por ai fora.
Não seria impensável conversar sobre o assunto. Explorar as suas potencialidades. Mas há muitos preconceitos e muitos problemas. Os preconceitos não têm solução: normalmente morrem com quem os tem. E às vezes até se transmitem. Os problemas podem ter solução, embora um deles, o PSD, seja de solução muito difícil. A falta de uma liderança respeitada e consensual tornaria qualquer conversa muito precária.
Não seria impensável, mas seria muito, muito difícil concretizar o que quer que fosse, além do mais porque os portugueses e os seus políticos não têm a cultura do compromisso…
Não seria impensável um acordo de governo por três anos baseado em metas claras e acções concretas, negociadas ano a ano, com prevalência para a criação de emprego, apoio social, cessação do programa de privatizações, suspensão dos investimentos inúteis ou desnecessários nos próximos anos, ataque generalizado ao despesismo e ao desperdício e por ai fora.
Não seria impensável conversar sobre o assunto. Explorar as suas potencialidades. Mas há muitos preconceitos e muitos problemas. Os preconceitos não têm solução: normalmente morrem com quem os tem. E às vezes até se transmitem. Os problemas podem ter solução, embora um deles, o PSD, seja de solução muito difícil. A falta de uma liderança respeitada e consensual tornaria qualquer conversa muito precária.
Não seria impensável, mas seria muito, muito difícil concretizar o que quer que fosse, além do mais porque os portugueses e os seus políticos não têm a cultura do compromisso…
Aditamento:
Depois de ter escrito este post, tomei conhecimento deste artigo sobre a actuação da CIA na Itália e as responsabilidades na morte de Aldo Moro.
Sabe-se hoje que a CIA teve um papel determinante na política italiana durante todo o período da chamada I República Italiana, que vai do pós-guerra até 1993. A CIA colaborou intimamente com grupos de extrema direita, alguns dos quais nascidos sob o seu impulso, como a famosa loja maçónica de Gelli, P 2, e o Gladio, mantinha excelentes relações com a mafia siciliana (aliás, desde o desembarque das tropas americanas na Sicília em 1943), obviamente com amplos sectores da democracia cristã, e também com grupos de extrema esquerda, como as Brigadas Vermelhas, que infiltrou. Em virtude dos grandes resultados eleitorais do PCI, por duas vezes esteve eminente durante aquele período um golpe de direita sob o alto patrocínio da CIA e da NATO.
Ao que os arquivos hoje revelam somente, durante o curto período que durou a Presidência Kennedy é que houve algumas alterações na política americana relativamente à Itália, mesmo assim muito boicotadas pela CIA, pelo Departamento de Estado e pela NATO.
Pois é, o grande problema deste país chama-se Mafia, com a agravante de ter sido esta a "família" que se apropriou do poder.
ResponderEliminarComo é que o PCP vai-se entender com o CDS de Paulo Portas? E com o PSD?
ResponderEliminarExiste um oceano de diferenças entre o PCP e os partidos de direita.
O PCP tem mais pontos de entendimento com Sócrates do que qualquer dos partidos de direita, e estes preferem Sócrates ao PCP.
Será que o PCP irá defender as privatizações? Ou o PSD e o CDS defenderão eventuais nacionalizações?
Seguramente que não há em Portugal condições para um "compromisso histórico" como em Itália Berlinguer, Norberto Bobbio, Aldo Moro e outros o idealizaram.
ResponderEliminarO nosso "compromisso histórico" tem de ser o de criar condições para meter na cadeia os "capos" que por cá temos e ao pé dos quais Andreotti, Bettino Craxi, Berlusconi, Provenzano e Totto Riina eram/são uns SENHORES.
"...e depois Sócrates é um factor permanente de agravamento do défice e da divida, da situação política, económica, financeira e social do país."
ResponderEliminareu até diria mais: o sócrates é um factor de agravemento do défice e da dívida, da situação política, económica, financeira e social da europa (sim, sim o défice,a dívida, o desemprego também subiram na europa) e também dos estados unidos (idem).
ficamos a saber que o sócrates é o responsável pela crise financeira e económica mundial. se o ridículo matasse....
O ridículo raramente mata. Mas os factos matam...como se verá. E não há pior cego que...
ResponderEliminarJMCPinto