MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA
Depois de já se ter pronunciado sobre a crise por várias vezes, o FMI, por intermédio de dois dos seus economistas, vem agora reconhecer, no fim de 2010, que a sua principal causa é a desigual distribuição de rendimentos. Mas diz mais: novas políticas redistributivas são mais eficazes para combater a crise do que os resgates ou as reestruturações da dívida.
Enfim, mais vale tarde do que nunca. O FMI chegou a uma conclusão que somente não era aceite pelos vigaristas que dominam e governam a economia mundial. De todas as vezes que a crise financeira era analisada nas suas verdadeiras causas, lá vinha esta como a principal. Causa que engendrava uma consequência – o endividamento – que está, por seu turno, no cerne da questão.
Paul Krugman até escreveu um livro, logo nos fins de 2007 – The conscience of a liberal -, para demonstrar, com dados irrefutáveis, como evoluiu a economia americana desde que o neoliberalismo tomou conta dela até hoje e as grandes diferenças entre a política económica da actualidade e a do período a que ele chama de “Grande compressão”, que vai desde o New Deal até aproximadamente ao fim do mandato do Nixon.
O FMI tem uma triste história e um largo cadastro nestes últimos 30 anos, a ele se devendo a imposição das políticas neoliberais em praticamente quase todo o mundo. Daí que ainda ontem aqui tenha sido denominado de “execrável instituição”.
É certo que algo mudou nestes últimos tempos. Desde logo o seu director. Dominique Strauss-Kahn não pode comparar-se aos seus antecessores, nem sequer aos “selvagens” que a Administração Bush nomeou para a presidência do Banco Mundial, instituição que, por tradição, até tinha uma política económica menos ortodoxa do que a do FMI. Não é impunemente que por lá passaram pessoas como Joseph Stiglitz (vice-presidente).
Mas a história também nos ensina que quem manda no FMI é o Tesouro americano e quem manda no Tesouro americano é Wall Street. Por diferentes que as coisas hoje sejam – e são –, elas não são suficientemente diferentes a ponto de se ter alterado a hegemonia adquirida pelo sector financeiro.
Obama terá tido essa oportunidade. Mas não soube aproveitá-la. Rodeado de uma equipa económica onde prevalecia o poder de Wall Street – como neste blogue imediatamente se denunciou (28/11/08) - acabou por tentar resolver a crise salvando o capital financeiro à custa dos contribuintes, e, dentre estes, daqueles que menos rendimentos têm. O modelo rapidamente se propagou por todo o mundo desenvolvido, tendo sido em algumas latitudes refinado a ponto de ser esse mesmo sector financeiro resgatado que agora impõe ao Estado as condições em que este deve sobreviver!
Portanto, não será de acreditar que o estudo dos dois técnicos do FMI venha a ter qualquer efeito prático na condução da política económica mundial, nem que o modelo universalmente adoptado para combater a crise se altere.
A resposta tem de vir de outro lado. Do lado de quem esteja disposto a lutar com os meios adequados contra esta violência que por todo o lado se abate sobre quem trabalha…
Caro JMCorreia-Pinto,
ResponderEliminarFiz link deste e de outro post.
Obrigado.
Abraço.