O CASO BPN
O caso BPN não vai largar Cavaco por mais que ele mande os seus porta-vozes encenar um espectáculo conhecido: o do homem impoluto vítima de uma campanha suja feita por gente sem princípios e sem decência democrática.
Não sei se foi bem isto o que eles disseram, mas é isto o que eles querem dizer. Cavaco auto-definiu-se como sério: não é político, apesar de não fazer outra coisa desde os fins da década de 70; não entra em jogos partidários, não obstante ter feito toda a sua carreira política à sombra de um partido que dominou com mão de ferro; não mistura a governação com negócios, mas defende os especuladores e tem todas as suas amizades políticas concentradas em pessoas que nunca fizeram outra coisa senão negócios; não contemporiza com a corrupção, embora a “cultura del pelotazo”, como os espanhóis lhe chamam, tenha começado nos seus governos.
Cavaco é um típico pequeno-burguês miudinho, provinciano, que viveu fora da sua época quando era jovem, desejoso de ascensão social, muito bem retratado em romances símbolo da literatura universal…que Cavaco não leu. Como tal, nunca entrará em grandes jogadas económicas, arriscadas, capazes de transformar a vida da noite para o dia como aconteceu com tantos dos seus “amigos políticos”.
Tudo tem que ser feito a uma escala diferente, pequenina, das poupanças miúdas que se vão somando até atingirem um patamar satisfatório; depois uma aplicação sem risco, se possível com muito lucro.
Por outro lado, vai preparando o futuro com duas reformas provenientes de ocupações onde, por força das circunstâncias, nunca pôde passar muito tempo. Mas vai fazendo os descontos do trabalho que formalmente o ocupa como se lá estivesse a tempo inteiro para mais tarde as somar a outra que irá adquirir no exercício da profissão a que mais se dedicou – a política.
É uma vida certinha, sem sobressaltos, como a dos filmezinhos super 8 que fazia em Moçambique.
Só que no caminho dos “negócios miudinhos” surgem factos que adensam dúvidas a que a diferença de escala não retira importância. Entre o arrojo de um ex-ministro que no BPN consolida uma fortuna de milhões “caída do céu” com negócios “impossíveis de acontecer” e a compra e venda de títulos de uma sociedade proprietária de um “banco laranja” dominado por cavaquistas, não há, para sermos rigorosos, apenas uma diferença de escala. Há também a diferença entre a ausência do tal arrojo, confortado por anteriores caminhadas deixadas impunes, de quem busca a “iniciativa” por mais arriscada que seja com vista a um resultado que obsessivamente persegue, e a simples atitude daquele que aceita uma choruda proposta de lucro feita por quem quer recompensar a notoriedade adquirida e tantas outras vantagens que as boas “amizades” conferem.
E assim, com reformas e lucros, se vai acumulando um pecúlio que, não sendo nada de especial quando comparado com o dos “amigos”, tem com o deles alguns pontos em comum…
Esta é uma prova de fogo não apenas para Cavaco, mas também para a imprensa portuguesa!
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