AS PALAVRAS DE CAVACO
O discurso de vitória de Cavaco Silva não pode deixar de ser considerado surpreendente pelos seus mais importantes apoiantes políticos. Onde estes certamente esperariam palavras de grandeza à altura do cargo e da vitória, não muito diferentes daquelas que até hoje sempre pautaram os discursos dos Presidentes eleitos, proferidos na noite do desfecho eleitoral, depararam-se com palavras ressentidas, onde não era difícil perscrutar uma vontade de vingança reprimida, com algumas passagens ao nível de outras que já se tinham ouvido a políticos menores que foram a votos com questões patrimoniais de natureza pessoal por resolver. Também estes políticos se escudaram no voto popular para deixar sem resposta as questões que a democracia escrutinava.
Certamente que uma campanha política se faz em torno de ideias, de programas, de propostas. Mas não é indiferente a personalidade de quem defende as ideias, de quem apresenta os programas, de quem formula as propostas.
Cavaco Silva pode supor que as questões de natureza pessoal levantadas na campanha são indignas e que, como tal, podem ser plebescitadas pelo voto popular. Mas não podem!
Em aberto continuam questões sem resposta. A aquisição de acções, num aumento de capital de uma sociedade, por um preço privilegiado, apenas reservado a quatro entidades por deliberação da Assembleia Geral, é uma questão em aberto, diga Cavaco Silva o que disser. Tanto mais em aberto quanto se sabe que tais acções foram menos de dois anos mais tarde vendidas à sociedade que as emitiu, ou uma outra dela inteiramente dependente, por um lucro de 140% e se sabe ainda que essa mesma sociedade e o banco por ela detido a cem por cento incorreram numa das maiores fraudes da história da banca portuguesa. Que ambas as instituições eram geridas por amigos políticos de Cavaco Silva, alguns a contas com a justiça, e se sabe por fim que as consequências patrimoniais de tal descalabro não recaíram sobre os accionistas, como seria normal, mas sobre o contribuinte português, que será obrigado com o seu esforço a colmatar aquele prejuízo e, mais grave ainda, sobre os trabalhadores do sector público que por via de um confisco parcial do seu salário são igualmente chamados a pagar aquele e outros desmandos!
Esta questão não é uma calúnia. É uma questão política da maior importância.
Como em aberto continua a permuta declarada de uma vivenda por um terreno quando uma das pessoa intervenientes no negócio já declarou publicamente que houve uma permuta de vivenda por vivenda! Independentemente das questões de facto que tal negócio levanta, há questões fiscais que estão por resolver. E disso Cavaco Silva não pode livrar-se.
Mas as palavras de Cavaco não recordam apenas aqueles que pretendem encontrar nos votos todas as respostas a perguntas incómodas, elas recordam também a tristemente célebre “intentona das escutas” no desenvolvimento da qual Cavaco Silva exibiu perante todos os portugueses a sua capacidade para formular um raciocínio lógico, coerente e convincente. Também agora com o então Cavaco acredita que há por detrás das perguntas que os seus negócios suscitam uma cabala laboriosamente urdida por uma mente pérfida que o pretende denegrir.
A conta em que Cavaco Silva se tem ou em que gostaria que os outros o tivessem não corresponde mais à ideia que a partir destas eleições muitos milhões de portugueses dele terão. E Cavaco sabe disso. Daí a sua incontida revolta.
Cavaco Silva ficou, como muito bem disse Defensor Moura, definitivamente apeado do altar em que ele próprio se alcandorou. A partir destas eleições os portugueses conhecem-no melhor.
As palavras de Cavaco no dia da vitória são palavras crispadas, ressentidas, porventura premonitórias da crispação existente na sociedade portuguesa. Cavaco, como muito bem se sabe pelo seu passado político, não é homem para atenuar as diferenças e unir os portugueses. Pelo contrário, como ainda hoje ficou demonstrado há nele uma vontade de desforra ressentida de alguém que se sentiu tocado naquilo que mais laboriosamente havia construído durante toda a sua vida política: a imagem com que gostaria que os portugueses o vissem. Mas não foram os seus adversários políticos que lhe obscureceram a imagem, foi ele próprio com a sua obstinada recusa em se deixar democraticamente escrutinar.
A análise política da reeleição de Cavaco Silva fica para mais tarde…
O discurso de vitória de Cavaco Silva não pode deixar de ser considerado surpreendente pelos seus mais importantes apoiantes políticos. Onde estes certamente esperariam palavras de grandeza à altura do cargo e da vitória, não muito diferentes daquelas que até hoje sempre pautaram os discursos dos Presidentes eleitos, proferidos na noite do desfecho eleitoral, depararam-se com palavras ressentidas, onde não era difícil perscrutar uma vontade de vingança reprimida, com algumas passagens ao nível de outras que já se tinham ouvido a políticos menores que foram a votos com questões patrimoniais de natureza pessoal por resolver. Também estes políticos se escudaram no voto popular para deixar sem resposta as questões que a democracia escrutinava.
Certamente que uma campanha política se faz em torno de ideias, de programas, de propostas. Mas não é indiferente a personalidade de quem defende as ideias, de quem apresenta os programas, de quem formula as propostas.
Cavaco Silva pode supor que as questões de natureza pessoal levantadas na campanha são indignas e que, como tal, podem ser plebescitadas pelo voto popular. Mas não podem!
Em aberto continuam questões sem resposta. A aquisição de acções, num aumento de capital de uma sociedade, por um preço privilegiado, apenas reservado a quatro entidades por deliberação da Assembleia Geral, é uma questão em aberto, diga Cavaco Silva o que disser. Tanto mais em aberto quanto se sabe que tais acções foram menos de dois anos mais tarde vendidas à sociedade que as emitiu, ou uma outra dela inteiramente dependente, por um lucro de 140% e se sabe ainda que essa mesma sociedade e o banco por ela detido a cem por cento incorreram numa das maiores fraudes da história da banca portuguesa. Que ambas as instituições eram geridas por amigos políticos de Cavaco Silva, alguns a contas com a justiça, e se sabe por fim que as consequências patrimoniais de tal descalabro não recaíram sobre os accionistas, como seria normal, mas sobre o contribuinte português, que será obrigado com o seu esforço a colmatar aquele prejuízo e, mais grave ainda, sobre os trabalhadores do sector público que por via de um confisco parcial do seu salário são igualmente chamados a pagar aquele e outros desmandos!
Esta questão não é uma calúnia. É uma questão política da maior importância.
Como em aberto continua a permuta declarada de uma vivenda por um terreno quando uma das pessoa intervenientes no negócio já declarou publicamente que houve uma permuta de vivenda por vivenda! Independentemente das questões de facto que tal negócio levanta, há questões fiscais que estão por resolver. E disso Cavaco Silva não pode livrar-se.
Mas as palavras de Cavaco não recordam apenas aqueles que pretendem encontrar nos votos todas as respostas a perguntas incómodas, elas recordam também a tristemente célebre “intentona das escutas” no desenvolvimento da qual Cavaco Silva exibiu perante todos os portugueses a sua capacidade para formular um raciocínio lógico, coerente e convincente. Também agora com o então Cavaco acredita que há por detrás das perguntas que os seus negócios suscitam uma cabala laboriosamente urdida por uma mente pérfida que o pretende denegrir.
A conta em que Cavaco Silva se tem ou em que gostaria que os outros o tivessem não corresponde mais à ideia que a partir destas eleições muitos milhões de portugueses dele terão. E Cavaco sabe disso. Daí a sua incontida revolta.
Cavaco Silva ficou, como muito bem disse Defensor Moura, definitivamente apeado do altar em que ele próprio se alcandorou. A partir destas eleições os portugueses conhecem-no melhor.
As palavras de Cavaco no dia da vitória são palavras crispadas, ressentidas, porventura premonitórias da crispação existente na sociedade portuguesa. Cavaco, como muito bem se sabe pelo seu passado político, não é homem para atenuar as diferenças e unir os portugueses. Pelo contrário, como ainda hoje ficou demonstrado há nele uma vontade de desforra ressentida de alguém que se sentiu tocado naquilo que mais laboriosamente havia construído durante toda a sua vida política: a imagem com que gostaria que os portugueses o vissem. Mas não foram os seus adversários políticos que lhe obscureceram a imagem, foi ele próprio com a sua obstinada recusa em se deixar democraticamente escrutinar.
A análise política da reeleição de Cavaco Silva fica para mais tarde…
3 comentários:
Caro Correia Pinto,
Fiz link para "A Carta a Garcia".
Obrigado.
OC
Muito bom. Parabéns.
Boa leitura. É preciso insistir. Cavaco tem de ser averiguado.
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