COMO ELES VÊEM AS COISAS
Se tudo correr como parece que vai correr, ou seja, se os partidos concorrerem separadamente a eleições – e sobre isto a última palavra ainda não está dita – o mais provável, dado o clima de intoxicação reinante nos media, é que o PSD ganhe sem maioria absoluta e o PS se posicione a seguir.
Neste caso, muito dificilmente Sócrates terá condições para continuar à frente do PS, tanto mais que está em curso uma grande pressão no sentido de o PS se associar ao governo, sem Sócrates. Ou seja, algo de semelhante ao que aconteceu nas penúltimas eleições alemãs.
É claro que esta hipótese só terá viabilidade se a analogia com a situação alemã for completa ou quase. Ou seja, para que o PS aceite integrar um governo de Bloco Central será necessário que o PSD não faça maioria com o CDS, porque, se fizer, o PS sabe que a sua posição no Executivo seria de extrema fragilidade e teria apenas por função coonestar as políticas do PSD, o qual, depois de feito “o resto do trabalho sujo”, sempre poderia recorrer ao CDS para concluir apenas com ele a legislatura.
Portanto, esta via do “Bloco Central” que tanto assusta Portas só seria possível no quadro descrito. Noutro contexto, o PS, por razões meramente tácticas, não estaria disponível.
Na hipótese, pouco provável, de Sócrates ficar novamente à frente do PSD, com maioria relativa, Cavaco iria ter o maior “bico-de-obra” da sua vida. É nisso que Sócrates aposta. Como a parada vai ter de ser muita alta, é também muito provável, como acima se disse, que se a aposta falhar Sócrates não tenha condições para continuar.
Perante este quadro, a questão que se coloca é saber se a Esquerda, a que está representada no Parlamento e a que não está, deve assistir a todos estes “jogos malabares” sem que se apresente como uma verdadeira alternativa.
Nunca como agora houve uma tão grande oportunidade de “fazer diferente”. Desperdiçá-la seria imperdoável. Mas isso será assunto para outro post, melhor dizendo, para um apelo que, a seu tempo, se fará.
Neste caso, muito dificilmente Sócrates terá condições para continuar à frente do PS, tanto mais que está em curso uma grande pressão no sentido de o PS se associar ao governo, sem Sócrates. Ou seja, algo de semelhante ao que aconteceu nas penúltimas eleições alemãs.
É claro que esta hipótese só terá viabilidade se a analogia com a situação alemã for completa ou quase. Ou seja, para que o PS aceite integrar um governo de Bloco Central será necessário que o PSD não faça maioria com o CDS, porque, se fizer, o PS sabe que a sua posição no Executivo seria de extrema fragilidade e teria apenas por função coonestar as políticas do PSD, o qual, depois de feito “o resto do trabalho sujo”, sempre poderia recorrer ao CDS para concluir apenas com ele a legislatura.
Portanto, esta via do “Bloco Central” que tanto assusta Portas só seria possível no quadro descrito. Noutro contexto, o PS, por razões meramente tácticas, não estaria disponível.
Na hipótese, pouco provável, de Sócrates ficar novamente à frente do PSD, com maioria relativa, Cavaco iria ter o maior “bico-de-obra” da sua vida. É nisso que Sócrates aposta. Como a parada vai ter de ser muita alta, é também muito provável, como acima se disse, que se a aposta falhar Sócrates não tenha condições para continuar.
Perante este quadro, a questão que se coloca é saber se a Esquerda, a que está representada no Parlamento e a que não está, deve assistir a todos estes “jogos malabares” sem que se apresente como uma verdadeira alternativa.
Nunca como agora houve uma tão grande oportunidade de “fazer diferente”. Desperdiçá-la seria imperdoável. Mas isso será assunto para outro post, melhor dizendo, para um apelo que, a seu tempo, se fará.
12 comentários:
Acredito que ao falar da esquerda parlamentar está a englobar o PS e não só o PCP e o BE. Ora o que se tem verificado na prática, é que para estes dois últimos, e para outros que estão fora do baralho como o MRPP, o inimigo principal sempre tem sido o PS. Então, como homem de esquerda, não radical, pergunto: O que fazer?
Manojas, parece-me que a velha questão de o PS ser ou não de esquerda não tem agora sentido prático, no imediato pré-eleitoral. O PS não se vai posicionar à esquerda nesta campanha, vai competir com o PSD no campo da austeridade e dos PECs. Como o JMCP explicou muito bem, o PS só poderá dar algum vislumbre de "esquerda" é depois, no caso de ficar na oposição. Antes não pode, porque vai jogar tudo pelo bloco central.
Outra questão interessante é saber como o PS descalçará a bota Sócrates no caso de ganhar com maioria relativa (não está excluído) e ter de formar governo de bloco central, sendo certamente JS inaceitável para o PSD.
Manojas:
Do aparelho do PS certamente não falamos. Seria o descrédito tentar fazer qualquer coisa com eles. Mas falamos certamente de muitos eleitores do PS e provavelmente de alguns militantes.
As coisas são como são. Sabe, um dos grandes problemas das ciências sociais é o de os ditos cientistas não verem os factos tal qual eles são. Imagine só por um instante que os físicos ou os químicos se comportavam cientificamente como a maior parte dos politólogos ou dos economistas.
Onde estaríamos?
Mas JMCP não é um politólogo?
Se não se considera, é o quê neste blog?
Por conseguinte é incluido na sua prórpia crítica.
Quando leio todas estas previsoes ou comentarios eleitorais fico na duvida se nao estarao a falar das eleicoes no Sporting nas quais o grande civismo democratico portugues veio mais uma vez a tona.
"Do aparelho do PS certamente não falamos. Seria o descrédito tentar fazer qualquer coisa com eles. Mas falamos certamente de muitos eleitores do PS e provavelmente de alguns militantes, "[ fico enternecido com esta pequena abertura a alguns militantes , esperançado que me seja dado acesso a esse pequeno olimpo].
Este excerto reproduz uma clássica ambição do PCP:ter um PS que o seguisse como um cachorro amestrado.Na impossibilidade de o conseguir inventava socialistas que secretamente o seguiam como representantes do espírito do PS que devia ser. Essas enteléquias nunca apareciam. Na vida real aconteceu o contrário: o PCP foi perdendo militantes e quadros, alguns dos quais se converteram ao PS.
De facto, o PS é o que é (heterogéneo, com enraizamento popular, ideologicamente algo errático, mas ocupando um lugar estratégico no tabuleiro político português). Pode desmoronar-se. E se isso acontecer as outras esquerdas não vão ficar melhor do que aquilo que estão.Pode desmoronar-se, mas enquanto isso não acontecer é com ele, tal como é, que se tem que contar. É legítimo imaginar uma esquerda pura que funcioneasse sem o PS, mas então tem que se dizer o que é possível fazer-se com as esquerdas puras isoladas a curto prazo.
Pode apontar-se para uma aproximação ao PS, mas para o PS tal como ele é e não como convinha aos outros que ele fosse.
JMCP não quer suportar o ónus de ter que pensar uma alternativa viável a curto prazo sem o PS, mas não quer quebrar a sua armadura ideológica, admitindo que é com o PS tal como existe que se põe a questão prática de negociar. daí a posição expressa na frase citada.
Por isso, no fundo a crítica que faz aos politólogos engloba também uma pequena dose de auto-crítica.
Com franqueza, não dá para responder a sério. Negociar com o PS o quê? Não tocar no capital, nem nos altos rendimentos e conseguir que os reformados com a pensão mínima tenham direito a uma actualização correspondente à inflação? Não tocar no modelo económico tal como o PS/PSD/CDS o entendem? De facto, não há negociação possível com o PS.
O Sócrates que é, de facto,o intérprete da verdadeira matriz do PS, conhece melhor do que ninguém o PS e como deve para ele falar. A tal esquerda do PS já nem precisa de desempenhar o seu papel. Sócrates nas horas críticas desempenha-o melhor do que ninguém. Diz ele o PSD quer acabar com o passe social, quer transformar o transporte numa fonte de lucros...e depois privatiza essas empresas ou prepara-se para as privatizar e negoceia com as empresas privadas parcerias que tornam o transporte público uma fonte de lucro, muitas vezes pago pelos contribuintes. E acrecenta Sócrates: o PSD quer acabar com o serviço nacional de saúde, quer isto e mais aquilo e depois concede a esse mesmo capital privado parcerias várias nesse domínio; e assim na segurança social, na educação, no trabalho, em tudo.
Sócrates faz passar, no plano dos princípios, um discurso - que tranquilize a tal esquerda do PS - e depois na concretização das respectivas políticas desmente de alto a baixo tudo o que antes enunciara.
Isto para a dita esquerda do PS pode chegar, mas para a Esquerda não chega!
O aparelho de comunicação socrático está a atacar... Fico à espera da minha vez, porque também escrevi no Moleskine praticamente aquilo que, como tantas vezes acontece, reflete a minha grande convergência de opinião com o JMCP.
Falta ainda ler a entrevista hoje de Medeiros Ferreira à Pública. Pelo que li antes, creio que os socráticos ficaram enraivecidos. Problema do PS, se é suicida que se amanhe.
Falando a linguagem simples: há coisas inaceitáveis. Ir a despacho a Berlim, ou a Bruxelas como foi o do PSD logo a seguir, é uma humilhação absolutamente inaceitável.
Repito o que já disse muitas vezes: um povo que resistiu ao século XIV será capaz de resistir às maiores provações, mas com dignidade. Quem resistiu a meia dúzia de guerras com Castela, quem resistiu à Peste Negra e às suas terríveis réplicas será capaz de resistir a situações muito menos grave.
Sócrates humilhou a memória histórica deste país e a sua dignidade enquanto Povo. E o PS ficou calado, vergonhosamente calado!
1. Que o PS e o PSE estão longe de ser perfeitos, todos sabemos.
Mas a pesporrência de se julgarem instuídos em dadores naturais de lições, sem ao menos darem alguma importãncia ao desvio com que se entusiasmaram durante décadas e que caiu fragorosamente em 1989, é um pouco excessiva.
2. O carimbo de socrático em tudo o que vindo do lado do PS vos não agrada reflecte o mesmo sectarismo que eu revelaria se vos chamasse órfãos de Estaline.
3. Eu compreendo perfeitamente que na vossa opinião (falo também para JVC), o PCP e o BE não devam aliar-se nunca com o PS. É uma rotina de décadas. Mas qual é o resultado político disso:ou o PS está no governo apesar da obstrução das outras esquerdas, ou a direita está no poder após vencer o PS.
A direita não pode deixar de agradecer.
4. É aliás curioso como dentro do PS,ano após ano, também tenho vindo a ouvir um estilo de argumentação igual ao vosso, mas de sinal oposto. É com uma veemência igual à vossa que muitos sustentam a impossibilidade de se negociar com o PCP e o BE.
E, no entanto, sem um apoio de todo esse espectro político, nem Soares, nem Sampaio tinham sido eleitos Presidentes da República
Respondendo ao último comentário.
A grande ilusão é supor que o PS é um partido de esquerda. E essa ilusão resulta de haver no património político do PS um conjunto de princípios de esquerda que, na maior parte dos casos, nunca foram levados à prática e que nos últimos tempos se adulteraram ainda mais do que em qualquer outra ocasião.
E, como a gente que governa o PS conhece muito bem o partido que tem, repisa à saciedade esses mesmos princípios, porque sabe que isso "cala fundo" em amplos sectores partidários, para depois ficar à vontade na actuação política, na prática política.
Em questões que não "metam" economia, nem toquem na estrutura social, como interrupção voluntária da gravidez, divórcio, casamento, mudança de sexo e coisas do género pode contar-se com o PS, da mesma maneira que também se pode contar com a maior parte da juventude de direita e com os sectores mais urbanos da dita, que não estão para terçar armas contra essas causas.
Mas no resto não. Com excepção de António Arnault, SNS, não há na história da democracia portuguesa pos 25 de Abril uma única conquista social que se deva ao PS. Ou são fruto da Revolução, das forças revolucionárias, ou são ...agora não interessa dizer.
E mesmo algumas das medidas sociais de que o PS se vangloriava e que agora quase renegou, mais correctamente, que agora limitou drasticamente, não são verdadeiros direitos, mas esmolas. Inserem-se numa lógica que nada tem de social-democrata, mas antes nos seus antípodas, ou seja, "Continuas muito bem onde estás, lá no fundo da escala social e toma lá uma esmola para não morreres de fome".
Portanto, há, de facto, uma grande diferença entre nós.
Há uma longa, longa história de política de direita no PS travestida de discurso de esquerda que, infelizmente, tem efeitos nefastos nos militantes do partido que gostariam de uma política diferente, mas que não lutam por ela por acreditarem que quem governa ou dirige também a quer...só que não pode pô-la em prática, porque as circunstâncias o não permitem.
Por outras palavras mais directas: A origem do PS (que nada tem a ver com as origens do SPD, do Partido Trabalhista, do PSOE, da SFIO, etc.)também explica muita coisa. Mas isso já são contas de outro rosário...
É uma contradição interessantes: ser-se implicitamente complacente para com os principais esteios do PSE no plano estratégico; mas ser-se arrasador para com o PS no plano táctico.
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