UM DISCURSO FRACO
Cavaco Silva não surpreendeu. Foi igual a si próprio: um discurso limitado e demagógico.
Cavaco Silva não compreendeu nem vai compreender jamais as verdadeiras causas da situação em que o país se encontra. Causas de que ele começa por ser o principal responsável quando deu início a opções políticas no quadro europeu sem que sequer tivesse equacionado as suas reais consequências a prazo.
Cavaco acreditou que a formação do mercado único entre economias profundamente desiguais poderia a prazo relativamente curto transformar-se numa vantagem para Portugal, apesar das grandes diferenças com que partiam alguns dos países que passaram a partilhar o mesmo espaço económico.
Cavaco acreditou que a liquidação de uma parte importante do aparelho produtivo português, exactamente aquele que era menos competitivo no plano europeu, poderia ser substituída pelo resultado da aplicação de ajudas financeiras conjunturais, aliás em alguns casos concedidas para encurtar ainda mais os prazos de destruição do aparelho produtivo, sem ter compreendido que o efeito aparentemente vantajoso da aplicação daquelas ajudas (enfim, excluindo os casos em que elas foram drenadas para a mais pura corrupção ou para gastos no essencial não reprodutivos, como aconteceu praticamente em toda a linha com as verbas do Fundo Social Europeu, ou para gastos sumptuários não reprodutivos, como muitas das destinadas à agricultura e às pescas) continha em si o gérmen das actuais dificuldades.
Quando hoje Cavaco insiste na crítica à produção e ao apoio à produção de bens não transaccionáveis, esquece a sua grande responsabilidade na actual estrutura da economia portuguesa, não apenas por ter participado acriticamente na formação do mercado único europeu, mas principalmente por não ter percebido as consequências da adesão de Portugal ao Sistema Monetário Europeu, acto preambular da adesão ao euro, nas concretas condições da economia portuguesa.
Pelo contrário, sem base científica e partindo, como quase sempre partem os economistas como Cavaco, de uma análise puramente ideológica, Cavaco acreditou que aqueles dois momentos fundadores do “Portugal moderno” constituiriam a panaceia para todos os males que atavicamente nos atormentam.
Cavaco não percebeu nada disto e hoje, perante a situação criada, faz um discurso puramente demagógico e politicamente enganador para se distanciar das grandes responsabilidades que contraiu em mais de quinze anos de “serviço” nos mais altos cargos do Estado português. Melhor: é um discurso impróprio por ter em vista um objectivo politicamente partidário, ou seja, recheado de opções ideológicas escondidas, disfarçado numa pretensa, mas muito fraca, análise técnico-económica da situação do país, da qual é escamoteado o que de mais importante aconteceu no mundo depois de fins de 2008.
Por exemplo, quando Cavaco fala na perda de competitividade da economia portuguesa o que é que ele quer dizer? Certamente constata um facto, mas o modo como aborda o assunto pressupõe uma imputação política geradora de responsabilidade. Ora, esta forma de colocar o assunto não é séria: porque ou Cavaco reconhece que a perda progressiva de competitividade resulta da moeda única e apresenta para o facto os remédios que propõe; ou se insinua que a perda de competitividade é o resultado de erradas opções políticas de quem governa deveria ter dito quais as medidas que a seu tempo deveriam ter sido tomadas.
Cavaco não faz uma coisa nem outra, fica pela insinuação. E sabe-se, hoje sem qualquer dúvida, o que no "jargão europeu" de raiz prussiana significa ganhar competitividade.
Cavaco Silva não surpreendeu. Foi igual a si próprio: um discurso limitado e demagógico.
Cavaco Silva não compreendeu nem vai compreender jamais as verdadeiras causas da situação em que o país se encontra. Causas de que ele começa por ser o principal responsável quando deu início a opções políticas no quadro europeu sem que sequer tivesse equacionado as suas reais consequências a prazo.
Cavaco acreditou que a formação do mercado único entre economias profundamente desiguais poderia a prazo relativamente curto transformar-se numa vantagem para Portugal, apesar das grandes diferenças com que partiam alguns dos países que passaram a partilhar o mesmo espaço económico.
Cavaco acreditou que a liquidação de uma parte importante do aparelho produtivo português, exactamente aquele que era menos competitivo no plano europeu, poderia ser substituída pelo resultado da aplicação de ajudas financeiras conjunturais, aliás em alguns casos concedidas para encurtar ainda mais os prazos de destruição do aparelho produtivo, sem ter compreendido que o efeito aparentemente vantajoso da aplicação daquelas ajudas (enfim, excluindo os casos em que elas foram drenadas para a mais pura corrupção ou para gastos no essencial não reprodutivos, como aconteceu praticamente em toda a linha com as verbas do Fundo Social Europeu, ou para gastos sumptuários não reprodutivos, como muitas das destinadas à agricultura e às pescas) continha em si o gérmen das actuais dificuldades.
Quando hoje Cavaco insiste na crítica à produção e ao apoio à produção de bens não transaccionáveis, esquece a sua grande responsabilidade na actual estrutura da economia portuguesa, não apenas por ter participado acriticamente na formação do mercado único europeu, mas principalmente por não ter percebido as consequências da adesão de Portugal ao Sistema Monetário Europeu, acto preambular da adesão ao euro, nas concretas condições da economia portuguesa.
Pelo contrário, sem base científica e partindo, como quase sempre partem os economistas como Cavaco, de uma análise puramente ideológica, Cavaco acreditou que aqueles dois momentos fundadores do “Portugal moderno” constituiriam a panaceia para todos os males que atavicamente nos atormentam.
Cavaco não percebeu nada disto e hoje, perante a situação criada, faz um discurso puramente demagógico e politicamente enganador para se distanciar das grandes responsabilidades que contraiu em mais de quinze anos de “serviço” nos mais altos cargos do Estado português. Melhor: é um discurso impróprio por ter em vista um objectivo politicamente partidário, ou seja, recheado de opções ideológicas escondidas, disfarçado numa pretensa, mas muito fraca, análise técnico-económica da situação do país, da qual é escamoteado o que de mais importante aconteceu no mundo depois de fins de 2008.
Por exemplo, quando Cavaco fala na perda de competitividade da economia portuguesa o que é que ele quer dizer? Certamente constata um facto, mas o modo como aborda o assunto pressupõe uma imputação política geradora de responsabilidade. Ora, esta forma de colocar o assunto não é séria: porque ou Cavaco reconhece que a perda progressiva de competitividade resulta da moeda única e apresenta para o facto os remédios que propõe; ou se insinua que a perda de competitividade é o resultado de erradas opções políticas de quem governa deveria ter dito quais as medidas que a seu tempo deveriam ter sido tomadas.
Cavaco não faz uma coisa nem outra, fica pela insinuação. E sabe-se, hoje sem qualquer dúvida, o que no "jargão europeu" de raiz prussiana significa ganhar competitividade.
Outras vezes pela proclamação, como quando advoga políticas activas de emprego. Em que consistem?
E quando fala em empresas ameaçadas a que se refere? Não certamente aos compadrios que adiante denunciou, que, como bem se sabe, começaram com os seus governos, alguns deles ainda hoje bem gravosos para o erário público português. Ou será que se está a referir ao merceeiro do Pingo Doce, a quem nada aconteceu, apesar de ter dado mais uma prova evidente do modo como os patrões do dinheiro entendem o patriotismo?
E quando Cavaco apela à redução da despesa, a que despesa se refere? À dos colégios privados que vivem à custa dos subsídios do Estado ou às despesas de saúde e educação públicas?
E quando aponta como modelo um país virado para as exportações de bens e serviços o que quer realmente Cavaco dizer com isso? Que percentagem do PIB deve, segundo Cavaco, ser imputada às exportações?
Francamente, a sensação com que se fica depois de ouvir Cavaco é que como economista é limitado e como político falta-lhe grandeza, muita grandeza.
Mas é o que temos…
E quando fala em empresas ameaçadas a que se refere? Não certamente aos compadrios que adiante denunciou, que, como bem se sabe, começaram com os seus governos, alguns deles ainda hoje bem gravosos para o erário público português. Ou será que se está a referir ao merceeiro do Pingo Doce, a quem nada aconteceu, apesar de ter dado mais uma prova evidente do modo como os patrões do dinheiro entendem o patriotismo?
E quando Cavaco apela à redução da despesa, a que despesa se refere? À dos colégios privados que vivem à custa dos subsídios do Estado ou às despesas de saúde e educação públicas?
E quando aponta como modelo um país virado para as exportações de bens e serviços o que quer realmente Cavaco dizer com isso? Que percentagem do PIB deve, segundo Cavaco, ser imputada às exportações?
Francamente, a sensação com que se fica depois de ouvir Cavaco é que como economista é limitado e como político falta-lhe grandeza, muita grandeza.
Mas é o que temos…
2 comentários:
Aqui o autor emenda um pouco da ênfase que habitualmente coloca nas culpas "alemãs" e da omissão sobre os pecados internos. É muito irritante culpar a directrizes de Bruxelas pelo afundamento da capacidade pesqueira e reconhecer que a Espanha soube manter a sua posição cimeira nesta área a nível mundial. Então, a CEE também alinha com o Conde de Andeiro?. Isto a título de exemplo.
Foi, isso sim, muita má governação, muito "esquema", muito chico-espertismo.
No meu entender seria muito difícil, a partir do momento em que a Espanha o fazia, não ter aderido ao Euro. Esta adesão tinha riscos e custos mas também benefícios, só souberam explorar as facilidades sem curar de limitar custos!
Finalmente, parece-me que para além de tudo o que autor diz e é verdade, os defensores da adesão não entraram, (não o poderiam fazer) nos seus cálculos com as consequências do fim do bloco de Leste. Sabe-se como ele funcionava como catalisador da "solidariedade" ocidental. Pensava-se na deslocalização para aqui de indústrias de tecnologia intermédia que, por efeito da "globalização", não se concretizou ou se deslocalizou posteriormnte para paragens mais favoráveis ao capital, agora sem freio.
LG
Meu Caro LG
Então, a conclusão que se impõe - e aqui isso tem sido dito muitas vezes - é que o socialismo do leste faz muita falta ao "nosso" capitalismo...Sem ele, é o que se vê. Ou seja, é completamente utópico supor que o capitalismo se auto-regula.
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