Ainda sobre o protesto da “Geração à rasca” e o que para aí se ouve dizer, nomeadamente sobre a ausência de objectivos, falta de ideias claras sobre o que fazer e até a analogia que alguns já fizeram com o “Tea Party”.
Alguns comentários são manifestamente exagerados, embora a questão seja, de facto, muito complexa.
Alguns comentários são manifestamente exagerados, embora a questão seja, de facto, muito complexa.
Por um lado, há já em muita gente a convicção de que, pelas vias institucionais, ninguém (quer dos que estão ou dos vão ficar “à rasca”) vai conseguir algo de muito diferente daquilo que existe e que a cada dia se agrava. O sistema tal como está organizado, e ainda por cima neste momento, não permite fissuras. Aparece mesmo aos olhos da maioria como um bloco, fechado, impossível de se deixar penetrar a partir de qualquer ideia nova ou diferente daquelas que diariamente o alimentam e lhe asseguram a vida por via das proclamações e comentários, no essencial convergentes, veiculados pelos media. Qualquer argumentação inovadora leva logo em cima com uma chuva de argumentos tendentes a demonstrar que tal hipótese não tem qualquer viabilidade, porque os “mercados” isto e mais aquilo, os nossos parceiros na União Europeia jamais aceitariam e por aí fora. É claro que todos esses argumentos são desenvolvidos a partir das próprias bases do sistema e assentam no pressuposto de que ele é imutável.
Por outro lado, numa situação como a actual, em que um partido já está há muito tempo no poder, pode haver a tentação de acreditar na possibilidade de mudança prometida por outro partido, igualmente do sistema, que apresenta as mesmas propostas ou até piores, de forma diferente. É o que se passaria com a apresentação de propostas que assentem numa radicalização dos pressupostos neoliberais nas quais a demagogia bem feita pode perfeitamente confundir-se com a racionalidade. A mais conhecida (principalmente, pelas piores razões, sistematicamente omitidas) passa pela diminuição dos impostos. Na presente situação qualquer abaixamento dos impostos tem de passar por um corte na despesa que o compense. Esta ideia de que as pessoas passam a pagar menos impostos pode ser muito persuasiva e convencer muita gente, primeiro, porque é muito fácil demonstrar com meia dúzia de exemplos isolados, de grande impacto público e quase nenhum efeito financeiro que há no Estado muitas despesas supérfluas que podem ser evitadas. E depois, porque o abaixamento dos impostos, se efectivamente se verificar, vai logo notar-se, enquanto a diminuição das despesas tem um efeito gradual e diferenciado. Esta é, de facto, a maior tentação em que pode cair o movimento da “Geração à rasca” – uma luta contra o Estado e tudo o que ele parece representar - e então, nesse caso, haveria fundadas razões para o assemelhar ao “Tea Party”.
Por outro lado, numa situação como a actual, em que um partido já está há muito tempo no poder, pode haver a tentação de acreditar na possibilidade de mudança prometida por outro partido, igualmente do sistema, que apresenta as mesmas propostas ou até piores, de forma diferente. É o que se passaria com a apresentação de propostas que assentem numa radicalização dos pressupostos neoliberais nas quais a demagogia bem feita pode perfeitamente confundir-se com a racionalidade. A mais conhecida (principalmente, pelas piores razões, sistematicamente omitidas) passa pela diminuição dos impostos. Na presente situação qualquer abaixamento dos impostos tem de passar por um corte na despesa que o compense. Esta ideia de que as pessoas passam a pagar menos impostos pode ser muito persuasiva e convencer muita gente, primeiro, porque é muito fácil demonstrar com meia dúzia de exemplos isolados, de grande impacto público e quase nenhum efeito financeiro que há no Estado muitas despesas supérfluas que podem ser evitadas. E depois, porque o abaixamento dos impostos, se efectivamente se verificar, vai logo notar-se, enquanto a diminuição das despesas tem um efeito gradual e diferenciado. Esta é, de facto, a maior tentação em que pode cair o movimento da “Geração à rasca” – uma luta contra o Estado e tudo o que ele parece representar - e então, nesse caso, haveria fundadas razões para o assemelhar ao “Tea Party”.
Nada, porém, do que se ouviu na Avenida da Liberdade ou na Praça dos Aliados, aponta nesse sentido. As pessoa não têm o sentimento de que o inimigo seja o Estado, nem nada na nossa difusa “cultura política” aponta nesse sentido. O que as pessoas têm é o sentimento de que há muita gente na política ou a ela ligada que usa o Estado em benefício próprio e das clientelas que a apoia. O que não é exactamente a mesma coisa que entender que o Estado não passa de instrumento ao serviço dos grandes interesses. As pessoas acham que o Estado pode desempenhar um papel de árbitro e de agente interventor na vida económico-social contribuindo com a sua acção para uma sociedade muito mais equitativa.
Em terceiro lugar, estão os que, situando-se dentro do sistema, o contestam. Aparentemente teriam, numa situação como a presente, reunidas todas as condições para desempenhar um papel que pudesse levar a uma efectiva mudança e angariar um grande apoio popular capaz de se tornar no sustentáculo da prometida ruptura. Acontece que, quem está dentro do sistema, e o contesta, está, pela sua própria história, mas também pela acção do poder ideológico que o sustenta, sujeito a reacções quase pavlovianas relativamente àquilo que propõe ou até mesmo racionais justificadas por descrenças fundadas.
Quem está fora e aparece de novo beneficia, portanto, de todas as vantagens: não tem passado, sabe perfeitamente o quer não quer e, se continuar na luta, breve vai perceber que o que não quer jamais pode ser evitado no sistema em que vive.
A partir daí todas as portas estão abertas…
A luta continua! Ou como dizem os Homens da luta: “Luta, camarada, luta!”
A partir daí todas as portas estão abertas…
A luta continua! Ou como dizem os Homens da luta: “Luta, camarada, luta!”
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