quinta-feira, 24 de março de 2011

SOBRE A CRISE


O QUE VEM A SEGUIR

Sobre a crise política portuguesa não há muito a dizer, pois embora possa ter as suas causas próximas no discurso de posse de Cavaco, no “golpe” de Sócrates na negociação do PEC ou na indisfarçável voracidade do PSD pelo “pote”, a sua verdadeira causa está no rotundo fracasso das políticas económicas defendidas pelo PS/PSD com a muleta do CDS, sempre que necessário.
De facto, como se viu não há divergências políticas entre os dois partidos. Ambos se propõem levar à prática as mesmas políticas, com os mesmos objectivos e os mesmos alvos. O PSD está tão de acordo com a política do PS que até gostaria que os socialistas se mantivessem no Governo por mais uns meses. A identidade é tal que na sessão parlamentar adrede convocada para discutir o PEC IV o PSD não só não ousou fazer qualquer crítica ao conteúdo do documento, como tão-pouco apresentou, por escassa que fosse, a menor alternativa ao acordado entre o Governo e Merkel.
Havendo eleições, e dificilmente deixará de as haver, os portugueses vão novamente cair no logro de entregarem o seu voto maioritário aos dois partidos que menos se diferenciam na linha política a seguir e que na realidade só têm para oferecer mais austeridade, mais pobreza e mais recessão.
Aliás, se dúvidas houvesse elas teriam hoje sido completamente dissipadas por Merkel no modo como se referiu, no Parlamento alemão, à crise política portuguesa. Merkel já fala destas coisas em relação a nós com uma desenvoltura e autoridade que Obama está muito longe de poder usar em relação ao Arkansas!
Perante este quadro, toda a campanha eleitoral entre o PS e PSD vai andar à volta de questões secundárias, para que os portugueses possam ser mais facilmente enganados, estando os media, como também se têm visto, muito interessados em exacerbar as pequenas diferenças, as questões acessórias, para que a discussão do essencial seja propositadamente remetida para o domínio dos assuntos sem interesse.
Neste contexto, o CDS, suspeitando e temendo ser preterido pela “grande coligação”, já vai distribuindo as suas críticas quase equitativamente entre o PS e o PSD e defendendo a versão “social-cristã” do neo-keynesianismo. O CDS não é para levar a sério em matéria de proposta política, já que rapidamente vai passando de uma para outra consoante as conveniências e será capaz de aceitar ainda qualquer outra desde que lhe assegura a chegada ao poder.
Se os portugueses continuarem a dar o seu voto a quem os conduziu a esta situação, lá teremos mais uma vez o PS ou, mais provável desta vez, o PSD a aplicar novos PAR (Programa de Austeridade e Recessão), de preferência em coligação com aqueles que aceitem juntar-se ao vencedor, apesar da constatação que por todo o lado se vai fazendo de que tais programas apenas agravam a situação económica do país e impedem o regular recurso ao financiamento externo.
De facto, a Europa está atravessando um momento deveras singular. Com o maior à vontade, jovens comentadores, especialistas em questões financeiras, vêm regularmente explicar-nos, principalmente pelas televisões, que os governos muito endividados têm de recorrer ao resgate (bail out) do FMI ou do Fundo Europeu ou de ambos, a juros elevados e na base de um apertado programa de austeridade, porque, em primeiro lugar, quem se endividou e quase se tornou insolvente não pode ser bem tratado sob pena de se estar a premiar o infractor e, em segundo lugar, porque só o apertado programa de austeridade dá garantias, a quem empresta o dinheiro, de mudança de rumo no futuro.
E são estes mesmos analistas financeiros vestidinhos de fato escuro e camisa branca que, com a mesma desfaçatez, justificam o bail out a bancos altamente endividados e em risco de falência, a juros zero ou quase, de quantias bilionárias, sem qualquer regra ou constrangimento que não seja a devolução desse dinheiro quando puderem (devolução, quando é o caso, porque em muitos nem a devolução está assegurada).
E isto é aceite como perfeitamente normal. A conclusão é sempre a mesma: quando se chega a tal ponto de intoxicação ideológica não há votos que nos valham! Não vai ser, não pode ser, com votos que esta situação se resolve!

11 comentários:

MANOJAS disse...

Mas se como afirma a situação não se resolve com votos, como é que se resolve? Com espingardas? Diga-me, que eu já estou a ficar nervoso.

JM Correia Pinto disse...

Não necessariamente (pelo nosso lado),mas com pressão social, muita pressão social. Não é assim que se resolve, em todo lado, o que parece não ter solução? Somente quando se inverter a compreensão do que está em jogo, poderá a crise ter uma resposta diferente da que está em curso.
Por favor, se até George Soros, o "grande investidor", não tem qualquer espécie de dúvida sobre o que se está a passar, como pode o povo continuar a deixar-se "desiluminar" por Sócrates, Cavaco, Passos Coelho, Portas e C.ª? Na companhia estão esses duques, cantigas e todos os demais que diariamente nos intoxicam com as suas "análises" ideológicas...
Mais tranquilo?

MANOJAS disse...

Reparei que deixou de fora o Jerónimo, o Louçã,e aquela pequena dos Verdes. Será com eles? Olhe que não, olhe que não. Francamente, não fiquei nada mais trânquilo.

Manuel Horacio Lima de Jesus disse...

Claro tem que ser com armas, e sacudir a ditador alema, nao veem os politicas que ela (Alemnah) nos esta a comer lentamente! Nao vem que temos que abandonar os conquistadores de toda a Europa (sem armas)Nao vem que nos arrestaram para este maldito Euro que nos destruiu a economia ( A agricultura, a Pesca e o nosso nivel de vida!) Quem nos meteu nesta desgarca tem agora o dever de nos tirar dela.Fora com esta cambada. Estes politicos de meia tijela que despresam que trabalha e quere uma vida decente!Nao percam tempo...que esperamos nos deles?

Manuel Horacio Lima de Jesus disse...

Temos que sair deabaixo da ditadura alema, que os politicos de meia tijela nos arrataram contra a nossa vontade. Nao veem os politicos que a Alemanha esta-nos a destruir o nosso nivel de vida? Que o euro nos deixou de tanga? Que nos desruiram a nossa agricultura a nossa pesca o nosso turismo o nosso nivel de vida? Vamos para uma moeda fraca para poder produzir e competir! Vamos vender aos paises com a nossa lingua! Vamos resolver o nosso prolema com as riquezas que temos. Que podemos nos esperar deste capitalismo slvagem?

Ana Cristina Leonardo disse...

gosto muito de passar por aqui. e gostei muito daquela do obama e do arkansas...

JMCPinto disse...

Respondendo a Manojas:
Então diga lá, francamente, acredita que será com estas políticas que lá vamos? Portugal tem muitas saídas. Sempre teve. E desta vez também terá. Nunca, porém, com esta gente. Jamais.
Portugal não vai a despacho a Berlim. Isso nunca. Tem de haver dignidade. Ir a despacho à matrona da Saxónia é algo que a História deste país registará como uma das suas principais humilhações.
Isto não é conversa nacionalista. É, se quiser qualificar, o discurso da dignidade

MANOJAS disse...

Compreendo a sua indignação, que tem alguma razão, mas, sabe, se não nos deixarmos de recriminações, de ressentimentos, de insultos, de ódios pessoais, de não tentarmos encontrar linhas de entendimento, de sermos apenas contestatários, podem haver muitas saídas, mas só aquela que for comum para a maioria de nós nos pode verdadeiramente salvar.

Manuel Horacio Lima de Jesus disse...

Sr Manojas..e que ganhamos enterdermo-nos com o capitalismo unido neste momento a preparace para varrer o que a revolucao francese nos deixou de bom?
Temos que ser revoltados dignos..e aqui so ha um caminho e com o Povo Amigo que temos que voltar a ser Senhores do nosso destino. O D. Sebastiao nao volta mas nos ainda estamos ca! Apoio o Dr Correia Pinto. Aqui a revolta e um meio de encontrar o nosso destino.

JMCPinto disse...

Meu Caro Horácio
Isto aqui está feio. Ou como dizia o Chico Buarque "A coisa aqui está preta". Muito pior do que aí.
Abraço
ZM

MANOJAS disse...

Pois, pois! Obrigado pelos esclarecomentos.