O GRAVE DA QUESTÃO
Qualquer pessoa minimamente informada sabe que as negociações com o FMI são sempre muito difíceis e na maior parte dos casos vexatórias para os Estados que a elas têm de recorrer. O FMI intervém em situações de crise, principalmente para evitar a cessação de pagamentos, e as suas intervenções têm como objectivo imediato garantir o pagamento integral dos credores através de programas que só retoricamente estão preocupados com o crescimento e o emprego.
Essa não é o objectivo do FMI. É, porém, natural que os seus agentes por deformação ideológica, que eles não identificam como tal, mas antes como “teoria económica”, acreditem que do cumprimento daquele objectivo resultará, mais tarde, como consequência natural, um “crescimento económico saudável” (eles gostavam de dizer: sustentado, mas depois do que se passou com o capital financeiro o adjectivo caiu em desuso) e um aumento do emprego.
Como os factos, historicamente comprovados, desmentem tais consequências, os Estados, desde os mais irrelevantes aos mais importantes na área geográfica em que se inserem, desde os mais novos aos que já têm quase dois séculos de existência, sempre tentaram resistir aos programas impostos pelo FMI, porque sabiam e sabem o que isso representa de privações e de abaixamento do nível de vida (mesmo quando já era muito baixo) para as respectivas populações.
Dificilmente alcançam os seus objectivos ou alguns deles, tal a rigidez de quem negoceia implacavelmente em nome dos credores. Mas fica-lhes a esperança de que a passagem do tempo acabe mais cedo do que tarde por dar-lhes razão e que por essa via fique demonstrada a inviabilidade, pelo menos parte, do que foi acordado, já que são muito poucos os que têm a coragem de devolver o FMI a Washington, assumindo eles próprios, com os seus recursos, a resolução da crise.
Quem acompanhou (no sentido de estar a ser informado) o que nas décadas de 80 e de 90 se ia passando com as negociações entre o FMI e os países em desenvolvimento, da África e de outros continentes, sabe que, pelo menos, os governantes desses países lutavam nos diversos fora internacionais, e em reuniões informais, contra a prepotência e natureza obsessivamente ideológica desses programas. Programas que, como se disse, eles tinham que aceitar, já que sem o aval do FMI nenhuma outra “ajuda” poderia ter lugar.
A intervenção do FMI na Europa da zona euro, que não na Europa comunitária, onde continuou a estar presente, é uma novidade dos tempos que correm. E uma péssima novidade, já que ela só acontece em virtude de a “Europa credora” ter uma posição sobre as situações de crise ocorridas no seu seio ainda mais drástica do que aquela que o FMI perfilhava quando actuava na África, na Ásia e na América Latina como uma espécie de apóstolo do neoliberalismo.
Portanto, mais se justificaria que quem tem que negociar ou ser ouvido pela Troika (na verdade não é Troika nenhuma, mas antes FMI mais BCE, como cabeça de turco do capital financeiro alemão e francês, eventualmente inglês, no caso da Irlanda), representativa do capital financeiro, lutasse, antes de mais, pela dignidade do povo e do país a que pertence, e depois que tivesse a coragem de não aceitar, nos prazos e nos termos propostos, o programa que o FMI/BCE traz na pasta.
Mas não. Em Portugal passa-se exactamente o contrário. Há quem proponha programas ainda mais austeros do que aqueles que os representantes do capital financeiro estavam para apresentar. Há quem esteja de tal forma ideológica e materialmente identificado com os interesses do grande capital, quem seja de tal forma indiferente ao sofrimento do povo, que não tem qualquer escrúpulo em aproveitar estas negociações, realizadas para defender interesses alheios, como uma boa oportunidade para fazer aprovar um conjunto de medidas por que há muito ansiavam: salários baratos, completa desregulação do trabalho assalariado, isenção de impostos para os ricos, eliminação das despesas sociais, fim da solidariedade intergeracional, privatização de tudo o que possa dar lucro, recapitalização da bancos à custa do trabalho do povo, enfim, a constituição de uma sociedade dual, com uma percentagem ínfima no topo, devidamente acompanhada pelos lacaios e acólitos, e resto do vulgo na base, numa espécie de escravatura moderna.
E não admira que as coisas se passem assim. Pois ainda há bem pouco tempo todos ouvimos o Presidente da República e o governador do Banco de Portugal elogiarem o funcionamento dos “mercados” e a subida das taxas de juro como consequência natural e normal do mau comportamento dos mutuários! Para estes senhores é normal que o BCE esteja agora a emprestar aos bancos a uma taxa de juro de 1,25% e que a Grécia, se precisa de dinheiro a dois anos, o vá buscar aos “mercados” acima dos 20%!
Estes comportamentos, de confederações patronais, de políticos, enfim, de todos aqueles que formal ou informalmente se encontram com os representantes da troika para lhes solicitarem medidas ainda mais drásticas não podem ficar impunes.
Estes comportamentos anti-patrióticos, que atentam contra a dignidade do povo português, contra a sua auto-estima, contra os seus legítimos interesses, têm de ser denunciados como comportamentos traidores, infames e relativamente aos quais, mais tarde ou mais cedo, vai ter de se ajustar contas com eles!
Qualquer pessoa minimamente informada sabe que as negociações com o FMI são sempre muito difíceis e na maior parte dos casos vexatórias para os Estados que a elas têm de recorrer. O FMI intervém em situações de crise, principalmente para evitar a cessação de pagamentos, e as suas intervenções têm como objectivo imediato garantir o pagamento integral dos credores através de programas que só retoricamente estão preocupados com o crescimento e o emprego.
Essa não é o objectivo do FMI. É, porém, natural que os seus agentes por deformação ideológica, que eles não identificam como tal, mas antes como “teoria económica”, acreditem que do cumprimento daquele objectivo resultará, mais tarde, como consequência natural, um “crescimento económico saudável” (eles gostavam de dizer: sustentado, mas depois do que se passou com o capital financeiro o adjectivo caiu em desuso) e um aumento do emprego.
Como os factos, historicamente comprovados, desmentem tais consequências, os Estados, desde os mais irrelevantes aos mais importantes na área geográfica em que se inserem, desde os mais novos aos que já têm quase dois séculos de existência, sempre tentaram resistir aos programas impostos pelo FMI, porque sabiam e sabem o que isso representa de privações e de abaixamento do nível de vida (mesmo quando já era muito baixo) para as respectivas populações.
Dificilmente alcançam os seus objectivos ou alguns deles, tal a rigidez de quem negoceia implacavelmente em nome dos credores. Mas fica-lhes a esperança de que a passagem do tempo acabe mais cedo do que tarde por dar-lhes razão e que por essa via fique demonstrada a inviabilidade, pelo menos parte, do que foi acordado, já que são muito poucos os que têm a coragem de devolver o FMI a Washington, assumindo eles próprios, com os seus recursos, a resolução da crise.
Quem acompanhou (no sentido de estar a ser informado) o que nas décadas de 80 e de 90 se ia passando com as negociações entre o FMI e os países em desenvolvimento, da África e de outros continentes, sabe que, pelo menos, os governantes desses países lutavam nos diversos fora internacionais, e em reuniões informais, contra a prepotência e natureza obsessivamente ideológica desses programas. Programas que, como se disse, eles tinham que aceitar, já que sem o aval do FMI nenhuma outra “ajuda” poderia ter lugar.
A intervenção do FMI na Europa da zona euro, que não na Europa comunitária, onde continuou a estar presente, é uma novidade dos tempos que correm. E uma péssima novidade, já que ela só acontece em virtude de a “Europa credora” ter uma posição sobre as situações de crise ocorridas no seu seio ainda mais drástica do que aquela que o FMI perfilhava quando actuava na África, na Ásia e na América Latina como uma espécie de apóstolo do neoliberalismo.
Portanto, mais se justificaria que quem tem que negociar ou ser ouvido pela Troika (na verdade não é Troika nenhuma, mas antes FMI mais BCE, como cabeça de turco do capital financeiro alemão e francês, eventualmente inglês, no caso da Irlanda), representativa do capital financeiro, lutasse, antes de mais, pela dignidade do povo e do país a que pertence, e depois que tivesse a coragem de não aceitar, nos prazos e nos termos propostos, o programa que o FMI/BCE traz na pasta.
Mas não. Em Portugal passa-se exactamente o contrário. Há quem proponha programas ainda mais austeros do que aqueles que os representantes do capital financeiro estavam para apresentar. Há quem esteja de tal forma ideológica e materialmente identificado com os interesses do grande capital, quem seja de tal forma indiferente ao sofrimento do povo, que não tem qualquer escrúpulo em aproveitar estas negociações, realizadas para defender interesses alheios, como uma boa oportunidade para fazer aprovar um conjunto de medidas por que há muito ansiavam: salários baratos, completa desregulação do trabalho assalariado, isenção de impostos para os ricos, eliminação das despesas sociais, fim da solidariedade intergeracional, privatização de tudo o que possa dar lucro, recapitalização da bancos à custa do trabalho do povo, enfim, a constituição de uma sociedade dual, com uma percentagem ínfima no topo, devidamente acompanhada pelos lacaios e acólitos, e resto do vulgo na base, numa espécie de escravatura moderna.
E não admira que as coisas se passem assim. Pois ainda há bem pouco tempo todos ouvimos o Presidente da República e o governador do Banco de Portugal elogiarem o funcionamento dos “mercados” e a subida das taxas de juro como consequência natural e normal do mau comportamento dos mutuários! Para estes senhores é normal que o BCE esteja agora a emprestar aos bancos a uma taxa de juro de 1,25% e que a Grécia, se precisa de dinheiro a dois anos, o vá buscar aos “mercados” acima dos 20%!
Estes comportamentos, de confederações patronais, de políticos, enfim, de todos aqueles que formal ou informalmente se encontram com os representantes da troika para lhes solicitarem medidas ainda mais drásticas não podem ficar impunes.
Estes comportamentos anti-patrióticos, que atentam contra a dignidade do povo português, contra a sua auto-estima, contra os seus legítimos interesses, têm de ser denunciados como comportamentos traidores, infames e relativamente aos quais, mais tarde ou mais cedo, vai ter de se ajustar contas com eles!
Muita e boa informação e alguma opinião. Não alinho muito coma ideia de que os políticos são uma praga e o Povo um ente imaculado. O culto e humanista povo alemão, não uma minoria dele, rejubilou com a destruição de Smolensk e tudo o que se lhe segui incluindo o holocausto. Se o Braun tivesse posto operacional a Bomba o que teria sido... Os americanos só começaram a acordar para o atoleiro do sudoeste da Ásia quando os boys começaram a morrer que nem tordos. O bom povo português tinha pelos pretos/terrosristas a estima que se sabia etc etc, só teve um sobressalto quando se tornou claro que a guerra era inganhável. Portanto, nesta visão algo bucólica dos Povos não quadra com a realidade..também na economia.
ResponderEliminarNão se trata de exaltar o povo como entidade mítica, mas de antecipar o futuro de pessoas, como qualquer um de nós, que vão sofrer e muito com o que se avizinha. E de sublinhar a covardia e a traição daqueles que vão pedir aos de fora, que estão cá para servir interesses alheios, que façam o que eles não têm coragem de propor frontalmente aos portugueses.
ResponderEliminarObrigado Dr. Correia Pinto! Concordo, mais tarde ou mais cedo terao que ser julgados e a Historia fara o resto. Optimo esclaracimento da situacao e grande coragem para os denunciar. A+
ResponderEliminarPerante tão triste cenário e perante os incompetentes líderes do centrão. O que fazer? Votar em branco?
ResponderEliminarJMC Pinto, gostaria de saber a sua opinião.
FS
Meu Caro. Apreciei o que escreveu e fiz link no meu post de hoje, (numa nota e no espaço de comentários). Aproveito para juntar a entrevista concedida ao jornal "i" de Saskia Sassen que parece ser de divulgar. Caso a não tenha lido aqui fica...
ResponderEliminarO que diz Sakia Sassen é importante. É óbvio que os países do norte estão a empobrecer em consequência da entrada em cena dos emergentes. Como tentam eles resolver isto? No plano externo, ainda vamos ter de esperar mais algum tempo para percebermos se, para além do controlo das fontes de energia, ainda vamos assistir a uma nova réplica da crise asiática de 1997, desta vez dirigida à China, ao Brasil, Índia, etc. A coisa já esteve mais longe e dos três citados o que está mais defendido ainda é a China.
ResponderEliminarNo plano interno, na Europa eles “empurram” a crise do centro para a periferia e, dentro desta, para o trabalho. Nos Estados Unidos as coisas são mais directas: a crise é “empurrada” em todos os estados da União directamente do capital para o trabalho.
Também é óbvio que os bancos só podem ser recapitalizados pelo esforço financeiro do contribuinte, o mesmo é dizer, em cerca de 80%, pelo trabalho. Para quê? Para a economia não se afundar? Não, para poderem continuar a fazer o mesmo…
Mas se sabemos tudo isto por que ter ilusões? Não tem qualquer sentido acreditar que a “reforma” pode vir de dentro. De dentro só pode vir um agravamento da situação. Nunca o contrário. Por outras palavras, temos, sem medo, de correr com eles. Isto não vai lá com lamentos, nem com apelos…
...nem com negociações! O que escreveu infere-se da própria entrevista de Saskia Sessen. O que mais me impressionou, foi a próximidade de pontos de vistas, que me parecem coincidentes com os seus, nomeadamente quanto á mistificação em torno das negociações e, também, à diferente postura do FMI e do BCE (sendo este bem mais duro)...
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras
Obrigado, caro amigo JMCorreia Pinto!... está tudo dito e se eu não tivesse já escrito um texto que tentei ilustrar com opiniões várias (não, não se trata de um Leituras Cruzadas!), iria simplesmente fazer link -sem mais palavras!- para este seu excelente texto!
ResponderEliminarGrande abraço.