EM PORTUGAL, NEM MAIS DINHEIRO NEM MAIS TEMPO
A Espanha acaba de anunciar que fixará o défice para 2012 em 5,8% e não nos 4,4% a que Zapatero se havia comprometido.
Depois de ontem à noite, em Bruxelas, ter anunciado no Conselho a necessidade de flexibilizar as metas do défice, perante o silêncio covarde de todos os que se encontram na mesma ou em pior situação e a desaprovação expressa da Suécia e da Alemanha, Rajoy sem mais consultas comunicou hoje aos espanhóis e à Comissão (que faz de conta que ainda não tomou conhecimento da decisão) a fixação do défice para 2012 em 5,8%, quase um ponto e meio acima do imposto por Bruxelas.
E veremos como as coisas vão evoluir, já que tal meta somente com enormes sacrifícios e muita recessão poderá ser cumprida, se for.
Em situação semelhante à Espanha estarão muito outros, como se verá lá mais para frente, a começar pela França e pela puritana e intolerante Holanda que não se tem cansado lançar críticas e atoardas de todo o tipo contra os países do sul.
Perante isto que dizer das posições do Governo português? Que dizer de um Governo que não hesita em lançar grande parte dos portugueses na miséria? Que dizer da arrogância de Coelho e de Gaspar quando provocatoriamente afirmam que não precisam de mais dinheiro nem de mais tempo?
A resposta é muito simples: eles têm todas as razões para supor que as “virtuosas” medidas que estão a aplicar são aceites pela generalidade das pessoas, que, por muito que não gostem do sacrifício por que estão a passar, as consideram justas, adequadas e necessárias. E até aqueles que se encontram na parte mais baixa da pirâmide social tendem a entendê-las como uma fatalidade ligada à situação de pobreza com que sempre viveram a sua existência.
Por mais politicamente incorrectas que estas palavras sejam, nem por isso elas deixam de ser verdadeiras.
A ausência de um partido socialista de base operária numa época em que todos os partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas da Europa tinham essa matriz, a aliança (que se mantém, no essencial, até hoje) de um PS de base urbana e natureza tipicamente pequeno-burguesa com a direita derrotada pela Revolução, fez com que desde há muito tempo a maior parte dos instrumentos ideológicos operantes na sociedade portuguesa, que antes estavam nas mãos da ditadura, passassem a ser dominados por uma grande coligação comservadora de interesses destinada a restabelecer o poder económico das classes desapossadas pela Revolução e que desde logo apontaram como primeira grande tarefa estratégica a descredibilização das profundas mudanças económicas possibilitadas pelo 25 de Abril, mediante uma mistificação permanente, que dura até hoje, do sentido e dos efeitos das múltiplas medidas adoptadas nesse período, a ponto de tudo o que “cheire” a Revolução ser de imediato anatematizado como delírio de quantos irresponsáveis que durante alguns meses se apoderaram do poder em Portugal. Esse domínio do aparelho ideológico que se mantém até hoje consolidou-se nos últimos anos em virtude das grandes mudanças ocorridas no “mundo ocidental”, principalmente a partir da década de 90 do século passado.
Numa sociedade atrasada como a portuguesa, domesticada por meio século de fascismo, essa ausência permanente de vozes progressistas nos governos, nas televisões, nas rádios, nos jornais e, a partir de certa altura, também nas escolas fez com que, não obstante os progressos económicos havidos, a grande opinião pública continuasse a ser formada pelos sectores mais conservadores e acomodados da sociedade portuguesa, nomeadamente em tudo que diga respeito a assuntos de natureza económica.
Não há em Portugal vozes credíveis como há noutros países da Europa capazes de influenciar num sentido diferente grande parte da opinião pública. Não obviamente por falta de mérito das vozes que se expressam noutro sentido, mas por o contexto em que essas vozes se exprimem continuar a ser um contexto inspirador de grande desconfiança relativamente a quem se exprime de forma diferente.
Essa a vantagem de que goza Coelho & C.ª relativamente aos seus congéneres europeus.
Não são vozes, as vozes existem, a questão é que vivemos no unico país europeu cujos jornais e televisões são todos editorialmente de direita e controlados pelo PSD. depois não existe ninguem à esquerda capaz de dizer isto de uma forma óbvia e livre, todos se subservenciam em troco de uma aparição ou da conquista de um lugar numa qulquer pantalha. Lembram-se da mais nojenta campanha chamada "Claustrofobia democratica"? Tudo tretas que contou com os habituais idiotas uteis da extrema esquerda e que visava tão só dar o poder à maior corporação detentora do poder mediatico, o PSD. Hoje existem noticias que desaparecem dos jornais, como a manifestação em frente ao Min. Adm. Interna e ninguem se parece preocupar, a não ser alguns bloggers.
ResponderEliminarUm país de sacans e cobardes.
Andamos a fazer corrida de blogues, a ver quem escreve primeiro sobre o mesmo tema :-) Bem bom, quer dizer que escolhemos os temas com boa sintonia. Desta vez, ganhei-te por algumas horas...
ResponderEliminarTemos mesmo de não levar as carteiras para junto dos coelhos porque ficamos sem elas
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