UMA PRESIDÊNCIA FALHADA
Se as coisas continuam assim - e
não há nenhuma razão para supor que vão mudar - Cavaco vai ter de passar o
resto do mandato recolhido em Belém a gozar as várias reformas dos múltiplos
empregos que, pelos vistos, o ocuparam durante a vida, apesar de a gente só lembrar dele como
político desde 1980!
Conluiado com o Governo vai dizendo que há pouco espaço para mais sacrifícios, abrindo assim a porta a novas medidas de austeridade, com aquele ar de quem aceita contrariado a inevitabilidade do que tem de acontecer. Se durante os últimos tempos de Sócrates as medidas de austeridade serviram para ameaçar o governo – há limites para o sacrifício, dizia então Cavaco com o ar seguro de quem sabe qual é esse limite e de quem está disposto a não permitir que o ultrapassem - hoje o discurso sobre o agravamento generalizado daquelas medidas serve mais para atenuar o efeito de revolta que elas podem gerar do que para as contestar ou sequer as lamentar.
Por isso, Cavaco nem sequer chega a ter um discurso dúplice.
Tem uma espécie de discurso naif mal
construído de quem, apoiando sem reservas o que se está a passar, salvo quando
lhe vão ao bolso a ele, pretende fazer crer que se mantém vigilante, procurando
com as suas mansas palavras atenuar ou desencorajar o surgimento do tal
sentimento de revolta que possa retirar a maioria dos cidadãos do estado
letárgico em que se encontra.
Daí que não seja de estranhar que os portugueses mais
esclarecidos sobre os seus direitos e sobre o papel que Cavaco desempenha lhe
não perdoem esta tentativa de adormecimento popular por via das tais palavras com
que os pretende amansar. Mais valia que Cavaco assumisse claramente o discurso
do governo, causar-lhe ia menos danos e seria mais respeitado.
Assim, a actuação de Cavaco vai-se tornado patética, não
obviamente do ponto de vista daqueles em quem as suas palavras provocam revolta,
mas para os da sua área política que olham para ele com aquele misto de compaixão
e distância de quem já não sabe como vai ser possível aguentá-lo até ao fim do
mandato!
Um presidente da República que repudia o vencimento dessa função, não passa de um funcionário público "graduado" (sem ofensa, obviamente, para os funcionários públicos).
ResponderEliminarLG