domingo, 16 de setembro de 2012

A HIPOCRISIA DO CDS


A DESLEALDADE COMO LEMA DO PARTIDO

Como se esperava o CDS disse aquilo que exactamente se tinha previsto que dissesse. Qualquer observador minimamente atento conhece as motivações do partido de Portas. Por nada o CDS sairá pelo seu pé da coligação. É no Governo que o CDS quer estar. Só que quando as coisas apertam, quando o saque é descarado e as pessoas se apercebem do verdadeiro programa do Governo, o CDS, numa atitude de grande cobardia política, quer ficar com um pé em cada um dos lados. Quer ficar no Governo, porque essa é a razão de ser da sua existência, e quer ficar razoavelmente de bem com o povo de quem em última instância depende para se continuar a pavonear no governo.
 
E então faz a pérfida e triste figura que ontem e hoje fez e que, por certo, vai continuar a fazer. Ou seja, relativamente ao seu parceiro de coligação apresenta-se com um aliado desleal e sem credibilidade, capaz de o trair na primeira dificuldade. Se o PSD subsistir a esta crise, o CDS mais cedo ou mais tarde pagará esta deslealdade. E relativamente ao povo desculpa-se com o patriotismo e seu alto sentido do dever. Acontece que o povo não é estúpido e percebe perfeitamente que a desculpa do CDS é tão insensata quanto hipócrita. Então, como pôde o CDS concordar com uma medida que não tinha qualquer hipótese de ser aceite pelo povo e que uma vez anunciada iria exactamente pôr em causa tudo o que eles andam a fazer desde que lá estão em nome do “interesse nacional”? Como se pode fundamentar a sua aceitação no “patriotismo” e na necessidade de evitar uma “tragédia” se essa medida vai ter, ou somente o seu simples anúncio, exactamente o efeito que eles queriam evitar?
 
Só, de facto, uma visão muito descuidada das coisas pode considerar suficientemente fundamentada uma argumentação que demostra exactamente o contrário do que se pretendia demonstrar …e evitar.
É claro que uma situação destas, se ocorresse com políticos como J.L. Arnault ou Aguiar Branco seria perfeitamente normal, dada a inteligência que “Deus lhes deu”. Mas num político que a si próprio se tem numa tão alta consideração é totalmente imperdoável. Como imperdoável é associar a uma explicação pública que tinha por pano de fundo o tal grande sentido de responsabilidade e o tal alto patriotismo do partido um tipo como Pires de Lima, que ainda há bem pouco tempo, no mês de Agosto, fez na TVI24 um apelo à Troika para que impusesse ao Estado português uma revisão constitucional, porque, disse, "com esta Constituição, não se pode cumprir o programa de ajustamento"!
 
É claro que toda a gente percebeu o que se passou por maiores que sejam as “cambalhotas” de Portas. O CDS contava com a passividade do povo. Ficou positivamente assustado com as manifestações de sábado e não encontrou melhor forma de se desresponsabilizar do que endossar, desleal e hipocritamente, toda a responsabilidade para o seu parceiro de coligação. Acabou por ficar mal dos dois lados.
 
Mas há mais: a perfídia de Portas e dos seus ministros no Governo vai ao ponto de querer fazer passar a ideia de que no novo pacote de austeridade apresentado na semana passada somente a questão da taxa social única constituía um imposto encapotado, sendo as demais medidas incidentes sobre os trabalhadores do sector público e sobre os reformados uma simples redução da despesa, que o CDS tanto reclama. Enfim, esta é ainda uma batota maior do que a sua “guerra” com PSD.
 
A transferência para os trabalhadores da contribuição para a segurança social que cabia fazer aos patrões, mais do que um imposto, é um verdadeiro saque porventura inédito em qualquer democracia representativa, enquanto o não pagamento de dois meses de salários aos trabalhadores da função pública e de dois meses de pensão aos reformados, bem como a anunciada redução da pensão, esses sim, são verdadeiros impostos aplicados em fraude a lei sob a forma de redução de despesa. Só que com esses pode bem Portas e a sua camarilha no governo…
 
Desmascarado Portas e o CDS interessará agora analisar o futuro deste Governo à luz da reacção popular às medidas anunciadas por Passos Coelho e por Gaspar, bem como a posição do PS sobre o momento político português. O que ficará para outro post.
 

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