sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PASSOS COELHO – A CONFIRMAÇÃO DE UM DESASTRE


UMA ENTREVISTA QUE CONFIRMA A INVIABILIDADE DO CAMINHO SEGUIDO
 
A Entrevista

 

A entrevista de Passos Coelho confirmou o desastre que representa para o país a continuação das políticas ditadas pela Troika, mesmo que não fossem levadas à prática com o entusiasmo militante e a crença ideológica deste Governo. De facto, apesar de a entrevista não ter abordado questões essenciais como:

a) As consequências desta política na economia e na sociedade portuguesa – o que pretende o Governo fazer? Destruir uma parte significativa da procura interna, mandando para a falência milhares de empresas e continuando a lançar no desemprego dezenas de milhares de trabalhadores, apostando exclusivamente na procura externa? Como é isto tecnicamente possível? Que percentagens para a formação do PIB, dentro dos tais modelos utilizados por Gaspar, estão respectivamente reservadas para a procura interna e para a procura externa?

b) Como vai o Governo alcançar um défice de 2,5% em 2014, sabendo-se, como se sabe, que este ano, com medidas de austeridade violentas, o défice irá bem além do previsto e que para atingir 4,5% em 2013 seria necessário tomar medidas quantitativamente semelhantes às que estão sendo anunciadas? Num quadro recessivo como o que existe em Portugal, mais de 3% este ano e continuação de recessão profunda em 2013, que medidas iria anunciar Passos Coelho em 2013, se ainda fosse Primeiro Ministro, para alcançar aquele défice de 2,5%? O confisco de cinco ou seis meses de salários e de pensões?  Sobrecarregar os trabalhadores com mais 7% da contribuição para a segurança social

Apesar de a entrevista não ter abordado com profundidade questões relevantes como estas, o que se ouviu deu para entender que as únicas medidas em que os “talibãs neoliberais” acreditam são aquelas que transferem directamente do trabalho para o capital vultosos rendimentos e simultaneamente asseguram uma diminuição do salário.

Só que estas transferências contêm em si o germen do seu próprio fracasso. E isso até os patrões perceberam, com excepção porventura do Mexia e de outros que, como ele, por se encontrarem em posição monopolista ou oligopolista, já estão a lamber os beiços com a hipótese de dividirem entre si o produto deste descarado saque. Passos Coelho tentou ainda dar a ideia de que era possível, utilizando os critérios que estão em uso na direita para destruir o Estado social, fazer variar o acréscimo da taxa da segurança social de acordo com o vencimento tentando por essa via alcançar um arremedo de justiça (distributiva?) – o empregado dá tanto mais ao patrão quanto mais ganha??? Uma trapalhada própria de quem tem uma escassa preparação para dirigir o país e de quem desconhece os fundamentos filosóficos mínimos que devem presidir a uma governação - enfim, a conclusão a que imediatamente se chega é a de que estamos perante um homem perigosamente inculto apenas empenhado em fazer baixar os salários custe o que custar. Esse o grande objectivo deste governo. O Governo, depois de ter tentado, sem o êxito esperado, pela via do desemprego, diminuir drasticamente os salários, está agora disposto a fazê-lo, sem hesitações, pela via administrativa. Primeiro pela via do confisco, depois pela via da transferência directa para o capital.

Este Governo e este Primeiro Ministro não têm ética, não têm verdade, não têm princípios nem valores que os recomendem como pessoas socialmente aceitáveis, devendo por isso ser banidos da vida política portuguesa. Na concepção subjacente a estas medidas está presente um profundo racismo social que actua com base numa crença fundamentalista típica de seitas que vivem à margem da vida em sociedade.

Percebeu-se também que as grandes roubalheiras da economia portuguesa – PPP e rendas às empresas de energia – vão ficar intactas. Os reformados e os trabalhadores em geral aí estão para pagar a factura.  Esta afronta que o Primeiro Ministro e o Governo fazem às deliberações do Tribunal Constitucional põem em causa o regular funcionamento das instituições e exigiriam do Presidente da República, ou melhor: exigiriam de qualquer pessoa que se encontrasse na posição de Cavaco Silva uma atitude firme e inequívoca. Infelizmente, ninguém acredita que Cavaco Silva a venha a tomar. E esta é mais uma razão para serem os portugueses a resolver com as suas próprias forças e os meios à sua disposição um problema que as instituições não estão em condições de solucionar.

Da entrevista do Primeiro Ministro ficou ainda patente a duplicidade do seu parceiro de coligação ou, não sendo esse o caso, de mais uma grosseira mentira de quem governa o país. É quase certo que o CDS tinha conhecimento de tudo o que se iria passar. O conhecimento que se tem de pessoas como Mota Soares faz crer que ele anuiu com entusiasmo à questão da taxa social única e ao novo imposto sobre os reformados. Aliás, esta perversa concepção da taxa social única é até bem capaz de ser uma ideia do CDS, que assim, por esta via, julgava fazer passar o princípio da intangibilidade da carga fiscal. Da junção da demagogia com a perversidade tudo se pode esperar.

É claro que o Primeiro Ministro com as declarações que fez sobre o CDS e sobre Paulo Portas pretendeu desarticular o aproveitamento que o CDS, em colaboração com a imprensa que o apoia, se prepara para fazer no seio da coligação e do seu eleitorado da aceitação destas novas medidas. Ou seja, deixar no ar a ideia de que tais medidas foram tomadas contra a sua opinião e que só foram aceites pelo grande patriotismo que norteia a presença do CDS no Governo, partindo desta premissa para tentar, ou exigir mesmo, ganhos políticos dentro da coligação. Com base neste “apoio popular” o CDS tentará forçar uma remodelação que ponha o Relvas em casa (silenciando a questão dos submarinos) e lhe atribua a pasta da Economia para a ocupação da qual se perfilam desde há muito dois conhecidos gabirus ligados aos grandes meios empresariais que, desde o começo desta tragédia, olham com indisfarçável voracidade para os “despojos de Álvaro”.

Claro que Portas tem contra si o facto de Passos Coelho saber perfeitamente que a última coisa que o CDS admite fazer é sair do Governo. Se Portas tanto penou para lá chegar, de forma alguma ponderaria abandonar o que tanto lhe custou a conquistar. Não vai ser por essa coisa menor da taxa social única que Portas vai deixar de se pavonear pelo mundo fora, embora por agora somente o mundo que Relvas, Passos e Gaspar não ocupam…Mas isso não significa que Portas não continue a chantagear o PSD para obter os seus objectivos.

Mas passando ao que realmente interessa: a via de Passos Coelho bem como qualquer outra via que nela se inspire - e inspiram-se nela ou aceitam os seus pressupostos fundamentais os críticos do PSD e do CDS, bem como o PS – estão condenadas ao fracasso e levarão a um empobrecimento sem retorno da maior parte dos portugueses. Passos Coelho, Gaspar e Portas, os dois primeiros por fantismo ideológico, o último por oportunismo político, apenas exacerbaram a execução de uma via sem saída e é isso que infelizmente faz acreditar a muita gente que é possível chegar a um destino diferente continuando a calcorrear a mesma estrada. Pura ilusão, enquanto se não afrontar sem complexos a questão do euro e da própria ligação à União Europeia não há saída possível no contexto em que as coisas têm sido tratadas e decididas. Uma nova política exige muito mais do que uns simples retoques nas políticas de Passos e Gaspar.

Mas quem estará disposto a isso? E não andará o povo a ser propositadamente enganado por todos aqueles que afirmam ser possível obter resultados diferentes partindo dos pressupostos constantes do Memorandum da Troika? Certamente que sim, mas isso será tema para uma nova conversa, aliás na linha das que aqui já têm sido feitas…

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