UM BREVE APONTAMENTO
Há um conjunto de análises sobre a Rússia que aparecem nestas
alturas em blogues, revistas, jornais e outros meios de comunicação tendentes a
demonstrar que ela caminha para o declínio por os alicerces da sua grandeza
estarem em decadência. Todas estas análises feitas na perspectiva americana e logo
muito divulgadas pelos nossos "representantes de Washington" – que são muitos e
normalmente bem situados – assentam num pressuposto errado: no pressuposto de
que a Rússia tem uma visão imperialista acerca do seu futuro.
Ou seja, estes analistas são absolutamente incapazes de
compreender a política de um país sem ser pela visão americana das coisas. Como
os americanos têm uma visão imperialista da sua posição no mundo e aspiram ao
reforço permanente da sua hegemonia, tudo o que possa contrariar ou pôr em
causa esse objectivo é sinónimo de decadência ou de declínio.
Mas não é assim que as coisas se põem para os outros países,
mesmo para os grandes países, cuja aspiração máxima é poderem viver
sem tutelas e sem dependências humilhantes dos que têm pretensões imperialistas,
estando na primeira linha das preocupações a sua segurança e a defesa da sua
soberania. E a sua segurança passa antes de mais por lutar contra a segurança
absoluta dos que têm aspirações imperialistas, porque essa segurança absoluta implica
a insegurança dos demais.
A Rússia é um grande país, geograficamente falando é o maior
país do mundo, mas essa vantagem constitui também uma desvantagem na medida em
que torna a sua defesa mais difícil. Por outro lado, está rodeada por grandes
países a sul do extremo oriente, no centro da Sibéria e a sul do Cáucaso e do
Mar Negro, além de a ocidente ter um império económico e comercial como vizinho,
o que obviamente implica o desencorajamento de qualquer pretensão imperialista
já que ela seria racionalmente inviável.
Por outro lado, não só é auto-suficiente em matéria de
energia como os excedentes energéticos e a dependência que deles tem uma parte
muito significativa do seu poderoso vizinho económico e comercial ocidental
constituem um importante factor impulsionador do seu próprio desenvolvimento e
não uma fraqueza.
Por isso, a fragilidade de outros elementos constituintes da
actual Rússia, como a baixa demografia e até algum atraso tecnológico em
matéria de armamento, não são assim tão importantes como a propaganda americana
pretende fazer crer. Seriam, se a sua estratégia como país fosse outra (aliás,
se acaso fosse, não teria o menor sucesso), mas sendo os seus objectivos
fundamentalmente defensivos o que interessa equacionar é a possibilidade de
assegurar a sua estratégia em cada momento e sempre que as situações de crise
surgirem.
Em resumo: está neste momento a Rússia em condições de fazer
frente à ameaça americana na Ucrânia? Se estiver, como parece que estará, essa pretensa
fragilidade não existe.
Por acaso tenho dúvidas que a leitura imperialista seja tão excluivamente americano-cêntrica como sugere.
ResponderEliminarVisão imperialista tanto a terão os EUA, como a Rússia, a França, o Reino Unido, a Alemanha ou a Espanha.
Mais ou menos afinadas, mais ou menos belicosa, mais ou menos actuante, mas não as excluiria enquanto elemento operativo das actuais circusntâncias ucraniana - e embora aqui eu esteja claramente com as razões Rússia.
Independentemente do singular ou do plural da palavra "imperialismo" o importante mesmo é identificar o inimigo principal.
ResponderEliminarIsto está bem exposto neste pequeno texto do autor do post:
"importante é identificar o inimigo"
http://politeiablogspotcom.blogspot.pt/2014/02/ucrania.html
Agora é fazer a correspondente transposição
De