sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O POPULISMO DE SEGURO


 

E OS DESTINATÁRIOS DA MENSAGEM

Seguro cedeu ao populismo mais vulgar, o populismo de direita, na disputa eleitoral com Costa, apresentando um conjunto de propostas que agrada a todos aqueles que consciente ou inconscientemente pretendem desviar as atenções dos verdadeiros problemas para as fazer incidir sobre questões menores, frequentemente anti-democráticas, que nada resolvem e apenas têm o condão de permitir acercar-se do poder, em último termo, tomá-lo, àqueles que delas fazem uso.

Para se fazer uma ideia mais precisa do que representam algumas das propostas apresentadas por Seguro no princípio desta semana, basta dizer que só os prejuízos semestrais do BES ou o “desfalque” do BPN davam para pagar por décadas os cinquenta deputados que Seguro quer eliminar, eliminando com eles a representatividade democrática do Parlamento.

Que Seguro tenha apresentado esta e outras propostas semelhantes não surpreende nem tão-pouco pode representar um passo decepcionante do “candidato socialista”. Seguro é um homem de direita, defende uma política de direita, sendo, como aqui já se disse, relativamente claro o que dele se pode esperar.

Mas já é motivo de profunda preocupação que estas propostas tenham sido apresentadas para “ganhar votos” naquilo a que poderíamos chamar o “supra-sumo” do eleitorado socialista. Se estas propostas tivessem sido apresentadas aos portugueses em geral, de modo a cativar uma parcela do eleitorado situado à direita ou no centro-direita, capaz de votar no PS, depois de profundamente decepcionado pela política do Governo em funções, ou que, além deste eleitorado, tivessem também em vista mobilizar aquele outro eleitorado menos esclarecido que regularmente vota PS, as propostas continuariam a ser reprováveis mas apesar de tudo justificáveis ou, pelo menos, compreensíveis, no “vale-tudo” eleitoral.

Mas não é esse o caso. Estas propostas dirigem-se àqueles a que poderíamos chamar a “elite” do eleitorado socialista, àquela fatia do eleitorado composta pelos militantes, que são a essência do partido, e pelos simpatizantes que voluntária e empenhadamente se mobilizaram para escolher o “número um” do Partido Socialista. E aqui é que está o problema: sendo Seguro um homem que faz política desde a mais tenra idade, nado e criado nas “jotas”, profundo conhecedor do partido, dos seus militantes e dos simpatizantes mais empenhados na vida político-partidária, a apresentação daquelas propostas no auge da disputa eleitoral intra-partidária só pode querer significar que elas têm a virtualidade de seduzir eleitoralmente aqueles a que se dirigem.

As propostas apresentadas pelo actual Secretário Geral do Partido Socialista com o objectivo de ganhar votos entre os militantes do partido e os simpatizantes inscritos constituem, por isso, uma espécie de atestado de menoridade política da “essência” do Partido Socialista. Se o responsável máximo do partido e profundo conhecedor dos seus meandros entende que as propostas publicitadas são susceptíveis de cativar a excelência do eleitorado socialista ou a sua maior parte, então a conclusão a que inevitavelmente se tem de chegar é que o Partido Socialista se situa ainda muito mais à direita do que qualquer análise imparcial poderia supor.    

6 comentários:

  1. Ao ler neste artigo as considerações, quase sempre justas, sobre A.J.S., e as conclusões que Seguro é de direita e o PS está mais à direita do que se pensa, surgiu-me uma perplexidade. No artigo de 10 deste mês, afirma-se que Seguro é melhor do que Costa e que este é mais liberal. Ou seja, se Costa ganhar as primárias, ganha o partido, e o PS, sei lá, fica à direita do CDS, e se o Costa ganhar as legislativas, sei lá, o país fica pior do que com o P.Coelho. Não há dúvida, o PS é o inimigo principal. Estou a ver bem?

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  2. Está sobretudo a ler muito mal.

    Já se percebeu que a percepção da realidade é difícil, mas francamente espanta a incapacidade para a compreensão do que se escreveu.

    Talvez não baste uma nova leitura, mas esta poderia ser uma opção.Claro que as conclusões poderiam ser cruéis para o amor-próprio,mas...


    O que fazer com este PS? Acho que esta proposta de seguro tem também algo de desespero e resulta da análise que os simpatizantes se colassem ao PS pela via da direita.Álvaro beleza é um dos estrategas duma aliança com o PSD e um dos que não hesita perante nada para conseguir os seus desideratos.

    Mas nada disto inviabiliza a análise de JM correia Pinto. A que chegou este partido socialista, que espectáculo sobra destes dirigentes e das suas cortes que se afadigam em torno de estratégias de poder pessoal, sacrificando ideologias, princípios, coerências,dignidades no altar do neoliberalismo triunfante e "compensador" ?

    De

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  3. Bem, JM Pinto Correia, ao menos 66,66666 por cento dos comentadores percebem o que escreve e conseguem não comentar ao lado.

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  4. É confortável ter advogados de defesa tão atentos e prestáveis, mesmo que não solicitados. O problema é que eles não estão dispostos a esclarecer, concretamente, sucintamente, e sem verbalismos, as dúvidas postas que resumo:
    - É ou não o PS, para a esquerda à sua esquerda, o inimigo principal?
    - Prefere ou não a esquerda radical que os militantes e simpatizantes socialistas votem em Seguro e não em Costa?
    - Deve ou não Portugal sair da Europa e do euro e, face a isso, dar a maioria absoluta ao PCP, nas próximas legislativas?

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  5. Advogados de defesa, não.

    De acusação sim.

    Dispostos a esclarecer o quê, Manojas, se escreva-se o que se escreva V. lê outra coisa qualquer e debita lugares comuns e insultos que o PS tenta passar?

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  6. Parece-me que o sentimento anti-politica e anti-politicos corta transversalmente a sociedade portuguesa. Não entendo o porquê da proposta do Seguro desqualificar especialmente o eleitorado socialista
    Parece-me tambem evidente que é por essa razão que o Tó-Zé tirou o coelho da cartola, fazer com que mais pessoas se increvam para a eleição, votando naquele que lhes promete mandar os políticos para o "caixote do lixo".

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