A REVOLUÇÃO E A SUBCULTURA
Foi com alguma mágoa que no passado fim-de-semana se assistiu ao quase silenciamento da morte de Vítor Alves, um revolucionário de Abril, suplantada na generalidade dos media pelo destaque dado a certos fenómenos de uma subcultura muito em voga nos nossos dias.
Já ontem Sousa Duarte, no Público, em artigo de opinião, tinha chamado a atenção para aquele relativo silenciamento em detrimento de outras notícias que hoje alimentam preferencialmente os famigerados “critérios jornalísticos” de que os detentores dos media e seus fiéis validos se prevalecem para nos fazer mergulhar numa subcultura social, política e até económica com que nos preenchem o dia e lavam o cérebro.
Não admira por isso que Marcelo Rebelo de Sousa, uma espécie de cronista "social" da política, tenha dedicado na sua pregação dominical mais tempo à lamentável morte de Nova York do que ao desaparecimento de Vítor Alves.
Felizmente, nem todos os maus exemplos fazem escola. Ainda ontem o El Pais dedicou quase uma página à morte de Vítor Alves.
ADITAMENTO
Sobre questões aqui abordadas incidentalmente, a não perder Carlos Amaral Dias na Grande Entrevista.
8 comentários:
É realmente extraordinário! Tinha e tenho imenso apreço por Victor Alves, pelas razões que já invocou, um homem de Abril e um Senhor, cavalheiro e homem de bem, que em tempos cheguei até a conhecer, por razões profissionais.
A sua memória prevalecerá.
Não vi essa prelecção dominical. Mas, olhando para as nossas TVs, de facto, aquilo que vendo é o escândalo, a porcaria. E infelizmente a malta adere à coisa!
Cordialidade,
P.Rufino
Essa de o Rebelo de Sousa ser uma espécie de Carlos de Castro da crónica política está de morte!
Não te lembras de "panem et circenses"? Em tempos em que até o "pão" não é muito, fica o circo. Agora com aspetos bem perversos.
Eu que não tenho nenhum apreço por Helena Matos, e até bem chateado com ela pelo inconcebível artigo sobre a nossa geração, não deixo de concordar com o seu artigo no Público, hoje, sobre o que estão a fazer aos jovens instilando-lhes nos neurónios "o glamour do mundo dos famosos".
ele era tão chato nos discursos
e um militarista de primeira
quando se falava na dissolução do exército
era o velho discurso de ser o garante das liberdades democráticas
nunca relembrando que tinha sido o responsável por todos os outros golpezitos de estado por aqui e lá fora
um homem de Abril e um Senhor, cavalheiro e homem de bem,
é isto define-o bem
era o que se dizia dos que fizeram o 26 de Maio
uns senhores
somos um país cheio de senhores
de boa vida e melhor morte
inconcebível artigo sobre a nossa geração,
um país de gerações e não de indivíduos
de senhores de esquerda e direita
de salvadores da pátria
de homens de Abril e Maio
hoje, sobre o que estão a fazer aos jovens
todas as gerações têm de tudo
o que nunca tiveram foi bom-senso
e capacidade para ser objectivo
e não fazer grosseiras generalizações
as neo-brigadas do reumático estão de volta
Esclarecimento
Alterei o antepenúltimo parágrafo do texto, não porque tenha passado a ter uma ideia diferente da que tinha das crónicas de RS, mas porque, neste preciso tempo histórico, podia ser mal interpretado no modo como fulanizava a analogia.
Quanto aos dois últimos comentários, o mínimo que se pode dizer é que se está perante dois textos que irressistivelmente suscitam uma resposta.
Em ambos perpassa uma indisfarsável vacuidade e um grande desconhecimento dos mais elementares eventos históricos. Além que sussurra neles uma vaguíssima brisa anarquista, sem graça, soprada num estilo porventura típico de uma anti-brigada insolidária sem projecto nem futuro que não é capaz de ver à frente do nariz outra coisa que não seja um grande EU!
Pode parecer espantoso que um jornal estrangeiro, como é El País, dedique mais atenção a Victor Alves do que a maior parte dos jornais portuguese. Mas é que El País está a anos de luz de boa parte da nossa imprensa.
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