quarta-feira, 17 de março de 2010

O PROBLEMA ESTÁ NO PEC DE BRUXELAS

UMA IDEIA QUE COMEÇA A FAZER O SEU PERCURSO

Desde há muito que os economistas alternativos vinham alertando para os constrangimentos económicos decorrentes da criação da União Monetária sofridos por parte dos países da zona euro, que não tem, de acordo com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, qualquer hipótese de crescimento significativo nem de convergência com os países mais ricos.
Estas críticas resvalavam na soberba indiferença dos economistas do sistema, não apenas dos nossos, que tem com a ciência uma relação semelhante à dos astrólogos com a astronomia, e que, por isso, nem sequer davam indícios de perceber do que se estava a falar.
Para eles a economia é uma ideologia, logo se as regras o Pacto de Estabilidade e Crescimento foram acordadas são para respeitar, nada mais restando aos países com dificuldades do que imitar a Alemanha e tornarem-se “bons alunos”.
Como sempre, a realidade, a força dos factos, acabou por se impor. E hoje já são muitas as vozes que exprimem a impossibilidade de uma União Monetária construída segundo as regras impostas pelo Bundesbank.
Às vozes dos que estão fora do sistema, começam a juntar-se as vozes de dentro, como recentemente aconteceu com Ministra das Finanças francesa, que apontou o dedo à Alemanha ainda que com alguma suavidade, mas já com a segurança de quem percebeu que “isto” como está não tem futuro.
E a Alemanha vai ter de fazer as suas opções muito mais depressa do que se pensa no seu próprio interesse. A Alemanha vai ter que escolher em que Europa quer viver: se numa Europa dividida, com barragens alfandegárias, submersa em convulsões sociais ou numa Europa Unida, assente num largo espaço económico, livre, coeso e mais igual.
É sintomático que, entre nós, pessoas como Teresa de Sousa já tenham começado a compreender isto (ver artigo no Público de hoje) e até já citem a França, que tão diabolizado tem sido pelos aculturados anglo-saxónicos, incapazes de admitir outra globalização que não a imposta pelas teses neoliberais.
Bom seria que o Governo Português, que gasta milhões e milhões em “estudos” para “alimentar” os seus boys e super boys, pedisse a grandes economistas premiados com o Nobel, insuspeitos de qualquer ligação com as teses monetaristas (como o próprio Sarkozy tem feito), um estudo sobre a zona euro, seus constrangimentos, seu futuro, enfim, que reformas para a salvar, de modo a estar devidamente preparado para uma discussão que vai ter de se fazer, quanto mais cedo melhor, em vez de confiar nos seus parcos saberes e na consabida incapacidade dos economistas do “sistema” incapazes de se libertarem da carga ideológica que irresistivelmente os impele para a defesa de interesses que nada têm a ver com os do povo português.

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas também é verdade que é fácil passar em boa parte de alemães ( e não só) a ideia de que os indisciplinados e preguiçosos mediterrânicos querem viver em parte à custa do seu labor. Afinal, eles terão sido constrangidos a desfazerem-se deu prestigiado marco em prol dum projecto comum. Tê-lo-ão feito a contragosto e mediante garantias. Agora terão alguma legitimidade para se sentirem algo como que chantageados; ou aceitam um certo grau de laxismo ou estão de volta as rivalidades antigas, ou novas. As coisas serão mais complicadas mas esta mensagem é fácil de propagar. Quem não se lembra de uma descida de Eurico de Melo a Lisboa para "em nome do povo que realmente trabalha e produz" impor a ordem? Qual o discurso de muitos nacionalistas em Espanha relativamente, por exemplo aos Andaluzes? E a verdade deve ser dita: que culpa têm eles que milhares de milhões de contos derramados sobre a "agricultura" tenham servido para muitas coisas menos para lhe dar capacidade produtiva e competitividade? Que culpa têm eles que boa parte dos chamados fundos estruturais (vindos sobretudo da Alemanha e Holanda) se tenham consumido no círculo dos gabinetes de estudos e projectos? Que culpa têm eles que os governantes portugueses decidam, que para ganhar dois ou três deputados, fazer auto-estradas a torto e a direito: veja-se o caso das AE para Bragança, para Chaves etc etc.?
Na minha relativa ignorância sobre questão tão complexa penso que por de trás da questão financeira (especulação..) há problemas reais.
lg

JMCPinto disse...

Certamente que houve e há fundos malbaratados. Só que o problema é mais complexo: mesmo que tudo fosse feito com rigor, quem começou atrás continuaria sempre atrás e quem partiu à frente continuaria sempre mais à frente.
CP

Ana Paula Fitas disse...

Outro... incontornável, claro! Provavelmente farei um Leituras Cruzadas só com o Politeia :)
Abraço.

vbm disse...

O euro desvalorizou 13% em três meses, o equivalente a 60% ao ano! Grécia e Portugal, entregues aos respectivos "PEC's" são um estimulante aguilhão de continuidade da queda.

Assim, o euro mais acessível não deixará de favorecer as exportações alemãs para o resto do mundo, incluindo a da produção da Auto-Europa pelo que não é mirífica a perspectiva de uma retoma económica.