sexta-feira, 12 de março de 2010

OBAMA: REFLEXÕES SOBRE UMA ELEIÇÃO




AS FRAGILIDADES DE UM PRESIDENTE AFRO-AMERICANO

Dezasseis meses depois da eleição de Obama e catorze meses de mandato já servem para demonstrar que a eleição de um presidente afro-americano não foi uma boa solução nem para a América, nem para o mundo.
A América, depois de trinta anos de política neo-conservadora e neo-liberal, precisava de um Obama branco. De um presidente que tendo o mesmo perfil ideológico do actual não estivesse sujeito aos constrangimentos deste por ser negro.
Verdadeiramente, o que a experiência Obama tem demonstrado é que a América ainda não estava preparada para um presidente negro, contrariamente ao que supôs o resto do mundo que viu na sua eleição um sinal incontornável da grandeza da civilização americana.
É certo que um Obama branco correria o risco de ser assassinado, risco que Obama não corre …sob pena de a América se incendiar. Mas esse risco, que poderia até certo ponto ser contornado, seria amplamente compensado pelos resultados de uma presidência que não estivesse sujeita à flagelação subliminarmente (às vezes até descaradamente) racista, nem ao cerco de que o Presidente é refém em amplos sectores da administração e na própria Casa Branca.
Passado que foi um breve período de graça e devidamente avaliada a incapacidade de o Presidente romper verdadeiramente com o passado, como o seu eleitorado esperava, a extrema-direita iniciou uma flagelação sem precedentes em todos os domínios da actuação presidencial e relativamente à própria figura do Presidente.
Obama, procurando romper o cerco com negociações e compromissos, deixou-se encurralar cada vez mais a ponto de duas maiorias absolutas no Congresso, uma delas – a do Senado – uma super maioria, lhe não terem até hoje servido absolutamente de nada, com a agravante de a situação se poder tornar verdadeiramente dramática a partir de Novembro.
Minado por dentro pelos interesses de Wall Street, onde depois de tudo o que se passou nem sequer conseguiu libertar-se da tutela de ter de escolher para o Tesouro um homem do capital financeiro, Obama não conseguirá aprovar qualquer regulamentação muito diferente da que existia até 2008 (ou seja, praticamente nenhuma), a ponto de alguns economistas famosos já advogarem abertamente que mais vale não aprovar nada…para que a “coisa” da próxima vez estoire mesmo…
Cercado pelo lobby judaico no departamento de Estado e na própria Casa Branca, Obama não só não conseguiu dar nenhum passo significativo para a resolução do conflito israelo-palestiniano, como ainda por cima é impunemente alvo das provocações da extrema-direita judaica no governo, escorada na sua homóloga americana, também aqui com a agravante de a agudização do conflito poder lançar o mundo numa catástrofe que Obama não estará em condições de evitar por ser nula a sua capacidade de influência sobre Israel.
Finalmente, os episódios da reforma da saúde e da escalada da guerra no Afeganistão são apenas mais duas manifestações do que tem sido uma presidência falhada em grande medida pelas razões apontadas. Na política como na vida as boas soluções são as que ocorrem no tempo certo. Obama é uma excelente solução no tempo errado. Este ainda não era o seu tempo. Era o tempo de outro, porventura até mais radical do que ele, contanto que fosse branco!

8 comentários:

jvcosta disse...

Cheira-me a que vais apanhar muita porrada por causa deste post! Eu próprio, concordando com o que escreves sobre as limitações do exercício da presidência Obama (e por isto, agora, já convencido de que o Nobel foi prematuro), tenho alguma dúvida em associar tão directamente tudo isso à negritude (para nós mulato, não preto) de Obama

V disse...

Preto ou branco só podia dar nisto. O capital financeiro não anda a dormir e, ao contrário do que CP diz, eles são todos assassináveis.
V

V disse...

Esclarecimento do comentário anterior:
Os presidentes dos USA são todos assassináveis ... para (e por, já agora)o CAPITAL FINANCEIRO.
V

jvcosta disse...

Recomendo, sobre este assunto, o artigo de David Brooks no NYT, "Getting Obama Right".

Anónimo disse...

E, todavia, a geometria é uma simples construção do espírito, tentadoramente analógica.
Talvez que certos postulados devam manter-se sobre a mesa, para análise, apesar de parecerem ajustar-se bem ao boneco.
Ver
http://www.nytimes.com/2010/03/16/world/middleeast/16mideast.html?th&emc=th

jlsc

Anónimo disse...

Uma nota adicional, para mero escrutíneo.
Um Nobel, a meu ver, laurea ideias consequentemente levadas a um nível de realização irreversível. O Nobel do Obama nada tem de prematuro, nesta perspectiva. O sucesso do seu programa, mesmo improvável aquele e questionável este, será apenas um marco na cronologia de uma marcha indelevelmente marcada por ele e, inquestiovalmente, no sentido da Paz.
Isto, situando-me eu, metodologicamente, na lógica interna do Prémio Nobel. Questioná-lo é outra coisa.
Salvo o devido respeito.

jlsc

Anónimo disse...

Another brick on the wall:


jlsc

Anónimo disse...

Por razão que ignoro, o endereço não acompanhou o comentário. Trata-se de um comentário no NYT de hoje sobre manifestações de rebeldia estadual contra lei federal:
http://www.nytimes.com/2010/03/17/us/17states.html?th&emc=th
Será desta?

jlsc