sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A MISÉRIA DE DISCURSO SOBRE A MISÉRIA DO SALÁRIO MÍNIMO



SÃO SEMPRE OS MESMOS


Ouvimos na TV e lemos nos jornais as opiniões dos “grandes economistas” portugueses sobre o aumento do salário mínimo de 426 para 450 euros!
Que não, que não pode ser. Que as empresas não aguentam. Que a medida vai gerar desemprego e por aí fora. E logo um desconhecido representante das ditas vem à TV chamar prepotente ao Governo e fazer ameaças. Se a medida for adoptada, disse o tal cavalheiro, não renovaremos os contratos a prazo. Claro, que o Governo deveria ter estas declarações em consideração e, na medida da concretização da ameaça, excluir as ditas empresas de qualquer benefício genericamente previsto.
Do lado dos economistas que se manifestaram contra a medida – João Salgueiro, Vítor Bento, Ferreira Leite, entre outros – não seria de esperar outra coisa. Todos eles têm um longo currículo especializado no alastramento da pobreza. Nunca, em muitas décadas, se ouviu dessa gente qualquer palavra que não fosse de austeridade, de contenção salarial, em suma, de salários de miséria para a generalidade do povo trabalhador.
É gente ligada ao capital financeiro, logo, à especulação e agiotagem, que sempre olhou a força de trabalho como um factor de exploração. É gente aliás sem qualquer legitimidade moral para se pronunciar sobre o que está em jogo. Na verdade, como é que pessoas pagas milionariamente têm o descaramento de se insurgirem contra um aumento de 24 euros por mês num mísero ordenado de 426 euros? Pagas milionariamente e provavelmente com várias reformas. De facto, gostaríamos de saber se Salgueiro não beneficia de uma reforma do ex-Banco de Fomento, outra do Banco de Portugal e outra ainda da Caixa Geral de Depósitos. E Vítor Bento ainda há pouco tempo foi beneficiado com uma generosa avaliação sem a ela ter direito.
Sim, são argumentos ad hominem, mas muito justificáveis quando dirigidos a pessoas que vivendo principescamente estão a regatear um aumento de 24 € no mais baixo escalão dos salários (legais) portugueses.
Claro, que eles vêm com o hipócrita argumento de que se trata de uma falsa vantagem, já que o aumento pode levar a empresa à falência. Hipócrita e falso. Se uma empresa não tem condições para pagar um salário de 450 €/mês, ela não deve ocupar um espaço no tecido empresarial português. Deve ser substituída por outra que o consiga. Aliás, a propósito das pequenas e médias empresas há muita demagogia: durante anos e anos a fio nunca pagaram impostos directos. Apresentavam sempre prejuízos. Depois, por via de um expediente legal bem conseguido, foram obrigadas a fazê-lo, posto que parcialmente. É esta mentalidade empresarial que os nossos ditos “grandes economistas” querem perpetuar. A mentalidade do atraso!
Mas deles já nada nos causa espanto. Pois não disse, muito recentemente, João Salgueiro num programa de economia da SIC Notícias, a propósito da crise financeira, que talvez houvesse excesso e não falta de regulamentação? Ou ainda que, o que havia era incompetência dos órgãos fiscalizadores e não falta de regulamentação. E não é esse mesmo economista que agora, neste preciso momento histórico, se manifesta contra os investimentos públicos? Mas também aqui a sua posição não causa admiração a quem não tiver memória curta. Pois trata-se exactamente da mesma pessoa que, como Ministro das Finanças de um dos governos mais desprestigiantes da democracia, anulou a adjudicação de um troço da auto-estrada do Norte em construção – salvo o erro Aveiras-Santarém – por não considerar aquela auto-estrada uma obra prioritária!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

15 DIAS DEPOIS



O QUE ENTRETANTO SE PASSOU...

A muitos fusos horários de distância fui acompanhando o essencial.
Na política doméstica, fica cada vez mais claro a incapacidade de Ferreira Leite para governar os país. Não digo impreparação, porque ela já não está em idade de se preparar. Falo antes de incompetência. Perante uma crise de dimensões mundiais, ela insiste em diariamente dar provas de que não entende o que se está a passar no mundo. E compreende-se: como aqui se foi dizendo desde o início do seu mandato, ela sempre viveu politicamente amparada em alguém que pensava por si; e isso lhe permitia no seu dia-a-dia executivo fazer uso de duas ou três ideias muito simples, porém suficientes para as tarefas que tinha a seu cargo.
Agora, com responsabilidades de direcção e politicamente apoiada por ex-executivos da Goldman Sachs não é de estranhar que ande perdida, como perdidos andam os seus conselheiros políticos.
Do lado do Governo, Sócrates sem qualquer hipótese de participar nos fora que pretendem traçar os destinos do mundo, vai copiando o que de melhor se faz lá fora para atenuar a crise e deixando dito que é preciso tirar consequências políticas de tudo o que se passou…
Entretanto, o Presidente da República, com o mundo diariamente a desabar, vai mantendo a sua obsessão relativamente a duas ou três normas do Estatuto dos Açores, deixando criar na opinião pública a ideia de que, no actual momento político, esta é a principal questão com que o país se defronta. E nem sequer tem pejo em, de modo completamente naif, sublinhar o contraste do seu comportamento relativamente a outras questões, como a promulgação do plano de resgate dos bancos, ao vangloriar-se de ter assinado o diploma no tempo record de cerca de trinta minutos! Pois é, o problema de Cavaco é sempre o mesmo: não aprendeu a democracia na oposição ao fascismo, e agora ressente-se disso…
Internacionalmente, a crise financeira vai dia após dia alastrando e penetrando em todos os domínios da economia real. Da prometida reunião de Dezembro, com cerca de vinte países, não é de esperar grandes resultados.
Sarkozy “mexe-se” muito, mas não sai do sítio; Merkel está preocupadíssima com a situação interna e não parece ter uma ideia própria sobre como moldar o futuro; os emergentes defrontam-se com interesses muito particulares e é natural que continuem muito mais atentos ao que directamente os preocupa do que dispostos a colaborar na criação de uma nova ordem económica internacional; de Bush e da sua camarilha é de esperar uma actuação correspondente à máxima de Lampedusa: “É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma”. Resta Gordon Brown que, nesta crise, tem sido o único a verdadeiramente marcar a diferença…mas, simultaneamente, sobra uma dúvida: depois das terceiras vias e de tantos ínvios percursos ainda terá o trabalhismo britânico folgo suficiente para lutar por uma proposta aceitável?
A oito dias das eleições americanas, só um verdadeiro tsunami político poderá tirar a vitória a Obama, uma vitória esmagadora, inclusive em estados onde os democratas há muito não ganham. Uma vitória que certamente se estenderá ao Congresso, onde se espera uma maioria democrática na Câmara dos Representantes e um reforço da maioria no Senado.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

OS PRÓXIMOS DIAS

INTERVALO


Nos próximos dias, talvez dez ou doze, não vou estar aqui ou não vou cá estar com a mesma assiduidade.

QUANTO CUSTAM AOS BANCOS AS MEDIDAS DE PROTECÇÃO?



A POBRE DEMOCRACIA EUROPEIA E NACIONAL

Temos vindo a insistir no tema que titula este post, dada a sua enorme importância para todos os contribuintes dos Estados que anunciaram na Europa medidas de protecção.
O que a intervenção dos Estados visa tem sido, mais ou menos, explicado pelos governantes: dinamizar a economia através da normal actuação do sistema bancário e, simultaneamente, garantir o pagamento dos depósitos.
Para alcançar estes objectivos, o plano de resgate europeu contempla fundamentalmente dois tipos de medidas: concessão de garantia de pagamento dos empréstimos interbancários, em valores variáveis, consoante a dimensão das respectivas economias; e criação de um fundo, também de montante variável, mas muito inferior ao limite máximo daquela garantia, para recapitalização os bancos em dificuldades.
Lendo os sites da imprensa europeia, depreende-se que não houve grande debate público sobre estas medidas, nos três principais Estados da UE. Há comentários dispersos dos leitores daqueles sites, mas debate institucional com larga participação popular verdadeiramente não houve. Todavia, as explicações avançadas por Sarkozy, Merkel e Brown sobre como aquelas medidas vão ser aplicadas, sendo insuficientes, são incomparavelmente muito mais esclarecedoras do que as avançadas pelo Governo português.
Sarkozy e François Fillon garantiram que o contribuinte não sairá prejudicado e que a intervenção do Estado, como garante, será paga a preços do mercado (os quais, digo eu, não poderão deixar de ser elevados, dada a escassez da oferta e a muita procura). Mas disseram mais: disseram como vai o dinheiro assim obtido ser gerido, que tipo de garantia cobre a intervenção do Estado, que obrigações irão assumir os bancos em matéria de remunerações de executivos, etc. Finalmente, as medidas anunciadas pelo Governo francês vão ser aprovadas pelo Parlamento e pelo Senado.
Angela Merkel fez igualmente uma resenha das obrigações dos bancos, do risco assumido pelo Estado e anunciou medidas severas de regulação do mercado financeiro.
Enfim, com mais ou menos informação, todos foram dizendo alguma coisa sobre como, no plano nacional, iriam pôr em prática as medidas acordadas a nível comunitário.
Em Portugal, porém, reina um profundo silêncio sobre a matéria. Apenas se sabe que Ferreira Leite, depois de uma enorme pirueta política, foi a Sócrates dizer que também apoia o plano. Mas o que nós verdadeiramente queremos saber é em que consiste o plano, que medidas contempla, que obrigações recaem sobre os bancos que a ele acederem e como vai ser aprovado. Pelo Governo, pelo Parlamento?
Há todas as razões para que os portugueses se ponham em guarda e discutam o plano, já que será com o seu dinheiro que o plano será posto em prática. Mas não apenas por esta razão. A experiência passada de negociação do Estado com as grandes empresas tem sido desastrada. Desastrada para os contribuintes, não para os negociadores. Falando claro: se o plano não for fiscalizado e discutido muito abertamente, há todas as razões para supor que os portugueses sairão prejudicados e os bancos beneficiados!

OS PRÓS E CONTRAS DE HOJE



ALGUÉM RESPONDEU À PERGUNTA: QUANTO VÃO CUSTAR AOS BANCOS AS MEDIDAS DE PROTECÇÃO?

Infelizmente não pude ver os banqueiros nos prós e contras de hoje. Não que a opinião deles sobre o que se passou, está a passar e se passará me interesse.
A mim apenas me interessa saber se a questão essencial foi debatida: quanto vão custar aos bancos as medidas de protecção. Será que alguém falou no assunto, hoje que é dia de Paul Krugman?
Vou tentar perceber pela imprensa o que se passou…

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

PAUL KRUGMAN

PRÉMIO NOBEL DA ECONOMIA


É com muito agrado que vejo a Real Academia Sueca das Ciências atribuir a Paul Krugman o prémio Nobel da Economia.
É um prémio mesmo a propósito, atribuído no tempo certo!
Ridículo que a RTP tenha ido pedir a César das Neves um comentário. O que disse César: que Krugman era muito marcado politicamente...
A direita continua a entender, como já na ditadura os salazaristas entendiam, que as opiniões contrárias às suas são opiniões políticas. As dela, provavelmente, serão apolíticas, ou seja, indiscutíveis dado o seu altíssimo valor científico. A gestão da coisa pública é um atributo natural da direita; quem aí pretenda imiscuir-se, vindo de fora, está a fazer política.
Depois de tudo o que se passou e está a passar há mesmo quem não tenha vergonha nenhuma!

O QUE DIZ E O QUE NÃO DIZ FERREIRA LEITE



NO ESSENCIAL, REINA O SILÊNCIO


Alguns continuam a afirmar que Ferreira Leite apenas fala daquilo que sabe, daí o seu enorme silêncio.
Não deixa de ser estranho que o responsável máximo pelo segundo maior partido português tenha tão pouco a dizer sobre o momento que se vive, interna e internacionalmente. Sobre este momento histórico, de grande crise financeira e económica, Ferreira Leite não se pronuncia. Nem sobre as suas causas e consequências, nem sobre as medidas que propõe para atenuar os seus efeitos e para evitar que situações idênticas se repitam (neste segundo caso sob a forma de opinião, dada a impossibilidade de um pequeno país poder evitar as crises desta natureza, por mais douto que seja o seu diagnóstico).
A única coisa que lhe ocorre dizer é que algumas das medidas propostas pelo Governo não têm efeito a curto prazo e que outras tornam os seus eventuais beneficiários ainda mais dependentes do governo. É provável que assim seja, mas é pouco para quem quer governar.
Quanto à maior dependência do governo (caso da linha de crédito), é preciso dizer que isso não ocorre apenas com esta específica medida. Ocorre com todas as medidas, deste ou de qualquer outro governo, cuja concretização dependa da discricionariedade de quem decide. O titular do poder discricionário é, pelo facto de o ser, alguém que tem algo para “vender”. Se nós queremos impedir a consequência, temos de eliminar a causa: acabar ou limitar drasticamente o poder discricionário da administração. Numa palavra, fixar critérios cuja aplicação que possa ser judicialmente controlável.
Mas voltemos à crise. Sobre ela nem uma palavra. Tem a presidente do PSD algo a dizer? Nacionalizar os bancos, criar um fundo, garantir os depósitos, assegurar o pagamento dos empréstimos interbancários?
Nenhuma destas medidas pode ser tomada sem um perfeito conhecimento da situação de cada banco. É de presumir que o governo a conheça. E a oposição, conhece-a? E se não a conhece, já fez alguma coisa para a conhecer?
O mais provável é que os bancos portugueses estejam, na melhor das hipóteses, numa situação semelhante à dos bancos europeus. Ou seja, com gravíssimas dificuldades, tanto em consequência de uma drástica redução do seu activo, como em consequência de um vasto passivo que não conseguem solver, o que conjugadamente se traduz numa drástica redução da liquidez, muito penalizadora da economia real. Se ninguém intervier, se os poderes públicos nada fizerem, mais tarde ou mais cedo, os bancos irão á falência e a economia real entrará numa longa e penosa depressão.
Sendo esta a situação há que ponderar muito bem que tipo de intervenção fazer. Qualquer medida que se traduza em assegurar mais liquidez, sem simultaneamente contribuir para debelar as causas que estão na origem da crise, não resolverá o problema e representará para os contribuintes uma pesadíssima factura, ainda por cima passada a quem até hoje só teve como única e exclusiva preocupação fazer o máximo lucro, seja pela via da especulação mais descarada, seja à custa de baixíssimos impostos ou mesmo de ausência de impostos, seja ainda à custa dos mutuários. Ou seja, os bancos não merecem, socialmente falando, a menor consideração.
Portanto, o Estado só poderá intervir desde que fique, relativamente ao banco, titular de uma participação social correspondente à sua intervenção. Como os bancos estão descapitalizados e em risco de falência, a intervenção do Estado terá de ser avaliada neste contexto.
A simples garantia dos depósitos ou, pior ainda, a garantia do pagamento dos empréstimos interbancários desacompanhadas da correspondente entrada no capital social dos bancos (ponderada, como acima se disse, a real situação destes) traduzir-se-ia num roubo ao povo português cometido pelo Estado, isto é, pelo Governo, em benefício dos bancos.
E isto é absolutamente inaceitável. De nada vale dizer, como se tem feito hoje durante todo o dia, que sem a intervenção do Estado a economia colapsa ou que sem ela os depositantes correm o risco de perder o seu dinheiro. Não está em causa uma coisa nem outra. O que está em causa é o modo como o Estado vai intervir.
Se esta discussão não for trazida para a praça pública imediatamente, o mais provável é que o povo fique altamente lesado. O Estado não pode intervir dando dinheiro dos contribuintes para comprar lixo, como queria fazer Bush e a sua camarilha, nem pode intervir como simples mutuante, porque a um falido não se empresta dinheiro – dá-se dinheiro. O Estado só pode intervir, qualquer que seja o fim da sua intervenção (garantia dos depósitos, garantia dos empréstimos interbancários), desde que fique detentor do capital social correspondente á sua intervenção, cálculo que – insisto – não poderá deixar de ter em conta a real situação do banco intervencionado.
O que o Estado fará depois, fica para mais tarde. Uma coisa, porém, terá de ficar clara. Essa intervenção terá de ser feita no interesse da comunidade, nunca no dos banqueiros.
Compreende-se agora melhor a grande barragem de fogo ideológico que já começou a ser feita pelos que querem ficar com o dinheiro de graça. Falam no perigo das nacionalizações, na incompetência do Estado e até em nacionalizações temporárias sem definição dos respectivos contornos.
E compreende-se também melhor por que não fala Ferreira Leite ou por que o PS faz que fala.

domingo, 12 de outubro de 2008

NA CAMPANHA DE McCAIN JÁ VALE TUDO


COMÍCIOS DE McCAIN CADA VEZ MAIS AGRESSIVOS

Com a aproximação do 4 de Novembro e com as sondagens a indiciarem uma vitória de Obama, McCain e a sua gente lançam mão a tudo o que possa desacreditar o candidato democrático. Chamam-lhe “terrorista”, “comunista” e tudo aquilo que no linguajar da extrema-direita americana possa significar afastamento dos sagrados “american values”.
Perder para um democrata ainda vá, agora para um preto é coisa que a extrema-direita americana não aceita.
O grande bombardeador de civis norte vietnamianos não está preparado para "estas modernices"; o discurso eleitoral deste “heróico” candidato tudo faz para incutir no americano médio a ideia de que Obama é um perigo…por ser diferente.

SOLUÇÕES CONCERTADAS PARA A CRISE


AS PROPOSTAS DO FINANTIAL TIMES E DOS “SOCIALISTAS MODERNOS”

Que estranha coincidência, o Financial Times e os “socialistas modernos” propõem a nacionalização (temporária) dos bancos.
Prémio ou castigo? Depende da perspectiva. Algo assim parecido com a primeira versão do Plano Paulson. Castigo para os contribuintes,prémio para os banqueiros…

A SELECÇÃO NACIONAL PERDEU 5 PONTOS EM TRÊS JOGOS



DIFICULDADES PARA CHEGAR À ÁFRICA DO SUL

É isso mesmo. A selecção nacional perdeu 5 pontos em três jogos e, diga Queirós o que disser, já não vai ser nada fácil ir á África do Sul.
Um empate na Suécia não é teoricamente um mau resultado. Todavia, tendo a Suécia jogado muito desfalcada, o resultado poderia ter sido outro. Mais uma vez as opções de Queirós não revelam sageza. Quaresma não tem lugar entre os convocados, quanto mais entre os que jogam, e Nani, tem altos e baixos, mais baixos do que altos. É duvidoso que merecesse a titularidade, mas é certo que no segundo tempo já não deveria ter entrado.
Por fim, o futebol jogado pela equipa foi fraco e nada teve de emocionante.

AINDA URIBE, "GRANDE COMBATENTE DA LIBERDADE"


ESTADO DE EXCEPÇÃO NA COLÔMBIA

Uribe decretou o estado de excepção na Colômbia para tentar controlar uma greve judicial. É a segunda vez que o faz.
As causas não são irrelevantes. Elas demonstram que um importante e numeroso sector do aparelho de Estado não concorda com a política de Uribe.
Se, em vez de Uribe, fosse Chávez a decretar o estado de emergência com base em idênticas causas, todos os jornais do “mundo ocidental” chamariam a notícia à primeira página. E a matilha dos comentadores de política internacional não lhe pouparia adjectivos. Como se trata de Uribe, grande “combatente da liberdade”, quanto mais silenciosa for a notícia melhor…

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

DIRECTOR-GERAL DO FMI RECONHECE FRACASSO DA GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS


RECONHECIMENTO CORRECTO, EMBORA MUITO TARDIO


O Director do FMI, Dominique Strauss-Kahn, reconheceu, na reunião de Outono das instituições de Bretton-Woods, iniciada ontem, que a actual crise financeira demonstra a falência dos sistemas regulatórios das economias avançadas, incapazes de fixar regras de gestão do risco para as maiores instituições privadas e de estabelecer mecanismos para disciplinar os mercados.
“Fracassou a tentativa internacional de adopção de mercados financeiros globalizados”, disse Strauss-Kahn, que igualmente reconheceu estar o mundo está à beira de uma recessão global da qual não recuperará antes do segundo semestre de 2009.
O que é lamentável é que tenha sido necessário que a casa tivesse começado a arder para se perceber que ela estava cheia de matérias altamente inflamáveis. E só não sabia isso quem não queria. Lembro mais uma vez o excelente livro de J. E. Stiglitz, Globalization and Discontents, editado em N.Y. em 2002 e também publicado em Portugal (Terramar), no mesmo ano.
Há comportamentos de pessoas com responsabilidades que não podem ficar impunes: banqueiros, executivos em geral e os próprios governantes, que nestas últimas duas, três décadas, actuaram mais como serventuários do grande capital, financeiro ou não, do que no interesse dos seus concidadãos.
E depois há que tirar consequências no plano institucional, tanto interna, como internacionalmente. O Primeiro-ministro não pode limitar-se a vociferar no Parlamento, perante o silêncio da esquerda, contra o capital financeiro e contra a desregulamentação da economia. Há, internamente, que aproximar os actos das palavras e, em Bruxelas, tirar a palavra aos lobbies que infestam a Comissão e ir criando as condições para o surgimento de uma União Europeia diferente daquela que resultaria do Tratado de Lisboa. Enfim, ingentes tarefas para um qualquer governo socialista comprometido com tudo o que se passou aqui em casa, na Europa e não apenas na América…
É bom que os incautos se não esqueçam que o famoso espírito anglo-saxónico que está na origem desta crise é o mesmo que, desde meados da década de oitenta do século passado, vem envenenando a União Europeia, tanto economicamente, como politicamente.
Primeiro, com as investidas liberais de Thatcher, consolidadas pelos seus sucessores e logo consagradas em leis comunitárias, muito facilitadas depois da queda do muro e da desagregação de União Soviética; e, depois, com o alargamento da UE a países que na realidade apenas aderiram à NATO e trouxeram para dentro daquela o espírito desta. Também neste plano vai ter de haver revisões…

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MAIS UM DIA NEGRO



A CRISE AGRAVA-SE



A Bolsa de New York viveu hoje um dia de verdadeiro pânico. O Dow Jones caiu 7,33%, a sua maior queda desde 1987. É a sétima sessão consecutiva de perdas.
E O índice Nasdaq, onde se cotizam as empresas de tecnologia e informática, também perdeu 5,47%.
É impossível que esta crise não se propague à economia. E os seus efeitos serão funestos, mais do em qualquer outra época da história contemporânea.
Enquanto escrevo, ouço na TV os dois liberais da quadratura do círculo, atacar o Estado…e defender o liberalismo…
ADITAMENTO
O New York Times avança a notícia de que o governo federal vai nacionalizar parcialmente os bancos...E Bush que não ouve os dois liberais da quadratura

DEPOIS DO FRENTE-A-FRENTE, JORGE SAMPAIO



A CRISE FINANCEIRA E O KOSOVO



Que nos pode trazer de novo Jorge Sampaio a propósito da crise, falando o “politicamente correcto”?
Aliás, o politicamente correcto também tem uma grande responsabilidade na actual crise. Confesso que não percebo bem o que Jorge Sampaio quer. Tem ele algumas convicções que queira transmitir ao povo português? Ou quer agradar a todos e que todos saiam vitoriosos. Se essa é sua ideia, com todo o respeito, a sua voz não é necessária neste momento.
E se já não bastava ouvi-lo falar sobre a crise, mais decepcionado fiquei ao ouvi-lo sobre o Kosovo, nos termos em que o fez.
Insisto na primeira questão: não pode fazer política quem não quer ter inimigos…
ADITAMENTO
Para ser justo, tenho que reconhecer que a segunda parte da entrevista foi melhor do que a primeira; gostei da resposta sobre os voos da CIA; gostei do que disse sobre a actual Administração americana; gostei de o ouvir criticar a prestação dos candadatos presidenciais americanos em matéria de política externa, embora naquele seu estilo redondo e gostei de o ver responder abertamente sobre a lei do divórcio e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Gostei, independentemente de estar ou não de acordo...

O FRENTE-A-FRENTE NA SIC NOTÍCIAS



QUE POBREZA!

Como é possível que na política portuguesa haja gente como Teresa Caeiro? Meu Deus, que pobreza! Até me deu pena, a mim que não sou particularmente sensível aos desaires de gente como ela.
E como é possível que Mário Crespo a convide para o frente-a frente?
Ao que isto chegou…

AINDA O RECONHECIMENTO DO KOSOVO



AFINAL, NA ONU, PORTUGAL ABSTEVE-SE


O Ministro dos Negócios Estrangeiros, a propósito do reconhecimento do Kosovo, entre as muitas coisas que disse para justificar o injustificável, afirmou que Portugal iria colaborar com a Sérvia, nomeadamente na Assembleia Geral da ONU, órgão ao qual aquele país ia propor um pedido de parecer ao Tribunal Internacional de Justiça sobre a legalidade daquela independência.
Submetida a questão à Assembleia Geral, a proposta foi aprovada: 77 votos a favor, 73 abstenções e 6 contra.
Votaram contra os Estados Unidos, a Mauritânia (em Agosto deste ano, um golpe de Estado militar depôs o Governo e o Presidente da República, este último o primeiro eleito democraticamente desde a independência em 1960), a Albânia (não precisa de apresentações, salvo no que respeita ao crime organizado praticado por algumas das mais poderosas máfias da Europa), as Ilhas Marshall (312 km2, Estado livremente associado aos Estados Unidos, local de testes nucleares americanos durante muitos anos, ainda hoje com elevados níveis de radiação), os Estados Federados da Micronésia (702 km 2, ilhas descobertas por um português, Diogo da Rocha, em 1527, já passaram por muitas mãos e tem um tratado de livre associação com os Estados Unidos, responsáveis pela defesa do território), Nauru (Estado sem capital, de 21 km2, paraíso fiscal, grande centro de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal, cujas leis sobre a materia foram consideravelmente atenuadas a pedido dos Estados Unidos) e Palau (458 km2, nominalmente independente, com um tratado de livre associação com os Estados Unidos, que lhes permite controlar 51% das ilhas em caso de emergência nacional).
Portugal, num acesso de compreensível vergonha, absteve-se. O que não deixa de ser ilógico. Se reconheceu, por que não votou contra, ao lado de Palau, Nauru e companhia?
O Kosovo foi até hoje reconhecido por 48 países dos 192 que integram a Organização das Nações Unidas.

OBAMA A UM PASSO DA VITÓRIA



SE AS SONDAGENS SE CONFIRMAREM…

Segundo as últimas sondagens, estado por estado, Obama tem 221 votos seguros e 56 quase certos, enquanto McCain tem 143 seguros e 20 quase certos.
Consideram-se quase certos aqueles onde a margem de avanço se situa entre 5 e 9%.
Indecisos continuam sete estados, representativos de 98 votos. São eles: Nevada (5 votos), Colorado (9), Missouri (11), Indiana (11), Ohio (20), Carolina do Norte (15) e Florida (27). Com excepção de Indiana, onde McCain tem uma vantagem de 2,5%, Obama vai à frente em todos os demais, por margens que vão dos 0,3% (Missouri) a 4% (Colorado e Ohio).
Para ganhar a eleição presidencial são necessários 270 votos do colégio eleitoral. Assim sendo, Obama já tem a vitória assegurada…se as sondagens se confirmarem.

HOMENAGEM A CHE GUEVARA


ASSASSINADO PELA CIA

Um dia partiu da Estacion del Retiro para não mais voltar….

Hasta Siempre…

Aqui se queda la clara
La entrañable transparencia
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara

REFORMA CONSTITUCIONAL NA COLÔMBIA PERMITE REELEIÇÃO DE URIBE



QUEM SE INDIGNA?

Uma comissão do parlamento da Colômbia aprovou uma reforma política que permite a reeleição de Uribe em 2014. Todavia, a oposição considera que a reforma abre a porta à reeleição de Uribe em 2010, no cargo desde 2002.
Se uma reforma do mesmo género tivesse ocorrido na Rússia ou na Venezuela a matilha dos comentadores de política internacional não se calaria. Como a reforma é para favorecer um “combatente da liberdade” não há nada a dizer.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O DEBATE PARLAMENTAR


SÓCRATES GANHOU EM TODA A LINHA

Lamentável a prestação da esquerda no debate de hoje. Derrotada igualmente a direita, poupada pela esquerda à esquerda do PS.
Comecemos pela direita: com as medidas anunciadas por Sócrates, enquadradas por um ataque ao capitalismo desregulado, a direita pouco mais tinha que fazer do que refugiar-se numas tantas medidas avulsas que insiste em propor sem a consequente sustentação. Sobre a crise financeira não disse uma palavra, nem sobre ela se deteve. Para a direita liberal, a crise é uma constipação passageira, que os que não querem ser contagiados por ela se encarregarão de tentar curar por todas as formas e a expensas suas!
Do lado da esquerda, uma completa desilusão. O PCP, enterrado nas teses arqueológicas do seu próximo congresso, não foi capaz de aproveitar a crise económica internacional para fazer um ataque impiedoso às suas mais iníquas manifestações no nosso país e lutar por um outro modelo económico viável e aceitável.
O Bloco de Esquerda apanhado numa informação errada sobre o vinculo laboral dos trabalhadores do “call center” da segurança social em Castelo Branco ficou completamente desorientado e não foi minimamente capaz de formular uma crítica ideológica de fundo à crise e dela tirar partido para o que se pretende no nosso país. Até parece que a crise tirou argumentos ao Bloco…
Ideologicamente foi Sócrates quem retirou todos os dividendos da crise. Hoje, no Parlamento, só Sócrates foi de esquerda!

OS VOOS DA CIA


NOVAS PROVAS

Na passada segunda-feira o El Pais publicou uma notícia baseada num relatório do Ministério da Defesa de Espanha sobre voos para Guantánamo, com partida ou passagem pelo território espanhol. Todos os voos referidos naquele relatório foram operados pela força aérea dos Estados Unidos e justificados pelas autoridades americanas como voos de apoio logístico.
Esta justificação não pode deixar de causar, em alguns casos, a maior estranheza, pois dificilmente se aceita que, ficando Guantánamo a uns escassos 800 quilómetros do território americano, se justifique um voo de apoio logístico operado a partir de Espanha que fica a cerca de 7000 quilómetros daquela base! Por outro lado, um dos voos que transportou um prisioneiro foi operado por um C-20, exactamente um avião das mesmas características e do mesmo fabricante dos usados pela CIA para transporte de prisioneiros sequestrados e torturados.
Um destes voos, proveniente de Guantánamo com destino ao Cairo, trazia a bordo um prisioneiro, tendo feito escala nos Açores e em Palma de Maiorca, segundo o Ministério da Defesa espanhol.
Desta vez não se trata do relato de uma ONG, mas de um relatório do Governo de Espanha.
Face a esta notícia, o porta-voz do PS não encontrou melhor explicação do que afirmar que a prova daqueles factos só pode ser feita pelas autoridades portuguesas e que nenhuma delas até hoje havia chegado àquela conclusão!
Por seu turno, o Ministro dos Negócios Estrangeiros confrontado com o facto no Parlamento, mais uma vez manifestou a sua profunda irritação por estar a ser questionado sobre um assunto a propósito do qual o “Governo nada tem a esconder”. Igualmente perguntado por que razão não ordenou o Governo português um inquérito semelhante ao do Governo espanhol, Amado respondeu que “a política externa tem sido sustentada por consenso entre os dois principais partidos” e “era feio” e “não seria responsável” apontar o dedo aos anteriores governos do PSD sem nenhum elemento que indicie colaboração activa daqueles com o transporte de prisioneiros pela CIA.
Vamos por partes. Comecemos pela resposta de Vitalino Canas, porta-voz do PS. Que me recorde, a última vez que se manifestou uma tão grande divergência acerca de um facto (não de uma opinião, mas de um facto!) entre a Espanha e Portugal, foi no tempo de Salazar, a propósito do assassinato de Humberto Delgado. Também então as autoridades portuguesas asseguravam peremptoriamente ao mundo e à própria Espanha que os factos que esta afirmava terem-se verificado (presença dos pides no seu território) não correspondia aos registos das autoridades fronteiriças portuguesas.
Quanto às palavras de Amado, sublinhe-se o consenso entre os dois principais partidos em questões de política externa. Em primeiro lugar, os portugueses não sabiam, mas passaram a saber, que havia consenso entre os dois principais partidos em questões de política externa tão importantes como a invasão do Iraque e o sequestro de prisioneiros pela CIA!
A propósito da invasão do Iraque todos ficámos com uma ideia diferente. Provavelmente, Amado pensa de outra maneira, porque à época estagiava em Washington a convite do governo americano ou de instituições ligadas ao governo americano, tal como antes já lá tinham estado nas mesmas condições Durão Barroso e mais tarde Portas, este episodicamente, dada a sua pouca apetência por questões teóricas de fundo…
E também não sabíamos que a propósito de uma questão tão importante como o sequestro e a tortura de prisioneiros o consenso em política externa possa impedir uma investigação séria sobre o assunto. A propósito, o voo acima referido terá ocorrido na vigência deste Governo…
Ainda a propósito: ninguém me tira da ideia que a substituição de Freitas tem a ver com “isto”, com os voos da CIA…

O DEBATE DE HOJE À NOITE


OBAMA MELHOR QUE NO ANTERIOR

Obama esteve hoje melhor, embora continue decepcionante em política externa. Mantém-se a linguagem belicista de ambos os candidatos. Será que os americanos a apreciam assim tanto? Ou é uma exigência do stablishment?
No restante, é difícil discutir com alguém que sistematicamente faz de conta que nada teve com o que se está a passar. McCain está em permanente esforço de descolagem de Bush. Enganará os eleitores?
Registo as várias vezes em que McCain referiu a América como o país do Bem. Bin Laden diz o mesmo da sua doutrina…

OS CLINTON E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS



AINDA HÁ DÚVIDAS?

Hillary Clinton elogiou a prestação de Sarah Palin no debate com Joe Biden. E Bill Clinton aparece num anúncio republicano a criticar os democratas.
Claro que se trata de um aproveitamento de uma declaração circunstancial, mas alguém se lembraria de o pôr na propaganda republicana se ele fosse inequivocamente um apoiante de Obama?

O GOVERNO PORTUGUÊS RECONHECEU O KOSOVO



DIPLOMACIA SEM AUTONOMIA

aqui muito foi dito sobre o reconhecimento da independência do Kosovo e depois do excelente artigo de Pacheco Pereira, no Público de sábado, pouco mais haverá a dizer.
Portugal mudou de posição, embora o Ministro não tenha sido capaz de dizer o que se alterou para que Portugal tivesse mudado de posição. E compreende-se, pois para ele não mudou nada. Por alinhamento político acrítico e servil com a NATO sempre foi pelo reconhecimento, apenas tinha pedido aos americanos uma moratória para não arranjar um conflito com o Presidente da República numa altura em que tal conflito não era conveniente para o Governo.
Depois, o Presidente foi amolecido nas suas posições, e sem ser abertamente a favor, também não foi irredutivelmente contra, lavou as mãos como Pilatos, e deixou ao Governo o ónus da decisão.
Perante tal atitude, o PSD não teve argumentos para fazer frente à NATO e deixou-se igualmente convencer.
Mas se quem manda aqui é a NATO, a Condoleezza Rice ou Bruxelas por que razão não vem eles ao Parlamento português explicar a posição que o Governo deve tomar?

O MNE NÃO PÁRA DE NOMEAR CONSELHEIROS


ROMA, CIDADE ABERTA


Desde que Freitas do Amaral anunciou uma “nova política” para a nomeação de adidos e conselheiros técnicos, na sequência de vários saneamentos, justificados por razões orçamentais, o MNE já nomeou cerca de quatro dezenas de conselheiros técnicos, ou seja, quase o triplo daqueles que foram despedidos.
De tudo se tem visto, embora Roma, pelas características do posto, pareça ser das cidades mais apetecíveis.
Primeiro, foi um conselheiro eclesiástico (para garantir a separação entre a Igreja e o Estado? ou para impedir que a laicidade tome conta da Embaixada?) e agora é um licenciado em medicina para conselheiro cultural!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

QUE EUROPA DEPOIS DA CRISE?



RESISTIRÁ A UNIÃO EUROPEIA AO TERRAMOTO FINANCEIRO?


Razões tinham os americanos informados quando logo nas primeiras manifestações da crise financeira nos avisaram de que era impossível prever os seus efeitos, a sua duração e a sua extensão. Apenas nos advertiram para o seu carácter devastador.
E é isso o que se está a passar, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa e, mais uns dias, em todo o mundo. Bastou que um ou dois grandes bancos americanos falissem e outros ficassem em grande dificuldade, para que a crise se propagasse como “uma nódoa de azeite” a todo o mundo.
E, vendo bem, não há que estranhar. Não é preciso ser economista, nem ter especiais conhecimentos económicos para compreender o que se passou. Basta reflectir um pouco sobre a realidade que cada um de nós conhece para se perceber que “aquilo” iria estourar mais dia, menos dia.
Se um banco tradicional, coisa que já não existe, destinado a financiar a economia real (batatas, chouriços, automóveis, aço, etc.), regulado na sua actividade, embora muitas vezes por gente tipo Constâncio, assenta a sua solvabilidade na confiança que inspira aos seus clientes, já que apenas uma parte do seu passivo, em regra cerca de um terço, está coberta pelo activo, imagine-se agora o que se passa num banco que não esteja sujeito a nenhum controlo e que possa apresentar como activo produtos que na realidade não valem nada. Produtos, fruto dessa tão cantada criatividade com que os neoliberais e seus acólitos nos encheram os ouvidos durante décadas! A criatividade era tanta que até os títulos representativos do que nada valia ou do que valia muito pouco eram subdivididos em títulos autónomos para mais facilmente serem transaccionados, com base numa pretensa avaliação diferenciada do risco. E com estas e outras práticas infestaram o sistema bancário no seu conjunto.
Ora, se os todos os bancos assim actuaram, é evidente que os seus activos, pouco valiosos numa situação de crise mesmo quando representativos de actividades da economia real, não valem nada ou valem muito pouco quando referidos a essa tal criatividade financeira. Por outro lado, a crise agravou as necessidades de liquidez e as empresas da economia real, sem crédito e com a retracção da procura resultante da crise, vão falir umas atrás das outras.
A questão que se põe é a seguinte: perante este descalabro, o que podem os Estados fazer? Apenas algo de semelhante ao que fizeram os americanos e esperar. Obviamente, que não passa de conversa psicológica essa prática anunciada pelos governos de alguns países de que garantirão os depósitos bancários na totalidade. No fundo, com essa declaração o que esses governos pretendem é: primeiro, impedir a corrida aos bancos; segundo, atrair capitais. Só que o problema pode pôr-se pelo outro lado: dada a crise generalizada de liquidez, como podem os bancos responder perante os seus mutuantes à medida que estes forem exigindo os seus créditos? Repare-se que os governantes não garantiram o pagamento de todas as dívidas dos bancos, mas apenas as provenientes de depósitos, exactamente para que, sem a sua mobilização pelos depositantes, eles tenham dinheiro para pagar as outras dívidas. Só que, muito deles não terão e então será a falência.
Se, na União Europeia, cada Estado actuar isoladamente, com mais ou menos conversa comunitária, e se as falências continuarem, como inevitavelmente vão continuar, o que vai ser do euro? Resistirá a moeda única à crise? Se não houver uma política concertada, dificilmente o euro sobreviverá, se a crise prosseguir. E a União Europeia, aguentar-se-á? Sem o euro, não.

A IRRESISTÍVEL PAIXÃO SOCIALISTA DE JORGE COELHO



EMPRESA DO GRUPO MOTA ENGIL OBTÉM CONCESSÃO DE CONTENTORES SEM CONCURSO

Segundo o Público de hoje, uma empresa do grupo Mota Engil, presidido por Jorge Coelho, obteve, sem concurso, a concessão de exploração do terminal de contentores de Alcântara, por 27 anos, e licença para a sua ampliação para o triplo!
A crise financeira, provocada pela criação de uma realidade puramente virtual a que por força de maquinações financeiras foi atribuído um incomensurável valor patrimonial, gerador de lucros, vencimentos e prebendas obtidos criminosamente, e as situações como a acima descrita, em que uma empresa de um grupo dirigido por um influentíssimo ex-governante obtém, sem concurso, uma concessão, bem como a licença para triplicar a sua exploração, são tudo farinha do mesmo saco.
Será que alguém responderá por isto no futuro? Não digo politicamente, digo nos tribunais…

PRESIDENCIAIS AMERICANAS "A LA CARTE"

SONDAGENS


Clique aqui e veja as últimas sondagens, em cada estado, para as presidenciais americanas.

AINDA A CRISE FINANCEIRA NA EUROPA



DEPOIS DA MINI-CIMEIRA DE PARIS


Em Paris toda a gente protestou contra a decisão da Irlanda de garantir na íntegra os depósitos bancários. Merkel, mal chegou a Berlim, tomou idêntica medida. Entretanto, outros países a seguiram: Grécia, Suécia, Dinamarca, Áustria e Portugal.
Hoje, os ministros das finanças da zona euro, subiram para 40 mil euros a cobertura dos depósitos em caso de falência e esperam que a medida possa ser sancionada amanhã, a 27, pelo Ecofin.
Ao que se depreende haverá um limite mínimo de protecção - máximo que Bruxelas consegue (ou conseguirá, se tudo correr bem amanhã) - que não prejudica as medidas adicionais e complementares que cada um achar dever tomar.
Quem compare o que se está a passar aqui na Europa (tanto no plano nacional, como no comunitário) com o que se passou nos Estados Unidos notará certamente uma grande diferença.
Nos Estados Unidos, bem tentou Bush fazer aprovar à pressa pelo Congresso um plano de três páginas, preparado pelo Departamento do Tesouro e pela Reserva Federal. Tentou, mas não conseguiu. A opinião pública e, principalmente, os congressistas, cujo lugar não depende do partido, nem de quem governa, exigiram que o assunto fosse renegociado, depois de muito discutido.
Na Europa, na maior parte dos países, os deputados dependem do partido e de quem governa. Por isso, eles fazem o que as cúpulas partidárias lhes exigem sem pestanejar. Neste caso, o dever de obediência consiste em nem sequer terem a veleidade de dizer que querem discutir o assunto e participar na decisão. E a opinião pública nem sequer estranha, tão habituada está a que o Executivo mande na maioria parlamentar que o apoia ou que os deputados obedeçam aos partidos

domingo, 5 de outubro de 2008

OS RESULTADOS DA MINI-CIMEIRA DE PARIS


CONVALIDAÇÃO EX POST FACTUM

Como se previa, a mini-cimeira de Paris não aprovou qualquer plano semelhante ao plano Bush, nem qualquer política comunitária para fazer face à crise financeira. Limitou-se a confirmar as medidas já tomadas a nível nacional pelos países com instituições financeiras em risco eminente de falência e a juntar umas tantas notas que possam merecer a simpatia popular.
Confirmou as actuações nacionais configuradoras do “salve-se-quem-puder” e as inevitáveis violações à chamada lei da concorrência, da proibição das ajudas de Estado e do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Como nota de cariz popular, a cimeira advogou que “em caso de apoio público a um banco em dificuldades, cada Estado se comprometa a que os dirigentes do banco falido sejam sancionados”. Nem vale a pena desenvolver o tema, pois logo se percebe a demagogia subjacente…
Os comentários da imprensa europeia, bem como dos repórteres de serviço, sempre prontos a fazer fretes a Bruxelas, são muito diferentes dos da imprensa americana. Ver aqui o comentário do Washington Post.

sábado, 4 de outubro de 2008

BAILOUT APROVADO NA CÂMARA DOS REPRESENTANTES



À SEGUNDA PASSOU

Por 263 votos a favor e 171 contra, a Câmara de Representantes aprovou o plano Bush, com as emendas introduzidas pelo Senado.
Respirou-se de alívio na Casa Branca, embora, em Nova York, a bolsa não pareça ter ficado muito animada. Fechou com perdas de 1,5%.

ATAQUE DE YELTSIN AO PARLAMENTO RUSSO

FOI HÁ 15 ANOS

Muito a propósito o post de Vitor Dias a propósito de uma data sobre a qual se abateu um enorme silêncio.

MAIS DIPLOMACIA E DA BOA!



LUIS AMADO NA COLÔMBIA


A convite do seu homólogo colombiano, Luis Amado vai a Bogotá e terá um encontro com o presidente Uribe, conhecido grande democrata do Caribe e arredores.
Que ligações tem Portugal com a Colômbia? Que interesses tem Portugal na Colômbia? A resposta é muito simples e chama-se Chávez!
É preciso diversificar e mostrar ao mundo que também nos relacionamos com os “democratas” da América Latina, não vão Bush, Condoleezza e companhia interpretarem-nos mal!

À ATENÇÃO DE SÓCRATES!


ULTIMATO DE SARKOZY AOS PATRÕES

O Presidente Nicolas Sarkozy exige que as organizações patronais lhe entreguem até terça-feira uma proposta de práticas aceitáveis para enquadrar as remunerações dos dirigentes das empresas, sob pena de sobre o assunto o governo tomar decisões até ao fim de 2008.
As propostas devem incluir os chamados “pára-quedas dourados” – as famosas indemnizações, negociadas aquando da entrada em funções dos dirigentes, destinadas a serem pagas quando deixam os respectivos lugares, qualquer que seja o seu desempenho.
As propostas serão dadas a conhecer ao público em geral e o governo decidirá em função da avaliação que delas fizer.
Cavaco e Sócrates já falaram deste assunto, pelo menos, uma vez cada um. Mas fizeram-no apenas para “lavar a alma”, principalmente o Primeiro-ministro. Os executivos até se riem dos apelos que lhes possam fazer…
Se Sócrates fosse coerente faria o mesmo que Sarkozy. Mas não fará.
Quem manda em quem?

MÁS NOTÍCIAS DA GEÓRGIA



ATENTADO CONTRA SOLDADOS RUSSOS


Na capital da Ossétia do Sul, Tsijinvali, explodiu um carro bomba junto ao quartel das forças de paz russas, tendo matado sete militares russos e ferido outros tantos.
O atentado foi qualificado pelas autoridades ossetianas como terrorismo de Estado e atribuído aos serviços secretos georgianos. Segundo aquelas autoridades, o carro havia sido roubado; um outro carro que transportava explosivos, também roubado, com georgianos a bordo, foi apreendido perto da fronteira.
Vamos a ver o que vem a seguir…

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

GRANDE CONFUSÃO NA UE SOBRE COMO FAZER FRENTE À CRISE FINANCEIRA



O MALOGRADO PLANO SARKOZY


Amanhã reúnem-se em Paris os chefes de Estado e de Governo dos quatro países da UE membros do G8 (França, Alemanha, Reino Unido e Itália) e os Presidentes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Eurogrupo.
A cimeira foi convocada pela França, que ocupa a presidência de turno da União, e tem vista concertar uma posição comum para fazer face à crise financeira. A ideia inicial de Sarkozy, ao que parece combinada com os holandeses, era a criação de um fundo comum europeu de montante correspondente a cerca de 3% do produto interno bruto de cada Estado membro, algo da ordem dos 350 mil milhões de euros, destinado a garantir a solvabilidade dos principais bancos europeus.
A ideia foi de imediato rechaçada por Ângela Merkel que peremptoriamente se negou a passar um cheque em branco a todos os bancos. Face à reacção alemã, a França recuou e desmentiu a intenção de fazer aprovar na Europa um plano semelhante ao plano Bush, responsabilizando a Holanda pela ideia. Entretanto, o Primeiro-ministro holandês foi recebido no Eliseu e à saída afirmou que tudo não passava de um mal entendido.
As reacções dos principais países à intenção de Sarkozy, as medidas tomadas pela Irlanda relativamente à defesa dos depositantes, as intervenções já realizadas em diversos bancos a nível nacional, deixam claro que se entrou num “salve-se quem puder”, onde cada um só estará disposto a ir além da sua própria fronteira, se o que se estiver a passar na casa dos outros ameaçar verdadeiramente a sua!
A Irlanda, face ao modo como Londres foi resolvendo as diferentes manifestações da crise financeira (nacionalização do Northern Rock, fusão, contrária às regras comunitárias, do HBOS com o Lloyd’s TSB), decidiu garantir durante dois anos a totalidade dos depósitos bancários e algumas das espécies de dívidas dos seis maiores bancos nacionais, admitindo, embora não seja ainda seguro, a extensão da medida a certos bancos estrangeiros que operam no país. Londres reagiu com desagrado á decisão irlandesa, por temer uma fuga massiva de capitais para o país vizinho.
Por esta amostra se vê como, de assentada, foram mandadas às “urtigas”as sacrossantas regras comunitárias da concorrência e se entrou no tal “salve-se quem puder”que acabará, mais tarde ou mais cedo, por a todos prejudicar.
ADITAMENTO
Na carta enviada por Sarkozy aos restantes 26 Estados-membros, dando-lhes conta da realização da mini-cimeira de Paris e dos seus objectivos, pede-se expressamente:a) reforço das medidas de supervisão; b) respeito pelas normas comunitárias nas intervenções feitas a nível nacional; c) prevenção de efeitos perversos nos demais Estados-membros.
Enfim, recomendações à medida...

DIPLOMACIA SERVIL



O RECONHECIMENTO DO KOSOVO

Os jornais de hoje insistem que está para breve o reconhecimento do Kosovo e que o Ministro dos Negócios Estrangeiros se prepara para anunciar na próxima semana esse reconhecimento, depois de o ter comunicado aos partidos parlamentares.
Se a notícia vier a confirmar-se, Sócrates terá perdido a grande oportunidade de ficar na História de Portugal como o único político, até hoje, capaz de conduzir, em democracia, a política externa com relativa independência. Claudicando numa questão tão simbolicamente significativa, Sócrates degrada a sua imagem e deixa-se equiparar àqueles que sempre estão disponíveis para conduzir uma diplomacia servil.
Não há pressões de Condolezza Rice, nem de Miliband, nem de Bruxelas, nem da França (desta, estupidamente), nem da Alemanha que possam justificar o acto de Portugal.
Que Amado o quisesse fazer, pelas razões caricatamente apresentadas numa entrevista concedida a Teresa de Sousa, no Público, compreender-se-ia. Que Sócrates o siga, é uma profunda decepção!

OS NOSSOS COMENTADORES



A DESCOBERTA DE VASCO PULIDO VALENTE


Vasco Pulido Valente descobriu esta semana que a América deixou de ser a potência dominante no mundo e de certa forma lamente não ter sido ele, mas Mário Soares, o primeiro a falar do assunto entre nós.
Com esta confissão e esta constatação, hoje já eu ganhei o dia! Fiquei a saber que a América já não é a “hiperpotência” que ela pensa que ainda é e registei a patente da descoberta, entre nós – sim, entre nós, porque se presume possa haver descobertas semelhantes noutros países – em nome do Dr. Mário Soares.
Ora aqui está como a gente se pode enriquecer à sexta-feira sem ser com o euro milhões!

O DEBATE JOE BIDEN/SARAH PALIN



MELHOR QUE O PREVISTO


O debate da madrugada de hoje, entre os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, constituiu sob vários aspectos uma agradável surpresa.
Sarah Palin, embora tivesse papagueado o guião que lhe foi distribuído, fê-lo melhor do que se poderia esperar e seguramente muito melhor do que nas suas anteriores prestações em entrevistas televisivas. Demarcou-se de Bush, sem o comprometer, nas questões económicas e soube colocar no plano nacional e supra-partidário as consequências das mais deploráveis decisões de Bush em matéria de política externa, como em relação à guerra do Iraque. Via-se que trazia o discurso decorado, mas, quem está a habituado a fazer exames percebe que é daquelas alunas que, embora não seja a autora do discurso, sabe mantê-lo com uma certa coerência. E teve, além do mais, a inteligência de nunca ter saído das “matérias estudadas”. Quer isto dizer que não vai ser pelo debate com Joe Biden que ela deixará de figurar no “ticket” de McCain, como se chegou a admitir.
Joe Biden, que tem sido exageradamente caricaturado por algumas das suas pretensas (e inofensivas) gafes, saiu-se muito bem, sob certos aspectos melhor do que Obama no debate com McCain. Para quem não conhecia Biden e dele somente tinha a imagem fugaz de algumas participações em comícios e actos semelhante, o debate de ontem demonstrou que é um político muito preparado nas questões internacionais, o que, na América, á parte os especialistas, é raro, e com um registo histórico muito interessante de tudo o que se passou no Senado nestes últimos trinta anos. Soube sempre colocar-se no seu lugar relativamente a Obama, desferiu críticas contundentes contra os republicanos, não poupou os aspectos mais nefastos da Administração Bush e dos seus principais mentores (como Dick Cheney) e nunca se comprometeu, nem a ele nem a Obama, relativamente aos assuntos em que no passado divergiu do seu actual companheiro de lista. Exibiu segurança em todos os domínios do debate. Naturalmente ganhou.
A grande questão está em saber em que medida estão os políticos americanos preparados para o mundo de amanhã, que é seguramente um mundo em que a América deixará de ser a potência dominante. Já se percebeu que McCain não está preparado para compreender o que ai vem. Ele, mais do que nenhum outro, é um homem do passado. Poderia, se fosse eleito, ser muito mais perigoso do que Bush. Sarah Palin parece não ter desses problemas: levar os filhos ao hoquei, frequentar, como mãe de família, o Walmart, e continuar a gozar a felicidade de ser americano são certezas de que ela não abdica, nem acredita que possam ser questionadas.
Do lado dos democratas, como o discurso de Obama mudou muito das primeiras primárias para as presidenciais, ainda não se percebe muito bem como será a sua reacção aos desafios deste século, embora, a avaliar pelo seu discurso no debate com McCain, se receie uma reincidência nos aspectos mais negativos da política externa americana. Biden, curiosamente, pareceu um homem mais contido e mais reticente relativamente à continuação de certas políticas.

ANGELA MERKEL NA RÚSSIA


A GEÓRGIA E A NATO


Hoje foi a vez da Chanceler alemã se deslocar a S. Petersburgo para conversações com o Presidente Medvedev.
Na conferência de imprensa Merkel afirmou que o território da Geórgia não é negociável, criticando implicitamente o reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abekázia pela Rússia.
Disse ainda que qualquer país tem o direito de decidir livremente se quer aderir à NATO, para assim afastar o “veto” russo. Disse ainda que em Abril passado, em Bucareste, ficou claro que a Ucrânia e a Geórgia ainda não estavam preparadas para aderir, acrescentando que a situação será reavaliada em Dezembro próximo.
As declarações de Merkel, tão vincadas, parecem já ser o primeiro efeito das eleições da Baviera e, paradoxalmente, do papel mais interveniente da CSU na política de Berlim. Em segundo lugar, Merkel, mais uma vez, fez tábua rasa dos compromissos assumidos por Kohl aquando da reunificação da Alemanha.

OS CLUBES PORTUGUESES NA TAÇA UEFA



QUASE COMO PREVISTO

O resultado da eliminatória para os clubes portugueses é apenas um pouco melhor do que o previsto aqui há cerca de quinze dias. Um pouco que, todavia, fará toda a diferença. Vamos por partes:
O Marítimo, que esteve a vencer até perto do fim, perdeu em Valência. Havia teórica e financeiramente um grande desnível entre as duas equipas, acabando a mais forte por passar.
O Setúbal, depois do resultado da primeira mão, foi eliminado sem surpresa.
O Guimarães, que empatou a eliminatória no tempo regulamentar e levou os ingleses para prolongamento, deixou-se ingloriamente eliminar. Há no discurso do seu treinador muito do Portugal velhinho de outros tempos. E assim não se vai a lado nenhum.
O Braga, que já tinha a eliminatória ganha na primeira volta, confirmou a passagem, com nova vitória.
A grande surpresa veio do lado do Benfica. Em mais de cinquenta anos de taças europeias, o Benfica perdeu três finais da Taça dos Campeões com os italianos; foi eliminado seis vezes; na fase de grupos da Liga dos Campeões perdeu em Milão e empatou na Luz, sendo eliminado no respectivo grupo; e ganhou, com a de hoje, quatro eliminatórias (Juventus, Roma, Sampdoria e Nápoles). Com um score manifestamente negativo no confronto com os italianos e um começo de campeonato incerto, o Benfica não parecia, há quinze dias, estar à altura do Nápoles, actual segundo classificado da Serie A. Esteve e fez uma grande exibição!

A PROPÓSITO DAS CASAS DISTRIBUÍDAS PELA CÂMARA DE LISBOA


A QUESTÃO DO PODR DISCRICIONÁRIO

Não vou aqui falar da distribuição de casas pela Câmara de Lisboa. Muitos o têm feito já e eu nem sequer me encontro na posse de elementos que considero essenciais para me pronunciar. Interessa-me apenas a questão do poder discricionário, mais numa perspectiva política do que jurídica.
Como já neste blogue e em outros escritos tenho afincadamente defendido, o poder discricionário, mesmo na interpretação restrita que eu faço do conceito, é uma excrescência num regime democrático. Todos os actos administrativos deveriam poder ser controlados pelo tribunal e os seus autores deveriam pautar as suas condutas por critérios de pura legalidade.
Infelizmente, não é assim, ou não é ainda assim. O poder discricionário continua a ser entendido como a faculdade que a Administração tem de definir a prossecução do interesse público com base em critérios de oportunidade, nos casos em que a lei o permite. E, nessa estrita medida – e apenas nessa – a sua conduta é insindicável pelos tribunais. Entre duas opções, a Administração pode escolher a que julga mais adequada à prossecução do interesse público. Porém, se em vez da escolhida tivesse optado pela rejeitada, a sua conduta seria igualmente legal. E é exactamente neste núcleo da decisão que os tribunais não interferem. Em tudo o resto, o acto é controlável jurisdicionalmente.
Basta ouvir o que tem sido afirmado por vários responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa, qualquer que seja o seu nível, para imediatamente se compreender que em Portugal poder discricionário é, para quem o exerce, sinónimo de poder arbitrário. E o mais grave é que isso não se passa apenas ao nível das Câmaras. Passa-se ao nível dos ministérios, das direcções gerais, dos institutos públicos, enfim, a todos os níveis. A ninguém ocorre pensar que o poder discricionário se destina a prosseguir apenas e só o interesse público. E nenhum outro. O lamentável é que os tribunais, muito mais frequentemente do que seria desejável, conformam-se com este entendimento.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O SENADO APROVOU O BAILOUT

SEGUE-SE, SEXTA-FEIRA, A VOTAÇÃO NA CÂMARA DE REPRESENTANTES

Por 75 votos contra 24 (pelos vistos, faltou um senador), o Senado aprovou o plano Bush, na versão negociada após o “chumbo” da Câmara de Representantes.
Na Europa, sucedem-se nos meios politico-financeiros as manifestações de regozijo e por cá, como não podia deixar de ser, também. Para os homens da finança o que interessa é que os bancos voltem a ter dinheiro, venha ele donde vier. Mesmo em círculos políticos não completamente identificados com aqueles meios, a sensação é igualmente de alívio, apesar de ainda faltar o voto da câmara baixa. Se os americanos são os responsáveis, eles que paguem a crise, disseram, por estas ou outras palavras, os governantes da UE.
O que muito pouca gente quis saber é como a crise vai ser paga e por quem. Que essa seja a posição dos banqueiros e acólitos, nada a opor, nem a estranhar. Agora, que outros sectores não se preocupem com isso ou não se preocupem apenas com isso é que é lamentável. Muito do que vier a seguir depende do modo como a crise será resolvida…

LELLO NA GEÓRGIA



DOIS PASSOS ATRÁS


Ora bolas, o episódio com Lello na Geórgia não se compagina com a táctica leninista: se ele deu dois passos atrás já só vai poder dar um à frente. Logo, vai ficar mais longe do objectivo do que estava antes de lá ter ido!
Identificado com as façanhas do Boavista no reinado dos Loureiros, citado nas escutas do Apito Dourado a propósito da opinião que ele próprio tem sobre camaradas do partido, acutilante estratega na nomeação de cônsules e grande atlantista do norte, ninguém melhor do que Lello para ir à Geórgia.
Se os russos o identificaram na no man’s land isso só significa que eles não estão tão atrasados como para aí se diz…

AINDA SOBRE O RECONHECIMENTO DO KOSOVO



O QUE FAZ CORRER AMADO?

Causa espanto e até alguma perplexidade esta nova tentativa de reconhecimento do Kosovo. Como já aqui dissemos, não se vislumbra que interesse nacional pode fazer voltar o Ministro a pegar no assunto. Que se saiba, até hoje, Portugal só colheu vantagens por não o ter feito.
Em primeiro lugar, porque se manteve fiel aos princípios que diz defender. Contrariamente à maior parte dos países da UE, assistiu-lhe legitimidade política para censurar o reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abekázia, facto que até pelos russos foi avaliado positivamente. Em segundo lugar, viu abrir-se-lhe um importante canal de diálogo nos Balcãs, onde, com a sua atitude não seguidista, acabou por granjear o respeito de todos, e não apenas da Sérvia. Finalmente, sendo certo que alguns países da UE jamais reconhecerão o Kosovo, como é, pelo menos, o caso da Espanha, de Chipre e da Grécia, e provavelmente todos os que até hoje ainda o não fizeram, que necessidade tem Portugal de se juntar a um grupo que está longe de ser coeso e que cada vez mais parece ter actuado apenas por pressão de Washington?
É certo que no MNE pairam frequentemente teses muito peregrinas acerca da nossa posição relativamente a certos assuntos da agenda internacional. Desde o pavor do isolamento, mesmo motivado pela defesa de interesses nacionais, até ao seguidismo relativamente aos anglo-saxónicos, passando, sempre que possível, por uma posição diferenciada relativamente à Espanha, de tudo lá se encontra. Não creio, todavia, que desta vez a pressão para o reconhecimento venha da nomenclatura do ministério. A minha convicção é que a pressão virá do próprio Ministro, mais do que do próprio PM, que já por algumas vezes demonstrou ter capacidade para seguir uma política externa “não alinhada” sempre que o interesse nacional o exige.
A recente audiência que a presidente do PSD pediu ao Presidente da República parece que só pode ter uma leitura. Foi dito pelo PSD que a audiência havia sido solicitada, para conhecer a posição do PR sobre o assunto. Alguns comentadores sublinharam ironicamente o facto de os partidos costumarem ir a Belém na situação oposta, ou seja, para dar conhecimento ao PR das suas posições sobre determinado assunto. A posição do anterior PSD era conhecida: ela era contrária ao reconhecimento; a do actual PSD parece, em princípio, ir no mesmo sentido: também contra. Por outro lado, a posição do PR era igualmente conhecida: contrária, tanto assim que impediu o Governo de reconhecer. Portanto, o que o PSD pretende saber é se o PR mudou de posição.
É muito provável que o Ministro tenha voltado a ser pressionado pelos seus amigos anglo-saxónicos e por outros amigos também amigos dos anglo-saxónicos e se tenha desculpado com a posição do PR, que, para o Governo, é incontornável. Ora, o PR esteve recentemente em Nova York e é, portanto, muito compreensível que o PSD queira saber se ele ainda mantém a mesma posição…ou se amoleceu e deixa o Governo fazer o que pretende, sem que ele próprio se comprometa.

300 MIL MILHÕES DE EUROS PARA SALVAR OS BANCOS EUROPEUS?



PARIS DESMENTE


Uma fonte governamental europeia fez chegar à comunicação social que, na reunião do próximo sábado, convocada por Sarkozy, e na qual participarão os quatro países europeus membros do G8, mais o Presidente do Banco Central Europeu, o Presidente do Euro Grupo e o Presidente da Comissão Europeia, a França apresentaria um plano de resgate dos bancos europeus de 300 mil milhões de euros.
O ministério francês da Economia e Finanças já desmentiu categoricamente a informação, embora não tenha negado a existência de uma proposta nesse sentido da Holanda.
Poderá da dita reunião não sair nenhum plano semelhante ao proposto por Bush, tanto mais que ele também conta com a oposição da Alemanha, mas será certamente criado uma espécie de fundo de socorro europeu para acudir ou prevenir possíveis falências.

JOGARÁ AMANHÃ PALIN O SEU FUTURO NA LISTA DE McCAIN?



SÃO JÁ MUITOS OS QUE NÃO A QUEREM


Segundo alguns comentadores americanos, Sarah Palin, estrela cadente da campanha republicana, estará a um passo de abandonar a corrida à Vice-presidência da Casa Branca.
Depois de uma série de entrevistas em que expôs a sua extraordinária ignorância, principalmente, em matérias de natureza económica e de política internacional são já muitas as vozes, do lado conservador, que exigem a sua retirada da lista de McCain. O debate de amanhã com Joe Biden parece ser decisivo.
O facto de um candidato designado para vice-presidente abandonar a corrida antes das eleições não é inédito nos tempos modernos. Em 1972, McGovern dispensou Eagleton, depois de o ter designado, alegando que ele sofria de depressão.
O problema assume particular importância na eleição em curso, por duas razões. A primeira, obviamente, porque McCain pode ganhar; a segunda, porque a idade e o estado de saúde do candidato tornam muito provável a possibilidade de o vice vir a governar. E, embora na America as coisas sejam como são, há, apesar de tudo, alguns limites.
O sector conservador mais instruído acharia normal que Palin fosse tratar dos filhos e do futuro neto. Mais difícil de convencer seria certamente a direita religiosa mais reaccionária, que muito se empolgou com a escolha de Palin.
McCain não sairá incólume deste debate, qualquer que venha a ser o seu desfecho

A SEGUNDA JORNADA DA LIGA DOS CAMPEÕES



O DESCALABRO PORTISTA E A VITÓRIA DO SPORTING

Depois do que se passou no Emirates Stadium, não constitui ironia afirmar-se que o Porto foi uma equipa bafejada pela sorte, tal a displicência com que o Arsenal, principalmente na segunda parte, desperdiçou oportunidades de golo. Como já noutra ocasião aqui dissemos, esta época, Pinto da Costa e Reinaldo Teles se quiserem manter, pelo menos no plano interno, as performances dos últimos anos, até de dia vão ter que trabalhar…
O Sporting lá conseguiu ganhar a um modesto Basileia, depois de uma primeira parte insípida. Um golo às três tabelas logo no recomeço abriu o caminho à vitória.
Dos adversários directos do Sporting, registe-se o vergonhoso comportamento do Barcelona, que começou por dar a volta ao resultado, mesmo no final do jogo, com um golo indigno.
De registar as prestações do Cluj, que impôs um empate ao Chelsea, depois de uma vitória em Roma, do Anarthosis, que venceu o Panatinaikos, depois de um empate em Bremen e a excelente exibição do Liverpool, já com duas vitórias.
O Inter de Mourinho empatou em casa, embora merecesse perder, e soma dois jogos negativos consecutivos, em provas distintas, com dois adversários difíceis. Mourinho vai perceber á sua custa que vencer na Itália tem muito que se lhe diga…

AS REPERCUSSSÕES DA CRISE FINANCEIRA EM PORTUGAL

O QUE DEVE SER DITO

Sócrates, depois de ser mantido calado durante muito tempo sobre o que estava a acontecer, finalmente falou e não poupou nas palavras os especuladores. Falou em comícios e falou como Primeiro-ministro. Imputou responsabilidades aos Estados Unidos e exigiu que os americanos tomem medidas. Tudo bem ou quase tudo bem. Denunciar as actividades especulativas e exigir responsabilidades à administração Bush são factos que ninguém de bom senso contestará. Agora, o que não se pode é exigir aos congressistas americanos, defensores dos direitos dos seus concidadãos, que entreguem nas mãos dos banqueiros de Wall Street o dinheiro do povo e hipotequem por muitos anos a possibilidade de uma política social diferente na América.
É bom que se saiba que H. Paulson veio directamente da Goldman Sachs (como, de resto, a maior parte dos seus antecessores) para Secretário de Estado do Tesouro. E a desfaçatez desta gente é tal, que ele se preparava, na versão inicial do plano Bush, para transferir pura e simplesmente o dinheiro dos contribuintes para os bolsos dos banqueiros, em troca de lixo!
Entre nós falou também João Salgueiro, conhecido paladino do neoliberalismo, representante dos banqueiros nacionais, para dizer que a crise não nos afectará, “porque na Europa os dirigentes políticos não deixarão que os bancos quebrem”! Para quem andou toda a vida a propagandear e a defender o “free market”, não há nada como ver o emprego a arder para reclamar a intervenção do Estado!
E até Balsemão, que desde o 25 de Abril luta contra “o poder do Estado na economia” e não se cansa de o tentar afastar em tudo que possa trazer vantagens às suas empresas (como acontece com a televisão), disse-se muito feliz por sempre se considerar “um social-democrata”, subentende-se, contrário a estes procedimentos!
Mas há mais. Há a Ferreira Leite, conhecida pela gestão desastrosa que fez das finanças públicas e pela forma ruinosa como vendeu ao CityGroup os créditos fiscais, que não sabe o que há-de dizer sobre o que está a acontecer. E há o inefável A. Borges, putativo Messias do PSD, vindo – imagine-se! – também do Goldman Sachs, grande defensor da criatividade do “subprime”, que se tivesse um mínimo de dignidade política já se tinha demitido do lugar que ocupa no partido.
Enfim, do muito que sempre há para comentar sobre este tema, falta ainda discutir donde vem o dinheiro com que na Europa, designadamente na zona euro, se pretende atenuar os efeitos da crise. Fica para a próxima…

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

CONSEQUÊNCIAS DAS ELEIÇÕES NA BAVIERA



A CSU PERDE A MAIORIA ABSOLUTA


As eleições na Baviera não serão certamente no actual momento histórico o acontecimento mais relevante da actualidade, mas o facto de a União Social Cristã, que governa a Baviera há mais de quatro décadas, ter perdido, no domingo passado, a maioria absoluta, pode vir a ter consequências importantes em Berlim.
A CDU de Angela Merkel precisa dos votos da CSU para ganhar as eleições federais em 2009. Todavia, o partido irmão da Baviera responsabiliza a política demasiado centrista da Chanceler pela derrota do passado domingo. Como Merkel, na presente legislatura, tem que governar em coligação com os social-democratas, a pressão que os bávaros venham a exercer sobre ela no sentido de uma política mais próxima da “identidade democrata-cristã” pode originar fissuras na coligação num momento que não é particularmente tranquilo.
Não deixa de ser curioso o espanto com que foi recebida a notícia da derrocada eleitoral da CSU, que na eleição do último domingo perdeu 17 pontos. A CSU ganha as eleições na Baviera consecutivamente há meio século e os comentadores que dominam noticiário internacional acham o facto normal. Como normal é considerado o facto de o PSOE ter ganho sempre as regionais (e muitas vezes as legislativas) de Castilla-La Mancha desde que há democracia em Espanha. Por que razão, noutros países ou noutras regiões, as vitórias consecutivas de um partido ou do mesmo líder político são consideradas suspeitas?

ZAPATERO, NA RÚSSIA, DEIXA RECADO AOS AMERICANOS



EM DEFESA DE UM NOVO ESPAÇO DE SEGURANÇA EUROPEIA

Zapatero, depois do encontro com o Presidente russo, em S. Petersburgo, manifestou-se muito favorável a um novo impulso nas relações UE-Rússia e disposto a trabalhar na construção de “uma nova arquitectura de segurança” na Europa, capaz de oferecer ao mundo uma “ordem definitiva”. Na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro, Zapatero interrogado sobre a hipótese de uma nova guerra fria, disse que o próximo presidente dos Estados Unidos, “seja ele quem for, tem uma tarefa prioritária: uma boa relação com a Rússia, através da União Europeia e com a União Europeia, para evitar qualquer tentação, como se tem vindo a especular nos últimos meses, de regresso à guerra fria”.

A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL


O RUIR DOS PRECONCEITOS

A crise do mercado livre manifestada com grande intensidade no sistema financeiro norte-americano depressa chegou aos quatro cantos do mundo, embora com intensidade e incidências diferentes. A Europa, ideologicamente colonizada pelas doutrinas neo-liberais americanas, foi também ela forçada a tomar medidas ostensivamente contrárias a tudo o quer andou a apregoar e a impor desde o tratado de Maastricht.
A título de exemplo, podem enumerar-se as medidas do Governo irlandês destinadas a assegurar por dois anos os depósitos dos seis grandes bancos do país, bem como medidas semelhantes, de protecção dos depósitos bancários, adoptadas pelo Reino Unido, o país europeu mais afectado pela crise.
Depois, temos as nacionalizações de bancos, para os salvar da falência, no RU (Northern Rock), no Benelux (Fortis), Alemanha (Hypo Real Estate) e na França e Bélgica (Dexia).
Estas e outras medidas que certamente se seguirão de apoio a empresas de outra natureza, nomeadamente industriais, também em crise, como consequência da drástica diminuição da procura e da escassez de liquidez, vão deitar por terras todos os preconceitos que Bruxelas erigiu em normas jurídicas (como sempre fazem todos os fanáticos).
Durante anos e anos a fio, os Estados foram obrigados a afastar-se, sector após sector, da prestação de bens essenciais e a despojar-se de todas as actividades lucrativas para entregar, umas e outras, ao capital privado, que nelas encontrou uma fonte incomensurável de lucros, como acontece, entre muitas que se poderiam enumerar, com as infra-estruturas rodoviárias e aeronáuticas, com as telecomunicações, com a energia, com a água, enfim, com tudo o que possa tornar-se lucrativo. Tudo feito com o mais completo desprezo pela noção de serviço público, desde então relegado para a condição de conceito residual destinado a abranger as actividades não lucrativas ou que somente com grave risco da paz social se poderiam tornar lucrativas.
Durante anos e anos a fio, os Estados foram impedidos de ajudar as actividades económicas em crise, com o consequente encerramento das empresas e o desemprego de milhares e milhares de trabalhadores. Entre a recuperação da empresa, nos casos em que isso era economicamente viável, mediante uma injecção de capital pelo Estado, com a correspondente tomada da posição accionista, e o seu encerramento, o capitalismo neoliberal não só não tinha dúvidas, como proibia e punia qualquer outro tipo de comportamento. Entre pôr o Estado a pagar o subsídio de desemprego ou permitir que com a sua ajuda a empresa se viabilizasse, a ortodoxia neoliberal não hesitava: a sacrossanta concorrência (leia-se: concentração capitalista) exigia o encerramento da empresa.
Da noite para o dia, todos os dogmas ruíram e é o próprio Estado que, em nome da estabilidade económica, se vê obrigado a salvar, com medidas “heterodoxas”, o sistema financeiro dos atoleiros em que se meteu com a sua inesgotável ganância!
Com a actual crise morrem por muitos anos as ortodoxias opressoras e abre-se um novo e promissor caminho de desenvolvimento da democracia.
Com esta crise abre-se um tempo novo. Se, como disse Hobsbawm, o século XX apenas começou verdadeiramente em 1918, não é menos verdade que somente em 2008 ele terminou, e não, como muitos supuseram, em 1989/91!