quinta-feira, 2 de outubro de 2008

AINDA SOBRE O RECONHECIMENTO DO KOSOVO



O QUE FAZ CORRER AMADO?

Causa espanto e até alguma perplexidade esta nova tentativa de reconhecimento do Kosovo. Como já aqui dissemos, não se vislumbra que interesse nacional pode fazer voltar o Ministro a pegar no assunto. Que se saiba, até hoje, Portugal só colheu vantagens por não o ter feito.
Em primeiro lugar, porque se manteve fiel aos princípios que diz defender. Contrariamente à maior parte dos países da UE, assistiu-lhe legitimidade política para censurar o reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abekázia, facto que até pelos russos foi avaliado positivamente. Em segundo lugar, viu abrir-se-lhe um importante canal de diálogo nos Balcãs, onde, com a sua atitude não seguidista, acabou por granjear o respeito de todos, e não apenas da Sérvia. Finalmente, sendo certo que alguns países da UE jamais reconhecerão o Kosovo, como é, pelo menos, o caso da Espanha, de Chipre e da Grécia, e provavelmente todos os que até hoje ainda o não fizeram, que necessidade tem Portugal de se juntar a um grupo que está longe de ser coeso e que cada vez mais parece ter actuado apenas por pressão de Washington?
É certo que no MNE pairam frequentemente teses muito peregrinas acerca da nossa posição relativamente a certos assuntos da agenda internacional. Desde o pavor do isolamento, mesmo motivado pela defesa de interesses nacionais, até ao seguidismo relativamente aos anglo-saxónicos, passando, sempre que possível, por uma posição diferenciada relativamente à Espanha, de tudo lá se encontra. Não creio, todavia, que desta vez a pressão para o reconhecimento venha da nomenclatura do ministério. A minha convicção é que a pressão virá do próprio Ministro, mais do que do próprio PM, que já por algumas vezes demonstrou ter capacidade para seguir uma política externa “não alinhada” sempre que o interesse nacional o exige.
A recente audiência que a presidente do PSD pediu ao Presidente da República parece que só pode ter uma leitura. Foi dito pelo PSD que a audiência havia sido solicitada, para conhecer a posição do PR sobre o assunto. Alguns comentadores sublinharam ironicamente o facto de os partidos costumarem ir a Belém na situação oposta, ou seja, para dar conhecimento ao PR das suas posições sobre determinado assunto. A posição do anterior PSD era conhecida: ela era contrária ao reconhecimento; a do actual PSD parece, em princípio, ir no mesmo sentido: também contra. Por outro lado, a posição do PR era igualmente conhecida: contrária, tanto assim que impediu o Governo de reconhecer. Portanto, o que o PSD pretende saber é se o PR mudou de posição.
É muito provável que o Ministro tenha voltado a ser pressionado pelos seus amigos anglo-saxónicos e por outros amigos também amigos dos anglo-saxónicos e se tenha desculpado com a posição do PR, que, para o Governo, é incontornável. Ora, o PR esteve recentemente em Nova York e é, portanto, muito compreensível que o PSD queira saber se ele ainda mantém a mesma posição…ou se amoleceu e deixa o Governo fazer o que pretende, sem que ele próprio se comprometa.

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