terça-feira, 29 de dezembro de 2015

ESPANHA


O PSOE SEM SAÍDA



Dificilmente haverá em Espanha uma solução governativa idêntica à portuguesa. A grande vítima dessa ausência de solução à esquerda será o PSOE. A vítima e simultaneamente o grande responsável pelo bloqueamento desta solução governativa. Responsável porque o PSOE, apesar do grande peso eleitoral que durante décadas teve na Catalunha e até no país basco, não prescinde de uma linha política que admita, sequer teoricamente, pôr em causa o princípio da unidade de Espanha. A grande vítima porque, contrariamente ao que se supõe, há cada vez mais espanhóis que pretendem uma política verdadeiramente democrática (coisa que Espanha não tem) e de esquerda, nem que para isso tenham de aceitar o princípio do “direito a decidir”.

O Podemos, embora defendendo a continuidade da Catalunha em Espanha, aceita que os catalães tenham o direito de decidir se querem ou não ser independentes. Esta posição, juntamente com outras relativamente bem conhecidas entre nós – e que têm a ver com a rejeição das políticas de austeridade, a contestação das imposições de Bruxelas, etc, etc -, granjeou-lhe enorme popularidade na Catalunha, no País basco e na Galiza (as três nacionalidades históricas), e assegurou-lhe uma votação muito significativa no resto de Espanha, inclusive nas tradicionais “praças-fortes” do PP e do PSOE.

O PSOE não aceitando, por imposição dos seus “barões” regionais, dialogar com Podemos, se este não abandonar o princípio do “direito a decidir”, vai seguramente cair numa de duas situações: ou se junta a outros votos de rejeição para impedir, à segunda e à terceira votação, a investidura de Mariano Rajoy por maioria simples, com vista à realização de novas eleições (imposição constitucional); ou, por inviabilização de qualquer tipo de aliança positiva à esquerda, acaba, por via das suas exigências, por deixar passar o governo do PP.

Tanto num caso como noutro as consequências eleitorais para o PSOE serão demolidoras. Se em 20 de Dezembro passado teve o pior resultado da sua história (pós transição), em novas eleições, a realizar em Março ou Abril próximos, terá seguramente uma derrota ainda maior, além de agravar a crise da Catalunha que, sem “os fundamentalismos espanhóis”, já estaria há muito resolvida.