quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A RTP E AS CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA

 TEXTO PUBLICADO NO FB EM DEZEMBRO

A RTP está transformada num muro de lamentações permanente. Toda a gente se acha no direito de reclamar do Estado os rendimentos que a pandemia lhe tirou. É no Porto, é em Lisboa, é em Faro, é em todo lado onde houver um protesto, lá estará a RTP para o amplificar e lhe proporcionar o respectivo eco.
Na crise da dívida pública, consequência da crise financeira, que atingiu centenas de milhares de trabalhadores, não temos ideia de a RTP ter estado permanentemente mobilizada para dar voz aos atingidos pela crise. Nem tão pouco o Governo se detinha nestas "minudências", empenhado que estava no permanente reforço das medidas de austeridade como remédio salvifico para a superação da crise.
É provável que a esta diferença de actuação da RTP, relativamente aos protestos, não seja alheio o facto de a crise da dívida ter atingido fundamentalmente os assalariados enquanto esta, decorrente da pandemia, sem deixar de igualmente afectar os trabalhadores, afecta também, e em larga escala, os patrões, pequenos e grandes.
Ou seja, no fundo não é uma razão diferente da que leva a Chega a estar presente nestes protestos e completamente ausente nos anteriores, seja sob a forma de Chega, seja a sob a forma de qualquer um dos seus parentes próximos.
03/12/2020

A VACINA RUSSA

TEXTO PUBLICADO NO FB

Li no "Le Monde" um artigo sobre a vacina russa- Sputnik-V, que posso resumir nos seguintes termos: Tudo o que não for feito segundo a nossa (Ocidental) metodologia não merece confiança.
Isto é o que eu retiro do que li, mas estou certo de que se tivesse lido sobre o mesmo assunto em jornais de outras nacionalidades (inglesa, alemã, americana) a minha conclusão seria idêntica. Neste tipo de casos a sintonia é sempre perfeita.
As centrais de informação "ordenam" que assim se pense e a esmagadora maioria das pessoas pensará em conformidade. Tudo bem. Mas depois não nos venham falar da Coreia do Norte...
Os mais velhos (ou os que estudam estes assuntos) lembrar-se-ão que nos inícios da Guerra Fria a superioridade estratégica dos Estados Unidos era uma evidência indiscutível. Havia a bomba atómica e havia meios indetectaveis, ou com um tempo mínimo de reacção, de a transportar enquanto os soviéticos estavam muito atrasados e a sua grande força, exercitavel na Europa, era o seu numeroso exército de terra e a relativa facilidade com que poderia chegar a Paris. A Nova York, nem pensar, até que numa bela tarde Outono de 1957 (4 de Outubro) foi lançado com êxito o Sputnik... e tudo mudou. E lá se foi a inabalável superioridade estratégica facilmente varrida por um sopro de vento leste antes depreciado. E outros exemplos se poderiam dar, embora este seja de longe o mais significativo.
Por isso a prudência aconselha a esperar para ver e tirar as devidas conclusões. Logo se saberá se estamos perante uma nova "kalashnikov" no combate à pandemia, se estamos perante uma arma igual à qualquer outra ou se a vacina russa não passa de uma FBP mal concebida.
30/11/2020

TRUMP

TEXTO PUBLICADO NO FB NOVEMBRO (Ligeiramente modificado)

Finalmente, Trump vai deixar a Casa Branca, dizem os correspondentes e as agências noticiosas.
Depois de tudo o que se passou nestes últimos quatro anos, melhor dizendo, do que não se passou, eu só espero que todos nós, democratas, patriotas, que rejeitamos o imperialismo americano, não venhamos a sentir "saudades" de Trump.
Por nos identificarmos com as suas políticas e com os princípios doutrinais em que elas assentam? Certamente não. Mas exactamente por Trump ter sido o presidente americano que mais contribuiu para pôr em causa os famosos "valores americanos" que desde há 75 anos se têm consubstanciado numa conduta ditada por um imperialismo belicista que desagrega e provoca Estados, impõe e defende ditadores de toda a espécie e semeia a guerra em África, no Médio Oriente, na Ásia, na América Latina, nas Caraíbas e até na Europa.
É por isso que esperamos não vir a ter "saudades" dele...
28/11/2020

MARADONA

TEXTO PUBLICADO NO FB EM NOVEMBRO

O maior de sempre. Um génio em estado puro. Ali não havia marketing, nem assessor de imprensa, nem escola, nem treinador, nem nada que não fosse dele e apenas dele. Daí o imenso prazer que o seu futebol de rua proporcionou a milhões e milhões de pessoas em todo o mundo.
Vivo ou morto ele é a maior lenda do futebol mundial!
25/11/2020

AINDA O CHEGA E SEUS APOIANTES

 TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

Não posso fazer de conta que a leitura dos comentários de apoiantes do Chega me não preocupa muito mais do que poderia supor há uns meses atrás.
Ao ler esses comentários, sem entrar em linha de conta com os de natureza provocatória escritos já de acordo com a linha oficial do partido, usando um estilo semelhante ao do “chefe”, verifica-se que há entre aqueles apoiantes oriundos das classes populares um assinalável descontentamento pela situação em que se encontram, sentindo-se seduzidos pela natureza dos temas tratados pelo Chega e pelo estilo desassombrado das propostas apresentadas, que levam essas pessoas, tanto pela linguagem muito próxima da que elas próprias usam nas suas conversas informais, como pelas matérias sobre que incidem, a ver na concretização dessas propostas um começo de solução dos problemas com que se defrontam.
Essas propostas incidem recorrentemente sobre as vantagens concedidas a quem é diferente (políticos, por exemplo) ou minoritário (ciganos, preguiçosos profissionais, marginais e outras minorias como homossexuais, transsexuais, portugueses de origem africana, imigrantes, etc.), de modo a suscitarem a inveja dos que delas não beneficiam, dando sempre a entender que são os que nada fazem ou os que têm um comportamento reprovável os que mais beneficiam da acção do Estado. Depois, vem em lugar de destaque a corrupção erigida em mal maior do sistema, acompanhada da mensagem subliminar de que os corruptos gozam da protecção de quem manda e de que a corrupção penetra por todos os interstícios da vida nacional, sendo responsável por tudo o que corre mal, justificando assim a aceitação da utilização de qualquer meio para lhe fazer frente. Nesta matéria, o Chega beneficia de uma aliança objectiva poderosa constituída pela acção do Ministério Público, de certos sectores da Polícia Judiciária bem como da maior parte da comunicação social (comentadores incluídos), embora com intensidades diferentes, liderando este processo os meios do grupo Correio da Manhã. Todas estas actuações contribuem para o julgamento dos suspeitos na praça pública, algumas vezes sem sequer terem sido constituídos arguidos, quer pelo anúncio prévio à comunicação social de buscas e investigações que vão ser levadas a cabo, devidamente amplificadas de modo a que o efeito vexatório do investigado seja alcançado, quer pelas fugas cirúrgica de partes de processos em instrução, que depois levam anos e anos a ser julgados, quando o são, mas que vão alimentando aquele tipo de julgamentos populares, criando em muitas pessoas a profunda convicção de que existe uma corrupção generalizada que só não é punida pela oposição dos que a protegem, tudo isto à revelia da presunção de inocência e do segredo de justiça, deixando sempre completamente ilibada e esquecida a incompetência de quem não é capaz de fazer uma investigação consistente, depois de ter avançado publicamente com suspeitas que se não confirmam ou que se não conseguem provar.
Finalmente, são apresentadas propostas que sempre beneficiam de um enorme grau de adesão popular quando apresentadas numa perspectiva meramente unilateral, logo demagógica, como a drástica diminuição da carga fiscal, sendo este, a nosso ver, o ponto-chave da acção política do Chega.
O modo como o Chega tem sido combatido por todos os defensores dos princípios e valores inscritos na nossa Constituição, ou seja, o modo como o sistema saído da Revolução de 25 de Abril tem reagido ao ataque do Chega não parece, do nosso ponto de vista, o mais adequado por os factos já conhecidos indiciarem que ele está a falhar nos objectivos que se propõe atingir. A luta contra o Chega tem sido travada numa perspectiva da luta contra um “partido fora do sistema” por ousar pôr em causa princípios fundamentais do Estado democrático, que se julgam fortemente consolidados na sociedade portuguesa pela prática política destas últimas quatro décadas da nossa vida colectiva. Esta luta tem-se traduzido, como sabemos, na acusação de que o Chega é um partido fora do sistema, de natureza fascista, por ter propostas políticas de carácter manifestamente racista, homofóbicas ou por defender soluções que ofendem a dignidade do ser humano, como a castração química dos pedófilos, a extracção dos ovários das mulheres que recorram ao aborto, ou a prisão perpétua para certo tipo de crimes.
Ora, embora seja indisfarçavelmente esta uma das naturezas do Chega, é exactamente no facto de ele ser um partido fora do sistema que reside o seu fascínio para aqueles que o apoiam ou podem vir a apoiar em próximas eleições. Por isso, de nada tem adiantado continuar a esgrimir contra ele acusações que não o atingem na perspectiva dos que o apoiam, quando a nossa luta deveria exactamente consistir em impedir que a simpatia popular pelas propostas do Chega cresça. Que adianta continuar a afirmar que é inaceitável que um partido político ouse na Assembleia da República ou fora dela pôr em causa o que de mais intocável saiu do 25 de Abril e tente ressuscitar métodos e processos vindos do fascismo tidos como definitivamente extirpados da vida política e social portuguesa, se ele continua a crescer apesar de permanentemente confrontado com essas acusações?
Se o nosso objectivo, mais que denunciar a natureza do Chega, é impedir que ele cresça, obstando a que ele venha a ser uma força a ter em conta na vida política portuguesa, então ele não estará a ser atingido por se estar permanentemente a desqualificá-lo como fascista, racista, homofóbico, demagógico, etc., porque estas qualificações pejorativas às pessoas potencialmente atingíveis pela mensagem do Chega não lhes dizem nada ou, pior ainda, até podem estar de acordo com a maior parte delas.
E por aqui também se fica a perceber que é um erro supor que a sociedade se muda por via da legalização de matérias englobadas nas chamadas “questões fracturantes” ou pela repetição de fórmulas abstractas de que as pessoas com muita facilidade se afastam mal a vida lhes começa a correr mal e não vêem maneira de a endireitar. Daí que muita gente entenda, entre a qual me incluo, que a mais duradoira causa que pode mudar ou ajudar a consolidar as conquistas sociais é a luta por uma distribuição equitativa dos rendimentos que é exactamente o contrário do que tem sido levado à prática nestes últimos 30 anos.
Deverá ser nesta vertente relacionada com o dia-a-dia das pessoas que a luta contra o Chega tem de ser travada. É preciso insistir e explicar às pessoas que o Chega quer destruir o Estado social, ou seja, quer pôr as pessoas a pagar a saúde, entregando-a aos privados e degradando o Serviço Nacional de Saúde, de modo a que haja uma saúde para pobres e outra para ricos; quer pôr as famílias a pagar o ensino, degradando o ensino público; quer baixar as reformas e as contribuições para segurança social, dispensando os patrões da maior parte dos encargos que agora os oneram e pondo os que ganham mais e os que ganham menos a pagar o mesmo; quer acabar com os subsídios, sejam eles de inserção social, de desemprego, da apoio à velhice, à natalidade ou às crianças, bem como eliminar as medidas de protecção do arrendamento e onerar o arrendamento social. Tem de se explicar às pessoas que ao votarem Chega estão a aceitar a diminuição dos seus rendimentos presentes e a pôr em causa o pagamento das suas reformas futuras.
Porque em política, como na vida de todos nós, não há milagres. Se temos menos receita teremos de diminuir a despesa. Ora, o Chega quer diminuir drasticamente a receita do Estado, aumentando o rendimento dos ricos e das empresas em geral, para retirar à generalidade das pessoas todas as vantagens que uma maior receita do Estado lhes pode proporcionar.
Ao sublinhar com certa intensidade esta faceta da luta contra o Chega, que tem sido descurada, não é certamente por não atribuir a máxima importância à luta antifascista nem por descrer da perversidade da maior parte das suas propostas. Bem pelo contrário. Eu até penso que o Chega pretende conjugar o pior de dois mundos: recolhe do nazi-fascismo, o racismo, a xenofobia, o desprezo por certas categorias de pessoas com as suas propostas atentatórias da dignidade humana; e recolhe do liberalismo económico a aplicação pura e dura das doutrinas neoliberais, como seja a liquidação do estado social embalada numa capa demagógica de redução drástica da carga fiscal, tomando por igual o que é diferente, fazendo crescer inevitavelmente a desigualdade social e ostracizando, pela eliminação ou redução dos subsídios, um grupo cada vez mais numeroso de pessoas rejeitadas pelo sistema. Verdadeiramente, o modelo de Ventura até se assemelha mais ao de Pinochet (sem militares) do que ao dos seus compinchas de extrema-direita que vão despontando por essa Europa fora. Exactamente por tudo isto é que os meios de luta têm de ser submetidos à dura prova da sua eficácia para se perceber os que devem ser preferentemente utilizados e não andar a “dar tiros de pólvora seca” que podem fazer muito barulho quando são disparados mas não causam nenhum prejuízo no alvo a que se destinam.
19/11/2020

TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

 ANDRÉ VENTURA

Nunca tinha ouvido ou lido André Ventura, apenas lhe tinha ouvido frases bombásticas, provocatórias, num ou noutro comentário passado pelas televisões, às vezes quase sob a forma de interjeição.
Hoje, na TVI, vi a entrevista que lhe fizeram e acho que o percebi.
Ventura tem o chamado fogo de vista, que é o que prende as atenções do auditório (castração, prisão perpétua, ciganos, eliminação de "subsídios a preguiçosos", redução do número e do vencimento dos deputados e dos políticos em geral) e tem depois o seu verdadeiro programa que é o que interessa a muitos sectores que o vão contestando quando ele põe na praça o tal foguetório, mas que se calam, disfarçando assim o seu apoio silencioso, quando ele deixa antever claramente ao que vem.
Ora, o que ele realmente quer atacar é o Estado social, na saúde, na educação, na segurança social e em todos os demais domínios. Quando fala na eliminação de impostos (IMI, por exemplo) ou na sua redução drástica (como o IRS, pondo a pagar quem está isento e quase isentando quem agora paga mais) ou na eliminação de múltiplas taxas, estaduais e municipais, é óbvio que representando isto uma redução brutal da receita, que somente poderia ser levada a cabo com com uma idêntica redução da despesa, o que ele realmente quer é acabar com a relativa justiça social que o Estado social ainda vai fazendo, mediante o rendimento indirecto que proporciona a quem tem menos bem como a quem mais desfavorecido está na distribuição do rendimento directo.
Ora, isto não é novo. É velho. Andam nessa luta há mais de 40 anos. Até o exemplo do "Mercedes do cigano" é igualzinho ao do "Cadillac da preta" que vivia à custa da segurança social que o Reagan usou à saciedade para eliminar os subsídios a pobres e indigentes.
O que é novo é ele utilizar, como disfarce, um certo populismo vulgar para escamotear o seu objectivo principal. E assim também fica explicado por que é que o Rio o apoia - é que o Rio além de ser parecido com ele na defesa que também faz de certas medidas populistas, embora com menos estardalhaço, também defende o ataque ao Estado social não para o eliminar completamente, mas para o descaracterizar irremediavelmente.
Daí que eu ache um erro que as críticas e os ataques a Ventura continuem a incidir sobre o folclore, esquecendo o que realmente é essencial.
16/11/2020

TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

 AJUDAS ESPECIAIS

A minha experiência nessa área das ajudas a fundo perdido, pequenas, médias ou grandes, diz me que não há credor mais exigente e despudorado do que este. O credor que recebe a título gratuito é de uma grande exigência e nunca está satisfeito com o que recebe, seja em dinheiro, seja em serviços. É muito mais exigente do que o credor a quem devida uma prestação, normalmente em dinheiro, como contrapartida da por ele prestada.
É chato ter de reconhecer que é assim, mas esta é uma realidade incontornável, diariamente espelhada nas múltiplas exigências veiculadas por meio da comunicação social.
Sendo também certo e incontornável que um Estado social assenta na prestação universal e gratuita de serviços essenciais, como a educação, a saúde e outros, principalmente no domínio da segurança social, não deixa de ser politicamente um erro enveredar por uma política de ajudas especiais, sejam elas ditadas pela conjuntura, pela condição ou profissão do beneficiário ou por qualquer outra razão. Essa ajuda especial nunca é reconhecida como uma ajuda, pelo contrário, é sempre tida como um pagamento devido que ficou muito aquém do exigível. Daí os protestos. Em conclusao:quanto menos excepções menos protestos, quanto menos dádivas especiais menos exigências. Isto para não dizer que a experiência também ensina que, em tempo de crise, estão sujeitos a menos protestos novas exigências de quem manda do que as dádivas de quem oferece.
15/11/2020

TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

 COLABORADORES

Colaborador é, como se sabe, um conceito ideológico usado por quem não quer reconhecer a verdadeira natureza da relação de trabalho. É com base numa visão ideologica da realidade tendente a desvirtuar a sua verdadeira natureza que o conceito de colaborador surge no mundo das relações de trabalho. A ideologia é sempre algo que procura impedir-nos de ver as coisas tal como elas realmente são, daí que o poder ideológico desempenhe em qualquer sociedade um importantíssimo papel, sem o qual os outros poderes, nomeadamente o económico e o político, ficariam muito fragilizados; a ideologia é o cimento da vida em sociedade, é o poder que permite a ligação dos elementos que compõe o todo social e evita a sua desagregação; se o poder ideológico no seio da sociedade funcionasse no sentido oposto ao dos poderes económico e político, a estrura dessa sociedade tenderia a desagregar se e a aceitar a emergência de um poder económico e político em consonância com o poder ideológico; é neste contexto que o conceito de hegemonia ganha sentido e relevo.
Pois bem, os que tentam dar à relação de trabalho uma configuração diferente da que ela tem, falando em colaboradores, como se patrão e assalariado prosseguissem interesses comuns, partilhando, uns e outros em pé de igualdade, o mesmo interesse. Esse conceito, porém, com a carga ideologica que o integra nunca logrou penetrar na legislação laboral portuguesa, ainda tributária, por pouco que seja, de um poder ideológico de sentido contrário aos dos poderes político e económico dominantes. Por isso se estranha e se contesta o uso que daquele conceito se fez no decreto presidencial do estado de emergência. Porque esse é um conceito que o nosso direito do trabalho não reconhece, ficando notório que pelo seu uso inapropriado o Presidente da República contribui pela via do poder ideológico para uma mudança da realidade laboral que os poderes económico e político ainda não conseguiram impor.
14/1172020

TEXTO PUBLICADO EM NOVEMBRO NO FACEBOOK

 AGUIAR E SILVA

Identificou estudantes para serem castigados (estudantes que estavam a ser alvo de um processo disciplinar instaurado pelo Ministro Saraiva), mas nunca teve contactos com a PIDE, diz o premiado Aguiar e Silva.
Tanta ingenuidade não deixa de nos comover. De facto, dos néscios aos inteligentissimos que naquela época frequentavam a Universidade, nenhum deles sabia ou sequer imaginava que houvesse em geral, e naquele acontecimento em particular (Crise académica de 1969),qualquer ligação entre os instrutores do processo disciplinar ou do próprio processo em si e a PIDE.
Como é possível? É óbvio que quem identificou estudantes actuou como bufo. Pois para além das consequências disciplinares, esse estudantes ficariam marcados pela PIDE, que não mais lhes perderia o rasto.
Não, não há que enganar. É que não se trata de uma simples abstenção, em si, já nada abonatória, mas de tomar partido pelos fascistas contra os democratas. Essa foi a escolha de Aguiar e Silva como a de tantos outros académicos durante a ditadura, fosse por convicção, oportunismo ou falta de coragem. E essas escolhas são inapagaveis, porque as posições que se adoptam durante a ditadura não têm comparação com as escolhas que se fazem em democracia.
07/11/2020

TEXTO PUBLICADO EM NOVEMBRO NO FACEBOOK

 PSD/CHEGA

Ao contrario da indignação que por ai grassa a propósito do acordo entre o PPD/PSD e o CHEGA, eu não tenho nada contra e até acho que é muito importante para a a clarificação da vida política nacional. E menos ainda concordo com as declarações do PS quando enfatiza a vergonha que este entendimento representa para o "PSD de Sá Carneiro"
Se a minha memória é boa, o PSD de Sá Carneiro é o "PSD" que em 1969 entrou nas listas da União Nacional, é o PSD que em 1974 protagonizou o "golpe Palma-Carlos", e é também o que escolheu para candidato a Presidente da República Soares Carneiro, último guardião do campo de concentração de S.Nicolau no sul de Angola e é ainda o que apoiava como programa deste candidato a realização de um referendo para revogar a Constituição de 25 de Abril aprovar outra em sua substituição. Enfim, todo um passado de que o Chega não desdenharia orgulhar-se.
Finalmente, deixo em aberto, à consideração de quem quiser opinar, saber qual dos dois PSD é mais nocivo para o futuro da nossa democracia: este, de Rio/Sá Carneiro com alianças com laivos para-fascistas ou o outro, o PSD ferozmente neoliberal.
06/11/2020

TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

 ELEIÇÕES AMERICANAS - O VOTO ANTECIPADO POR CORRESPONDÊNCIA

Para começar, acho um pouco estranho que a generalidade dos comentadores portugueses, repórteres incluídos, saibam que o voto antecipado é maioritariamente favorável a Biden. Em que se fundamentam? Em sondagens anteriores à contagem dos votos ou em projecções feitas com base nos votos já escrutinados? Isso eles não explicam. No seu entendimento basta-lhes divulgar uma verdade revelada.
Outra questão que não vejo explicada em sequer discutida em nenhum lado, nem mesmo pelos poucos (muito poucos) que conhecem com algum rigor o sistema eleitoral americano, tem a ver com a regulamentação do voto antecipado por correspondência. Como funciona este voto, como se controla?
Não tenho encontrado resposta para esta pergunta que me surgiu mal vi numa reportagem televisiva um número considerável de eleitores americanos a introduzir num espaço público o seu voto numa espécie de caixa do correio.
Na minha ingenuidade - apesar de conhecer os Estados Unidos e saber que é um Estado dual tão vincado como o Brasil ou outros Estados americanos ou como eram (se é que não continuam a ser) certos Estados africanos - na minha ingenuidade, dizia, supunha eu que os eleitores se deslocavam a uma qualquer secção de voto, onde se fazia a sua identificação e a confirmação da sua inscrição nos cadernos eleitorais, sendo-lhe depois atribuído um boletim de voto no qual faziam a sua escolha, enviando-o na presença daquela entidade pelo correio, mediante a sua introdução numa caixa do correio lá colocada.
Pelo que eu vi as coisas não se passam assim. De modo que permanece o mistério, que muito agradeço que alguém me possa desvendar, de saber como vai o boletim de voto parar às mãos do eleitor, como se sabe que é ele que faz a escolha., como se sabe que cada eleitor só vota uma vez. Enfim, coisas comezinhas em qualquer Estado da Europa Ocidental.
Pelo que ouço ninguém, no simples plano do comentário, se preocupa com isto, tão interessados estão em atribuir a vitória a Biden com base na tal máxima de que "o voto antecipado por correspondência favorece os democratas".
Hoje à tarde um Senhor doutor mostrava-se muito satisfeito por achar ou ter a convicção de que os votos por correspondência são "contados" correctamente! Era o que faltava: os escrutinadores não saberem contar. Francamente...
Em conclusão: também admito pela obscuridade que envolve todo este processo que poderemos estar perante uma fraude gigantesca.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

TEXTO PUBLICADO EM OUTUBRO NO FACEBOOK

 MARCELO E A PANDEMIA

Na primeira fase da pandemia, o Presidente da República, depois da quarentena inicial a que se submeteu, passou a intervir activamente na sua gestão, a ponto de levar muito boa gente a interrogar-se se o seu zelo e empenhamento não estariam a invadir a esfera de acção governamental. Na altura, tudo corria bem, principalmente se comparado com o que se passava em Espanha, na Itália, em França e no Reino Unido.
A segunda vaga da pandemia, que veio cedo, logo no princípio do Outono, encontrou um Presidente bem mais calmo e reservado, tanto mais quanto mais se agravava a situação sanitária.
Afastado por razões de sobrevivência económica o confinamento semelhante ao da primeira vaga, tanto em Portugal como nos demais países europeus, os governos têm-se limitado a correr atrás dos factos, intervindo aqui e ali com medidas restritivas que causem o mínimo dano possível à economia e possam simultaneamente conter, ou tentar conter, a propagação do virus. Ou seja, tem-se tentado um equilíbrio muito difícil de encontrar entre a necessidade de estancar a propagação da doença favorecida pelo aparecimento de múltiplos surtos e a necessidade de manter a economia a funcionar.
Evidentemente, que este equilíbrio pressupõe, como não poderia deixar de ser, múltiplas restrições à liberdade indidual ou colectiva.
E é exactamente neste domínio que a actuação do Presidente voltou a ter grande visibilidade. Afastado o estado de emergência pelas sobreditas razões, o Governo tem tentado com base na legislação ordinária fundamentar as medidas decretadas. Acontece que este país, que viveu durante quase meio século sob uma ditadura impiedosa, em que o "consenso"
se formava com base na repressão e suas consequências, está hoje, a avaliar pelo que se ouve nas televisões, na rádio e nas redes sociais, transformado num país libertário, onde a liberdade se sobrepõe como valor supremo a qualquer outro valor, inclusive à própria vida.
O próprio Presidente da República que viveu complacentemente em ditadura durante mais de duas décadas, é hoje um porto de abrigo seguro para os noveis defensores da liberdade, a ponto de interpretar revogatoriamente certas medidas de confinamento parcial decretadas pelo Governo, como a proibição de circulação entre concelhos durante o actual fim de semana.
Depois de a polícia ter explicado a natureza imperativa das medidas decretadas e o seu modo de aplicação, o Presidente não se coibiu de as qualificar como "recomendações agravadas" e não como imposições sancionadas.
Quer dizer, em vez de deixar estas questões para os tribunais, a chamar por aqueles que delas discordassem, o Presidente veio, na prática, desautorizá-las e retirar-lhes eficacia.
Não quero tirar a conclusão de que a pandemia já não "rende" politicamente e quanto mais afastada dela estivermos, melhor, mas não posso deixar de lamentar que, todos aqueles que integravam o largo "consenso" da ditadura, se situem agora na primeira linha de defesa de uma liberdade que contende com o direito à vida!
30/12/2020

PUBLICADO NO FACEBOOK EM OUTUBRO

 ELEIÇÕES NO BENFICA

Aprovado que está, na generalidade, o Orçamento de Estado para 2021 e impossibilitado de interferir nas eleições americanas, não por falta vontade, mas por ausência de meios, restam-me as eleições do Benfica.
Vieira encontrou o clube numa situação miserável tanto no plano económico-financeiro como quanto à sua capacidade competitiva nacional e internacional. Situação de que não é exclusivo responsável Vale e Azevedo, como frequentemente se ouve dizer, mas também as direcções anteriores que, embora sendo diferentes nos seus protagonistas e objectivos, contribuíram, cada uma à sua maneira, para a descaracterização do Benfica dos anos 60 e 70.
Vieira tem, portanto, no seu activo, inapagavel, essa gigantesca obra de "restauração" do Benfica enquanto titular de um riquíssimo patrimonio desportivo quase sem paralelo nos grandes clubes do futebol mundial.
No seu passivo tem, porém, erros sem conta quase todos relacionados com a capacidade competitiva da equipa de futebol, principalmente no plano internacional. Não adianta enumerar aqui esses pontos muito fracos da gestão de Vieira nem o seu particular agravamento nos últimos quatro anos. Eles tendem a ser quase unanimemente reconhecidos pelos benfiquistas.
Urge, portanto, mudar. Mudar o que está errado e deixar de cometer os mesmos erros no futuro.
Para mudar, apresentaram-se contra Vieira três candidaturas.
Pois bem, ouvidos os seus programas eleitorais e feita a sua avaliação nenhuma dessas três candidaturas me convenceu, apesar de a gestão de Vieira sempre me ter merecido duras críticas.
Não me convenceu a candidatura de Noronha Lopes, não obstante alguns apoios de peso do universo benfiquista, por ter detectado nela uma fria visão tecnocrática típica do moderno gestor neoliberal. Receio que com a sua vitória o Benfica e o seu rico património se tornem a breve prazo "pasto" apetecível de um qualquer oligarca do petróleo ou de um Sheik das arábias a troco de uma promessa da criação de uma equipa altamente competitiva nas lides europeias do futebol.
Não me agrada a candidatura de Gomes da Silva, primeiro por ser uma candidatura assente num ressentimento, e depois pela completa ausência de meios para pôr em prática o seu utópico plano, não havendo nada pior na concepção e concretização do quer que seja do que desconhecer a realidade sobre que se actua.
Finalmente, não me convence a candidatura de Costa Carvalho pela sua bondosa ingenuidade. Assim sendo, o meu voto irá para Vieira não tanto como voto a favor mas como voto contra os outros candidatos, na esperança, porventura ingénua, de que não venha a repetir os erros mais graves em que incorreu.
27/10/2020

TEXTOS PUBLICADOS EM OUTUBRO NO FACEBOOK

 MARCELO EM ESPANHA

Noticia a imprensa espanhola que Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, fez parte, juntamente com Filipe González, Rajoy e o presidente da Xunta de Galicia, Nunez Feijóo, do comité de recepção ao rei Filipe VI, no Fórum de La Toja, fazendo do acto uma espécie de comité de desagravo do rei de Espanha, depois dos ataques que este sofreu de membros do governo de Pedro Sánchez por ter quebrado a neutralidade política no recente episódio da entrega dos diplomas a novos juízes em Barcelona.
A presença de Marcelo neste acto e a sua participação ao lado das personalidades citadas é desprestigiante para o Estado Português, colocado pela imprudência do seu Presidente da República numa espécie de caudatário da monarquia espanhola e do seu monarca.
Portugal não é uma região autónoma de Espanha e a sua dignidade como Estado independente exige que o seu Presidente da República não se deixe levar por emoções nem por amizades pessoais sobre o que se passa em Espanha, tomando partido numa contenda que nos é alheia e sobre a qual Portugal não pode, por via seu mais alto magistrado, correr o risco de ser confundido com uma qualquer parcela de Espanha. Pior ainda ou tão grave é este gesto não poder deixar de ter implícito o sentido de que a Monarquia é uma espécie de instituição superior, acima de qualquer outra, que torna o seu representante imune a críticas contrariamente ao que se passa com qualquer instituição democrática em que os seus membros são escolhidos pelo voto popular. Este fascínio escondido pela monarquia também não é a primeira vez que aflora no comportamento de Marcelo, como se comprova, por exemplo, pela postura submissa com que saudou a Rainha de Inglaterra na sua visita à Londres (ver fotografia na net dos cumprimentos no Buckingham Palace)
Espera-se, portanto, que os candidatos à Presidência da República ataquem sem contemplações este comportamento de Marcelo Rebelo de Sousa, desprestigiante para o Estado Português.
02/10/2020

TEXTOS PUBLICADOS NO FACEBOOK EM SETEMBRO

 

ANTÓNIO TABORDA

Um nome incontornável da luta antifascista e do movimento estudantil contra a ditadura.

Sem esquecer o seu contributo para a luta antifascista, como profissional do direito, defendendo presos políticos nos tribunais plenários e a sua participação nas acções da Oposição Democrática e sem esquecer também o entusiasmo com que participou no processo revolucionário desencadeado pelo 25 de Abril e da sua permanente defesa dos valores e princípios democráticos institucionalizados pela Revolução de Abril, eu quero acima de tudo sublinhar e enaltecer o seu notável contributo para a luta antifascista no seio do movimento estudantil de que foi um destacado dirigente.

Fiel aos seus princípios de sempre, foi na luta estudantil nos verdes anos da juventude que a sua personalidade deixou uma marca indelével de carácter, de coragem e de firmeza perante a arbitrariedade da repressão fascista de que foi, como tantos outros da sua geração, uma vítima corajosa e intransigente na defesa dos valores que perfilhava.

É a esta geração a que TABORDA pertenceu, uma geração que nunca pediu desculpa aos fascistas de ser democrata, que aqui se homenageia na figura do nosso Querido Amigo António TABORDA.

 

01/09/2020

 

CONCELHO DE LAGOA (PANDEMIA)

nestes últimos tempos, digamos a partir de meados de Agosto, tenho deparado com uma preocupante permissividade em supermercados e restaurantes, em matéria de regras relativas a COVID 19.

Há supermercados que não respeitam a lotação a que a sua área a obriga nem o distanciamento físico nas zonas de atendimento ao público (balcões e caixas).

Nos restaurantes é frequente ver-se empregados e patrões (principalmente patrões) sem máscara de protecção, tanto no serviço de mesa como na cozinha.

Nem todos, certamente, incumprirão as regras, mas há muito incumprimento e nula fiscalização.

01/09/2020

 

NAVALNI

Caso se confirme que Navalni foi vítima de envenenamento, seria lamentável e condenável que a Rússia estivesse a trilhar o caminho há muito seguido por Israel, Estados Unidos, Arábia Saudita e ainda há não muito tempo pela Espanha. República Federal da Alemanha, Marrocos, entre outros. E há mais tempo ainda (fascismo) também por Portugal.

A eliminação física dos adversários ou inimigos políticos não é um caminho que possa ser defendido em nenhuma circunstância.

03/09/2020

 

PRESIDENCIAIS I

Para o naipe de candidatos ficar completo, com interesse, o PCP deveria apresentar a Rita Rato, como candidata.

Apresentar um candidato que não capte votos fora do núcleo mais restrito e mais fiel dos votantes no PCP não será uma boa ideia, embora ninguém mais queira saber dos votos dos candidatos que perderam uma semana depois da data da eleição.

10/09/2020

 

PRESIDENCIAIS II

As presidenciais podem ter o fascínio de pôr a discordar os amigos que estão sempre de acordo no essencial. Quando isto acontece, é porque a questão da eleição ou da reeleição já está resolvido. Se não estivesse, a música seria outra e as divergências acabariam por ser sanadas e superadas.

Assim, o que resta são questões marginais.

Apreciando neste contexto a candidatura de AG, o que nos apetece dizer é o seguinte: a candidatura de AG facilita a vida ao PS (porque lhe elimina a obrigação de apoiar Marcelo), tira lastro à candidatura do BE, que tende a ficar confinada a uma candidatura de tipo PCP (fixação de eleitorado), incomoda Marcelo, que vê baixar ainda mais a percentagem por que será reeleito e restringe o âmbito da candidatura de Ventura, cujo protesto tenderá a ficar circunscrito a votantes do PSD e do CDS.

Dito isto, e tendo por base de raciocínio as anteriores nove eleições presidenciais, o que se conclui é o seguinte: oito dias depois de declarado o vencedor ninguém mais quer saber dos votos dos candidatos vencidos. Das duas vezes que houve tentativas de contrariar este princípio, o resultado foi o que se conhece: um trágico (Otelo), outro (Alegre), uma farsa.

10/09/2020

 

PRESIDENCIAIS III

ANA GOMES E O PS

UMA NOTA BREVE

Ana Gomes tem, pelas suas características, boas hipóteses de seduzir uma parte considerável da nomenklatura do PS e, consequentemente, de penetrar no eleitorado socialista que nela se revê.

De facto, Ana Gomes, não obstante o seu passado "maoísta" e a sua integração no partido do "Grande educador da classe operária", está bem mais próxima da matriz tradicional do PS do que daquela que agora assumiu a sua direcção sob o comando de António Costa.

Desde os seus primórdios, inclusive durante o curto espaço de tempo em que teve de conviver com o fascismo, o PS sempre foi, até Costa, um partido de protesto na oposição, por vezes mesmo radical, e de aliança com a direita no governo.

Apenas com Costa o partido passou a ter, no Governo, uma prática política diferente. Uma prática que, estando longe de satisfazer os sectores da esquerda que nele se não integram, não receia afrontar a direita para dar execução e cumprimento aos objectivos que se propôs atingir.

Ora, os sectores do PS e do seu eleitorado que continuam a acompanhar com grandes reservas este novo comportamento do PS, nomeadamente em tempos de crise como os que agora se vivem e continuarão a viver por tempo indeterminado, revêem-se sem esforço numa personalidade como a de Ana Gomes.

Uma militante que não tem problemas em radicalizar o seu discurso em questões periféricas, mas de grande impacto em certas camadas populares, de alinhar em política internacional, sob a capa da protecção dos "direitos humanos", nas maiores barbaridades, enfim, de manter sobre determinados temas um discurso, que pela sua radicalidade, torna desde logo inviável a sua concretização, e omitir o que realmente é essencial para o progresso e desenvolvimento da sociedade portuguesa, é uma candidata com algumas hipóteses na potencial base de apoio em que conta ganhar votos..

Com este discurso, Ana Gomes cativa, como se está a ver, uma parte importante do eleitorado do PS, cria problemas a Marcelo por se apresentar aos sectores da direita mais critica da actividade do Governo do que o Presidente eleito por aquela direita, retira espaço a Ventura em tudo quanto seja voto de protesto em matéria de corrupção, justiça e o que mais se verá durante a campanha, e atinge o âmbito eleitoral de Marisa nas matérias em que o Bloco se identifica com Ana Gomes. No entanto, Marisa, se não se deixar enredar nas questões secundárias e periféricas, é, dos três candidatos que se opõem a Ana Gomes, a que menos terá a temer a sua campanha.

11/09/2020

 

11 DE SETEMBRO DE 1973

Um dia trágico para os socialistas de todo o mundo.

Duplamente trágico: pelo que aconteceu e pelas consequências do acontecido.

Entre estas enumero apenas duas:

Primeira - Os "rapazes de Chicago", usando o Chile como cobaia, fizeram com Pinochet o seu primeiro grande ensaio do modelo neoliberal e um ano depois até obtiveram o prémio Nobel de Economia (Hayek) como selo de garantia da eficácia do ensaio em curso (facto que passou despercebido a muita gente);

Segunda - A reacção de certos partidos de esquerda que passaram a fazer do "consenso alargado" como via segura para o socialismo, de que o "compromisso histórico" foi o seu principal exemplo, esqueceram uma evidência incontornável: jamais as forças anti-socialistas se aliarão às socialistas para promoverem o socialismo. Se se aliarem, será para o neutralizar, enfraquecendo-o, deixando-o morrer lentamente e nunca para o apoiar.

11/09/2020

 

AS TRÊS MARIAS

MURAL DE V N de CERVEIRA

 

12/09/2020

 

PRESIDENCIAIS IV

JOÃO FERREIRA

João Ferreira era o candidato previsível do PCP às presidenciais. Se os objectivos do partido são apenas o de veicular a sua mensagem relativamente aos problemas com que o país se debate e o de apresentar a sua interpretação sobre como deve um Presidente da República desempenhar as suas funções no quadro constitucional, João Ferreira é certamente um bom candidato. Inteligente, bem preparado, capaz de exprimir com clareza e rigor a sua mensagem, João Ferreira satisfaz e cumpre aqueles objectivos, porventura melhor que qualquer outro.

Mas se esta candidatura tem também em vista fixar ou até alargar o eleitorado do partido, tornando-o incólume às múltiplas tentações que esta eleição, no específico contexto em que ocorrerá, vai seguramente potenciar, já a escolha em questão levanta algumas dúvidas.

Para fazer frente à campanha populista, à esquerda e à direita, que dentro em pouco se iniciará com uma intensidade nunca vista entre nós, a presença de um candidato, homem ou mulher, de preferência mulher, capaz de estabelecer uma ligação afectiva com o eleitorado, quer pela palavra, quer pela sua figura, seria a nosso ver a escolha mais acertada.

E será preciso também ter em conta que esta eleição, depois de tudo o que se passou e está a passar, e da gigantesca campanha desencadeada em toda a Europa, sobre os méritos da União Europeia na mitigação dos efeitos da pandemia, não será certamente a melhor oportunidade para, com insistência, evidenciar as diferenças e as críticas que a sua actuação merece. E contra isso terá de se acautelar João Ferreira, se também tem em vista fixar o eleitorado

13/09/2020

 

 

A TRANSIÇÃO ESPANHOLA

A passagem do franquismo para a democracia, por via da chamada "transição", tão elogiada pelo Ocidente no contexto da Guerra Fria em que ocorreu e que continua a ser muito aplaudida pelos nossos comentadores "bem-pensantes", parecia ter resolvido os problemas históricos, próximos ou distantes, com que os espanhóis se debatem, apesar de os exemplos da França, da Itália e de Portugal apontarem num sentido bem diferente.

E de facto, enquanto tudo foi festa, principalmente pela abundância de dinheiro gerado pelo crescimento económico até à crise financeira de 2008, tudo parecia correr razoavelmente bem.

Todavia, mal a "festa" acabou, no abreviado segundo mandato de Zapatero, e uma nova geração entrou em cena, nunca mais os problemas que atormentam Espanha, novos ou velhos, deixaram de se manifestar e agravar, inclusive depois do desmantelamento da ETA, cujo fim, paradoxalmente, contribuiu para agudizar ainda mais aqueles problemas.

Estava, porém, na previsão de muita gente que uma passagem à democracia "pactada", como eles dizem, com os fascistas nunca poderia dar bom resultado nem eliminaria as consequências nefastas do franquismo, as quais, exactamente por não terem sido "ajustadas as contas" na hora própria, se tem vindo a revelar muito mais duradouras do que a generalidade dos espanhóis poderia supor.

Multiplicando as "leis da memória histórica", os socialistas, que juntamente com os comunistas, foram cúmplices daquela "transição", tentam resolver por esta via o que por ela já não está em condições de ser resolvido.

Agora, o PSOE, PODEMOS, COMUNS, vão aprovar uma lei que declarará "nulos todos os juízos e sentenças do franquismo".

De boas intenções está o inferno cheio. De facto, o problema subsistirá enquanto os franquistas que não foram arredados na hora própria continuarem a representar uma parte muito considerável da classe política espanhola, tornando hoje muito mais difícil do que então a resolução daqueles problemas.

13/09/2020

 

FÁTIMA

Fica agora claro para quem tivesse dúvidas de que toda a polémica levantada pela direita, Presidente da República incluído, a propósito da Festa do Avante, não passava de anticomunismo primário.

Pelos noticiários das televisões de hoje relativos à peregrinação ao Santuário de Fátima, ficou a saber-se, também sem margem para dúvidas, tanto pelas imagens como pelos depoimentos dos peregrinos, que a Igreja, outrora tão elogiada como uma das forças mais organizadas deste pais ( as outras duas eram as Forças Armadas e o PCP), afinal não tem competência para fazer cumprir as regras sanitárias em vigor, tendo dado um péssimo exemplo de civismo com a permissividade demonstrada ao permitir que as pessoas se juntassem às centenas no Santuário de Fátima em claro desrespeito por aquelas regras.

E esta é mais uma razão para a Igreja, em vez de protestar contra a disciplina escolar de Educação Cívica, pela voz do Cardeal Patriarca de Lisboa e dos párocos que nas homilias a replicaram, apoiar aquela disciplina e ela própria se inscrever em aulas ou explicações que a possam ajudar no cumprimento de deveres cívicos, sanitários ou outros, principalmente outros...

13/09/2020

 

O QUE EU APRENDO

Aprende-se muita coisa a ver televisão. Hoje, por exemplo, ouvi um conhecido militante do CDS, Lobo Xavier, num programa em que participa regularmente, afirmar que o grande problema do SNS é o baixo salário dos médicos. E não menos instrutiva foi a afirmação de que está por demonstrar a boa resposta do SNS nesta crise sanitária que estamos a atravessar.

O futuro é, portanto, risonho. Vamos ter grandes aumentos dos médicos e certamente também dos demais profissionais de saúde, porventura até em toda a função pública, se o CDS for governo. Não mais vamos ter o CDS a fazer o trabalho sujo do PSD, como aconteceu no passado sempre que passou pelo governo. Certamente estas mudanças serão acompanhadas de uma, não digo autocrítica que eles não usam, confissão pública de pecados pretéritos e da correspondente absolvição para ser credível.

O problema é que o CDS parece que já não existe ou que vai deixar de existir. É pena.

17/09/2020

 

FATIMA E MARCELO REBELO DE SOUSA

Estou muito preocupado com as preocupações que o Senhor Presidente da República não deixará de manifestar publicamente sobre a realização da peregrinação a Fátima no próximo dia 13 de Outubro.

Das preocupações por ajuntamentos como este, que Rio, Chicão, Ventura e outros também manifestarão, já a mim nada me diz porque nenhum deles me representa um "milímetro" que seja. Já o mesmo não poderei dizer do Senhor Presidente da República, porque integrando ele um órgão unipessoal electivo de representação nacional, me representa quer eu queira quer não. E é daí que vem as minhas preocupações. É de saber que o Senhor Presidente não pode deixar de afirmar publicamente que se distancia desse acontecimento; de afirmar que não tem da sua realização o mesmo entendimento do Bispo de Leiria ou do órgão da Igreja que decide da sua realização; de ter de chamar a Belém esses altos dignitários da Igreja para pessoalmente obter deles a garantia de que vão cumprir as regras em vigor; de ter de os receber sem lhes beijar a mão, para não ter de explicar ao Primeiro-ministro que não há qualquer promiscuidade entre política e religião, como seguramente fará sempre que na sua condição de cidadão muito crente pratica aquele gesto. Enfim, preocupações que o Senhor Presidente da República não deixará de ter e que a mim, como seu representado, muito preocupa que as não tenha.

18/09/2020

 

UMA QUESTÃO QUE ME INTRIGA

O que aconteceria se, no contexto de um pacto de silêncio, o Banco Central Europeu perdoasse a dívida de todos os Estados membros da UE?

O que aconteceu quando os aliados ocidentais decidiram perdoar todas as dívidas da responsabilidade da recém criada RFA?

Para meditar, pedindo desde já o ilustre parecer dos economistas... desde que não seja mais aterrador que o COVID 19.

20/09/2020

 

ÀS CLARAS

Fazendo do Brasil uma república das bananas, Mike Pompeo deslocou-se à fronteira com a Venezuela, em Roraima, para ameaçar Maduro: "Vamos tirá-lo de lá".

Estamos muito longe daqueles tempos em que os Estados Unidos montavam uma operação camuflada na Florida ou numa qualquer república da América Central para invadir a Guatemala, Cuba ou qualquer outro país dessa região.

Hoje, tudo é diferente. O Secretário de Estado americano não se sente na obrigação de esconder o que quer que seja e tem até o descaramento de solicitar a comparência do seu homólogo brasileiro para em território brasileiro, por ele escolhido, anunciar que vai mudar o governo da Venezuela.

Bem podem os anteriores chanceleres do Brasil, desde Sarney até Dilma, alinhar num protesto colectivo contra esta desfaçatez americana em território nacional com a colaboração do governo brasileiro e inclusive interpretarem este comportamento como expressão de um rebaixamento que coloca o Brasil ao nível de uma qualquer republiqueta do centro-America, onde o ditador de serviço não passava de um lacaio às ordens de Washington, bem podem... , dizíamos, que nada disto mudará a política americana nem o alinhamento com ela do Brasil, pela simples razão de que hoje os Estados Unidos actuam na cena internacional como os grandes bandidos de Chicago ou Nova York outrora actuavam no mundo do crime, deixando que o seu nome fosse abertamente associado às suas façanhas criminosas para impor respeito e temor a quem ousasse desafiar as suas "ordens"!

21/09/2020

 

 AINDA SOBRE DÍVIDA

Os Estados financiavam-se junto dos seus bancos centrais, que tinham competência para emitir moeda. O neoliberalismo impôs como regra a proibição de os bancos centrais financiarem os Estados, regra que não é seguida, como se sabe, nos Estados Unidos e em parte também na Inglaterra, Japão e alguns outros, muito poucos, Estados de economia neoliberal.

Não se financiando junto do Banco Central, sendo os rendimentos da esmagadora maioria da população insuficientes para assegurar o total financiamento do Estado e recusando-se a escassíssima percentagem dos que detêm a maioria esmagadora da riqueza a pagar impostos correspondentes à dimensão da sua riqueza, o Estado vê-se obrigado a financiar-se junto dos detentores desta riqueza que, não encontrando na economia maneira de com a mesma facilidade e quase nulo investimento assegurar um rendimento idêntico ao que conseguem por via do crédito, não têm dúvidas em optar por este.

Um pouco por todo o lado, vai-se percebendo que o meio mais eficaz de os Estados fugirem a esta tenaz é endividarem-se muito. Muitíssimo. Quanto mais se endividarem mais fortes serão e mais perto estarão de não pagar a dívida.

22/09/2020

 

CCB – CENTRO CULTURAL DE BELEM

Afinal, de quem é o CCB que nós pagámos? O Estado vai arrendar o CCB para lá terem lugar os eventos (conselhos de ministros, outras reuniões, etc.) relacionados com a presidência da União Europeia? Se o CCB não pertence ao Estado quem autorizou a sua dádiva? Dizem que pertence a uma fundação. Quanto pagou ao Estado pelo CCB o fundador dessa fundação?

É isto que a malta não percebe. A malta não só não percebe que o Estado não fique proprietário dos créditos ditos incobráveis que esse mesmo Estado está obrigado a pagar ao Novo Banco como também não percebe que tenha de pagar uma renda para usar um bem que é seu e que todos nós pagámos.

Isto é o neoliberalismo na sua crueza, sem máscara.

22/09/2020

 

JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS

ESCRITOR E JORNALISTA DA RTP

Ipsis verbis, afirma JRdS: "Diz o Governo que a colocação de tendas em vários hospitais nada tem HAVER com o COVID 19".

Não há nada como ser escritor e jornalista!

Para quem não acredita, favor revisitar telejornal das 20h, de hoje, 23/09/2020.

23/09/2020

 

AMÁLIA

Tenho visto os episódios que a RTP tem apresentado sobre a carreira da popular artista.

Vamos no terceiro, a decorrer, e Alain Oulman ainda não apareceu.

Pergunto: o que seria a Amália sem Oulman? Isto que temos estado a ver... E eu regresso a esses tempos e até fugia quando se falava de fado.

Ah, grande Oulman!

24/09/2020

 

O EMBAIXADOR AMERICANO

Os comentadores que nós temos estão mais preocupados em "explicar" as palavras do embaixador americano (sobre G5 chinês) do que em defender a independência e a honra do seu país.

São uma vergonha e o próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros também não tinha nada que entrar em explicações sobre a forma como Portugal toma as suas decisões, mas apenas e só sublinhar que as decisões do Governo português são tomadas em Portugal de acordo com os seus interesses.

Mas percebo que seria esperar muito do Ministro e da diplomacia portuguesa qualquer outra resposta que não fosse a de deixar subentendida a subserviência aos interesses americanos e simultaneamente a de exibir a mágoa por, em público, terem sido colocados na situação em que o embaixador americano os colocou.

Aliás, toda esta pressão americana não tem a ver com segurança nacional, nem nada que se pareça, como tem sido demonstrado por quem tem analisado o assunto a sério, mas é antes a expressão da fraqueza americana e da sua derrota na globalização

26/09/2020