ANDRÉ VENTURA
Nunca tinha ouvido ou lido André Ventura, apenas lhe tinha ouvido frases bombásticas, provocatórias, num ou noutro comentário passado pelas televisões, às vezes quase sob a forma de interjeição.
Hoje, na TVI, vi a entrevista que lhe fizeram e acho que o percebi.
Ventura tem o chamado fogo de vista, que é o que prende as atenções do auditório (castração, prisão perpétua, ciganos, eliminação de "subsídios a preguiçosos", redução do número e do vencimento dos deputados e dos políticos em geral) e tem depois o seu verdadeiro programa que é o que interessa a muitos sectores que o vão contestando quando ele põe na praça o tal foguetório, mas que se calam, disfarçando assim o seu apoio silencioso, quando ele deixa antever claramente ao que vem.
Ora, o que ele realmente quer atacar é o Estado social, na saúde, na educação, na segurança social e em todos os demais domínios. Quando fala na eliminação de impostos (IMI, por exemplo) ou na sua redução drástica (como o IRS, pondo a pagar quem está isento e quase isentando quem agora paga mais) ou na eliminação de múltiplas taxas, estaduais e municipais, é óbvio que representando isto uma redução brutal da receita, que somente poderia ser levada a cabo com com uma idêntica redução da despesa, o que ele realmente quer é acabar com a relativa justiça social que o Estado social ainda vai fazendo, mediante o rendimento indirecto que proporciona a quem tem menos bem como a quem mais desfavorecido está na distribuição do rendimento directo.
Ora, isto não é novo. É velho. Andam nessa luta há mais de 40 anos. Até o exemplo do "Mercedes do cigano" é igualzinho ao do "Cadillac da preta" que vivia à custa da segurança social que o Reagan usou à saciedade para eliminar os subsídios a pobres e indigentes.
O que é novo é ele utilizar, como disfarce, um certo populismo vulgar para escamotear o seu objectivo principal. E assim também fica explicado por que é que o Rio o apoia - é que o Rio além de ser parecido com ele na defesa que também faz de certas medidas populistas, embora com menos estardalhaço, também defende o ataque ao Estado social não para o eliminar completamente, mas para o descaracterizar irremediavelmente.
Daí que eu ache um erro que as críticas e os ataques a Ventura continuem a incidir sobre o folclore, esquecendo o que realmente é essencial.
16/11/2020
Sem comentários:
Enviar um comentário