ESTAVAM MESMO À ESPERA DO APOIO RUSSO
A guerra do Afeganistão é uma guerra sem saída. Quase com dez anos de guerra tudo tem piorado. Os americanos e a NATO vão ter a mesma sorte da União Soviética e do Império Britânico, esta tão eloquentemente comentada por Eça de Queiroz, em artigo aqui já reproduzido.
O apoio que duas importantes personalidades russas deram esta semana à guerra do Afeganistão encheu de júbilo aqueles que só estavam à espera de um pequeno pretexto para manifestar o seu apoio aos americanos e à guerra.
De facto, a questão não está em saber se os talibãs são ou não obscurantistas ou o que pode acontecer ao Afeganistão se a Nato e os americanos de lá saírem. A questão está em que a guerra não pode ser ganha, os afegãos não querem lá os ocidentais e, por isso, o que se impõe é sair bem enquanto isso pode ser feito.
Como a história não tem “ses” também não adianta estar agora a responsabilizar aqueles que armaram e apoiaram os talibãs, como menos adianta ainda estar a tentar reparar hoje as asneiras feitas há trinta anos. Quem tem de se ver livre dos talibãs, se esse for o seu desejo, são os afegãos.
Os que frequentemente sublinham a importância deste combate para a nossa segurança ou os que só estavam à espera que surgisse uma oportunidade diferente das habituais, oportunidade que os articulistas russos lhes proporcionaram, para continuarem a apostar numa guerra perdida e sem sentido, fazem-me lembrar os defensores da guerra colonial. Também estes continuavam a guerra quando já era evidente que a não podiam ganhar, todavia à medida que esta ideia se generalizava eles iam formulando novos argumentos para justificar a continuação da luta. Também então era a defesa da civilização ocidental que estava em causa ou até o futuro das próprias populações que importava pôr a salvo da influência nefasta dos “terroristas”.
Enfim, tudo muito parecido…
3 comentários:
Então pode concluir-se que o Mundo está condenado a suportar um Estado pária viveiro de terroristas e narcotráfico? Isto partindo do pressuposto ocidental e também do pressuposto de que os afegãos alimentam, de boa vontade, esse Estado. Quanto à invencibilidade do Afeganistão-Talibans (qual a linha separadora?)só existe enquanto os ocidentais não considerarem o problema vital. Umas quantas medidas "sanitárias" secariam a "gangrena". A frequentemente citada comparação com a guerra do Vietname esquece o essencial.A superioridade
Não posso deixar de apoiar o anónimo 17 de Janeiro de 2010 12:48.
Só não estou de acordo com essas medidas "sanitárias", nem com a confusão entre Afegãos e Talibans.
Uma guerra deste tipo (guerrilha), só se ganha com o apoio da população local.
Será que se tem apoio da população local quando os americanos nem sequer se aproximam dos habitantes locais para explicar o porquê de lá estarem?
Porque é que, nas zonas em que as tropas americanas foram substituídas por tropas europeias, deixou de haver problemas? Porque os europeus foram ter com os locais, explicaram o que lá estavam a fazer, resolveram os problemas do dia-a-dia dos locais, deram dinheiro e material de construção para os locais construírem estradas, escolas, poços de água, etc ..., e, estes, em troca, começaram a contar onde estavam os talibans.
Há imensos documentários sobre isso, até, inclusivé, da própria PBS. É ir lá ver, especialmente neste sítio
http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/view/?utm_campaign=homepage&utm_medium=bigvideo&utm_source=bigvideo
Que incentivo têm as populações em denunciar os talibans à NATO quando:
- ninguém lhes diz o que a NATO anda a fazer por lá?;
- vêm os drones da NATO a bombardearem-lhes as aldeias?;
- vêm os políticos (antigos senhores da guerra) dum regime imposto pela NATO a roubarem do erário público e as ajudas humanitárias que, supostamente, eram para eles?;
- não têm emprego (a não ser nas plantações de papoilas), porque nasceram numa terra sempre em guerra onde ninguém quer investir?
As pequenas obras publicas feitas em cada aldeia (poços de água, estradas, escolas, esgotos, etc ...) têm de ser construídas com dinheiro das ajudas internacionais, mas pelos habitantes locais, de modo a que estes sintam como suas aquelas obras, e as defendam dos agressores.
Se assim não for, ou se a NATO retirar daquele território, aquele território e o norte do Paquistão voltam a ser base para campos de treino da Al Qaeda para nos bombardear.
A comparação com a guerra colonial e a guerra do Vietname é muito mal feita. Só se for por ser uma guerra de guerrilha. É que, quando os EUA retiraram do Vietname, sabiam que estes não iriam atacar mais ninguém. Podemos dizer isso da Al Qaeda?
Os EUA foram atacados pelo terrorismo muçulmano e declararam-lhe guerra. A chamada guerra do AFEGANISTÃO é apenas uma batalha. Uma batalha que é travada com o objectivo estratégico de controlar a capacidade de iniciativa dos Talibans e não de derrotá-los militarmente.
Este objectivo já foi conseguido, embora não esteja consolidado.Como prova o fracasso das tentativas de novas acções terroristas nos EUA
depois do 11 de Setembro.
Mas tudo se esboroaria se agora os EUA desistissem. O que certamente não irá acontecer, como não aconteceu quando foi preciso vencer outros totalitarismos.
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