O QUE PRETENDEM ESTES ECONOMISTAS?
João Salgueiro foi hoje recebido em Belém, como “simples cidadão” e à saída traçou o quadro mais negro de que há memória para o futuro do país.
Se continuarmos assim, disse, como vamos poder pagar as reformas, como vamos poder manter o emprego dos funcionários públicos, como vamos impedir que as empresas saiam de Portugal, como vamos poder pagar os juros da dívida pública, numa palavra, como vamos impedir a bancarrota. Depois acusou o Governo de mentir ao país.
Ao declarar também que muito brevemente Portugal vai ser colocado numa posição idêntica à da Grécia pelas agências de rating, Salgueiro fez um apelo claro a estas entidades para que através da subida dos juros coloquem o país numa situação económica difícil.
Convém lembrar alguns factos para depois tentar a compreensão desta investida dos economistas de que este é apenas mais um episódio.
Salgueiro era adversário declarado de Cavaco quando este chegou à Figueira da Foz, em 1985, para fazer a rodagem do carro novo que tinha acabado de comprar. Esta animosidade manteve-se durante todo o tempo em que Cavaco foi Primeiro-ministro. Salgueiro foi frequentemente desconsiderado por Cavaco, como sendo um daqueles que só falam mas que nunca fizeram nada pelo país.
Aí Cavaco só tem parcialmente razão. Salgueiro depois de chegada da democracia tem acumulado grandes empregos, boas e múltiplas reformas e não se tem cansado de prever e de pregar o fim de todos os direitos que impedem a livre “expansão das actividades económicas”.
Antes do 25 de Abril, porém, Salgueiro colaborou com a ditadura e serviu-a sob o pretexto de a querer “modernizar”.
Esse continua a ser hoje o seu grande sonho. E nele é acompanhado pela maior parte dos economistas do establishment, ocupem ou não lugares institucionais, que vêem na democracia e nos direitos dos cidadãos, nomeadamente dos trabalhadores, o grande obstáculo ao progresso económico do país.
Quem supuser que estes permanentes ataques à democracia feitos sob a forma de “previsão económica” são o resultado de análises económicas dos seus autores, engana-se redondamente. Trata-se de intervenções políticas destinadas subliminarmente a criar na opinião pública inculta a convicção de que o país não tem saída nem futuro no actual regime político.
O Governo, como é seu hábito, desvaloriza a verdadeira essência política destes ataques e continua a ver na esquerda o seu principal adversário político. Aliás, se o Governo tivesse um mínimo de coragem atacava fiscalmente os altos rendimentos de parasitas como João Salgueiro, cuja actividade se situa ou situou exactamente naquela área económica responsável pela actual situação do país.
2 comentários:
É hoje que publico o LEituras Cruzadas... com 3 links para o Politeia :)
... espero não estar a abusar mas, a qualidade justifica e o cansaço do deserto de ideias também...
Um abraço :)
Concordo plenamente com o que escreveu nesta mensagem. Se fosse eu, só acrescentaria o nome de Medina Carreira, que até Mário Crespo, na SIC Notícias, desmascarou, quando lhe perguntou se tinha alguma solução para o diagnóstico negro que faz do país sempre que lhe dão tempo de antena.
Para não falar de Vítor Constâncio, que fala sempre na necessidade de apertar o cinto, mas o cinto dos outros, pois, cada vez que ele fala nisso, aumenta o seu salário e dos restantes administradores no Banco de Portugal.
O mal disto tudo é que já mais ninguém lê Marx a sério nas Faculdades de Economia (mesmo naquelas que são apresentadas como próximas do PS) sem que este autor seja caracterizado como ultrapassado. Lê-se alguma coisa de Keynes, mas não muito, para não abusar. Presta-se mais atenção a Adam Smith e ao seu continuador Milton Friedman.
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