IRÁ, FINALMENTE, OBAMA ABANDONAR A VIA DA CONCILIAÇÃO?
Lamento, mas não tenho muita paciência para discutir as vicissitudes da candidatura de Passos Coelho a presidente do PSD, nem os seus ziguezagues políticos ditados por taticismos de ocasião. Também não estou muito virado para comentar a negociação do orçamento, não porque não seja importante, mas porque já se percebeu o que se vai pasar e como se vai passar.
Acho mais interessante falar um pouco sobre as consequências da derrota de Massachusetts, que tem a particularidade simbólica de ter devolvido aos republicanos a minoria de bloqueio no Senado. Mesmo assim, numa câmara com 100 membros, os democratas continuam a contar com 59, isto supondo que podem contar com Liebmann, e, portanto, continuar a dominar a política americana, pelo menos, até Novembro. Embora dominar não seja no complexo sistema legislativo americano hegemonizar, as eleições desta semana tiveram uma importância extraordinária não tanto pelo lugar que se perdeu como pela estratégia que se seguiu até o perder. E é isso que está em discussão na América. E, queira-se ou não, o que acontecer na América acaba por ser importante no resto do mundo.
Os republicanos depois de terem hegemonizado a vida política na América desde 1980 (a Presidência de Clinton, embora com algumas nuances, nomeadamente de política fiscal e retóricas, acabou por se integrar naquela hegemonia), foram estrondosamente derrotados, primeiro em 2006, na Câmara de Representantes e no Senado, depois em 2008, igualmente naquelas duas câmaras e também na Presidência.
Porém, não obstante a dimensão daquela derrota, o Partido Republicano, logo que psicologicamente se recompôs dos resultados eleitorais, moveu uma guerra sem quartel a tudo o que vinha do Presidente ou mesmo às propostas dos democratas no Congresso por mais matizadas que umas e outras fossem. Fora das instâncias políticas, nos media que lhes são afins e até nos chamados imparciais, bem como na própria rua, sempre que necessário, a guerra ainda foi mais violenta.
Do lado do Presidente e dos congressistas democratas do centro para a direita a atitude continuou a ser de conciliação.
Hoje, os republicanos cantam vitória e atribuem a perda da maioria qualificada dos democratas à sua política de intransigência. Esta política manifestou-se no Congresso pelo voto em bloco contra todas as propostas dos democratas, facto raro na América, apesar da viragem introduzida pelos neo-conservadores na disciplina de voto.
Por seu turno, os democratas parecem desorientados. Há quem abertamente advogue uma radicalização da luta, sem concessões, e atribua a viragem do eleitorado em zonas tão progressistas como as da Nova Inglaterra, ao espírito de conciliação reinante no último ano. E há quem faça contas à vida e procure posaicionar-se de acordo com a melhor forma de salvaguardar, já em Novembro próximo, o lugar que agora ocupa.
É certo que na política americana há um factor que na Europa Ocidental não faz parte das análises políticas e que lá é decisivo a ponto de condicionar a intervenção política e a própria compreensão que dela temos. Refiro-me ao recenseamento eleitoral. Na América, o recenseamento eleitoral é voluntário e há mil e uma maneiras de o boicotar. A regra sociológica em matéria de recenseamento é a seguinte: quem é mais educado e ganha mais está recenseado; quem não tem instrução ou tem uma intrução rudimentar e ganha pouco, não está recenseado. Depois, dentre os recenseados, quem vota é uma minoria, apesar de o exercício do voto se ter vindo a alargar nos últimos tempos.
Daqui decorre uma consequência muito importante: se uma administração faz uma política abertamente favorável àqueles sectores menos protegidos, acaba eleitoralmente por não ganhar nada com isso. E este tem sido o segredo das vitórias republicanas e, principalmente, do apoio às suas políticas. Todavia, como estas políticas criaram clivagens e abriram fossos em estratos sociais que antes beneficiavam de uma outra situação, também elas têm contribuído para mudar o panorama eleitoral americano nestes últimos anos.
Não obstante todas estas limitações ou talvez apesar delas, a “guerra” com os bancos vai ser a questão decisiva para se perceber para que lado vai pender Obama. Se Obama atacar o capital financeiro e especulativo, como fez Roosevelt há setenta e tal anos, o panorama político na América vai seguramente mudar. Se Obama se mantiver nas “encolhas”, a derrota será mais que certa, não apenas para os congressistas democratas, mas também para ele.
Basta ver as estações de TV americanas, e Jon Setwart faz todas as noites um excelente resumo sobre o que lá se passa, para se perceber o nível de violência verbal e ideológica posto no – ia dizer debate, mas na realidade não é disso que se trata – combate travado pelos republicanos.
Deste lado de cá do Atlântico há muito a tendência para esbater as diferenças e medir tudo pelo mesmo diapasão. Trata-se de uma potência imperial, logo, digam o que disseram, a política também será imperial. Continuo a supor que esta análise é errada e se o Império Romano (República Romana incluída) fosse tão conhecido hoje como era antes da Guerra Fria seguramente haveria mais gente a pensar de maneira diferente sobre o que acontece na América.
Não obstante todas estas limitações ou talvez apesar delas, a “guerra” com os bancos vai ser a questão decisiva para se perceber para que lado vai pender Obama. Se Obama atacar o capital financeiro e especulativo, como fez Roosevelt há setenta e tal anos, o panorama político na América vai seguramente mudar. Se Obama se mantiver nas “encolhas”, a derrota será mais que certa, não apenas para os congressistas democratas, mas também para ele.
Basta ver as estações de TV americanas, e Jon Setwart faz todas as noites um excelente resumo sobre o que lá se passa, para se perceber o nível de violência verbal e ideológica posto no – ia dizer debate, mas na realidade não é disso que se trata – combate travado pelos republicanos.
Deste lado de cá do Atlântico há muito a tendência para esbater as diferenças e medir tudo pelo mesmo diapasão. Trata-se de uma potência imperial, logo, digam o que disseram, a política também será imperial. Continuo a supor que esta análise é errada e se o Império Romano (República Romana incluída) fosse tão conhecido hoje como era antes da Guerra Fria seguramente haveria mais gente a pensar de maneira diferente sobre o que acontece na América.
2 comentários:
Isto é que é mesmo "voluntariado" oferecer grátis o que só os melhores especialistas explicam mas remunerado :)
Vou fazer link, claro :)
Um abraço.
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