UM RUDE GOLPE PARA O FUTURO DA GUINÉ
Foi há 37 anos que Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri por gente ligada à PIDE. Quem estava na Guiné não esquece as estranhas movimentações de sinistras personagens que lá aportaram pouco depois do início do ano e a seguir se sumiram ser deixar rasto.
Amílcar Cabral gozava de grande prestígio na Guiné e em Cabo Verde, bem como junto dos demais movimentos de libertação e de todos os que em África incentivavam a luta pela independência. Em Portugal e no mundo em geral, beneficiava da simpatia generalizada dos que apoiavam a luta dos povos coloniais. Mesmo no teatro das operações, onde então me encontrava, Amílcar Cabral gozava ainda de uma aura mítica que atingia os próprios apolíticos e até os que lutavam convictamente (muito poucos) pela “integridade da pátria”. Era um adversário muito respeitado, por uns e por outros.
Foi com grande consternação e apreensão que na Guiné se tomou conhecimento da morte de Amílcar. Havia a generalizada convicção de que nada passaria a ser como dantes. E, de facto, assim foi. A morte de Amílcar acelerou a ofensiva do PAIGC, a norte e a sul, terá mesmo antecipado a declaração unilateral de independência, em Setembro do mesmo ano, e levou à substituição de Spínola.
A morte de Amílcar intensificou a luta e a derrota da política colonial do Estado Novo, mas acabou por ter, a prazo, efeitos muito nefastos sobre o futuro da Guiné. Ele era o cimento que ligava todas as etnias e que com a sua acção e doutrinação quotidianas ia forjando a própria nação. A sua herança ainda perdurou por algum tempo, mas a sua morte prematura acabou por abrir brechas que nunca mais se fecharam.
Com a morte de Amílcar morreu também o sonho de uma África diferente.
A democracia portuguesa também deve o seu tributo à luta do PAIGC e a Amílcar Cabral. Verdadeiramente, foi na Guiné que o MFA nasceu. Foi na Guiné que os jovens oficiais das Forças Armadas Portuguesas se consciencializaram de que a guerra não tinha solução e de que somente seria possível pôr-lhe termo substituindo o governo e mudando o regime, o que veio a acontecer cerca de 15 meses depois de 20 de Janeiro de 1973!
Foi há 37 anos que Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri por gente ligada à PIDE. Quem estava na Guiné não esquece as estranhas movimentações de sinistras personagens que lá aportaram pouco depois do início do ano e a seguir se sumiram ser deixar rasto.
Amílcar Cabral gozava de grande prestígio na Guiné e em Cabo Verde, bem como junto dos demais movimentos de libertação e de todos os que em África incentivavam a luta pela independência. Em Portugal e no mundo em geral, beneficiava da simpatia generalizada dos que apoiavam a luta dos povos coloniais. Mesmo no teatro das operações, onde então me encontrava, Amílcar Cabral gozava ainda de uma aura mítica que atingia os próprios apolíticos e até os que lutavam convictamente (muito poucos) pela “integridade da pátria”. Era um adversário muito respeitado, por uns e por outros.
Foi com grande consternação e apreensão que na Guiné se tomou conhecimento da morte de Amílcar. Havia a generalizada convicção de que nada passaria a ser como dantes. E, de facto, assim foi. A morte de Amílcar acelerou a ofensiva do PAIGC, a norte e a sul, terá mesmo antecipado a declaração unilateral de independência, em Setembro do mesmo ano, e levou à substituição de Spínola.
A morte de Amílcar intensificou a luta e a derrota da política colonial do Estado Novo, mas acabou por ter, a prazo, efeitos muito nefastos sobre o futuro da Guiné. Ele era o cimento que ligava todas as etnias e que com a sua acção e doutrinação quotidianas ia forjando a própria nação. A sua herança ainda perdurou por algum tempo, mas a sua morte prematura acabou por abrir brechas que nunca mais se fecharam.
Com a morte de Amílcar morreu também o sonho de uma África diferente.
A democracia portuguesa também deve o seu tributo à luta do PAIGC e a Amílcar Cabral. Verdadeiramente, foi na Guiné que o MFA nasceu. Foi na Guiné que os jovens oficiais das Forças Armadas Portuguesas se consciencializaram de que a guerra não tinha solução e de que somente seria possível pôr-lhe termo substituindo o governo e mudando o regime, o que veio a acontecer cerca de 15 meses depois de 20 de Janeiro de 1973!
3 comentários:
"Ele era o cimento que ligava todas as etnias... " Mas teria continuado a ligar se tivesse vivido o tempo pós-colonial? Eu tenho sérias dúvidas. A "nação" Guiné-Cabo Verde não era menos utópica que o Portugal pluri-continental. A quem conviveu com guineenses e cabo-verdianos não causou estranheza a atribulada relação entre aquelas duas ex-colónias. Também não tenho dúvidas de que foi a eternização da guerra, cada vez mais penosa para para Portugal, que deu a estocada final no regime. Quanto aos guineenses, que, mais que a bravura e motivação, contaram com o facto de terem do seu lado os ventos da história, não me parece que apurem um saldo muito favorável da sua emancipação formal, se exceptuarmos o crescimento da população em mais de 100%.
LG
Respondendo a LG:
A história não tem "ses". Enquanto Amílcar viveu não havia tensões na GB entre as etnias. Mesmo os Fulas, tradicionais aliados (não subservientes) dos portugueses, e os Manjacos, que viviam numa espécie de regime feudal com dominação de outras etnias, conviviam bem com os demais.
É evidente que havia grandes diferença culturais entre os Balantas, por exemplo, e os Mandingas e outras etnias islamizadas, mas isso não impediu que tivessem feito a guerra conjuntamente sem conflitos entre si. Nino, que era Papel, outra etnia da parte baixa da pirâmide, ocupou lugares cimeiros durante a luta de libertação.
Isto para dizer que não havia na Guiné nenhum tipo de animosidade latente entre os vários povos.
Quanto aos caboverdianos a situação é diferente. Os naturais das colónias portuguesas, da Guiné a Timor, viam os caboverdianos como uma espécie de capatazes do colonizador e isso criava natural animosidade, principalmente naquelas colónias em que o trabalho forçado causava um imenso sacrifício físico e psicológico, como era o caso de Angola e, por expratiação dos angolanos, o de São Tomé e Príncipe.
Na Guiné os caboverdianos dominavam a burocracia intermédia, principalmente nos aglomerados populacionais mais importantes. A situação não era tanto de discriminação, como de estatuto social diferente. Todavia, durante a luta de libertação, essa tensão não existia e os caboverdianos conviviam bem na guerrilha com os guineenses. Amílcar Cabral (um pouco à semelhança de Lénine na URSS que combatia o chauvinismo pan-russo)contrariava doutrinariamente e pelo exemplo qualquer tipo de tribalismo ou de dominação entre etnias.
A morte de Amílcar, frequentemente imputada a rivalidades internas, é, tal como a de Delgado e de Mondlane, obra da PIDE e dos seus agentes.
O que se teria passado se Cabral tivesse sobrevivido é coisa que ninguém sabe. Por isso falei em "sonho"..
JMCPinto
DR JMC PInto
Concordo inteiramente com a descrição que faz da realidade Gineense. Está, seguramente, mais dentro do assunto que eu. A animosidade de que eu me apercebi não era, obviamente, entre combatentes, que não conheci.
Diz: "Amílcar Cabral (um pouco à semelhança de Lénine na URSS que combatia o chauvinismo pan-russo)contrariava doutrinariamente e pelo exemplo qualquer tipo de tribalismo ou de dominação entre etnias". "O que se teria passado se Cabral tivesse sobrevivido é coisa que ninguém sabe". Também nisto concordo. E é exactamente por isso que me "atrevo" a imaginar o que teria sido da imagem histórica de A.Cabral se tivesses sobrevivido à independência das duas colónias, porque quanto à ex-URSS não estamos a imaginar ses. Verificou-se o fracasso rotundo da bela teoria e perdas sofridas por uma Nação só comparáveis, nos tempos modernos, aos infligidos aos principais derrotados na II Guerra. Entre esses danos conta-se a amputação do território nacional/histórico da russo para a constituição de Estados tampões, umas novas Polónias (Ucrânia e Bielorrúsia). Portanto, não me parece muito temerário imaginar que o brilho da figura de A.Cabral teria, no mínimo, empalidecido.
LG
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