terça-feira, 2 de outubro de 2018

RONALDO E AS VIOLAÇÕES




O “ME TOO”
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A violação é um crime grave. A sua gravidade decorre do uso da violência ou de ameaça grave empregue com o objectivo de constranger alguém a ter relações sexuais indesejadas, sejam elas com o autor da violência ou da ameaça, sejam com terceiros. Para que a ameaça seja grave não basta que ela tinha sido levada a sério pela pessoa ameaçada, é também necessário que exista uma forte probabilidade de essa ameaça se concretizar, susceptível de influenciar decisivamente a vontade da pessoa ameaçada. O que significa, portanto, que o contexto, em sentido amplo, em que a ameaça ocorre é certamente um elemento decisivo para avaliar da sua gravidade.

Vamos deixar de parte as violações em série cometidas em contextos muito específicos, como, por exemplo, as violações em tempo de guerra, tanto pelos agressores, como pelos libertadores. Na nossa memória colectiva perdurou durante mais de um século a recordação das violações cometidas pelos invasores franceses, durante as guerras napoleónicas, bem como os actos de vingança heroicamente praticados por algumas das agredidas. Igualmente ficaram famosas as violações ocorridas no fim da Segunda Guerra Mundial, depois da capitulação da Alemanha, imputadas, no quadro de uma propaganda política bem orquestrada, na sua totalidade aos soldados do Exército Vermelho. Sabe-se hoje, por investigações feitas pela própria Alemanha, que os milhares e milhares de crianças que nasceram depois da capitulação tinham como progenitores soldados de todas as forças de ocupação (americanos, ingleses, soviéticos, franceses, etc.). Mas como o que passou para a posteridade foram os testemunhos das berlinenses, bem como a famosa resposta que Estaline deu ao escritor jugoslavo, Milovan Djilas, quando este manifestou a sua reprovação pelo comportamento dos soldados do Exército Vermelho em Berlim (“Conversa com Estaline”), ficou desde então assente no imaginário popular que os violadores eram os russos.

Hoje, a fazer fé no que se vai lendo na imprensa e no que é diariamente transmitido pelas televisões, somos igualmente levados acreditar que a violação é uma prática corrente em muitos países desenvolvidos (e falamos nestes porque nos outros, infelizmente, a violência sexual, principalmente sobre as mulheres, nem notícia é, salvo quando atinge proporções de gravidade extrema, como ocorre frequentemente na União Indiana), em estratos sociais e profissões em que era suposto tais práticas não ocorrerem, salvo residualmente como típicas manifestações de comportamentos desviantes penalmente puníveis.

De facto, parece ser esse o caso dos Estados Unidos em que, a fazer fé no que se vai dizendo e até nalgumas sentenças já proferidas, parece poder chegar-se à conclusão que estamos na presença de um pais repleto de predadores sexuais por todos os lados que atacam, quais vítimas indefesas, pessoas que procuram fazer carreiras profissionais que lhes granjeiem fama, notoriedade, dinheiro e prestígio. Estamos certamente muito longe das pessoas ingénuas, desprotegidas e dependentes que são vítimas de violência sexual em contextos em que somente o instinto animalesco prevalece.

Ronaldo está sendo vítima retroactiva do “Me too”, que é a expressão da vergonhosa hipocrisia em que o “politicamente correcto” se refugia, por incapacidade de combater no verdadeiro terreno político as causas profundas que não só levaram à sua derrota pelo populismo, o nacionalismo e a xenofobia como as estão perigosamente ampliando em todo o território americano.

É por isso que quando assistimos a esses desavergonhados depoimentos do “Me too” não podemos deixar de enaltecer a coragem de Marilyn Monroe quando uma vez disse: “Para chegar onde cheguei tive muitas vezes que me pôr de joelhos…”. Certamente, que há muitas vezes aproveitamento de quem se encontra em posição de chefia ou de decisão, mas há igualmente recíproco aproveitamento de quem cede para obter o efeito procurado. Como podem, várias décadas depois, virem essas pessoas queixar-se daquilo em que conscientemente participaram, realizando um negócio bilateral, tipicamente amoral, em que cada um procura um resultado que não estava seguro de alcançar pelas vias normais?

Ronaldo, em Las Vegas, a pátria do jogo, da prostituição e de tudo o que de mais sórdido a América pode ter, foi vítima, insisto, retroactiva do “Me too”. Basta atentar nos factos, relacioná-los com o que entretanto se passou nos Estados Unidos neste novo tipo de feminismo hipócrita, para logo se perceber onde isto pode chegar, bem como as razões que verdadeiramente motivam estes comportamentos.

A situação é portanto grave. Gravíssima. Não pela sua gravidade intrínseca, que seria verdadeiramente irrelevante em qualquer país civilizado, mas por ter ocorrido nos Estados Unidos. As consequências podem ser as mais funestas. E mesmo que elas sejam apenas de natureza pecuniária - e não acreditamos que fiquem por aí – as penalizações do fisco espanhol não passariam de uma brincadeira de crianças quando comparadas com as que estão para vir. Oxalá me engane…