segunda-feira, 31 de maio de 2010

ELES SÃO COMO OS NAZIS



MERECEM IDÊNTICO CASTIGO

O mundo assistiu com estupefacção e revolta a mais uma barbaridade de Israel. O mundo, é como quem diz, porque os Estados Unidos ainda necessitam que lhes expliquem o que se passou e a subserviente diplomacia das Necessidades também ficou calada, ou quase, como sempre fica, quando estão em causa directa ou indirectamente interesses americanos. Mas o resto do mundo condenou.
As condenações meramente verbais todavia não chegam. Hoje Israel é governado por uma camarilha que não hesita na prática de qualquer tipo de crime, crime de guerra, genocídio, retaliações contra populações civis, raptos, assassínio, enfim, tudo o que um bando de criminosos normalmente faz.
Tal como aconteceu na Alemanha nazi, a maior parte da população de Israel fecha os olhos, e, contrariamente ao que aconteceu na Alemanha, a que vive fora de Israel maioritariamente aplaude.
Há entre a classe política israelita, desde os “socialistas” (vão entre aspas não por pertencerem ao partido socialista, mas porque socialista tem a mesma raiz que socialismo) à extrema-direita muitas semelhanças com o bando nazi que se apoderou dos destinos da Alemanha no começo da década de trinta do século passado: o racismo, o espaço vital, o completo desprezo pelas “raças inferiores”, a legitimação de qualquer meio, por mais violento e desumano, contanto que seja (ou se suponha que seja) adequado ao fim em vista. Tudo serve. Com a protecção de Wall Street, do bando financeiro que apoia Israel, e da Casa Branca, melhor dizendo, da Administração americana, esteja lá quem estiver, tudo, até hoje, tem ficado impune.
E aqui há diferenças relativamente aos nazis: em, primeiro lugar, porque os nazis também lutavam contra o domínio financeiro judaico (sim, a gente sabe, com muitas contradições, com muitas mentiras de permeio, mas a palavra de ordem existia) e, em segundo lugar, porque dez anos depois de terem chegado ao poder já se sabia que os nazis não iriam ficar impunes.
Há todas as razões para supor que o ataque criminoso contra a frota da paz marca uma viragem decisiva na história de Israel e da sua impunidade. A Turquia não é verdadeiramente o Iraque, nem mesmo o Irão. Mas tudo está em aberto, inclusive um possível holocausto. Como se sabe, Hitler, já no estertor do nazismo, não teria hesitado na utilização da “arma misteriosa” se efectivamente a chegasse a ter, como contava. Estes, os de Israel, apertados, também não hesitarão. É gente da mesma cepa. À altura uma da outra. Com a diferença de que a têm!

NOTAS MUITO SOLTAS




O FIM DE SEMANA NUM RELANCE

Portas continua a sua demagogia contra os políticos, ou seja, contra a democracia representativa onde também ele cabe. Vai acentuar o seu populismo à medida que o putativo parceiro vá subindo nas sondagens .Como ele já sabe o que o espera, não vai parar. Quer a qualquer preço evitar ser "cavaquizado". A propósito de "cortes", já não digo fale sobre altos rendimentos, mas sobre submarinos não diz nada? E sobre fotocópias, também não? E sobre os despachos de Telmo, o Breve?
Vitor Ramalho não apoia Alegre …porque Alegre não está à altura do novo paradigma. Está trinta anos atrasado. Ó Vitor, aqui para nós, que ninguém nos ouve, o novo paradigma é Dr. Mário Soares, não é?
Francisco Louçã ataca a candidatura de Bagão antes de o ser. Candidatura contra a democracia. Às vezes o Louçã faz-me lembrar o General Vasco Gonçalves. Muita generosidade, muita ética (da nossa, claro), mas política, nada (principalmente nos momentos críticos).
Que mal é que tinha que o Sócrates quisesse conhecer Chico Buarque? Aquela “entourage” do PM é mesmo muito provinciana. Só lhe ficava bem querer conhecer um grande vulto da cultura brasileira…e ainda por cima de esquerda. Assim, arranjou mais uma trapalhada a propósito de um assunto que até lhe poderia ter sido favorável.
Ouvi na Antena 1 um recital de poesia de Maria Barroso, muito bem acompanhada ao piano (não fixei o nome, peço desculpa). Extraordinário! Notável! Que bem ditos estavam aqueles poemas do “Novo Cancioneiro”, do Manuel Da Fonseca, do Mário Dionísio, do Joaquim Namorado (Prometeu), do Sidónio Muralha, entre outros. Grande influência de Lorca nos dois primeiros (Romancero… e Pranto…, respectivamente). Ao que percebi, o espectáculo foi para familiares e convidados. Espero que haja disco.
A grande "manif" da CGTP fica para outras considerações...
ADITAMENTO
Acrescentado o link que Jorge Almeida me enviou.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

COHN-BENDIT NO PARLAMENTO EUROPEU




UMA GRANDE INTERVENÇÃO

Aqui deixo este You Tube de Cohn-Bendit, no Parlamento Europeu, que a minha amiga e colega Margarida Malvar me enviou.

O PS E A CANDIDATURA DE MANUEL ALEGRE




O QUE JÁ SE DIZ

O PS bem pode amanhã formalmente declarar o seu apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre, que nem por isso este apoio deixa de estar “ferido de morte”.
Tudo isto, como aqui já tive oportunidade de dizer, em consequência de uma errada estratégia eleitoral do candidato. Melhor do que ninguém o candidato sabia ou deveria saber com quem estava a lidar.
Não é só Mário soares e as suas vinganças, que aliás nada tem de novo, pois numa fase bem mais dramática da vida política nacional não regateou o seu apoio de facto a um candidato da extrema-direita, apenas para impedir a vitória de alguém que rivalizava com ele na mesma área política.
E nunca se chegará a saber o que ele teria feito, cinco anos mais tarde, se tivesse sido “eliminado” na primeira volta, embora qualquer raciocínio por analogia ou por maioria de razão dissipe imediatamente todas as dúvidas.
Pior são aqueles que perfidamente já dizem que, sendo a eleição presidencial para perder, o melhor é o PS apoiar um candidato que pouco tem a ver com o partido ou que está longe de o representar completamente. E que esse candidato deve ser Alegre por ser o que melhor “representa” o insucesso eleitoral do partido.

CARLOS BRITO E A SUA NARRATIVA




A FORÇA DA LUCIDEZ

O livro de Carlos Brito sobre Álvaro Cunhal não é apenas um livro “emocionalmente sereno”, como ele deixa entender. É um livro “inteligentemente sereno”.
Carlos Brito é um homem sensível, um poeta, que não esquece as alegrias, nem os amigos, como também não esquece as amarguras, nem as desilusões.
Tem uma longuíssima tradição de luta, por vezes travada nas condições mais adversas, em sofrimento e na dor.
Por isso ele sabe que a melhor forma de dominar as emoções mais intensas, quando elas são incómodas, é através da inteligência. Foi o que ele fez.
O livro sobre Álvaro Cunhal é uma inteligente narrativa que tem como protagonistas: Álvaro Cunhal e a “Vida” (na expressão tão frequente do líder comunista para se referir aos avatares da História).
Esse, o cerne da narrativa. Aqui ou além, talvez mais no fim do livro, lá aparece o narrador para logo se esconder, porque ele sabe que o grande confronto é entre Cunhal e a “Vida”.
Ele não quer interferir, mas ele também faz parte.
Este é também o confronto de Carlos Brito com a sua história, com o seu percurso, com o desfazer das suas ilusões, por maiores que ainda sejam as certezas.
É um livro comovente e belo. Objectivo e sentido.
É um testemunho da grande luta dos comunistas portugueses!

ÁLVARO CUNHAL SETE FÔLEGOS DO COMBATENTE




MEMÓRIAS, ESCRITAS POR CARLOS BRITO

Já aqui tinha feito referência ao livro de Carlos Brito e ao seu autor, dois dias após a saída do livro.
Manuel Alegre fez hoje a principal apresentação do livro, na Livraria Buchholz, num painel que contava com outros oradores.
Foi uma exposição brilhante, objectiva, pontuada aqui e além com observações e opiniões pessoais, além das justíssimas palavras de apreço dirigidas a Carlos Brito, pelo livro, pela sua militância exemplar e pelo seu estimável contributo para a implantação do regime democrático em Portugal.
Há, porém, duas observações polémicas, como ele próprio admitiu, relativamente às teses de Carlos Brito, na interpretação que faz de dois momentos marcantes da acção política de Álvaro Cunhal e da intervenção do PCP na vida política portuguesa depois da Revolução de Abril.
Começando pela última, Alegre entende, contra a opinião de Carlos Brito, que o regresso, de facto, de Cunhal à direcção do Partido em 1999 e a derrota imposta à ala renovadora do “Novo Impulso”, constituiu o oitavo fôlego do grande resistente anti-fascista e do incansável lutador por uma sociedade socialista.
Alegre baseia-se na História. Cunhal receou que o “Novo Impulso”, tal como se veio a revelar com o “Grupo dos seis” ou com a “Terceira Via”, e mais ainda com a experiência dos partidos comunistas europeus posterior à Queda do Muro e à desagregação da União Soviética, acabasse por descaracterizar completamente o Partido e levasse mais ano menos ano ao seu inexorável fim.
Como Cunhal era acima de tudo um leninista, continua Alegre, o Partido, para ele, estava acima de tudo. E mais valia preservá-lo, mesmo com a sangria de muitos milhares de quadros, do que expô-lo aos riscos de uma renovação, que se sabe onde começa, mas nunca se sabe onde acaba. E até agora a História tem-lhe dado razão, concluiu Alegre.
Como se sabe, Carlos Brito e os renovadores não concordam, antes de mais porque nenhum elemento deste grupo se “social-democratizou”, no sentido relativamente pejorativo que hoje se tem do conceito, mas também porque acalentavam fundadas esperanças de dar um novo impulso ao Partido Comunista.
Estas é das tais discussões que nunca se vai saber quem tem razão, vistas as coisas numa perspectiva pragmática e avalorativa.
A segunda divergência tem a ver com a interpretação do “segundo fôlego” e suas consequências.
Alegre entende, contrariamente a Carlos Brito, que o denominado segundo fôlego, coincidente com o VII Congresso do PCP, realizado no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, a 20 de Outubro de 1974, não consistiu numa amenização das orientações mais radicais da “Revolução Democrática e Nacional”, mas antes numa aceleração do processo revolucionário fundamentalmente traduzida na preferência dada à Aliança Povo-MFA, o mesmo é dizer, PCP-MFA, em detrimento das diferentes forças democráticas, nomeadamente o PS. E que tal opção haveria de marcar definitivamente o processo político português.
Esta é também uma discussão que não tem fim e que nunca poderá ser inteiramente compreendida nos seus pressupostos e desenvolvimentos sem atender a aspectos muito mais recuados da vida dos dois partidos.
Do lado de Manuel Alegre, diz-se o que acabamos de ler. Do lado de Soares – que diz em cada momento aquilo que fizer falta - até se chegou a dizer: “O que nos separa não é o marxismo, nem mesmo o leninismo. O que nos separa é o estalinismo”!
Do lado do PCP, o que se diz (melhor, o que se pensa) é que as alianças com o PS eram praticamente impossíveis. As posições do PS eram tão recuadas, nomeadamente nas questões económicas, e a sua incompreensão, durante a Revolução, pelos ideais que animaram o MFA era tão notória que qualquer entendimento com o PS representaria uma deslegitimação do MFA ou mesmo o seu colapso. No fundo, o PS, principalmente Mário Soares, queria uma coisa muito parecida com o que temos hoje. E ninguém, do outro lado, aceitava sequer pôr esse objectivo como hipótese.
Eu penso que o profundo fosso programático e ideológico que existiu e que continua a existir entre os dois partidos não tem solução, a menos que um dos partidos mude por completo a sua natureza, o seu código genético (o que é impensável), porque ele assenta em causas objectivas muito profundas que nenhum entendimento pode superar, melhor, que nenhum entendimento permite superar.
Pode haver aproximações meramente tácticas, em momentos muito particulares da vida política portuguesa, mas nas raras vezes em que tal aconteceu, passado pouco tempo, de um lado ou do outro, houve logo a preocupação de fazer regressar as coisas ao ponto de partida ou até mais para trás, para não haver dúvidas sobre o posicionamento de cada um.
Este afastamento não assenta na perversidade dos dirigentes políticos de um partido ou do outro, nem na possível instrumentalização das alianças políticas (que é um risco e um factor comum a todas as alianças), mas na génese dos dois partidos.
Se o PCP tivesse nascido de uma cisão do PS, como partido operário, como nasceu a maior parte dos partidos comunistas europeus, tudo seria indiscutivelmente diferente. Poderia haver ou ter havido lutas fratricidas, como houve noutros lados, poderia haver tudo ou ter havido o que se conhece da história do movimento operário europeu, mas haveria uma base comum, até uma linguagem relativamente semelhante. Certamente que os meios de um e de outro partido seriam diferentes, mas haveria uma, nem que fosse ténue, analogia de fins e de princípios que permitiriam, no mínimo, a recíproca compreensão
Nada disto se passa entre o PS e o PCP.
O PS (compreendendo os seus antecessores) nasceu nos escritórios de advogados das ruas da Baixa e sempre teve como matriz fundamental da sua acção política, a queda da ditadura (de preferência pelo golpe de Estado) e a democracia política, sem outras condimentações.
O PCP nasceu do movimento operário e anarco-sindicalista e sempre teve como objectivo fundamental, além da queda do salazarismo, a Revolução Socialista.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

GRANDE JORNADA DE SOLIDARIEDADE EUROPEIA EM NOVA YORK





“NÓS NÃO SOMOS A GRÉCIA!”

O que acabei de ver na televisão é lamentável. Eu sei que se corre sempre o risco de tomar a parte pelo todo, quando se faz fé numa reportagem televisiva. Mas a gente conhece os antecedentes, conhece a conversa dos media, dos políticos, dos comentadores do regime enfim, a gente conhece a mensagem.
Essa coisa de ir à Bolsa de Neva York dizer: “Nós não somos a Grécia!”, “Nós somos bem comportadinhos, por favor gostem de nós”, além de ser uma imbecilidade, é uma atitude muito reprovável no actual contexto comunitário. Numa altura em que tanto se fala da falta de solidariedade dos mais fortes, este exemplo de completa ausência de solidariedade um dos mais fracos é lamentável.
Esta triste ideia muito comum em certos meios de a vítima se acolher à protecção do algoz supondo que vai ser poupada não leva, como é óbvio, a nada.
Independentemente de o caminho a seguir ser outro, e ter de ser trilhado na Europa, pode aceitar-se uma acção promocional junto dos grandes centros da pirataria financeira, se se tratar de uma acção bem concebida. Agora, ir para Nova York enterrar os gregos mais do que já estão e tentar captar a simpatia dos ditos meios, isolando os “maus”para assim procurar ficar na companhia dos “bons”, é uma acção antecipadamente votada ao insucesso.
Tal como o lobo ataca a presa mal sente a sua fragilidade, também estes farão o mesmo logo que a ocasião se perfile.
Na América as coisas não se tratam assim. Se há algum exemplo a seguir na história da diplomacia portuguesa sobre como tratar assuntos na América ainda é, quer se goste quer não, a forma como a ditadura actuou junto da Casa Branca para contornar as proibições da ONU e do Congresso sobre a venda de armamento e demais material militar. Beneficiando de um contexto que ela conhecia bem, por um lado, o facto de a “entourage” de Nixon ser bastante racista, e, por outro, venal e sempre pronta a entrar em “negócios escuros”, a diplomacia portuguesa comprou um conjunto importante de boys, alguns desapareceram com Watergate, outros, curiosamente, ainda andam por aí, que se encarregou da defesa dos interesses colonialistas com razoável êxito.
Claro que agora estamos a falar de dinheiro, de especulação, de capital financeiro e, portanto, tudo se complica enormemente. Uma coisa porém é certa: o caminho escolhido está errado.

AINDA O ARTIGO DE JURGEN HABERMAS




O QUE NINGUÉM QUIS VER

O artigo de Habermas citado no post anterior é a vários títulos notável. O grande filósofo alemão retrata com grande rigor o novo posicionamento da Alemanha na Europa, as suas causas e as suas mais que prováveis consequências.
Quem está familiarizado com as relações internacionais há muito detectava indícios do que estava para acontecer logo que as condições estivessem reunidas.
O primeiro importante indício foi o acórdão do Tribunal Constitucional Alemão, sobre a ratificação do Tratado de Maastricht. Logo aí estavam à vista as linhas mestras do que iria ser a política alemã no quadro comunitário, nomeadamente no que respeita à moeda única.
Vale a pena recordar um pequeno episódio indiciador da importância que o caso mereceu nos meios políticos portugueses.
Quando Guterres organizava as suas hostes para derrotar o Cavaquismo, muita gente que nunca tinha estado ligada ao PS participou nesse amplo movimento de mudança que urgia introduzir na vida política portuguesa. Numa das reuniões em que participei, sobre assuntos comunitários e internacionais, falei naquele acórdão, no que ele tinha de novo relativamente à política alemã do pós-guerra e até levava para distribuir pelos presentes, todos, ou quase todos, ministeriáveis, vários exemplares fotocopiados de um interessante artigo, de cerca de uma dezena de páginas, que o resumia e comentava, publicado num número da Geopolitique todo ele dedicado à nova Alemanha reunificada.
Com excepção de Medeiros Ferreira, ninguém ligou absolutamente nada ao assunto, de tal modo que guardei as fotocópias e somente a ele lhe deixei uma (ainda um dia destes falámos disto por e-mail).
Bastante mais tarde, no início do Governo Durão Barroso, lembro-me também de ter trocado correspondência com Luis Amado, ao tempo na América, em Georgetown, sobre aquilo a que então chamei o “Grito do Ipiranga” da Alemanha, então já muito patente na política de Schröder, viragem que poderia passar relativamente despercebida por estar mesclada por uma onda de simpatia que na Europa acompanhava as posições anti-Bush e anti-Guerra do Iraque e de, inclusive, haver, objectivamente, uma sintonia daquela política com a francesa de Chirac.
A verdade é que a Alemanha, como Habermas reconhece, nunca mais foi a mesma na Europa. Viragem que o recente acórdão do Tribunal Constitucional sobre o Tratado de Lisboa (cujo significado e sentido que os media portugueses e alguns políticos, estes não sei se por má fé ou por ingenuidade, interpretaram exactamente ao contrário do que ele politicamente queria dizer), acabou por consagrar dando lugar a posições nunca antes assumidas por nenhum Estado da União Europeia.
A famosa tese jurídico-política da rejeição ultra vires de tudo o que vier de Bruxelas que não caiba no quadro das estritas delegações de competência que os tratados recolhem, levou, em nome da soberania popular e da autonomia do povo alemão, a que passasse a haver uma espécie de visto prévio do Parlamento alemão sobre toda a acção comunitária relevante.
Esta profunda alteração estrutural da política europeia, resultante do novo posicionamento alemão, tem as suas causas na própria Alemanha, como Habermas sublinha, desde logo na reunificação e suas sequelas, nas mudanças geracionais, e em vários outros factores endógenos, mas também indiscutivelmente na atitude dos seus parceiros europeus. Antes de mais na França e em Sarkozy que, com a sua hiperactividade volátil e completa ausência de uma consolidado linha política coerente, muito tem contribuído para a situação actual. Depois, há as causas directamente económicas, a vertigem neoliberal que a Inglaterra e os seus aliados potenciaram e impulsionaram com vista à substituição de uma ideia política de Europa por um vasto mercado livre sem regras, nem freios. E, finalmente, a completa subserviência e ausência de iniciativa política dos demais, nomeadamente depois de se terem apercebidos das fragilidades francesas.
Alguns preferiram gerir o quotidiano, outros sonhavam com a relação transatlântica, enquanto a Alemanha ia fazendo o seu caminho.
Não me admiraria nada, pela feição que as coisas estão a tomar, que ainda venha a ser a Inglaterra a pôr algum travão nisto…

terça-feira, 25 de maio de 2010

NO EURO SE DECIDE O DESTINO DA UE




UM ARTIGO DE JÜRGEN HABERMAS

Já depois de ter escrito o post anterior, sobre a entrevista de Barroso, li o artigo de Habermas, publicado no El País de domingo, "NO EURO SE DECIDE O DESTINO DA UE".
O texto do grande filósofo alemão confirma muito do que se tem dito sobre a crise do euro e da Europa, nomeadamente sobre o actual papel da Alemanha.
O que verdadeiramente constitui motivo de espanto é a atitude da maior parte dos nossos políticos, excessivamente preocupados com as questões domésticas, querendo dar a ideia de que os nossos problemas têm uma solução exclusivamente interna e sem coragem para afrontar na cena internacional os problemas de cuja solução em grande medida os nossos dependem.
Isto para não falar dos economistas do establishment. No fundo são políticos que, não se querendo assumir como tal, usam a sua pretensa e demagógica “ciência” para fazer passar a mensagem que de outro modo não teria qualquer hipótese. Por essa razão é que tenho cada vez por mais seguro a ideia de que a economia não é assunto que deva ser entregue a economistas. O caminho mais curto para a desgraça é entregar a condução da política económica a economistas. Pode haver excepções, e há certamente entre nós, mas são excepções sem voz.
Para dar um exemplo: o Brasil moderno, o Brasil que acabou com a dívida, com as intervenções do FMI, com a inflação descontrolada, com a permanente desvalorização da moeda e da sua constante substituição, teve à frente da condução da política económica que operou a viragem, primeiro, um sociólogo, e depois, um médico. Este último sempre muito apoiado, na Presidência da República, por um operário metalúrgico.
A generalidade daqueles economistas (políticos) que se exprime na TV, a que vai a Belém dar conta da sua “preocupação” pela situação do país, a que subscreve o “compromisso Portugal” e recebe milhões no fim do ano ou vende ao primeiro estrangeiro que lhe apareça a empresa cuja privatização reclamou, a que ontem prometia manter na “decisão nacional” a empresa que no dia seguinte entregou ao capital estrangeiro, não é politicamente gente recomendável. É, além do mais, gente inculta, bastante ignorante, incapaz de compreender outra coisa que não seja os interesses imediatos do patrão, os bónus que vai receber no fim do ano, as reformas que pode acumular. Enfim…

DURÃO BARROSO ACUSA POLÍTICOS ALEMÃES



A PROPÓSITO DA INSUFICIENTE DEFESA DO EURO

Durão Barroso acusou, em entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, os políticos alemães de não defenderem suficientemente o euro. E lembra as enormes vantagens que a Alemanha tem retirado da moeda única. Discorda igualmente do agravamento das medidas punitivas propostas pela Alemanha relativamente aos países "incumpridores", assim como critica o modo como foi tratado o assunto da Grécia.
Como se trata de um assunto que aqui temos acompanhado muito de perto, sublinhando sempre que o problema em que estamos envolvidos, tendo indiscutivelmente uma componente interna, só pode ser verdadeiramente resolvido no quadro de uma outra política comunitária, só nos podemos congratular com a posição assumida pelo Presidente da Comissão.
Quando o ano passado se discutia o nome para a Presidência da Comissão sempre, neste blogue, demos preferência, sem sectarismos, a Durão Barroso relativamente a qualquer socialista, fosse ele do Norte ou Sul, do Leste ou do Oeste. Falava a experiência de quem conhece o modo de actuar de uns e de outros no domínio das relações internacionais.
É claro que Durão Barroso tem contra si aquela "mancha" que é a guerra do Iraque. Uma "mancha" que tem um precedente: a intervenção da NATO na Jugoslávia, apoiada por todos os governos socialistas
Em determinada altura chegámos a duvidar que Barroso fosse eleito, exactamente porque a Alemanha e outros não estão habituados a ouvir verdades, mas a impor condutas. Tinham interesse noutro tipo de pessoa, pelas razões que aqui foram explicitadas com alguma minúcia. As previsões, porém, não se concretizaram.
Apesar dos poderes cada vez mais reduzidos da Comissão - redução fundamentalmente imposta pela prática intergovernamental que os países pequenos deveriam contrariar, em vez de alardearem um grande contentamento - "Porreiro, pá!" - por andarem a fazer o frete aos grandes -, não permitirem "grandes voos" e de haver no seu seio uma complexa correlação de forças, sempre é preferível ter à sua frente alguém que compreenda melhor os problemas dos mais pequenos (que hoje já são muitos...) do que lá ter quem esteja acima de tudo preocupado em fazer um mandato apenas para agradar aos grandes.
Excesso de optimismo? Não, apenas algum conhecimento do que se tem passado a propósito da questão da dívida...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A DÍVIDA OU O EURO?




AS DUAS PERSPECTIVAS

Quem ouvir a maior parte dos nossos economistas, desses a que me tenho aqui frequentemente referido como não sabendo nada de economia e que dela têm, enquanto ciência, uma visão puramente ideológica, fica convencido de que a crise do euro assenta ou tem as suas causas na crise da dívida. O euro está em dificuldade, porque esses irresponsáveis países do Sul gastam muito mais do que aquilo que produzem, endividam-se muito acima das suas posses, estão à beira da falência e é esse estado de coisas que arrasta a moeda europeia para uma situação crítica. Ponto de vista igualmente sufragado pelos austeros países do norte e até pelo ministro das finanças da Bélgica que, como se sabe, tem uma dívida pública muito superior ao PIB.
Mas há outra perspectiva: outra maneira de ver as coisas. As dificuldades da Europa não resultam da dívida, a dívida é que resulta das dificuldades da Europa, desde logo da criação de uma moeda única sem que estivessem reunidos os requisitos mínimos indispensáveis para a sua existência!
Como a maioria das pessoas hoje já reconhece, embora só muito recentemente os “entendidos” tivessem começado a ser sensíveis a alguns argumentos, a moeda única pressupõe economias com o mesmo grau de competitividade, um mercado de trabalho que permita sem dificuldades a deslocação dos trabalhadores de uma região para outra e uma política económica e social comum. Quando a competitividade de alguns fica muito abaixo da média do conjunto, a moeda única não estaria de todo excluída se assentasse, além dos requisitos acima indicados, num orçamento federal digno desse nome e numa política de solidariedade semelhante àquela que ocorre nos estados federais ou regionais.
Não foi nada disso o que aconteceu. A moeda única foi criada como contrapartida política da reunificação alemã e deixou o seu futuro entregue a um pacto repressivo. E claro, ao fim de dez anos as consequências estão à vista. Houve Estados que nunca mais cresceram, perderam competitividade, endividaram-se e acumularam défices. Outros, os mais competitivos, compensaram no interior da União Europeia a perda de competitividade relativamente a Estados terceiros, nomeadamente emergentes. Os superavides destes são os défices dos outros.
Quando a moeda foi criada nenhum dos economistas que entre nós agora se manifesta alertou na altura para as possíveis consequências da adesão ao euro. Pelo contrário, de Cavaco aos demais só se ouvia falar em estar no “pelotão da frente”!
Esta constatação não desculpa os graves erros cometidos na condução da economia portuguesa, pelos banqueiros (que só querem o lucro), pelos empresários (que só querem o apoio do Estado) e pelos governos (que só querem o apoio de uns e de outros para se manterem no poder), nem tão pouco significa que Portugal possa sequer encarar a hipótese de abandonar a moeda única.
Se ela se aguenta ou não, é outra questão. Aparentemente tudo aponta no sentido de que a continuação desta política europeia é incompatível com a manutenção da moeda única. O reforço das medidas repressivas, a estratégia recessiva, o aumento constante do desemprego e a queda continuada do rendimento, o favorecimento da especulação financeira, só pode trazer mais crise e falências em cadeia, inclusive dos próprios Estados.
A alternativa passa por uma rígida regulamentação dos mercados financeiros, um reforço da competitividade dos países mais endividados, pela existência de um orçamento federal, por uma política económica e social comum, por uma mais equitativa distribuição da riqueza. Ou seja, exactamente o contrário de tudo aquilo que a hegemonia do capital financeiro e especulativo propõe e pratica.
O mais provável, melhor dizendo, o mais certo, se não houver uma resistência generalizada que recorra a todos os meios ao seu alcance para impedir as políticas em curso, é que o capital financeiro, seus aliados e representantes façam os salários, nomeadamente os mais baixos, pagar os juros da dívida e do défice até ao limite das possibilidades de sacrifício exigível, sem que esta via constitua uma solução nem para nós, nem para a Grécia, nem para a Espanha, nem para a Europa no seu conjunto.
As recentes declarações de Paul Krugman, que a direita logo se encarregou de aproveitar, descontextualizando-as, dizem exactamente o que acaba de ser referido. Desde o início da criação da moeda única que Krugman vinha alertando para o que agora se está a passar. Ou seja, que a mesma moeda aplicada a economias tão diferenciadas, sem hipótese de a diferença de competitividade entre elas poder ser vencida por via da desvalorização da moeda, iria inelutavelmente reflectir-se nos salários. Porém, as diferenças são tão grandes que só reduções salariais absolutamente incomportáveis as poderiam atenuar, sem que, contudo, os efeitos recessivos de tais medidas, no plano interno, pudessem ser compensados por um aumento das exportações.
A via, portanto, tem de ser outra!

sábado, 22 de maio de 2010

CARLOS BRITO




UM LIVRO SOBRE ÁLVARO CUNHAL

A meio da semana passada alguém me disse que o Carlos Brito iria lançar um livro sobre Cunhal, no qual seriam reveladas confidências, factos que ninguém conhece, assim qualquer coisa a cheirar a sensacionalismo.
A minha reacção foi imediata, não conheço o livro, nem sequer fazia ideia da sua existência, mas conheço Carlos Brito e posso antecipadamente garantir que isso não é verdade.
Conheci Carlos Brito logo a seguir ao 25 de Abril e contactei-o com frequência, principalmente a partir do momento em que eu desempenhava funções oficiais em S. Bento, na sede da Presidência do Conselho de Ministro.
Apreciava no Carlos Brito a delicadeza no trato, a humildade com que discutia todos os assuntos sem dogmatismos nem autoritarismos de qualquer espécie, a sua extraordinária capacidade para compreender o outro, a sensatez das suas análises políticas, o seu profundo humanismo e o carácter não impositivo das suas conclusões.
Era um prazer falar com Carlos Brito. Depois, a Revolução regrediu, os contactos foram escasseando e eu fui acompanhando, como toda a gente, a sua brilhante carreira no Parlamento, creio que por mais de 15 anos, à frente da bancada parlamentar do PCP.
Pelo meio, ainda alguns episódios em que fui interveniente que apenas confirmam a opinião que eu já tinha sobre a inteireza do seu carácter.
Um dia, creio que no fim da década de 70, marcou uma reunião comigo para me convidar, em nome do PCP, a integrar, como independente, um órgão de direcção e superintendência de um órgão de soberania. Foi-me expondo a situação e a dada altura disse-me: “Nós até já tínhamos sondado ou quase convidado a “personalidade X”, mas depois, numa reavaliação que fizemos da situação, achamos que não era a pessoa adequada para o lugar”.
Mal ouvi o nome da dita personalidade, um grande amigo meu, disse ao Carlos Brito: “ A minha decisão está tomada. É não.” E expliquei porquê.
Carlos Brito não contava manifestamente com a resposta, mas depois das minhas explicações aceitou-a sem insistir.
Passado dias telefonou-me e disse-me. “ Não te importas de marcar na tua casa uma reunião com o tal teu Amigo para discutirmos aquele assunto de outro dia”.
Com todo o gosto”, respondi. “Mas atenção, Carlos, eu não vou aceitar”.
Não te preocupes”, foi a sua resposta.
No dia aprazado a reunião fez-se. E então o Carlos Brito explicou à dita personalidade que o Partido tinha mudado de opinião, porque tanto o PS, como o PSD, estavam a nomear militantes com algum peso na hierarquia partidária para integrar aquele órgão e que o PCP face a esta nova situação teria de agir do mesmo modo. E indicou a pessoa escolhida: um deputado, que, se a memória me não falha, era suplente do Comité Central.
À saída, Brito disse-me: “Assim, ficas ao abrigo de qualquer intriga”.
Pois bem. O livro do Carlos Brito que eu comprei na 5.ª feira à noite, na Feira, e de que já li cerca de dois terços, confirma o excelente conceito em que todos os seus amigos o têm. É um livro sério, vibrante, como vibrantes foram os tempos que ele relata, bem escrito e factual.
Não há “ajustes de contas”, não há desforras, não há maledicência despeitada, há grandeza e opinião sobre acontecimentos, de que ele foi também um grande intérprete, exposta com elegância, raras vezes directamente, a maior parte das vezes deixada subliminarmente ao leitor, sem cinismo, nem hipócrita ironia, pelo simples confronto dos factos com as proclamações que os antecediam ou lhes sucediam.
Voltarei ao tema, a propósito de algumas questões relevantes.
(O livro "Álvaro Cunhal, Sete Fôlegos do Combatente, Memórias, editado por "Edições Nelson de Matos" será apresentado na Buchholz, no dia 27 de Maio, às 18h 30m)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A POUCA VERGONHA NÃO TEM LIMITES



A DIREITA AO ATAQUE

Ouve-se de tudo na TV nestes últimos dias. Não gosto de entrar neste tipo de conversa, mas quando os ouço ou vejo despudoradamente ao ataque a pregar austeridade para quem pouco ou nada tem enquanto eles continuam a passar incólumes pela crise que só os outros afecta, dificilmente se pode ficar calado e deixar de chamar os bois pelos nomes.
São os “moderadores” de televisão, verdadeiros “donos” de programas da televisão pública, que recebem milhares, muito mais do que o PR, que pedem “cortes” nos ordenados dos políticos.
É Portas, que nunca fiscalizou os subsídios da “lavoura”, nem nunca explicou os despachos do Telmo (auto-denominado “o Breve”) produzidos em catadupa no último dia do seu mandato como Ministro do Turismo, que nunca esclareceu esse vergonhoso negócio dos submarinos, que não se cansa de lançar o ódio contra quem precisa de ajuda.
É Mira Amaral que exige menos ministérios, menos direcções gerais, enfim, a conversa do costume: menos despesa. Quantas reformas tem Mira Amaral? De que montante? Quem as votou? Quanto acumula de ordenados com reformas milionárias que ele próprio votou? Com quanto contribui para a crise? Com 1,5% do seu rendimento declarado! É preciso não ter vergonha!
Mira Amaral que, quando esteve no Ministério da Indústria, para além seguramente não ter acompanhado a regularidade dos muitos subsídios que concedeu (aliás, nem sequer havia lei específica sobre o assunto), financiava uma revista que, de cada vez que era publicada, trazia mais fotografias suas do que alguma vez na Coreia do Norte, revista com o mesmo número de páginas, teria trazido do Bem Amado Kim il Sung! Só uma vez contei para cima de 30 fotografias em menos de 20 páginas!
Como ninguém os cala, alguém tem de ir à luta!

A MOÇÃO DE CENSURA DO PCP




O QUE INTERESSA PERCEBER

Causou alguma estranheza, inclusive em certos meios de esquerda, a moção de censura do PCP. Não que o PS a não mereça, não que os “superiores interesses da Pátria” a tanto se oponham, mas pela vantagem que ela poderia trazer à direita.
Para se compreender a moção de censura do PCP é preciso antes de mais perceber que o PCP não tem como primeira prioridade política aquilo a que se poderia chamar uma estratégia eleitoral.
Evidentemente que ao PCP interessam as eleições e o resultado eleitoral, mas apenas e só na estrita medida em que tais resultados servem a sua estratégia política.
O PCP não tem qualquer ilusão que as profundas mudanças estruturais que propõe, mesmo que no presente momento histórico não sejam necessariamente incompatíveis com o sistema capitalista, não têm qualquer hipótese de ser levadas à prática pela via eleitoral. O PCP sabe isso e a História confirma-o.
O poder ideológico ao serviço do sistema capitalista é tão forte e penetra tão intensamente por todos os interstícios sociais que inclusive faz com que as pessoas votem e defendam pontos de vista contrários aos seus interesses julgando que os estão a defender.
Sabendo isto, o PCP aposta em tempo de crise em amplos movimentos sociais de contestação e mudança que, segundo o seu ponto de vista, poderiam ser muito mais fortes e abrangentes se o PS não fosse governo. Tais movimentos não só podem impedir retrocessos que a via parlamentar não logra conseguir, como ainda provocar mudanças que, por aquela mesma via, jamais se alcançariam.
De certa forma o PS no Governo funciona para esta estratégia como um travão ao desenvolvimento desses movimentos na medida em que uma parte dos seus apoiantes não se sente à vontade para se manifestar e lutar contra um governo do partido em que votou. Mas que poderia engrossar as fileiras da contestação, se o governo fosse abertamente de direita.
Diferente é a posição do Bloco de Esquerda. Aparentemente o Bloco segue uma estratégia eleitoral e mesmo quando apoia a moção de censura do PCP fá-lo por essa razão, apesar de saber que a precipitação de eleições antecipadas dificilmente o favoreceria.
O Bloco é constituído por gente de muitas proveniências – comunistas arrependidos, trotskistas, estalinistas, maoistas, “albanistas”, titistas, humanistas desinteressados e até socialistas desiludidos, além de uma numerosa e generosa juventude aparentemente anti-sistema, mas sem uma sólida formação ideológica. Daí que se diga que o Bloco se caracteriza mais pelo que não quer do que propriamente pelo que pretende. De todos, os que mantêm mais viva a utopia ainda são os trotskistas, apesar de (ou talvez por isso mesmo), como aqui já se disse, o “trotskismo nunca ter existido”.
O risco que o PCP corre – não com esta moção de censura que não recolherá votos suficientes para derrubar o Governo, mas com a sua queda antecipada – é a de a realidade ficar muito aquém das suas expectativas…

CONCLUINDO SOBRE A ENTREVISTA DE SÓCRATES



AS QUESTÕES DOMÉSTICAS

As medidas anunciadas pelo governo na sequência das imposições do Conselho Europeu e do ECOFIN são, no plano macroeconómico, uma desgraça, como nos posts anteriores já se demonstrou.
Isoladamente encaradas, ou dito de outro modo, encaradas como meio para atingir um fim que qualquer governo do sistema sufragaria, elas são tendencialmente injustas.
É injusto desde logo o IVA, como imposto indirecto que é. Todos os impostos indirectos sejam ad valorem, como o IVA, ou específicos, são injustos porque recaem sobre todos, ricos, pobres e remediados, nos mesmos termos. Apesar de os impostos ad valorem penalizarem mais quem mais consome.
É igualmente injusto o adicional sobre o IRS, que tendo apenas duas taxas – 1% e 1,5% - trata praticamente de modo igual situações muito desiguais. É mesmo incompreensível que não tenha sido aprovado um alto adicional sobre os grandes rendimentos.
É também escandaloso que a banca continue a passar incólume, ou quase, não apenas porque continua com altíssimos lucros, mas principalmente por ser a grande responsável pela crise financeira e tudo o mais que se conhece ligado ao capital especulativo.
A grande polémica sobre “cortar” na despesa ou aumentar os impostos tem algumas variantes susceptíveis de produzir resultados diferentes. Mas o que a direita quer dizer quando pede um "corte" nas despesas é, por um lado, evitar o escassíssimo esforço adicional que no plano dos impostos recai sobre ela, e, por outro, atingir a despesa social.
A direita quer atingir o Serviço Nacional de Saúde, quer atingir a Escola Pública e quer atingir a Segurança Social, pondo a saúde, o ensino e as reformas na mão do capital privado.
Para os ricos e para os muitos ricos estas medidas não trariam qualquer inconveniente e até trarão altíssimas vantagens se eles próprios forem investidores. Para todos os demais, tais medidas são muito piores que os impostos. Incomparavelmente piores, porque o que agora têm gratuito ou tendencialmente gratuito passaria a ser pago e a reforma para que agora obrigatoriamente descontam passaria a ficar, em grande medida, dependente da decisão de cada um.
Mas não é somente esta a despesa que a direita quer “cortar”. Basta ouvir Portas e C.ª para imediatamente se perceber o ódio social que eles votam a quem precisa de ajuda e o esforço que fazem para descredibilizar quem a recebe. Em todos os domínios.
Do programa da direita faz igualmente parte como alvo privilegiado o ataque aos trabalhadores da função pública, a quem, se governassem, confiscariam imediatamente uma parte do rendimento.
Portanto, é preciso, apesar de tudo cautela, porque o que nos espera do lado do PSD/CDS é incomparavelmente pior. E não há qualquer razão para supor que o povo português com a “clarividência política” de que tem dado provas não esteja preparado para cair nos braços dessa mesma direita!

CONTINUANDO COM A ENTREVISTA DE SÓCRATES



AS TAIS PERGUNTAS QUE FICARAM POR FAZER

Deixando para o fim as questões domésticas, as tais que os entrevistadores encaram sempre numa perspectiva reaccionária – a propósito alguém já reparou que praticamente todos os “moderadores” da RTP, dos programas de debate político, principalmente na 1 e na N, são abertamente de direita? E intervêm sempre como se mais um comentador de direita fizesse parte do painel? – ainda há perguntas de outra natureza a fazer a José Sócrates.
Tem Sócrates consciência de que os programas de “ajustamento” impostos à Grécia, a Portugal e à Espanha são altamente recessivos? Aparentemente tem. Sócrates tentou esclarecer que a recessão dos dois próximos anos seria a condição necessária para sair da crise. Sem ela, ou seja, sem as ditas medidas de austeridade, nos termos em que foram tomadas, a recessão ocorreria à mesma com a diferença de que não haveria forma para sair dela.
Nada mais errado. A política que acaba de ser seguida no quadro comunitário não apenas levará à recessão como inevitavelmente conduzirá à falência da Grécia ou, no mínimo, à reestruturação da sua dívida. A partir de agora, tendo em conta os custos da dívida e o nulo crescimento, ou muito provavelmente o decrescimento, da sua economia, a Grécia não terá qualquer hipótese de pagar o que deve.
Muito provavelmente o mesmo acontecerá a Portugal daqui a algum tempo, apesar de a dívida pública portuguesa andar à volta de metade da dívida grega. E para a Espanha o problema não deixará de se pôr nos mesmos termos, principalmente se os juros da dívida continuarem a subir.
Esta política não resolve nada. Apenas adia por mais algum tempo o que inevitavelmente acontecerá.
Outra questão que ficou sem resposta é a seguinte: acha Sócrates que as medidas punitivas propostas pela Alemanha ou, inclusive, a constitucionalização da proibição de endividamento, resolvem os problemas do euro? Pugnou Sócrates alguma vez em Bruxelas, nomeadamente nos momentos críticos, por um orçamento comunitário de tipo federal e por governo económico da União baseado na justiça social e na solidariedade? Não, certamente não, porque isso seria pôr em causa o capital financeiro e a sua extraordinária capacidade para gerar desigualdades à custa das enormíssimas vantagens que retira da presente situação.
Finalmente, têm Sócrates consciência de que a austeridade imposta de fora, sem paternidade definida, por um poder oculto que a todos domina, que faz recair sobre os mesmos de sempre o essencial dos sacrifícios e que gera enormes desigualdades sociais é um factor de deslegitimação do regime político democrático nos termos em que tem sido genericamente praticado? E que tem Sócrates como governante a dizer sobre isto?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

AINDA A ENTREVISTA DE SÓCRATES




O QUE FICOU POR DIZER

Sócrates assentou a entrevista de ontem à noite no discurso oficial de Bruxelas. O mundo mudou em duas semanas, houve necessidade de tomar medidas urgentes para fazer face a uma crise sem precedentes que tinha o euro como vítima mais próxima e a União Europeia como vítima subsequente da desintegração da zona euro.
Em primeiro lugar, seria interessante que se tivesse perguntado a Sócrates quem atacou o euro, em vez de se andar á volta da inútil questão de saber se cedeu ou não cedeu ao PSD ou do incumprimento das promessas eleitorais, com excessiva focalização das perguntas numa subentendida personalidade perversa do entrevistado.
De facto, quem ataca o euro? São os mercados, diria muito provavelmente Sócrates. Mas quem são e o que querem os mercados? Os mercados são os bancos, as seguradoras, as grandes instituições do capital financeiro, nas quais se incluem os fundos de pensões e todos aqueles que têm superavides para investir. Mas se for apenas isso o que aconteceu (e que continua a acontecer), então essa seria a prova mais cabal da irracionalidade dos mercados. Se os mercados começam por atacar a Grécia, levando o ataque aos limites do suportável (ultrapassando os limites como adiante se verá), e depois Portugal, a Irlanda e, principalmente, a Espanha, e sabendo-se, como não poderia deixar de se saber, que tal ataque levado às suas consequências normais, implicaria o fim do euro como moeda única e à falência dos maiores devedores, estaria a prosseguir-se uma finalidade exactamente oposta à pretendida: maximizar os lucros.
Ou seja, há aqui qualquer coisa que não bate certo. Irracionalidade sim, mas não tanta.
E se pensássemos antes que os mercados sabedores e conhecedores das suas fragilidades, resultantes de estarem particularmente expostos às chamadas dívidas soberanas dos grandes países devedores em dificuldades, e com problemas de liquidez semelhantes aos de 2008, entraram numa jogada de alto risco, única que os poderia salvar, de mais uma vez transferirem para os contribuintes o risco das suas carteiras de títulos, através do tal Mecanismo de Estabilização Financeira (MEF), deixando pairar na opinião pública em geral a ideia de que tal Mecanismo se destina a resgatar os países endividados?
É que tal fundo que alimenta o MEF apenas tem um suporte: o contribuinte! E o que agora se está a passar é o mesmo que antes já se passou, em 2008, a escala bem menor: utilizara capacidade de endividamento dos Estados para absorver o “passivo” dos mercados. Não é isso que o BCE já está a fazer? E não vai ser também isso que o MEF fará?
Esta a primeira questão sobre a qual teria interesse ouvir a opinião de Sócrates. Mas haveria outras…eu é que estou com falta de tempo. Talvez logo volte ao assunto.

AS DECLARAÇÕES DE ULRICH




UM PROBLEMA DE CONTENÇÃO OU MAIS DO QUE ISSO?

Não se pode verdadeiramente dizer que as declarações de Ulrich, CEO do BPI, não correspondam à realidade. Como simples constatação da situação financeira portuguesa elas até ficarão aquém da realidade.
É certo que tais declarações são desacompanhadas de qualquer análise, entendendo-se que as análises servem para explicar o que se passou e para abrir pistas para o futuro. Por isso, percebe-se mal o propósito de Ulrich. À primeira vista é um propósito alarmista, que, em princípio, é a última coisa que se espera de um banqueiro, nomeadamente quando o alarme pode prejudicar o seu negócio – e de que maneira!
Já não é a primeira vez que Ulrich actua como ontem fez. E fica sempre a dúvida sobre o verdadeiro leit motiv das suas palavras: se algo se passa com a concorrência que desperta a sua fúria quase suicidária ou se antes uma falta de contenção muito própria de quem a qualquer preço busca audiência que sente faltar-lhe por preconceito académico.
A verdade é que naquele banco estávamos habituados a intervenções de outra classe…

terça-feira, 18 de maio de 2010

A ENTREVISTA DE SÓCRATES

OS ENTREVISTADORES


Infelizmente não ando com muito tempo para "blogar", logo numa época em que tanto havia para dizer.
Reconheço, todavia, que com entrevistadores tão primários é muito difícil aguentar uma entrevista, como espectador, principalmente a Senhora que é tão primária quanto o seu esposo nos programas de futebol.
Como é possível que aquela gente ganhe tanto dinheiro? Como é possível que gente que não sabe nada ganhe tantos milhares por mês? E não se passará isto em muitos outros domínios?

A CRISE DO EURO




A CAMINHO DA RECESSÃO E DO DESEMPREGO

Hoje sabe-se com todos os pormenores como decorreram as reuniões que culminaram com a criação do tal Mecanismo de Estabilidade Financeira, acordado há uma semana, pelOs Ministros das Finanças da zona euro, depois de o assunto ter sido amplamente discutido entre os Chefes de Estado e de Governo.
Tendo-se tornado evidente que a situação da Grécia foi propositadamente degradada pela ausência de medidas eficazes que a poderiam ter atenuado se a tempo e horas a União Europeia tivesse agido e que ela ameaçava alargar-se a outros países, nomeadamente à Espanha, a União Europeia resolveu mudar de rumo, dentro da mesma rota, por ter compreendido in extremis que estava a caminhar para o abismo. Abismo a que os Estados Unidos não escapariam como imediatamente se percebeu quando a bolsa de New York registou uma queda brutal, indiciária de que alguém se estava a ver livre a qualquer preço de títulos que a falência do sistema europeu ameaçava tornar sem valor.
Ai entrou também em cena o próprio Presidente americano que exigiu aos seus congéneres europeus, nomeadamente a Merkel, medidas consistentes contra a crise que a todos ameaçava.
O tal Mecanismo de Estabilidade Financeira que a Alemanha acabou por aceitar a troco de medidas draconianas exigidas aos “países do sul” serviu para assegurar a solvência do sistema, mas não servirá para impedir a sua degradação progressiva.
De facto, o que passado pouco tempo se seguiu já não foi apenas a continuação dos ataques às economias dos países mais débeis, mas a própria descredibilização do euro enquanto moeda comum.
De facto, não é apenas o patrão do Deutsch Bank, Josef Ackermann, que duvida da capacidade da Grécia para pagar a sua dívida, é o próprio Paul Volcker, conselheiro económico de Obama, que admite a desintegração do euro, por entender, como entende a esquerda europeia que propõe um modelo alternativo para a UE, que não pode haver moeda única sem orçamento federal e sem união política.
Todavia, já se percebeu que este não vai ser o caminho seguido. Pelo contrário, vai seguir-se a mesma rota que até aqui tem sido seguida, com a diferença de a partir de agora se imporem medidas ainda mais drásticas para quem não é capaz de “acertar o passo”, havendo até quem advogue que tais medidas deveriam “constitucionalizar-se” para não poderem ser violadas!
Um modelo assente na recessão e no desemprego levará ao desencadeamento de mais ataques especulativos e acabará por minar decisivamente a credibilidade do euro, por, dentro de muito pouco tempo, se tornar evidente para todos o que desde há alguns anos já é para uns poucos: o euro como moeda comum não permite o crescimento no contexto da política monetária e orçamental que o gerou e no quadro da qual ele continua a viver.
A “constitucionalização” das tais medidas draconianas não passa de uma ideia que, se não fosse trágica pelo pensamento político que lhe está associado, seria ridícula. Como se o direito pudesse ser usado como colete-de-forças para impedir a erupção de uma situação que obviamente o supera!
A curto prazo o que desta crise resulta, além das graves medidas de austeridade que vão recair quase exclusivamente sobre o trabalho, é a desvalorização do euro que acaba por ser uma vantagem macroeconómica para todos os que estão mal e um pesadelo para quem tanto quis impor, contra a própria realidade económica, uma moeda forte!
Finalmente, as medidas tomadas pela União Europeia, no quadro da zona euro, não contribuem minimamente para inverter a realidade ainda há pouco evidenciada pelas estatísticas do FMI e suas projecções, no que respeita à relação do défice e da divida entre os países desenvolvidos e os emergentes. A média da dívida e do défice dos primeiros, em 2015, será, respectivamente, de 110,2% e 4,7%, e a dos emergentes de 34,2% e 2,4%, respectivamente.
Esta, em última análise, a raiz do problema.

sábado, 15 de maio de 2010

A DESCENTRALIZAÇÃO DOS AEROPORTOS



O QUE JÁ SE SABIA

Um estudo encomendado pela ANA sobre a descentralização do Aeroporto Sá Carneiro terá concluído que a sua autonomização seria ruinosa pela razão simples de que apenas a gestão integrada dos aeroportos nacionais poderá assegurar a sua rentabilidade.
Tudo isto se sabia. Qualquer pessoa minimamente informada teria antecipado esta conclusão.
Talvez valha a pena reler estes dois posts, um sobre os estudos, outro sobre a privatização da ANA.
Agora só falta saber se a ANA vai ser privatizada ou se o Governo se vai esforçar por encontrar uma outra solução igualmente ruinosa.

EM DEFESA DE BRUNA REAL



JÁ NÃO SE PODE SER BONITA


Mais uma vez Trás-os- Montes dá nas vistas pelas piores razões. Primeiro foram as “”Mães de Bragança” que até tiveram honras de figurar numa revista semanal americana de circulação universal. Agora é a Câmara Municipal de Mirandela que resolve “arquivar” a jovem Bruna Real por ter posado nua para a Playboy.
Conhecendo-se a qualidade estética da revista e as suas exigências artísticas, Mirandela deveria sentir-se orgulhosa de ter na mais consagrada revista mundial de nus femeninos uma reportagem fotográfica de uma das suas mais belas conterrâneas. Mas não, a pobre rapariga professora de Actividades Extracurriculares no primeiro ciclo do Ensino Básico na escola de Torre D. Chama, contratada a “recibos verdes” por menos de 500 euros por mês, já tem o seu destino traçado. De imediato vai para o Arquivo Municipal e no fim do contrato vai para a rua!
A Bruna Real passará a ser, depois deste episódio, mais uma responsável pela crise financeira mundial e certamente uma das responsáveis pela situação económico-financeira do país, por se enquadrar naquele grupo de pessoas que, segundo os “economistas do sistema”, ganha mais do o que merece, consume mais do que o que produz, devendo por isso poder ser despedida livremente para garantir a competitividade da nação!
Trás-os Montes apesar das estradas e das auto-estradas que a ligaram ao mundo e dos satélites de telecomunicações continua por detrás dos montes como se o mundo não existisse. Sócrates perdeu argumentos na defesa da auto-estrada para Bragança...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

EÇA SEMPRE ACTUAL



NO SÉCULO XIX E HOJE

O meu Amigo AD fez-me chegar este naco de prosa de Eça de Queiroz, publicado nas Farpas.
Não é a primeira vez que as análises de Eça feitas há mais de um século continuam actuais. Já foi assim com o Afeganistão e com a Europa. É agora com a Grécia e Portugal.


"Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".

quinta-feira, 13 de maio de 2010

AS MEDIDAS DE SÓCRATES/PASSOS COELHO



O DESPUDOR EM POLÍTICA

Enquanto na América se descobre mais uma vigarice (a juntar às vigarices legais) de quatro grandes bancos de Wall Street, por cá Sócrates e Passos Coelho vão se pondo de acordo sobre como pôr mais uma vez os mesmos de sempre a pagar a crise.
Admite-se que as eventuais divergências possam ter incidido sobre quem tinha a proposta mais branda para quem pode pagar mais e é muito provável que tenham chegado ao compromisso que as medidas enunciadas reflectem: deixar os altos rendimentos e os lucros escandalosos inalterados…porque eles são poucos e não estão habituados a pagar! Qualquer alteração no status quo, concluíram, poderia gerar instabilidade social.
O mais prático para esta direita reaccionária que nos governa é pôr o que ganha 10 e o que ganha 1000 a pagar o mesmo, já que só assim se assegura o princípio da igualdade a que o PS e o PSD são tão apegados, bem como o melífluo Proença e o arremedo de central sindical que em nome daqueles está encarregado de gerir.
Enfim, esta gente perdeu completamente a vergonha. É gente despudorada sem princípios nem valores cujo carácter está espelhado na conduta dessa corja de super boys que pulula nas empresas públicas e participadas, cujo comportamento só veio ao conhecimento público por entretanto terem sido investigados.
Para que se compreenda: o que se pretende dizer é que há uma profunda identidade entre quem governa e esses super boys, sendo estes, por se encontrarem mais resguardados (ou tal suporem), o verdadeiro espelho do carácter daqueles.
Para que se faça uma ideia da abissal diferença que separa, repito, esta direita reaccionária que nos governa de outros políticos europeus que igualmente têm de fazer face ao saque do capital financeiro e especulativo atente-se nos dois exemplos seguintes.
Alain Juppé, gaullista, diz num interessante artigo intitulado: “Você disse rigor?”, que é preciso exigir um sacrifício suplementar àqueles que menos sofrem com a crise, desde que não se ataque as classes médias, mas sim os verdadeiros titulares dos altos rendimentos. E à objecção de que os ricos se irão embora, de que podem fugir, Juppé responde: “Por vezes é preciso escolher o mal menor!”
Zapatero, por seu turno, está a estudar medidas adicionais de redução do défice que incidirão sobre quem tem mais, sem afectar a classe média.
É por estas e por outras que desprezo do povo por esta gente do sistema é total. Pois, mas vai ser preciso passar aos factos, melhor dizendo, aos actos…

BRUXELAS CRIOU MECANISMO (ILEGAL) DE ESTABILIZAÇÃO PARA DEFENDER CAPITAL FINANCEIRO




A CRUA REALIDADE E A DEMAGOGIA


Conhecem-se agora melhor os contornos do famoso “acordo histórico”, a que no domingo passado chegaram, em Bruxelas, os Ministros da Economia e das Finanças, para criação de um “Mecanismo Europeu de Estabilização”. Saudado por alguma imprensa como um novo “salto na integração europeia” ou pela ingénua “esquerda” do PS como o aprofundamento da “solidariedade europeia”, o mecanismo de estabilização não passa de um instrumento destinado a assegurar a defesa do capital financeiro com todas as prerrogativas e prepotências com que hoje actua no mundo, nomeadamente nos seus campos de eleição: os Estados Unidos da América e a União Europeia.
De facto, não há qualquer solidariedade europeia, como o exemplo da Grécia dramaticamente confirmou, nem qualquer aprofundamento da integração, já que o dito mecanismo não tem em vista resolver nenhum dos graves problemas estruturais com que a UE se defronta, antes os agravará e muito – como já se está a ver e se verá muito melhor daqui a uns meses – mas apenas e só garantir a solvência e a voracidade do sistema financeiro.
Durante muitos meses os espoliadores supuseram que poderiam conviver e tirar amplo partido da situação grega, por um lado, porque a dimensão da sua economia parecia não ameaçar a estabilidade do conjunto e, por outro, porque a pressão especulativa exercida sobre ela ia permitindo num curto espaço de tempo duplicar, triplicar, os lucros.
A partir de determinada altura viu-se que a extensão da crise a outros países, a começar por Portugal, poderia atingir muito rapidamente uma massa crítica incontrolável susceptível de afectar economias intermédias em risco, como a Espanha, ou até mesmo grandes economias, como a Itália.
Se tal acontecesse – e nem era preciso que a crise chegasse à Itália, bastava a Espanha - seria o colapso do sistema financeiro euro-americano. Um colapso sem qualquer paralelo com o sofrido em 2008. Agora ninguém escaparia. Certamente que a economia real e as pessoas no seu conjunto sofreriam graves inconvenientes, mas como adiante se verá não foram as pessoas nem a economia real que motivaram a criação do tal mecanismo e das medidas ilegais que na mesma altura foram aprovadas para limitar a soberania económica dos países mais fracos. O que motivou a União Europeia foi a defesa do sistema financeiro internacional tal como existe.
De facto, não há uma única palavra sobre a regulação do dito sistema! Como se sabe, até a regulação dos hedges fund, que qualquer vigarista comum aprovaria, foi rejeitada com a desculpa de que Gordon Brown (mais um “socialista”!) não queria incomodar a City em período eleitoral.
Depois não há uma única palavra nem uma só medida sobre as duas mais graves questões que afectam a maior parte dos países da UE: o emprego e a competitividade das economias mais débeis no contexto de um espaço económico com uma moeda única forte e níveis de desenvolvimento económico muito desiguais. Nada! O que há é a certeza de que o capital financeiro e especulativo pode continuar a actuar à margem de qualquer regulamentação que tem desde já assegurada a retribuição da sua acção saqueadora!
Quem ligar o que domingo foi acordado (ilegalmente) em Bruxelas com a doutrina que resulta do acórdão do Tribunal Constitucional Alemão, à sombra do qual Merkel se tem acoitado durante a crise grega, que limitava a acção de Bruxelas estritamente ao estabelecido no Tratado de Lisboa, não permitindo qualquer actuação ultra vires, a ponto de ser o Parlamento alemão que agora controla a legislação comunitária, não pode deixar de considerar espantoso que para defesa do capital financeiro e especulativo se tenha permitido uma tão extraordinária excepção àquele princípio…apenas justificável porque ela vai aplicar-se, na prática, somente aos endividados Estados do Sul!
Para que se compreenda melhor em que consiste o dito acordo, nada como descrevê-lo nas suas linhas gerais.
Começa por se afirmar que é criado o tal Mecanismo de Estabilização Financeira que juntamente com o FMI mobilizará 750 mil milhões de euros para “ajudar” os países em dificuldades. E como se processa a ajuda? A ajuda processa-se do seguinte modo: é Bruxelas que estabelece os critérios a que devem obedecer os PEC e os orçamentos nacionais. A partir de agora os PEC e os orçamentos nacionais serão submetidos a Bruxelas, ao que parece ao Conselho, para aprovação e confirmação de que foram elaborados segundo as directivas anteriormente estabelecidas. Estas medidas serão ainda de aplicação mais restrita aos países da zona euro. A isto se chama “reforço da coordenação económica”!
Ou seja, trata-se de um controlo macroeconómico ilegal nos seus meios que despreza por completo o crescimento, que aposta em políticas recessivas para assegurar o pagamento da dívida, que omite completamente a questão do emprego – aliás, estas consequências estão intimamente ligadas – e que não avança com uma única ideia para melhorar a competitividade das economias mais fracas.
O lema da União Europeia é, cada vez mais, o seguinte: flexibilizar os mercados, “recuperar” a competitividade e reformar o Estado Providência. Numa palavra deixar o capital completamente à solta, como senhor absoluto dos nossos destinos, e acabar com tudo o que no Estado não sejam o controlo financeiro e as funções policiais.
As consequências desta crise vão ser muito diferentes das de 29. Agora ficará tudo pior e capitalismo ainda mais selvagem do que já era. Tudo isto é motivo para outra reflexão, mas a primeira e óbvia conclusão que se pode começar a tirar é que o voto perdeu sentido e a que a democracia representativa, mesmo com todas as grandes limitações com que tem funcionado desde que foi implantada no século XVIII nos Estados Unidos da América, esgotou as possibilidades da sua defesa no quadro dos procedimentos tradicionais de legitimação. Doravante terá de ser por outra via…

segunda-feira, 10 de maio de 2010

NOVO SAQUE À VISTA!




O ABISMO ESPERA-NOS SE...

Dificilmente se vivem tempos como os actuais. Tanto pela experiência de vida como pela história podem viver-se ou conhecer-se épocas marcantes, qualquer que seja o critério adoptado. Períodos de euforia, de luta, de esperança, de desânimo, de guerra, enfim, os mais variados acontecimentos que o género humano e a natureza são capazes de proporcionar.
Mas dificilmente se terá vivido, considerando o nível de desenvolvimento moral e civilizacional já atingido pela humanidade, um período em que se assista a um saque tão escandaloso do património da maior parte da sociedade por um punhado de especuladores que, dominando o capital financeiro, transformaram a generalidade dos governos em verdadeiros lacaios dos seus interesses, incapazes de um gesto de independência relativamente a esse domínio.
Enquanto os mercados de capitais não forem atacados com a mesma eficácia e com a mesma convicção com que se ataca um bando de ladrões não voltará a haver tranquilidade no mundo. Cada um tem de fazer a sua parte, tendo sempre presente que não pode contar com os governos nem com qualquer apoio institucional para travar este combate.
Mas como isto não vai lá com palavras, têm de ser os povos à medida que vão sendo atingidos pelo saque e vão ganhando consciência da magnitude do que está em jogo a travar essa luta com todos os meios que tiverem à mão sem outra preocupação que não seja a de obter um resultado: derrotar o capital financeiro!
Para que se faça uma ideia: nos últimos anos, a economia mundial cresceu à volta de 4%; o comércio mundial 4,5%; e o movimento de capitais 60%! Como é possível conviver com um sector financeiro que em algumas décadas cresceu várias vezes mais do que a economia real?
É neste contexto que se inserem as novas medidas acordadas em Bruxelas para Portugal e outros países. Através dessas medidas não se trata, como a experiência já demonstrou, de fazer conjunturalmente sacrifícios para garantir a médio prazo o crescimento da economia, o desenvolvimento económico, o fomento do emprego, enfim, aqueles objectivos que justificariam um sacrifício presente para alcançar uma vantagem futura.
Nada disso. O resultado destes sacrifícios é estagnação económica, mais desemprego, menores salários, mais encargos. E quem ganha com isso? Antes de mais vão ganhar todos aqueles que tiverem de pagar menores salários, aqueles para os quais forem transferidos os bens públicos rentáveis e, obviamente, o capital financeiro que, continuando a fazer empréstimos a preços especulativos, duplicará, triplicará, facilmente os lucros e terá por aquela via garantida o reembolso da dívida…que não cessará de crescer.
Por outro lado, a Europa no seu conjunto enfrenta um problema de competitividade tal como o mundo é entendido. E se neste contexto há questões a curto, médio prazo, incontornáveis, como a questão demográfica, outras há que somente são questões porque o capital organizou a vida das pessoas e das sociedades de tal modo que transforma num problema de competitividade aquilo que à partida não o era. Referimo-nos fundamentalmente aos movimentos de capitais, à actividade financeira no seu conjunto, mas também aos produtos agrícolas, pecuários e manufacturados oriundos de países terceiros, nomeadamente emergentes.
Em primeiro lugar, a dificuldade em atacar estas questões resulta de estarmos a lidar com um grande espaço económico livre que não está sujeito a uma direcção política única. Contrariamente ao que se passa com outro grande mercado – o dos Estados Unidos – onde se podem tomar medidas de natureza política uniformes a partir de um único centro de decisão, na Europa isso não acontece: não há qualquer governo uniforme da economia. O único governo que existe é a ausência de governo.
Enquanto as coisas continuarem assim os países europeus, uns mais do que outros, mas todos em geral, vão continuar a agravar os desequilíbrios nas suas balanças de pagamentos e comerciais de nada valendo o chamado equilíbrio orçamental que, sendo feito nos moldes preconizados por Bruxelas, ainda contribuirá para agravar mais aquele desequilíbrio. Alguns podem momentaneamente mascarar esses desequilíbrios à custa da criação de desequilíbrios dentro da própria União, como em certa medida se está a passar com a Alemanha, mas isso não resolve o problema, como a crise dos países do sul amplamente ilustra, já que por essa via se mantém o desequilíbrio estrutural do conjunto apenas o transferindo geograficamente de um país para outros
Em conclusão, as medidas anunciadas ou a anunciar pelo Governo apenas servem para consolidar o saque acima referido sem que entre elas e o chamado interesse geral haja qualquer coincidência. Não é que este governo seja particularmente perverso, ou que outro do mesmo quadrante sistémico possa fazer diferente, o que se passa é que este é o lacaio de turno.
Por outro lado, tais medidas e tudo o que lhes está associado demonstram que o voto popular perdeu sentido e de nada vale perante os poderes da finança, como de resto o ministro Santos Silva com a sua conhecida falta de talento e de vergonha já se encarregou de confirmar.
Só que esta conclusão engendra outra. Se de facto o voto nada vale, porque o seu sentido pode ser mudado por via de um poder que o condiciona e desvaloriza, então este problema não pode ser resolvido através do voto. Tem que ser resolvido por outra via!

AS "PREOCUPAÇÕES" DE EX-MINISTROS DAS FINANÇAS

QUE CREDIBILIDADE?

Dez ex- Ministros das Finanças foram a Belém dar conta ao Presidente da República da preocupação com que encaram a situação financeira portuguesa.
Para a representação ter ficado completa deveriam ter levado Constâncio e Braga de Macedo. Entre os que lá foram, Jacinto Nunes destoa claramente do conjunto, por razões que toda a gente compreenderá, e é pena que tenha desempenhado o papel de “idiota útil”.
Antes de mais nada, esta diligência deve ser interpretada como uma pressão sobre o Presidente da República com vista a uma maior intervenção. Como os poderes do PR estão constitucionalmente fixados, as personalidades que foram a Belém, de resto em consonância com as intervenções que a maior parte delas vinha individualmente fazendo, demonstram um fraquíssimo apego à legalidade constitucional e entendem que a economia, tal como elas a interpretam, justifica todas as excepções.
Ainda a título preliminar, convém dizer que no plano da cidadania e da defesa do interesse comum, as ditas personalidades, pelo seu passado político e pelo modo como se inserem na sociedade democrática, não oferecem qualquer garantia de defesa daqueles interesses.
A maior parte delas está altamente comprometida com o grande capital, algumas com o próprio capital financeiro – o grande responsável pela actual situação; outras passaram directamente do Governo para as empresas que tutelavam; outras têm oscilado nos seus apoios políticos consoante as altas benesses que lhes são previamente garantidas, sempre à custa do erário público; outras ainda beneficiam de reformas milionárias por elas próprias votadas ou construídas à custa do capital das empresas sob a sua gestão; outras passaram vagamente por instituições públicas e cobram por essa passagem uma reforma superior a uma dezena de salários médios; outras, enfim, nem sequer gozam de uma saúde mental recomendável.
Dito isto, não será difícil prever o que as ditas personalidades foram dizer a Belém. Que o défice deve ser reduzido ainda mais à custa do congelamento de salários ou mesmo do seu abaixamento, do congelamento das baixas pensões, do corte de despesas sociais, da redução do investimento público, enfim, a receita do costume, recessiva, sem perspectivas e com total ausência de preocupações sociais, a começar pela insensibilidade relativamente à questão do emprego.
Sobre o contexto em que tudo isto acontece, porque acontece e que políticas alternativas poderiam e deveriam ser postas em prática, tanto a nível nacional como europeu, não é de crer, a avaliar pelos antecedentes, que tenham dito uma única palavra.

domingo, 9 de maio de 2010

HÁ 65 ANOS TERMINOU NA EUROPA A II GUERRA MUNDIAL




A HISTÓRIA FEITA PELOS VENCEDORES

Há 65 anos terminou formalmente a II Guerra Mundial na Europa, apesar de a rendição de Berlim ter ocorrido no dia 2 de Maio, às sete menos um quarto da manhã, hora a que o Marechal Zhukov a aceitou com a indicação de que o cessar-fogo entraria em vigor às três da tarde do mesmo dia.
As rendições foram-se sucedendo nos dias subsequentes nas diferentes frentes de guerra, tendo a 6 de Maio o General Jodl apresentado em Reims a Eisenhower a capitulação de todas as forças alemãs na frente ocidental. Todavia, o Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa comunicou-lhe, sem hesitações, que apenas seria aceite uma rendição completa de todas as forças alemãs, a leste e a oeste.
Dönitz que pretendia apresentar a capitulação apenas às forças ocidentais não teve outra solução que não fosse a de autorizar Jodl à rendição completa de todas as frentes, o que aconteceu pouco depois da uma da manhã do dia 7 na presença do general Suslaparov da URSS e do General François Sevez da França. O documento foi depois assinado pelo General Bedell Smith em nome da Força Expedicionária Aliada.
A rendição entraria em vigor 59 minutos antes da meia-noite de 8 de Maio. Durante esse dia ainda muito se combateu na Checoslováquia, tanto a leste, como em Praga, acabando as forças alemãs por se render incondicionalmente perto das seis da manhã de 8 de Maio. Mas em vários outros pontos da Europa ainda se combateu durante todo o dia 8 em virtude da resistência desesperada de algumas forças alemãs.
Finalmente, em Berlim, meia hora antes da meia-noite do dia 8 de Maio, novo termo de rendição substituía o assinado em Reims. No entanto, durante o dia 9 ainda se combateu na Silésia e várias outras rendições de forças isoladas tiveram lugar tanto a leste como a oeste nos dias subsequentes.
Os aliados ocidentais celebram a 8 de Maio o dia da vitória. Na URSS, e agora na Rússia, o dia da vitória é celebrado a 9 de Maio.
O fim da Segunda Guerra Mundial marca o fim da barbárie nazi e de um regime criminoso que exacerbou a sua irracionalidade, principalmente no último ano de guerra, à medida que se ia tornando cada vez mais evidente o inexorável destino que o esperava.
O facto de a Alemanha derrotada ter sido tratada, tanto a oeste como a leste, de forma muito diferente do que tinha acontecido vinte e sete anos antes, pelo Tratado de Versalhes que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial, não significa que a história de II Guerra Mundial não tenha sido até hoje uma história escrita pelos vencedores e pelo judaísmo internacional.
Mais tarde ou mais cedo, certas questões escassamente tratadas ou mesmo omitidas pela “historiografia oficial” começarão a ser estudadas, principalmente na Alemanha, não sendo de estranhar que a sua evidência possa suscitar algum revivalismo pernicioso. Certamente que não será de esperar nada de semelhante ao que ocorreu entre as duas Guerras, mas há hoje formas mais subtis, principalmente por via da força do poder económico, capazes de produzir resultados igualmente muito negativos.
O mesmo se diga da obstinada posição judaica de não aceitar nenhuma outra versão do Holocausto e da “Solução Final” que não a imposta pela historiografia oficial judaica.
Nestas matérias, como em muitas outras, os dogmas que tendem a substituir factos empiricamente comprováveis nunca foram nem são bons conselheiros….

A CANDIDATURA DE ALEGRE


UMA ESTRATÉGIA ERRADA?

É evidente para qualquer observador que a candidatura de Alegre se debate, a cada dia que passa, com maiores dificuldades. Ela foi prejudicada principalmente pela crise da dívida mais do que pelo défice e por uma estratégia que dificilmente poderá dar certo, apesar de ter de se reconhecer que as opções em presença eram difíceis.
O défice e a crise da dívida fizeram emergir Cavaco. Antes de mais porque a generalidade da população, a começar pelos “analistas”, acha que Cavaco tem conhecimentos especiais sobre a matéria. Cavaco sabe disso e aproveitou e tem aproveitado bem o contexto económico-financeiro para consolidar a sua candidatura, actuando fundamentalmente como bom político eleitoralista que é.
Começou por aparecer relativamente colado às posições do PSD, dito de outro modo mais correcto: começou por influenciar as posições do PSD/Ferreira Leite, alertando para os perigos do crescimento exponencial da dívida (sem nada oferecer em troca, excepto o não endividamento), mas logo que a derrota eleitoral desta facção se consumou, passou a apoiar o Governo e o seu PEC aprovado por Bruxelas. Recusou, contra a opinião dos falcões da economia neoliberal, ir mais além no tratamento da questão. Mais tarde, quando estalou a crise da dívida, manteve o apoio ao Governo e somente quando o Banco Central Europeu, por intermédio de Constâncio, veio dizer que era necessário ir mais além na luta contra a dívida, reponderando alguns investimentos públicos, é que Cavaco, sabedor do peso daquelas palavras dentro do Governo, passou a defender em termos brandos algo semelhante ao quer já sabia viria a ser aceite.
Com esta actuação tipicamente político-eleitoralista, que nada tem de especialista de finanças públicas, salvo a de ser posta em prática por financista, Cavaco não alienou nunca aquele eleitorado PS com que conta para vencer na primeira volta e confiou na ausência de alternativa da demais direita, por muito que a esta lhe vá custando a ausência de um Presidente mais interventor e menos pro-governamental.
Perante este cenário, há muito desenhado, com que Alegre deveria contar, o candidato-poeta optou por um abaixamento, quase silenciamento, das críticas ao Governo e aos seus planos de combate ao défice na esperança de assim conseguir o apoio oficial do partido para a sua candidatura.
A verdade é que com esta estratégia não ganhou absolutamente nada e até pode ter perdido apoios que de outra forma poderia ter. Não ganhou nada nas águas onde Cavaco navega nem nas áreas do PS que não o aceitam como candidato do partido. Uns e outros sentem-se muito mais bem representados por Cavaco do que por Alegre. E talvez tenha perdido o apoio dos que não apreciam a sua aproximação ao Governo, tanto à esquerda, como à direita. Em suma, o apoio oficial do PS que Alegre tão denodadamente perseguiu acabará por lhe trazer mais prejuízos do que vantagens. A boa estratégia teria sido – e há uns meses supunha-se que iria ser – manter o rumo e deixar a questão do apoio do PS como problema do PS e do Governo. Ao transformar este apoio num problema seu, Alegre perdeu, como se disse, dos dois lados e não ganhou nada onde antes já não ganhava.

GOVERNO RECUA NOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS



UM GOVERNO SEM RUMO

Regressado a Lisboa quinze dias depois, é sem surpresa que encontro no topo da actualidade nacional a crise financeira e económica, agora potenciada pelos ataques especulativos aos chamados países frágeis da zona euro (inventaram a metáfora para a aplicar aos africanos e agora aplica-se em casa…).
Quis o acaso que o primeiro contacto com as televisões nacionais tivesse tido por protagonista o professor Jacinto Nunes que, num programa do Gomes Ferreira, era entrevistado sobre o tema do momento. Jacinto Nunes é seguramente um dos poucos economistas que se pode ouvir. Sabe do que fala, conhece os clássicos e os modernos, tem um discurso racional e é sensato. Comparado com essa legião de “generais derrotados”, ouvidos por Cavaco e por Passos Coelho, ou com esses outros “coronéis da economia” que apoiam o governo, vê-se que há uma grande, enorme, distância entre o seu discurso feito de saber consolidado e a vulgata neo-liberal ou pretensamente neo-keynesiana debitada acriticamente por uns e por outros.
Estes nossos economistas do establishment, sem excepção, fazem-me lembrar aqueles marxistas que na década de sessenta e de setenta “estudavam” Marx pelos “Principios Elementales de Filosofia” de Georges Politzer, com a diferença de que este, no final dos capítulos, ainda fazia remissões para os “clássicos”…enquanto as vulgatas que ilustram o “saber” daqueles economistas são ainda mais primárias e nem sequer em português legível estão escritas
Não se quer isto dizer que se concorde com tudo o que disse Jacinto Nunes ou que o seu posicionamento ideológico seja igual ao nosso. Nada disso: apenas se quer dizer que o seu discurso faz sentido, tem consistência e atende à realidade na sua totalidade. E isso, por mais elementar que possa parecer, marca a diferença.
A questão dos grandes investimentos públicos tal como desde sempre foi apresentada pelo Governo, principalmente por Sócrates, pelo Ministro das Finanças e pelos Ministros das Obras Públicas e defendidos pelos tais “coronéis da economia” que apoiam o governo – para ser mais claro: aqueles tipos que o PS tem nas empresas públicas a preparar a sua passagem para o capital privado mais aqueles que estão nas empresas privadas “nomeados” pelo Governo ou que para lá foram depois de terem passado pelo Governo para “facilitar” os negócios – nunca obedeceu a uma lógica económica consistente, nem nunca teve devidamente em conta o contexto económico e financeiro em que teriam de ser realizados.
A ideia com que se ficava, principalmente depois de declarada a crise financeira de 2008 originada na América, rapidamente propagada ao restante mundo desenvolvido e logo a seguir transformada em grave crise económico-social, era a de que o Governo tinha uma vaga crença de que tais investimentos poderiam ajudar ao crescimento económico, eventualmente contribuir para estancar ou fazer diminuir o desemprego, e de que acima de tudo era preciso apoiar as grandes empresas e os bancos por razões político-económicas. Este segundo objectivo é partilhado por todo o PS, sem excepções, que vê no desenvolvimento e consolidação dos grandes grupos económicos a fonte de progresso económico e de prosperidade da sociedade, além de por essa via garantir, como retribuição, um apoio político incondicional. É este “pensamento” económico que leva o PS no Governo às parcerias público-privadas, de que as SCUTS são o exemplo mais emblemático, e a uma protecção sem paralelo do capital financeiro.
Este modelo de investimento público estaria condenado ao insucesso em qualquer contexto económico, mas um contexto de crise económica e financeira como o actual, com manifestações acentuadas na chamada “crise da dívida”, tornam-no financeiramente impossível. Daí que o Governo tivesse de recuar. Só que o recuo do Governo, como sempre, é feito para o pior lado. Ou seja, o Governo abdica dos investimentos que tinha em vista fazer e, em contra-partida, contenta-se com uma política recessiva de nulo crescimento económico, baixos salários e altos níveis de desemprego que necessariamente vai levar a mais sacrifícios e a mais cortes orçamentais em domínios onde cortar é aceitar mudar ou preparar a mudança para um modelo económico ainda mais acentuadamente neo-liberal.
Por aqui se vê como era falsa a tal política neo-keynesiana do Governo. Se o Governo tivesse realmente em vista o relançamento da procura, manteria um nível adequado de investimento público que tivesse por efeito imediato aquele relançamento, de preferência pela via do apoio ao emprego. Abdicando dos grandes investimentos sem nada propor em sua substituição, o Governo escolhe a pior via e acoita-se à protecção das políticas neoliberais recessivas que nada de bom lhe darão de volta e que inclusive ditarão, a muito curto prazo, a sua substituição.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

RICARDO RODRIGUES E O ESTADO DE DIREITO


O RECURSO À ACÇÃO DIRECTA

O deputado socialista, Ricardo Rodrigues, que se tem notabilizado por desempenhar no Parlamento um papel semelhante ao de certos jogadores do meio-campo a quem os treinadores de futebol encarregam da tarefa de destruir o jogo do adversário por todos os meios - o chamado "trabalho sujo", no dizer dos comentadores brasileiros -, passou ontem à acção directa...e não foi expulso!
Tal como os delinquentes apanhados em flagrante também ele alegou "coacção psicológica insuportável" para justificar a conduta que o levou a apoderar-se pela força de dois gravadores dos jornalistas que o tentavam entrevistar.
Mas se um dia destes alguém no Parlamento vier defender o crime de enriquecimento ilícito lá estará ele para o inviabilizar em nome da defesa do Estado de Direito.
E o PS o que diz a isto? Mas não é Ricardo Rodrigues que fala no Parlamento em nome do PS?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

COMISSÃO EUROPEIA "AMEAÇA" AGÊNCIAS DE RATING




"AGARREM-ME SENÃO..."

Li ontem nos jornais que a UE ameaçou as agências de rating. A Comissão Europeia só pode estar a brincar connosco. Aliás, uma brincadeira de mau gosto. Depois de tudo o que se passou com as agências de rating, a Comissão "avisa-as"de que se "não se portarem bem" poderá criar uma agência ou, pior ainda, "obrigá-las" a fundamentar as suas notações.
A Comissão Europeia, qual donzela inocente, desconhece tudo o que se tem passado com as agências de rating e ignora o seu "contributo" para o desencadeamento da crise financeira de 2008. A Comissão Europeia desconhece igualmente o seu papel como ponta de lança do capital financeiro e especulativo. Precisa, portanto, de mais provas...e de avaliar os fundamentos das notações!
A Comissão Europeia, tão ingénua, não sabe que as notações visam produzir um resultado, o qual, uma vez verificado, como quase sempre tem acontecido, constitui a melhor prova de que os factos que as fundamentaram foram correctamente interpretados. Ou seja, a prova de que a desgraduação da dívida grega é correcta...está no facto de os novos empréstimos estarem a ser contraídos a um juro mais elevado.
Enfim, não há hipocrisia que se compare à europeia, nomeadamente à de Bruxelas!