quinta-feira, 31 de março de 2011

A COMUNICAÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


O PS ENTRE O PASSADO E O FUTURO


Enquanto o PS, vai oscilando entre a defesa das teses de Sócrates e um ostensivo apelo à formação do Bloco Central, o Presidente da República no seu estilo – pão, pão, queijo, queijo – não agradeceu a Sócrates o exercício das funções (seguramente porque acha que seria uma imperdoável hipocrisia enveredar por tal caminho), fez um apelo velado à maioria absoluta (“que as eleições permitam alcançar um compromisso estratégico de médio prazo”), que logo a seguir matizou, dando a entender que ele poderia não resultar directamente dos resultados eleitorais, e por fim tentou empurrar o Governo – no que foi logo a seguir secundado pelo PSD – para um “pedido de resgate”, se tanto exigirem as necessidades de financiamento da economia nacional.

Nesta linha suicidária de continuidade em que com pequenas nuances se colocam o Presidente da República, o PSD, o PS e o CDS, é interessante analisar o comportamento destes diversos intervenientes.

Portas, tendo perfeita consciência dos riscos que corre, esforça-se por parecer diferente, por dar a entender que não se insere na linha de continuidade, a fim de ganhar espaço que lhe permita tornar-se indispensável ao PSD, para assim atenuar as consequências do inevitável acordo que este terá de fazer com o PS. De facto, sabendo Portas que cobre uma área social politicamente pouco relevante face à cobertura que o PSD assegura, praticamente coincidente com a sua, e que à política económica continuísta do novo governo interessa assegurar por razões político-sociais o apoio do PS, só lhe resta lutar por um score eleitoral que assegure a maioria absoluta em coligação com o PSD, para assim o tornar imprescindível, independentemente dos acordos que venham a alcançar-se com o PS.

Do lado do PS, as posições têm oscilado entre os que seguem a linha Sócrates, responsabilizando, sem apelo nem agravo, o PSD pelo desencadeamento da crise e suas consequências e os que já apelam a um acordo ou “compromisso patriótico”, qualquer que seja o resultado das eleições. Na primeira posição, além de Sócrates, Silva Pereira e Vieira da Silva, está também Assis, que ora vai crispando o discurso, ora o vai amaciando, jogando nas duas hipóteses, não “vá o diabo tecê-las”…Já António José Seguro tendo por certa a abertura da época pós-Sócrates no dia 5 de Junho à noite, vai fazendo o papel de “bem-comportadinho”, deixando claro que, com ele se pode contar, para a formação dos compromissos indispensáveis à política de direita, que ele naturalmente tenta fazer crer – ou acredita mesmo - que é patriótica.

Portanto, a grande diferença entre Sócrates e os seus putativos sucessores é bem fácil de enunciar: enquanto Sócrates quer fazer a política de direita sozinho, sem interferências do partido rival, embora com o seu apoio, voluntário ou involuntário, aqueles que se perfilam para lhe suceder são menos ambiciosos: partem derrotados, porventura pelo desejo de se verem livres de Sócrates, e preparam-se para ser a “muleta patriótica” da direita.

Já do lado do PSD e de Cavaco, a questão é muito clara, tão importante como “chegar ao pote” – e essa questão não se põe para Cavaco – é a total ausência de confiança em Sócrates. É incrível como Passos Coelho tem demonstrado uma total inabilidade para justificar a actuação do partido. Como ele é de facto muito fraco é bem provável que daqui até às eleições ele ainda acabe por dar a Sócrates a “terceira oportunidade”.

CELEBRAÇÃO DO 25 DE ABRIL


PARLAMENTO CANCELA SESSÃO COMEMORATIVA: CERTO OU ERRADO?


Com a mais que provável dissolução da AR, por decisão de hoje do PR, os grupos parlamentares já decidiram que este ano não haveria sessão solene comemorativa do 25 de Abril.

A decisão tem sido alvo de inúmeras críticas. Desde Freitas do Amaral a Vasco Lourenço muitos são os que se têm insurgido contra aquela decisão por a julgarem atentatória da memória histórica.

É duvidoso que tenham razão. O 25 de Abril fez-se na rua e nos quartéis. Ou mais correctamente, forjou-se nos quartéis e teve na rua a sua consagração máxima.

Há muitos anos que a celebração do 25 de Abril no Parlamento não passa de um lamentável espectáculo de hipocrisia política. Desde um Presidente da República que nunca se identificou com os símbolos de Abril e por isso sempre os recusou – o que de certa maneira até é louvável – até àqueles para os quais todas as referências a Abril, desde as mais significativas – a Constituição - às mais ténues, são descartáveis, sem falar nos que apenas as querem guardar como valores meramente simbólicos sem qualquer tradução política prática, o 25 de Abril tem sido, em muitos anos, nas comemorações da Assembleia da República, uma data que tem servido muito mais para o atacar do que para o enaltecer e comemorar.

É na rua que o 25 de Abril deve ser comemorado e este ano mais do que nunca como manifestação inequívoca de um Povo que rejeita uma política capitulacionista, que ofende a dignidade nacional, empobrece o país e remete Portugal e os Portugueses para um beco sem saída como raramente, ou talvez nunca, tenha acontecido na História Pátria.

quarta-feira, 30 de março de 2011

LULA, DOUTOR HONORIS CAUSA


LULA, O GRANDE ESTADISTA DO NOSSO TEMPO


É já hoje um lugar-comum qualificar Lula, ex-Presidente do Brasil, como um dos grandes estadistas do nosso tempo. Porém, Lula é muito mais do que isso: ele é um dos maiores estadistas mundiais dos tempos modernos.

Normalmente, a opinio communis considera grandes estadistas aqueles que se notabilizaram por feitos guerreiros, quase sempre levados a cabo por outros, por mais importante que tenha sido o seu papel na condução política da guerra ou aqueles que dilataram fronteiras ou constituíram impérios que lhes permitiram depois desempenhar um papel hegemónico na comunidade internacional. Lula não fez nada disso, nem nunca esteve no seu propósito fazê-lo.

No plano interno, Lula retirou da miséria e da exclusão social milhões de pessoas e fez transitar para a classe média outros tantos milhões. Tudo isto Lula conseguiu fazer com um apoio popular de quase 90% dos brasileiros, num país, como o Brasil, socialmente muito marcado pela sua história, no qual as grandes oligarquias nacionais e as pequenas oligarquias locais sempre tinham constituído um obstáculo intransponível a qualquer reforma social que visasse a assegurar a verdadeira cidadania à maior parte dos seus quase duzentos milhões de habitantes. Simultaneamente, Lula fez crescer o Brasil como em nenhuma outra época da sua história, contribuindo com a sua política, não apenas para uma muito mais justa distribuição do rendimento, mas também para que o Brasil passasse a ser um país verdadeiramente independente, desagrilhoando-o das cadeias com que os credores internacionais ciclicamente o aperreavam e subjugavam aos seus interesses.

No plano externo, Lula conseguiu, pela primeira vez na história do Brasil, proporcionar a todos os brasileiros a auto-estima, o orgulho de pertencerem a um grande país, que adquiriu por mérito próprio um lugar incontornável no concerto das nações. Sem subserviências de nenhuma espécie, pondo em prática uma política externa independente, visando obviamente a defesa dos interesses nacionais, mas contribuindo, do mesmo passo, para relações mais equitativas entre o norte e o sul.

Menos de três meses depois de Lula ter deixado o Palácio do Planalto, já há quem vislumbre ou mesmo quem aplauda indícios de uma política externa diferente relativamente ao grande vizinho do norte, que a verificar-se se viria a traduzir, como sempre, numa relação desigual marcada pelo estigma de quem não é capaz de conceber as relações internacionais senão sob o signo da subserviência ou do domínio.

Ainda é muito cedo para recear que a herança de Lula na política externa possa ser adulterada e substituída por uma outra que tenda a alinhar pela defesa hipócrita dos direitos humanos, tal como os concebem aqueles que à menor oportunidade aí estão a demonstra-nos que são exactamente iguais aos seus antecessores.

Que sirva de lição aos brasileiros a arrogância de que Obama deu provas na recente visita ao Brasil, onde nem sequer se coibiu de em território brasileiro fazer uma verdadeira declaração de guerra à Líbia, com o mesmo à vontade com que o faria na Sala Oval.

Foi, assim, à inigualável obra de Luís Inácio Lula da Silva, e por intermédio dele ao Povo Brasileiro, que a Universidade de Coimbra, que tanto representa na história do Brasil, lhe concedeu muito justamente o grau do Doutor Honoris Causa.

segunda-feira, 28 de março de 2011

NOTAS DE FIM DE SEMANA


A CRISE, A ALEMANHA E A LÍBIA


1- A CRISE POLÍTICA EM PORTUGAL - Como seria de esperar PS e PSD engalfinham-se na pré-campanha eleitoral, responsabilizando-se mutuamente pelo desencadeamento da crise política e tentando cada um deles demonstrar que o outro tem uma política mais à direita do que a sua. Enquanto tal, o CDS temendo ser “empalitado” tenta fazer valer os seus trunfos de modo a tornar-se imprescindível, atacando o PSD quase tanto como o PS, não para poder discutir qualquer programa de governo – nisso o CDS não é esquisito – mas para discutir a repartição do poder, o que somente conseguirá se inviabilizar a participação do PS no próximo governo. Sócrates, com a sua habitual demagogia e conhecida perfídia, ataca o PSD em nome de princípios que o seu partido não pratica e que a sua governação diariamente renega, na certeza de que tal discurso é suficiente para arregimentar a “esquerda” do PS, sempre na antecipada certeza de que para esta o que conta são as palavras, já que a avaliação dos actos ficará subordinada àquilo que a “emergência da situação” permitir que se faça. Como Sócrates os conhece…

Neste contexto, o PSD sente-se “entalado” pela inépcia dos seus principais responsáveis políticos e pela tentativa de conciliar o inconciliável. Entre os que querem dizer claramente ao que vem e os que, embora querendo seguir o mesmo caminho, sentem necessidade de matizar o discurso ou até de o obscurecer com questões secundárias, lá vai o PSD caminhando de contradição em contradição, tentando capitalizar a partir dos escombros deixados por Sócrates.



2 - ELEIÇÕES REGIONAIS NA ALEMANHA – O partido de Merkel, que governava o land Badden-Würtemberg desde 1953, perdeu chefia do governo para os Verdes, que governarão aliados aos social-democratas.

Energia nuclear à parte, ponto é saber se esta derrota tem assim tanta importância fora da Alemanha ou até mesmo se há algum motivo para rejubilar.


3 - NATO NA LÍBIA – A NATO encarrega-se de multiplicar os inimigos. Ela melhor do que ninguém sabe fazer a sua própria contra-propaganda.

sábado, 26 de março de 2011

AINDA SOBRE O QUE VEM A SEGUIR


COMO ELES VÊEM AS COISAS


Se tudo correr como parece que vai correr, ou seja, se os partidos concorrerem separadamente a eleições – e sobre isto a última palavra ainda não está dita – o mais provável, dado o clima de intoxicação reinante nos media, é que o PSD ganhe sem maioria absoluta e o PS se posicione a seguir.
Neste caso, muito dificilmente Sócrates terá condições para continuar à frente do PS, tanto mais que está em curso uma grande pressão no sentido de o PS se associar ao governo, sem Sócrates. Ou seja, algo de semelhante ao que aconteceu nas penúltimas eleições alemãs.
É claro que esta hipótese só terá viabilidade se a analogia com a situação alemã for completa ou quase. Ou seja, para que o PS aceite integrar um governo de Bloco Central será necessário que o PSD não faça maioria com o CDS, porque, se fizer, o PS sabe que a sua posição no Executivo seria de extrema fragilidade e teria apenas por função coonestar as políticas do PSD, o qual, depois de feito “o resto do trabalho sujo”, sempre poderia recorrer ao CDS para concluir apenas com ele a legislatura.
Portanto, esta via do “Bloco Central” que tanto assusta Portas só seria possível no quadro descrito. Noutro contexto, o PS, por razões meramente tácticas, não estaria disponível.
Na hipótese, pouco provável, de Sócrates ficar novamente à frente do PSD, com maioria relativa, Cavaco iria ter o maior “bico-de-obra” da sua vida. É nisso que Sócrates aposta. Como a parada vai ter de ser muita alta, é também muito provável, como acima se disse, que se a aposta falhar Sócrates não tenha condições para continuar.
Perante este quadro, a questão que se coloca é saber se a Esquerda, a que está representada no Parlamento e a que não está, deve assistir a todos estes “jogos malabares” sem que se apresente como uma verdadeira alternativa.
Nunca como agora houve uma tão grande oportunidade de “fazer diferente”. Desperdiçá-la seria imperdoável. Mas isso será assunto para outro post, melhor dizendo, para um apelo que, a seu tempo, se fará.

quinta-feira, 24 de março de 2011

SOBRE A CRISE


O QUE VEM A SEGUIR

Sobre a crise política portuguesa não há muito a dizer, pois embora possa ter as suas causas próximas no discurso de posse de Cavaco, no “golpe” de Sócrates na negociação do PEC ou na indisfarçável voracidade do PSD pelo “pote”, a sua verdadeira causa está no rotundo fracasso das políticas económicas defendidas pelo PS/PSD com a muleta do CDS, sempre que necessário.
De facto, como se viu não há divergências políticas entre os dois partidos. Ambos se propõem levar à prática as mesmas políticas, com os mesmos objectivos e os mesmos alvos. O PSD está tão de acordo com a política do PS que até gostaria que os socialistas se mantivessem no Governo por mais uns meses. A identidade é tal que na sessão parlamentar adrede convocada para discutir o PEC IV o PSD não só não ousou fazer qualquer crítica ao conteúdo do documento, como tão-pouco apresentou, por escassa que fosse, a menor alternativa ao acordado entre o Governo e Merkel.
Havendo eleições, e dificilmente deixará de as haver, os portugueses vão novamente cair no logro de entregarem o seu voto maioritário aos dois partidos que menos se diferenciam na linha política a seguir e que na realidade só têm para oferecer mais austeridade, mais pobreza e mais recessão.
Aliás, se dúvidas houvesse elas teriam hoje sido completamente dissipadas por Merkel no modo como se referiu, no Parlamento alemão, à crise política portuguesa. Merkel já fala destas coisas em relação a nós com uma desenvoltura e autoridade que Obama está muito longe de poder usar em relação ao Arkansas!
Perante este quadro, toda a campanha eleitoral entre o PS e PSD vai andar à volta de questões secundárias, para que os portugueses possam ser mais facilmente enganados, estando os media, como também se têm visto, muito interessados em exacerbar as pequenas diferenças, as questões acessórias, para que a discussão do essencial seja propositadamente remetida para o domínio dos assuntos sem interesse.
Neste contexto, o CDS, suspeitando e temendo ser preterido pela “grande coligação”, já vai distribuindo as suas críticas quase equitativamente entre o PS e o PSD e defendendo a versão “social-cristã” do neo-keynesianismo. O CDS não é para levar a sério em matéria de proposta política, já que rapidamente vai passando de uma para outra consoante as conveniências e será capaz de aceitar ainda qualquer outra desde que lhe assegura a chegada ao poder.
Se os portugueses continuarem a dar o seu voto a quem os conduziu a esta situação, lá teremos mais uma vez o PS ou, mais provável desta vez, o PSD a aplicar novos PAR (Programa de Austeridade e Recessão), de preferência em coligação com aqueles que aceitem juntar-se ao vencedor, apesar da constatação que por todo o lado se vai fazendo de que tais programas apenas agravam a situação económica do país e impedem o regular recurso ao financiamento externo.
De facto, a Europa está atravessando um momento deveras singular. Com o maior à vontade, jovens comentadores, especialistas em questões financeiras, vêm regularmente explicar-nos, principalmente pelas televisões, que os governos muito endividados têm de recorrer ao resgate (bail out) do FMI ou do Fundo Europeu ou de ambos, a juros elevados e na base de um apertado programa de austeridade, porque, em primeiro lugar, quem se endividou e quase se tornou insolvente não pode ser bem tratado sob pena de se estar a premiar o infractor e, em segundo lugar, porque só o apertado programa de austeridade dá garantias, a quem empresta o dinheiro, de mudança de rumo no futuro.
E são estes mesmos analistas financeiros vestidinhos de fato escuro e camisa branca que, com a mesma desfaçatez, justificam o bail out a bancos altamente endividados e em risco de falência, a juros zero ou quase, de quantias bilionárias, sem qualquer regra ou constrangimento que não seja a devolução desse dinheiro quando puderem (devolução, quando é o caso, porque em muitos nem a devolução está assegurada).
E isto é aceite como perfeitamente normal. A conclusão é sempre a mesma: quando se chega a tal ponto de intoxicação ideológica não há votos que nos valham! Não vai ser, não pode ser, com votos que esta situação se resolve!

quarta-feira, 23 de março de 2011

CAVACO FALOU ...E CAPITALIZOU


CAVACO ACABARÁ POR ACTUAR NO TEMPO POR ELE ESCOLHIDO

Enquanto Sócrates, outrora tão arrogante, implora clemência, pedindo a outros que, por ele, façam apelos dramáticos, e Amado se distancia do partido por desprendimento (da actual situação, ele esqueceu-se de dizer), Cavaco capitaliza os apelos lancinantes de Mário Soares, ao qual já hoje respondeu.
Primeiro responsabilizou o Governo pela crise e depois, bem interpretado, quis dizer: “Agora, o mais importante é vermo-nos livres de Sócrates; depois de alcançado esse objectivo voltaremos a conversar. E eu estou a reunir informação e apoios para poder actuar como convém”.
Mais avisado, Sampaio não apelou ao Presidente, deixando no seu apelo a ideia de que por mais complicadas que as coisas sejam há limites que se não devem ultrapassar.
A situação que hoje se vive é a um tempo surrealista e simultaneamente muito racional. Depois do PEC apresentado em Bruxelas por Sócrates, a ideia com que a direita imediatamente ficou foi a de que é muito difícil algum futuro governo enunciar, no curto prazo, um conjunto de medidas mais à direita do que aquelas que o PS vai amanhã levar ao Parlamento. Isto aliado à perda completa de confiança no actual Primeiro-Ministro, por aqueles que até gostariam que ele continuasse mais um pouquito, animou o PSD a ir para eleições, já que muito dificilmente o seu PEC será mais impopular do que este.
Aliás, o PEC de Sócrates até deu uma nova alma a Portas, que aproveita a ocasião para, eleitoralmente, se distanciar do PSD e do PS, a tal ponto que, com um pouquinho mais de esforço, até teríamos no CDS o reservatório nacional de neo-keynesianismo indispensável à superação da crise.
Ou seja, tudo isto não passa de uma grande farsa. Porque, ao contrário do que hoje disseram alguns “ilustres comentadores” na SIC N, o PEC não tem apenas uma dimensão quantitativa, ele tem também uma importante dimensão qualitativa. Para Bruxelas não é nada indiferente o modo como se atingem as metas com que Sócrates e Ministro das Finanças se comprometeram. O PEC tem uma inegável dimensão ideológica e somente dentro desse mesmo enquadramento serão possíveis pequenas variações. Ou não foi isso o que já disseram os Presidentes do BCE e do Eurogrupo? Para eles o PEC já está apresentado, é aquele e não outro. Aliás, quem ditou as “guide lines” para a sua elaboração foi a Comissão. Portanto, a conversa a que estamos a assistir é da parte destes três partidos uma conversa que não têm nada a ver com o PEC.
“Ambos os três”, como diria em português de lei, um conhecido presidente de um clube desportivo, o que querem é estar perto do “pote”, na certeza de que o PS já preparou o caminho para quem vier a seguir. De facto, na ideia das pessoas o que vai ficando da conversa que vão ouvindo é de que pior do que Sócrates não é fácil. E o CDS, que quer ser governo, até se dá ao luxo de defender crescimento económico, ou seja, uma política contrária à imposta pela Alemanha de Merkel. Portanto, já vale tudo!
No meio desta confusão, Cavaco pensa estarem reunidas as condições para desempenhar um papel que antes não teve oportunidade de pôr em prática, embora tudo dependa, em primeiro lugar, de haver ou não eleições e, caso haja, dos resultados eleitorais.
Se, rejeitado o PEC e demitido Sócrates, no PS se criar uma corrente de opinião na esteira das declarações de Luís Amado, pode acontecer que Cavaco não dissolva o Parlamento e se forme um governo bem diferente do actual. Tudo vai depender da força da gente de Sócrates, já que os outros partidos, se não houver oposição do PS, não terão grande margem para contrariar Cavaco. E então teríamos o que muitos andam a pedir, um Presidente muito intervencionista.
A segunda hipótese de intervencionismo de Cavaco poderia resultar de um acto eleitoral do qual não saísse uma maioria absoluta viável.

terça-feira, 22 de março de 2011

ARTUR AGOSTINHO


UM GRANDE RADIALISTA

A partir de meados dos anos cinquenta e, principalmente, na década de sessenta do século passado, a voz do desporto na rádio portuguesa era a voz de Artur Agostinho. Sucedendo a nomes que fizeram fama antes dele, como Pedro Moutinho e Alfredo Quadro Raposo, Artur Agostinho deles se distanciou pela isenção com que fazia os relatos de futebol ou narrava as etapas da volta a Portugal, enquanto os ouvintes, ansiosos, aguardavam o relato em directo das chegadas à meta.
Esta atitude de Agostinho perante o desporto, no qual era à época, em escala diferente, acompanhado por Nuno Brás e também por Amadeu José de Freitas, granjeou-lhe uma enorme simpatia entre todos os desportistas e amantes do desporto, qualquer que fosse a sua cor clubista.
Ainda hoje é memória de um Artur Agostinho imparcial no relato e no comentário do acontecimento desportivo que torna tão penosa a convivência com o clima de parcialidade agressiva que se instalou no comentário desportivo português de há trinta anos para cá.
Agostinho era ainda seguido com entusiasmo nos relatos das selecções tanto de futebol como de hóquei patins, a ele se devendo a emoção com que eram escutados os relatos dos torneios de Montreux, por ocasião da Páscoa, e dos campeonatos do Mundo e da Europa. Mais tarde, quando a televisão passou a transmitir em directo os jogos de hóquei patins, breve se percebeu que era a voz de Artur Agostinho que emprestava à modalidade uma emoção que na realidade ela não tinha para a maior parte dos telespectadores.
Na memória de todos os que assistiram aos primeiros grandes feitos do futebol português ficarão para sempre os relatos dos jogos do Benfica na Taça dos Campeões Europeus e da selecção na fase final do Mundial de 66 em Inglaterra.
Artur Agostinho não foi apenas relator e comentador desportivo, ele foi também o repórter de muitos eventos importantes do “Estado Novo”, além de, pouco depois de criada a televisão em Portugal, ele ser também uma presença permanente no pequeno ecrã, no teatro, em concursos, em programas de variedades, além obviamente dos desportivos.
Além desta presença nos media oficiais, Artur Agostinho fez cinema, publicidade e jornalismo desportivo.
Assuntos desportivos à parte, no clima da época notava-se e sublinhava-se a completa ausência de sentido crítico de Artur Agostinho relativamente à “Situação”. Se não era apologético, e às vezes tê-lo-á sido em algumas reportagens que o emocionaram, nomeadamente as dos primeiros anos da Guerra Colonial, de maneira alguma ele era crítico nas limitadas circunstâncias em que se poderia ser ou mesmo quando, com o apodrecimento da situação política, já muitos ousavam ciciar algumas críticas que antes silenciavam.
De certa maneira Artur Agostinho era a uma das vozes e uma das imagens do Regime. E isso pesou, como não poderia deixar de ser, na avaliação que o 25 de Abril dele fez como homem político.
O novo regime tinha de ter outras vozes e outras imagens. E Artur Agostinho não tinha nenhuma hipótese de manter o protagonismo que antes o evidenciava. E foi isto o que se passou. O 25 de Abril numa qualquer comparação histórica com outras Revoluções que puseram termo a ditaduras de décadas ou até de menor longevidade foi muito generoso com todos aqueles que com ele se não identificavam e muito pouco severo com os que, por diversos meios, e em épocas diferentes, se lhe opuseram.
Artur Agostinho para além das decepções pessoais que possa ter sofrido – e que merecem todo o respeito – optou por se exilar certamente por entender que o Portugal saído do 25 Abril estava gradualmente a afastar-se do país em que ele sempre tinha vivido e em que se habituara a viver.
Alguns anos passados, no outro lado do Atlântico, em exílio voluntário por que optou, fizeram-lhe compreender, inteligente como era, que, afinal, o Portugal que estava a estabilizar-se era perfeitamente compatível com os seus anseios e objectivos. E por isso regressou. Foi bem recebido em todo o lado e, como sempre, teve a inteligência de se não vitimizar, deixando que outros, da sua área política, o fizessem amplamente e o transformassem numa espécie de herói, em cuja veste ele, muito inteligentemente, nunca se deixou envolver, deixando assim ficar na mente das pessoas uma imagem de “herói involuntário” muito mais poderosa e atractiva do que qualquer outra.

PARCEIROS SOCIAIS CHEGAM A ACORDO? HAJA DECORO!


COMO É POSSÍVEL PUBLICAR SEMELHANTE NOTÍCIA?

Sócrates, in articulo mortis, congratula-se com o acordo a que chegaram os parceiros sociais e acha que é um bom exemplo para o país.
Depois lê-se o texto da notícia e fica a saber-se que quatro organizações patronais, mais a Ministra do Trabalho, que igualmente representa os patrões, mais a UGT do Proença que, além da sigla, não tem praticamente mais nada para representar, chegaram a acordo.
Mas valeria a pena tanto trabalho e tanta encenação? Com organizações sindicais destas, os patrões nem sequer precisam de se confederar. Por favor, não brinquem connosco neste tempo difícil!

domingo, 20 de março de 2011

A "INTERVENÇÃO" NA LÍBIA


REVIVER O PASSADO EM TRIPOLI

Forças imperialistas e do velho colonialismo matam civis na Líbia em nome da defesa dos “direitos humanos”.
Os “fins humanitários” ou a “defesa da democracia” têm sido, finda a Guerra Fria, os expedientes de que o imperialismo se tem servido para ocupar áreas geográficas estratégicas que, mesmo não sendo verdadeiramente dominadas por potências inimigas, também não estão sob o seu completo controlo: um controlo sem reticências, nem surpresas.
Como aqui frequentemente se tem dito a invocação de fins humanitários, ou sendo mais rigoroso, a intervenção bélica em defesa de um direito, apesar de frequentemente invocado antes e depois da Carta das Nações Unidas, nunca colheu o consenso da comunidade internacional no sentido verdadeiro e próprio do termo, não tendo, por isso, nenhuma norma com esse conteúdo sido formada no direito internacional.
O neo-conservadorismo americano, com uma longa tradição teórica em matéria de relações internacionais, julgou a questão suficientemente amadurecida quando advogou e praticou o fim do multilateralismo e passou a defender coligações geometricamente variáveis consoante o imposto pela defesa dos interesses em presença, os quais, desde que pertencessem ao catálogo, eram por si só suficientes para justificar uma intervenção condizente com o fim em vista.
O pressuposto é conhecido: o modo como um Estado actua no plano internacional depende do modo como ele se comporta internamente. Se, por exemplo, não respeita os princípios democráticos e os direitos humanos, essa questão deixa de ser apenas um assunto interno para passar a ser também uma questão de natureza internacional, porque o modo como um Estado actua internamente molda o seu comportamento na campo internacional.
E como há países, entre os quais obviamente se conta os Estados Unidos, para os quais a defesa da democracia e dos direitos humanos constituem elementos basilares da sua política externa, na medida em que somente pelo respeito de tais princípios e direitos se assegura a paz mundial, então esses países, em coligação com os que defendem os idênticos princípios, acham-se no direito de intervir militarmente para garantir a paz e proporcionar aos nacionais desses países os tais bens inestimáveis que a intervenção tem em vista alcançar.
Bush actuou ao abrigo deste pressuposto no Iraque, como antes dele já Clinton o tinha feito na Jugoslávia. O império britânico e mais tarde Mussolini e Hitler nunca foram tão cínicos quando actuaram em defesa de um "direito", quase sempre “com fins humanitários”. Foram apenas mentirosos, às vezes até mentirosos excessivamente vulgares.
Obama e a sua estimável Secretária de Estado, acompanhados por aquele a quem o filho de Kadhafi chamou “palhaço”, além, como sempre, dos britânicos, conseguiram, em defesa destes mesmos princípios advogados pela doutrina neo-conservadora, aquilo que nem Bush, nem Clinton tinham antes logrado alcançar: uma resolução do Conselho de Segurança “legitimando” a intervenção.
A este respeito interessa também dizer que, no rigor dos princípios, as deliberações do Conselho de Segurança, segundo a Carta das Nações Unidas, para serem vinculativas exigem uma maioria relativa e uma unanimidade restrita. Maioria relativa dos membros permanentes e não permanentes que em cada momento o compõem e unanimidade restrita dos cinco membros com direito de veto. A abstenção equivaleria, portanto, a um veto. Porém, desde muito cedo, parece ter-se criado dentro da ONU uma norma consuetudinária que ab-rogou aquele entendimento – que é inequivocamente o que decorre da Carta – e o substituiu por um outro segundo o qual somente o voto contra de um dos membros permanentes é impeditivo da vinculação da respectiva deliberação. Tudo isto, porque a União Soviética, aquando da Guerra da Coreia, abandonou a sessão sem participar na votação, tendo desde então a abstenção sido equiparada a um voto não impeditivo da vinculatividade.
E foi o que desta vez se passou: a Rússia e a China “lavaram as mãos”, para ficarem de bem com “Deus” e com o “Diabo”. Por um lado, as potências que queriam agredir a Líbia passam a ter a sua acção denominada como “intervenção” sancionada pela ONU; e, por outro, perante os líbios e o povo árabe, bem como junto dos simpatizantes em geral da não intervenção, a Rússia e a China ficam livres, como já estão a fazer, de criticar o modo como a intervenção está a ser feita e vai continuar a ser feita.
No plano estritamente jurídico esta deliberação é prenhe de consequências. Se, por um lado, ela legitima a intervenção independentemente do modo como se venha a concretizar, ela também não deixará de no futuro ser invocada como precedente justificador de comportamentos semelhantes, principalmente naqueles casos em que antecipadamente se preveja não ser possível alcançar o mesmo resultado através de processos idênticos ao agora usado.
Ou seja, do ponto de vista da paz mundial, a China e a Rússia prestaram um mau serviço à comunidade internacional e deram um contributo muito positivo às teses neo- conservadoras, em última instância, ao desmantelamento progressivo do multilateralismo, apesar de na aparência se ter passado o contrário.
Do ponto de vista político, a agressão em curso é desastrosa. Desastre que a presença na dita coligação de Marrocos, Qatar, Emiratos Árabes Unidos, Jordânia e Iraque só agrava. Ela terá consequências funestas para o futuro relacionamento entre o Ocidente e os árabes e os muçulmanos em geral. Como é muito difícil admitir que haja tanta gente estúpida à frente dos governos das “potências coligadas”, a interpretação que parece mais plausível é a de que o Ocidente – que, segundo Amado, sempre muito bem informado, estava alarmado com o que se estava a passar na margem sul do Mediterrâneo, por antever, nomeadamente para a Europa, o mais grave acontecimento ocorrido depois da II Guerra Mundial – quer acabar com o processo de democratização em curso naqueles países. Quer que tudo se passe de acordo com a sua orientação e segundo o seu controlo.
Aparentemente este resultado vai ser alcançado, como parece que está a acontecer, mas tudo não passará de uma aparência. A “segunda volta”, quando vier, vai ter uma natureza completamente diferente da primeira.
Para terminar, apenas mais uma nota: um outro facto que não pode deixar de ser devidamente ponderado, embora esteja em linha com posições anteriores, é a abstenção da Alemanha. Talvez à luz deste voto na ONU se compreenda melhor a sua política económica na União Europeia…

DO ENTUSIASMO DE PORTAS À LINGUAGEM DE PASSOS COELHO



ASSIM VAI A DIREITA

Enquanto Portas, em Viseu, de gravata, mas em camisa, como a situação impõe, exibe uma euforia de quem já só sonha no engrandecimento da Pátria com algo que, ao lado dos helicópteros e dos submarinos, a torne mais forte e respeitável, como uma esquadrilha de aviões de combate, fragatas, corvetas, quem sabe um porta-helicópteros, Passos Coelho, por onde passa, vai apurando a linguagem com que diagnostica a situação política portuguesa.
Diz Passos Coelho com aquele ar sério de quem se esmerou nas jotas a iludir o insucesso escolar: “O PSD não está com pressa de ir ao pote”. E noutra intervenção: “Não vamos ajudar a descalçar a bota”. E mais adiante:” Se eu fosse primeiro-ministro não estávamos com as calças na mão
O mais interessante é que quando Passos Coelho fala destes nobres assuntos da governação, com a linguagem que caracteriza esta nova fase da vida política portuguesa, fá-lo com o mesmo ar empertigado com citaria Camões.

sábado, 19 de março de 2011

A LÍBIA NA ROTA DO IMPERIALISMO


A FACE DO IMPERIALISMO PODE MUDAR, OS OBJECTIVOS NÃO

O que pensará um jovem árabe, um jovem dessa juventude instruída dos países do Mediterrâneo e do Golfo, que viu (e vê na maior parte dos países) o seu povo durante décadas governado por ditadores corruptos, déspotas perversos, defendidos por polícias políticas impiedosas, apoiados por Bushes, Clintons, Blairs, Sarkozys, só para citar os mais emblemáticos, do “zelo humanitário” que subitamente penetrou as consciências dos governantes dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, da França e de mais uns lacaios de ocasião?
A única certeza é a de que essa juventude não tem dúvidas de nenhuma espécie sobre o que se está a passar.
O que o imperialismo tem de mais vulgar é a previsibilidade da sua conduta. Por natureza é incapaz de se conter, mesmo quando racionalmente o seu interesse apontaria noutro sentido.
Depois queixem-se da Al Quaeda. Alimentam-se reciprocamente, fazendo tudo o que está ao seu alcance para que entre ambos não fique espaço para mais ninguém.

O MAIS INCOMPREENSÍVEL DA CRISE


QUEM EXPLICA?

O mais incompreensível desta crise em que Portugal está mergulhado, para quem faça uma ideia do que se está a passar, é a completa ausência de propostas credíveis para a resolver. E, não obstante, a vontade de governar, de uns (PS) e de outros (PSD/CDS), continua voraz?
Como ninguém, entre eles, com um mínimo de capacidade pensante, poderá admitir que haja por estes ou outros, mas iguais, caminhos, qualquer possibilidade de resolver esta crise, a única explicação para tanta apetência pelo poder só mesmo ser a tal “vontade de ir ao pote” ou continuar com ele.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TEM PORTUGAL UM PLANO B?


VALE A PENA CONTINUAR NO ACTUAL CONTEXTO?

Mesma para quem raciocina, certinho, dentro do sistema, impõe-se a Portugal, cada vez com mais premência, a existência de um plano B, não apenas em concepção, mas já em execução paralela para o qual se pudesse transitar sem soluções de continuidade.
O que se vai passar nos próximos anos é hoje, infelizmente, antecipável no essencial, não só por aquilo que já se conhece de situações semelhantes, mas também pelo que se passou no nosso passado recente.
Os pressupostos de que se tem de partir são fáceis de enunciar:
Primeiro, desde que o Governo de Cavaco Silva decidiu integrar o Sistema Monetário Europeu até hoje, Portugal, com excepção de dois ou três anos do Governo Guterres (em que entrou no país dinheiro a rodos) ou não cresceu ou cresceu muito pouco, sempre abaixo da média europeia.
Segundo, durante o mesmo período o país foi-se gradualmente endividando, tanto mais quanto menos crescia.
Terceiro, nesse período a economia portuguesa perdeu competitividade relativamente à média das economias europeias e, principalmente – e isto é o que mais interessa – em relação àquelas com as quais tem mais relações económicas.
A explicação para a situação descrita, não sendo certamente consensual, tem, contudo, factores presentes em todas as análises, que não podem deixar de ser ponderados.
Primeiro, a integração de Portugal num grande espaço económico comum tornou muito patente as debilidades e fragilidades da sua economia relativamente a economias muito mais desenvolvidas, situação consideravelmente agravada com a criação do “mercado interno” e a adesão à moeda única.
Segundo, as chamadas “ajudas comunitárias” mesmo que tivessem sido utilizadas com todo o rigor jamais compensariam aquelas debilidades.
Terceiro, tais ajudas, que contribuíram decisivamente para desencravar o país interna e externamente, acabaram por ser tão úteis a Portugal como aos demais países da comunidade em que nos inserimos.
Quarto, uma parte considerável da actividade económica portuguesa, um pouco mais de dois terços, impossibilitada de concorrer com as economias mais competitivas da dita comunidade, orientou-se para áreas onde a concorrência menos se fizesse sentir; e quanto mais estas áreas se desenvolviam, mais a dívida externa crescia.
Quinto, o quadro acima descrito foi consideravelmente agravado pela crise financeira que apenas tornou mais evidente uma situação que já existia, votada a uma espécie de “adormecimento táctico”, que a todo o momento nesta ou noutra situação poderia explodir.
Tendo Portugal perdido, com a adesão à Comunidade Económica Europeia e mais tarde à União Económica e Monetária duas das principais armas de que noutras circunstâncias poderia fazer uso – com produção de efeitos quase imediatos – para combater os crónicos desequilíbrios da sua economia - a desvalorização da moeda e a limitação de importações (seja por via fiscal ou outra) – apenas lhe restaria, na hora do aperto, a “desvalorização competitiva” dos salários.
E aqui é que bate o ponto. Esta via, em si sempre insuficiente e limitada na sua elasticidade, encerra uma armadilha que faz cair o país num circulo vicioso que leva a que quanto mais os salários baixam, mais a economia decresce e menos hipóteses tem Portugal de sair da crise. A espiral recessiva que resulta da tal desvalorização competitiva, nunca compensada pelo mítico aumento das exportações (que têm em si um limite objectivo de crescimento), leva, como se está a ver, a que a situação piore não já a cada ano que passa, mas a cada trimestre.
É a procura interna que cai, é o investimento que se contrai, são os juros que sobem, é a dívida que aumente, tudo num ciclo infernal, cada vez de efeitos mais demolidores, que faz com que a adesão ao euro e à Europa tenham necessariamente de ser repensados de alto a baixo.
Por outro lado, o equilíbrio das contas públicas, feito exclusivamente à custa de medidas de efeito restritivo imediato sobre o conjunto da economia, apenas agrava e torna praticamente impossível uma saída económica e politicamente sustentável.
Qualquer saída, e só eufemísticamente se pode falar em “saída”, atento o resultado das medidas adoptadas, vai colocar o país em geral, a grande maioria, num patamar muitos níveis abaixo daquele a que a generalidade das pessoas já se tinha habituado a viver.
Tal situação, em si grave e politicamente muito difícil de sustentar, tem ainda um outro irremediável inconveniente: é a de que ele não permite acalentar qualquer expectativa de melhoramento futuro.
E é por todas estas razões, que são políticas e económicas, que Portugal deve repensar a sua presença na União Europeia e no euro.
Repensar politicamente, à luz da sua história quase milenar. Uma história que não pode apenas ser avaliada pelo que se passou no salazarismo e que tanto traumatizou as gerações que fizeram o 25 de Abril e que depois governaram Portugal nas décadas subsequentes.

quarta-feira, 16 de março de 2011

AINDA SOBRE OS PROTESTOS DE SÁBADO PASSADO

SERÃO LEGÍTIMAS TANTAS DÚVIDAS?

Ainda sobre o protesto da “Geração à rasca” e o que para aí se ouve dizer, nomeadamente sobre a ausência de objectivos, falta de ideias claras sobre o que fazer e até a analogia que alguns já fizeram com o “Tea Party”.
Alguns comentários são manifestamente exagerados, embora a questão seja, de facto, muito complexa.
Por um lado, há já em muita gente a convicção de que, pelas vias institucionais, ninguém (quer dos que estão ou dos vão ficar “à rasca”) vai conseguir algo de muito diferente daquilo que existe e que a cada dia se agrava. O sistema tal como está organizado, e ainda por cima neste momento, não permite fissuras. Aparece mesmo aos olhos da maioria como um bloco, fechado, impossível de se deixar penetrar a partir de qualquer ideia nova ou diferente daquelas que diariamente o alimentam e lhe asseguram a vida por via das proclamações e comentários, no essencial convergentes, veiculados pelos media. Qualquer argumentação inovadora leva logo em cima com uma chuva de argumentos tendentes a demonstrar que tal hipótese não tem qualquer viabilidade, porque os “mercados” isto e mais aquilo, os nossos parceiros na União Europeia jamais aceitariam e por aí fora. É claro que todos esses argumentos são desenvolvidos a partir das próprias bases do sistema e assentam no pressuposto de que ele é imutável.

Por outro lado, numa situação como a actual, em que um partido já está há muito tempo no poder, pode haver a tentação de acreditar na possibilidade de mudança prometida por outro partido, igualmente do sistema, que apresenta as mesmas propostas ou até piores, de forma diferente. É o que se passaria com a apresentação de propostas que assentem numa radicalização dos pressupostos neoliberais nas quais a demagogia bem feita pode perfeitamente confundir-se com a racionalidade. A mais conhecida (principalmente, pelas piores razões, sistematicamente omitidas) passa pela diminuição dos impostos. Na presente situação qualquer abaixamento dos impostos tem de passar por um corte na despesa que o compense. Esta ideia de que as pessoas passam a pagar menos impostos pode ser muito persuasiva e convencer muita gente, primeiro, porque é muito fácil demonstrar com meia dúzia de exemplos isolados, de grande impacto público e quase nenhum efeito financeiro que há no Estado muitas despesas supérfluas que podem ser evitadas. E depois, porque o abaixamento dos impostos, se efectivamente se verificar, vai logo notar-se, enquanto a diminuição das despesas tem um efeito gradual e diferenciado. Esta é, de facto, a maior tentação em que pode cair o movimento da “Geração à rasca” – uma luta contra o Estado e tudo o que ele parece representar - e então, nesse caso, haveria fundadas razões para o assemelhar ao “Tea Party”.
Nada, porém, do que se ouviu na Avenida da Liberdade ou na Praça dos Aliados, aponta nesse sentido. As pessoa não têm o sentimento de que o inimigo seja o Estado, nem nada na nossa difusa “cultura política” aponta nesse sentido. O que as pessoas têm é o sentimento de que há muita gente na política ou a ela ligada que usa o Estado em benefício próprio e das clientelas que a apoia. O que não é exactamente a mesma coisa que entender que o Estado não passa de instrumento ao serviço dos grandes interesses. As pessoas acham que o Estado pode desempenhar um papel de árbitro e de agente interventor na vida económico-social contribuindo com a sua acção para uma sociedade muito mais equitativa.
Em terceiro lugar, estão os que, situando-se dentro do sistema, o contestam. Aparentemente teriam, numa situação como a presente, reunidas todas as condições para desempenhar um papel que pudesse levar a uma efectiva mudança e angariar um grande apoio popular capaz de se tornar no sustentáculo da prometida ruptura. Acontece que, quem está dentro do sistema, e o contesta, está, pela sua própria história, mas também pela acção do poder ideológico que o sustenta, sujeito a reacções quase pavlovianas relativamente àquilo que propõe ou até mesmo racionais justificadas por descrenças fundadas.
Quem está fora e aparece de novo beneficia, portanto, de todas as vantagens: não tem passado, sabe perfeitamente o quer não quer e, se continuar na luta, breve vai perceber que o que não quer jamais pode ser evitado no sistema em que vive.
A partir daí todas as portas estão abertas…
A luta continua! Ou como dizem os Homens da luta: “Luta, camarada, luta!”

A ENTREVISTA DE SÓCRATES


COMENTÁRIO DE QUEM NÃO A VIU

Não vi, estava a ver o Bayern-Inter, de certeza muito mais interessante. Porque estive até ao fim sem saber como o jogo iria acabar. A Europa tem muitos defeitos, mas a maior parte dos jogos de futebol ainda preservam aleatoriedade inerente a qualquer jogo.
Com a entrevista de Sócrates, à semelhança do que por cá se passa com certos jogos de futebol, já se sabia antecipadamente como começaria, como decorreria e como iria acabar. A questão, porém, não só é essa.
A questão é que as alternativas institucionais a Sócrates são exactamente iguais ou piores. O PSD não tem rigorosamente nada para dizer. Nada. E esse é o único aspecto desta crise política em que interessa insistir à saciedade: são iguais ou piores, tanto um como outro (parece ilógico, mas não é).
Mas também interessa falar de duas personalidades que nestes dias se manifestaram e cujas vozes deixam algumas interrogações.
Cavaco, depois daquele desastre que foi o discurso da tomada de posse, voltou a falar hoje, no aniversário do 15 de Março (massacres no norte de Angola pela UPA), e novamente apelou aos jovens.
É muito difícil saber qual a fonte inspiradora de Cavaco. Como é um homem pouco dado às letras nem sempre as suas incursões fora da vulgata económica são facilmente compreensíveis. Aparentemente, poderia estar a inspirar-se em João Paulo II, quando em Varsóvia, ao iniciar a senda dos gigantescos comícios que, por mérito seu, realizou por esse mundo fora, incentivou os jovens a agir e lhes disse: “Não tenham medo!”.
João Paulo II quando assim falou tinha em mente uma agenda política que acabou por executar com toda a mestria. Os jovens e o povo polaco em geral eram um dos grandes intérpretes dessa agenda, que ele controlava e geria, com as alianças convenientes, fazendo, por isso, todo o sentido o seu apelo.
E o de Cavaco, faz? Que Cavaco tenha uma agenda política, parece evidente. E que tenha intenção de a pôr em prática no segundo mandato, também. Só que estes apelos à juventude e o modo como foram feitos em nada vão contribuir para a implementação dessa agenda.
Como se viu nas manif’s de sábado não há qualquer sintonia entre o sentimento e a vontade dominantes nos manifestantes e as palavras do discurso de Cavaco. Cavaco fez um discurso escandalosamente de direita, sem pôr em causa, ou sequer questionar, as bases da sociedade e dos poderes dominantes contra os quais as manifestações se fizeram.
E no discurso de hoje o apelo aos jovens ainda é mais esdrúxulo, porque ao tomar a guerra colonial como exemplo de coragem dos que nela participaram – um projecto à partida falhado e condenado pela História – independentemente dos actos de bravura sadia que nela tenham ocorrido, ele acaba por invocar um paralelismo que nenhum jovem aceita como modelo de acção. Portanto, este caminho que Cavaco parece querer calcorrear não tem nenhuma hipótese de prosperar junto daqueles que são o alvo dos seus apelos. Cavaco está claramente mais à vontade para incentivar o empreendedorismo da juventude, como já fez quando apresentou Rendeiro como exemplo.
Mário Soares, por seu turno, em artigo no DN, dá mais uma vez um exemplo muito elucidativo do modo como a chamada esquerda do PS vê a crise e a situação em Portugal.
Em teoria, critica-se a Europa em nome dos valores da unidade, da solidariedade e da igualdade, culpa-se os responsáveis pela sua política profundamente conservadora, neoliberal, geradora de profundas desigualdades, pelo desemprego, precariedade, pela impunidade dos responsáveis pela crise e pelas políticas económicas recessivas que apenas agravam a situação existente, a ponto de a tornar intolerável.
Mas no que respeita a Portugal, critica Cavaco – e bem – por no discurso de tomada de posse ter ignorado a crise internacional e também Sócrates por ter agido à revelia do povo, dos parceiros sociais e das instituições. Mas quanto ao conteúdo, nada! A crítica é somente formal, diz apenas respeito ao modo de actuação e nem uma palavra sobre o seu conteúdo dos programas.
No PS é e sempre foi assim: aquilo que em tese se defende nunca é para aplicar cá dentro.

terça-feira, 15 de março de 2011

O DENTINHO É TÃO PUDICO


E ISSO FICA TÃO BEM NA RTP…

O Dentinho que é repórter residente (residência já com mais uma década!) da RTP algures na Europa, ao que se supõe em Paris, foi agora mandado para a Líbia, para Tripoli, para informar os espectadores da RTP do que se está a passar na zona controlada por Kadafi.
Mas não, ele comporta-se como aqueles fanáticos comentadores de futebol, que não fazem a menor ideia do que seja a realidade objectiva – aquela para a qual convergem as diversas observações – e só estão interessados em veicular as “verdades subjectivas” que já levam construídas antes de os acontecimentos ocorrerem.
Dentinho, que já fazia as delícias do saudoso Mário Castrim, refinou com a idade e depois de já ter contado muita “balela”, em muitos anos de serviço ao serviço dos poderes constituídos, num súbito acesso de pudicícia, que nas mais velhas profissões acontece muito com a idade, recusou-se a transmitir algumas passagens de uma conferência de imprensa de um suposto ou verdadeiro membro da Al Queda, feito prisioneiro pelas forças leais a Kadafi.
Por pudor...
ADITAMENTO
Está na hora de Dentinho ir um pouco mais para sudeste - Arábia Saudita e Barhein - onde certamente terá muito que contar, ouvindo as "autoridades constituídas".

A "GERAÇÃO À RASCA" E O FUTURO


A PROPÓSITO DE UM ARTIGO DE KRUGMAN

Nem de propósito, no dia anterior ao da manifestação da “Geração à rasca” o I e outros jornais europeus publicaram um artigo de Paul Krugman, em Portugal traduzido com o título “A educação não é chave do sucesso económico”, no qual o prestigiado economista, com base num artigo publicado pelo “The Times” sobre investigação jurídica, noutros estudos e, fundamentalmente, com base na observação do que se passa com o emprego numa sociedade como a americana, conclui que a educação superior não é nos tempos que correm, só por si, garantia de bom emprego ou, sequer, de emprego.
O desenvolvimento tecnológico e a informatização têm nestes últimos vinte anos destruído muitos empregos não tanto nas áreas do trabalho pouco qualificado, como durante muito tempo se supôs que poderia a acontecer, mas exactamente naqueles áreas onde se pressupunha que o tipo de trabalho a realizar em conjugação com a informatização exigia formação académica superior.
Mas não. Não foi isto o que aconteceu. Foi exactamente no “meio” entre os que ganham muito e os que não têm qualificações especiais que a falta de emprego mais se faz sentir. Por outras palavras, a formação académica superior tida, até há bem pouco tempo, como o “passaporte” para o ingresso numa classe média estável deixou de o ser.
As conclusões factuais deste artigo (porque com as políticas ninguém se interessou) foram entre nós glosadas de diversos modos, em alguns casos sem grande rigor e noutros com honestidade intelectual muito aquém da desejável.
Houve logo quem dissesse que o Estado era o grande responsável pelo que se estava a passar: andou a vender ilusões a quem estudava e a conceder licenciaturas sem qualquer interesse para o mercado de trabalho.
Pode haver, e certamente haverá, alguma responsabilidade do Estado, mas já é muito duvidoso que tal crítica possa ser feita por quem permanentemente defende o apagamento do papel do Estado. O que deveria o Estado fazer? Orientar a educação, consoante as necessidades do país? O numerus clausus nas universidades tem como se sabe várias interpretações e outras tantas causas. Mas o que teria acontecido em Portugal se o governo, qualquer governo, além de ter estabelecido o numerus clausus tivesse também proibido as universidades privadas ou tivesse limitado drasticamente a sua intervenção a certas áreas do ensino?
Os que agora responsabilizam o Estado o que teriam dito então se o Estado tivesse actuado de dessa maneira? E o que teria dito o próprio Tribunal Constitucional se o Estado tivesse tido uma actuação muito mais interventiva e restritiva?
A apresentação acrítica das constatações acima referidas pode levar a que as correntes mais reaccionárias que defendem a privatização do ensino e da saúde ganhem um novo alento com base na “demonstração” de que há licenciados a mais, acabando por tornar a educação superior apenas acessível aos que tem mais dinheiro. De facto, a restrição da educação superior como consequência de uma exigência do mercado acabará por empurrar os mais pobres para as profissões cuja formação é mais barata, deixando a superior quase exclusivamente para os que tiverem dinheiro para a pagar.
E se a mobilidade social nas sociedades capitalistas contemporâneas já estava em crise, o desenvolvimento desta lógica na política do ensino levará fatalmente a uma sedimentação ainda maior dos estratos sociais. Quem nasce rico tende a continuar rico, quem nasce pobre tem cada vez menos hipóteses de deixar de o ser.
Este estado de coisas – que é, no fundo, aquele contra o qual se manifestaram centenas de milhares de jovens no último fim-de-semana - confirma igualmente a tese, aqui já exposta, de que as modernas sociedades capitalistas estão por todo lado a abrir caminho para a criação de uma sociedade dual com poucos de um lado, ganhando muito, com acesso a todo o tipo de privilégios e muitos do outro, ganhando pouco, em trabalho predominantemente precário, vivendo largos períodos de desemprego.
A solução não estará em tornar a educação mais rara e selectiva (mesmo que o critério não fosse exclusivamente o do dinheiro), mas antes continuando a aposta numa educação de qualidade, porventura mais orientada para as necessidades das modernas sociedades, tendo sempre como pressuposto uma política também ela orientada para a busca de soluções inclusivas, que rejeite a marginalização de largos extractos da população, dividindo por todos o que passou a ser mais raro, de modo a evitar a criação de dois pólos extremados por um imenso fosso a separá-los.
Está, porém, cada vez mais evidente que soluções diferentes das actuais não podem ser encontradas dentro do sistema, nem por via de um mutualismo, como alguns agora propõem, que já fez a sua época e cujo principal mérito foi certamente o de, pela sua prática, ter permitido concluir que aquele não seria o caminho para atacar com sucesso as profundas desigualdades geradas pelas sociedades capitalistas. É este novo caminho que por todo o lado cada vez mais se impõe. É preciso refundar a democracia, com base noutros pressupostos, que não permitam a sua completa adulteração, como actualmente está a acontecer.

segunda-feira, 14 de março de 2011

SÓCRATES DISSE O QUE SE ESPERAVA


PSD NÃO TEM NADA PARA DIZER

Sócrates aplicou ao PSD mais um golpe no qual Passos Coelho caiu que nem um “patinho”.
É óbvio que se Sócrates tivesse dito cá dentro abertamente o que andava a tramar com Bruxelas para apresentar a Merkel, o PSD por razões meramente tácticas ter-se-ia posto de lado, e o anúncio de Sócrates ao Conselho Europeu já não se poderia fazer ou, se fosse feito, não teria força nenhuma.
Para evitar esse cenário, Sócrates no seu melhor estilo de “chicoesperto” colocou o PSD perante o facto consumado e tirou as consequências: se o PSD desaprovar as medidas, fica com responsabilidade da crise política; e se ganhar eleições fica com o ónus de apresentar sob a sua responsabilidade exclusiva o mesmo ou pior do que aquilo que agora rejeitou apoiar; se aprovar as medidas anunciadas, fica associado a elas e será tão responsável quanto o PS.
Se Passos Coelho fosse tão “esperto” como Sócrates teria, na própria noite em que este fugazmente lhe comunicou o que no dia seguinte iria fazer, convocado a imprensa para dar conhecimento do que Sócrates escondera, dando logo a saber a posição do PSD.
Não o fez e agora não tem nada para dizer como se viu pela declaração do melífluo Relvas. Como pode ter algo para dizer…se está de acordo?
E Cavaco também terá muito pouco para dizer. Pelas mesmas razões.
Tanto o PSD como Cavaco só podem refugiar-se nas questões institucionais, que são importantes, mas com as quais Sócrates convive muito bem por saber que ficam à margem das preocupações do “eleitor português”.
A conversa de um lado e do outro está vista. A conversa pode ser diferente, mas o objectivo é o mesmo. Com esta gente não vamos a lado nenhum!

SOBRE OS CAMIONISTAS



TÊM REGIME ESPECIAL?

Primeira dúvida: é uma greve ou um lock out? Se for lock out, como aceitá-lo à luz da Constituição?
E se for greve, os camionistas, nos piquetes de greve, têm direitos que os trabalhadores não têm quando desempenham idêntico papel?
Os camionistas estão, na memória política do século XX, associados ao que de mais reaccionário existe nas sociedades motorizadas…
ADITAMENTO
Errei na primeira pergunta: o lock out pressupõe um conflito laboral. No caso, o encerramento da actividade empresarial não tem essa causa.
E errei também na segunda, na qualificação do acto dos camionistas, porque o encerramento da actividade empresarial pelos patrões não é greve, qualquer que seja a natureza do conflito que o determina.
Quanto ao resto, nada a alterar.
SEGUNDO ADITAMENTO
Os camiões que fazem as entregas nos supermercados "Pingo Doce" e que circulam com este logotipo também paralisaram a sua actividade.
Alguém acredita que isso possa ter acontecido sem a concordância do merceeiro do "Pingo Doce"? Mais uma meritória e filantrópica acção desse grande patriota! Enquanto não acabarmos com estes "excessos de patriotismo" não vamos a lado nenhum.
Além de não pagarem os impostos devidos pelos dividendos também querem o gasóleo e as "estradas" mais baratos!
Os mesmos de sempre!

O EURO TEM FUTURO?


ASSIM, NÃO!

É a pergunta que hoje toda a gente faz desta ou de outra maneira mais simpática (“Como assegurar o futuro do euro”? Que mais não é que: “Como salvar o euro?”).
Exactamente por o euro ter constituído um grande logro para todos – inclusive para a Alemanha que dele tem tirado a maior vantagem -, é que hoje não é preciso ter especiais conhecimentos de economia, nem de moeda, para se perceber que uma moeda comum a vários Estados independentes não pode existir nas condições em que o euro foi criado, se desenvolveu e hoje vive.
Mais cedo ou mais tarde – e é isso que já está a acontecer com vários Estados por muito que se tente escondê-lo – verificar-se-á que uma moeda comum criada num mercado que na prática, sob vários aspectos (em teoria em todos), funciona como um mercado interno, só pode existir se atender às particularidades, especificidades e níveis de desenvolvimento das economias dos respectivos Estados e dispuser dos meios e mecanismos adequados para esse efeito.
Independentemente de qualquer vontade perversa, mas antes como consequência natural do funcionamento da actividade económica, se por força da hegemonia económica de um deles, ou de mais que um, a moeda servir apenas a política desse ou desses Estados – isto é, se atender apenas à específica natureza das economias hegemónicas – os outros Estados não têm qualquer hipótese de continuar nesse conjunto, arrastando a sua saída, e os problemas que a ela inevitavelmente estarão ligados, o fim da moeda única.
Começando pelo princípio. A moeda única foi um logro, porque quem a impôs (a França) na base de uma decisão puramente política acreditou que essa era a decisão económica e politicamente correcta para compensar a inevitável reunificação alemã que a Rússia já não tinha força para impedir, que a América acabou por aceitar quando teve a garantia de que a Alemanha não abandonaria a NATO e que a Inglaterra verdadeiramente nunca quis. A França estrebuchou, Mitterrand pôs em prática todo o seu maquiavelismo político e até alguma ostensiva inabilidade quando foi a Berlim Leste tentar adiar o que já estava consumado, e acabou por fazer com Kohl o “negócio da moeda única” supondo que assim amarrava a Alemanha e a sua economia à Europa unida.
E até é verdade que, nos anos economicamente duros da “assimilação” da reunificação, a França tirou mais partido da moeda única do que a Alemanha, na medida em que viu consideravelmente aumentadas as suas exportações além-Reno.
O que ninguém na altura ninguém percebeu foram as consequências do que se estava a criar. Acreditou-se que, com um banco central feito à imagem do Bundesbank e duas ou três regras vagamente restritivas relativas ao défice e à dívida, se assegurava a perenidade de uma moeda que “iria ajudar a unir” decisivamente a Europa. Como se a economia de um país em sistema capitalista fosse algo que se pudesse reconduzir ao papel económico do Estado que, aliás, por força das correntes ideológicas vigentes, não deixava de se reduzir drasticamente a cada dia que passava. Mas mesmo que não fosse o caso. Passou a haver um “novo mundo” para os bancos e as empresas que nenhum Estado podia controlar.
Do outro lado do Atlântico, renomados economistas americanos, com óbvia grande experiência do que é uma moeda única num enorme espaço económico constituído por estados federados, sempre puseram muitas dúvidas ao êxito de tal empresa. Mas como tudo estava aparentemente a correr bem e o euro, a partir de determinada altura, até passou, em cotação, a superar o dólar, ninguém lhes ligou por cá.
A euforia reinava por todo o lado. Estados que sempre tiveram balanças de pagamentos deficitárias e que conheciam o penoso caminho da busca de divisas para fazer face aos défices das suas balanças comerciais diziam e ouviam dizer que agora esse problema “não se punha” porque temos todos a mesma moeda. Ou seja, davam a entender que o problema se resolveria uma pouco à semelhança do que até então se resolvia o endividamento interno. “Um pouco à semelhança” e não do mesmo modo, porque agora não poderiam criar moeda, já que havia um banco central, que não dependia exclusivamente de nenhum deles, e tinha como principal missão o controlo dos preços, ou seja, da inflação. Mas, à parte isso, tudo igual.
E aqueles outros Estados que viviam permanentemente angustiados com a inflação, tinham doravante a garantia de que com um banco central à alemã esse flagelo deixaria de existir.
Enfim, apenas vantagens!
O que aconteceu silenciosamente ao longo dos anos conhece-se muito bem agora pelo barulho que está a fazer. Situação que a crise financeira de 2008 apenas pôs a nu, e em certa medida agravou, mas que já existia.
A economia mais competitiva e as economias que mais de perto a acompanharam foram-se impondo no grande espaço económico comum expulsando para o caixote do lixo da história os aparelhos produtivos dos Estados que não tinham (por desvantagem competitiva) capacidade para concorrer com elas num mercado livre.
Por outro lado, os Estados, as empresas e os cidadãos (ou as famílias, como os economistas gostam de dizer) foram-se endividando por razões aparentemente diferentes mas no fundo reconduzíveis ao mesmo denominador comum: crédito barato e necessidade de rentabilidade do capital.
Os Estados endividaram-se para cumprir as funções que são as suas, embora nem sempre pelas melhores razões. Alguns, que sempre foram deficitários, agravaram os seus défices, porque, como o crédito era barato e o “problema das divisas estava resolvido”, era altura de fazer obra e servir clientelas que, se não perpetuavam no poder os governos que as decidiam, pelo menos lhes asseguravam uma longa duração.
Outros, que até nem eram por aí além deficitários, viram-se por força da crise “obrigados” a assumir despesas (sociais, de estímulo económico e de resgate) que antes não suportavam.
Por seu turno, os bancos endividam-se para conceder crédito às empresas e às famílias.
As empresas contraíram dívidas para financiar actividades económicas viradas para sectores onde a concorrência externa não se fazia sentir, mas que simultaneamente não geravam recursos provenientes de rendimentos externos. Ou seja: a dívida contraída fora do país , por quem emprestou às empresas ou pelas próprias empresas, agravava-se tanto mais quanto mais estas actividades se desenvolviam.
Empurradas pelo crédito barato, as famílias gastavam acima dos seus previsíveis rendimentos (cada vez mais falíveis dada a crescente precariedade do emprego) para comprar produtos produzidos por aquelas empresas, nomeadamente casas, mas também – e em grande escala – para consumo.
O dinheiro, por seu turno, era emprestado por quem tinha excesso de liquidez proveniente dos excedentes comerciais e era barato, porque, como existia em quantidades excedentárias relativamente às necessidades das economias que o geravam, tornavam-no num bem pouco escasso.
Esta foi a “ratoeira” que nem aqueles que dela mais beneficiaram à época da criação da moeda única sequer suspeitaram – o que também nos dá uma ideia muito correcta do que é a “ciência” económica.
E hoje? Hoje é o que se sabe: os que emprestaram o dinheiro sem qualquer racionalidade económica querem recebê-lo por inteiro e depressa, tanto mais que muitos ou quase todos os bancos que o fizeram estão numa situação económica muito difícil. Ou seja, precisam de muitos milhares de milhões para se recapitalizarem. E então acham que a via mais segura para atingir esse objectivo – agora que o dinheiro é escasso – é através de draconianas medidas de austeridade.
As medidas draconianas que os Governos dos Estados credores (entenda-se: bancos alemães, alguns franceses e mais uns poucos) impuseram aos devedores traduzem-se como toda a gente sabe em políticas altamente restritivas, que agravam o desemprego, geram a recessão e não impedem, antes agravam, a constante subida dos juros.
Como estas políticas são objectivamente contraproducentes para combater a crise e subjectivamente incomportáveis pela generalidade dos agentes económicos, a consequência previsível da sua reiteração seria a bancarrota dos Estados endividados, a falências das empresas em geral e dos bancos em particular, e o lançamento no desemprego e na miséria de milhões de pessoas.
E é por isso que, com estas políticas, o euro não tem futuro. Nenhum futuro, como muito em breve se constatará.

domingo, 13 de março de 2011

INDIGNAI-VOS!


NOTAS SOLTAS SOBRE AS MANIF’S DE ONTEM

A primeira e mais importante constatação que as manifestações de ontem evidenciaram é a de que “eles” – “todos eles” - ficaram assustados. Todos os que se reclamam muito ou pouco do sistema ficaram apreensivos, preocupados. Esperam pelo desenrolar dos acontecimentos com a convicção de que pode haver consequências e o desejo de que as não haja ou de que possam ser revertidas a seu favor, se as houver.
A título de exemplo, o “Eixo do Mal” de ontem à noite foi disso o espelho fiel. Entre a vontade de “enquadrar” e a preocupação de desvalorizar, o que verdadeiramente contava era o receio do que pode vir a seguir.
E não é caso para menos. Em Lisboa, desde os primeiros dias da Revolução de Abril que se não via uma tão genuína e abrangente vontade de estar presente. Para já apenas para exprimir a desilusão, a frustração, o desespero, a revolta. O resto virá a seu tempo.
No Porto nunca se viu nada igual depois de Delgado e dos dias que se seguiram ao 25 de Abril.
É o princípio de uma onda que só agora começou.
Esta sociedade, este modelo não tem saída. Ou melhor: só tem a saída em que estamos a viver desde há quase trinta anos e que se agravou consideravelmente nos últimos dez. Não apenas em Portugal, mas em toda em Europa, com graus de intensidade diferentes, consoante os países, a sua força económica e a memória da sua história mais recente.
Ainda agora Stéphane Hessel, nascido em Berlim, em 1917, judeu alemão, francês desde 1937, resistente contra Vichy e o nazismo, secretário da Comissão que na ONU elaborou a Declaração dos Direitos do Homem, escreveu no fim do ano passado um pequeno livro – Indignez-vous – com mais de um milhão de exemplares vendidos, onde faz um retrato fiel da actual situação mundial, sem esquecer – ele que é de origem judaica – a vergonhosa situação da Palestina.
Diz Hessel: “ O interesse geral deve prevalecer sobre o interesse particular. A justa repartição da riqueza crida pelo mundo do trabalho deve prevalecer sobre o poder do dinheiro”. E noutro passo: “Atrevem-se a dizer-nos que o Estado já não pode assegurar o pagamento das despesas sociais. Mas como pode faltar hoje o dinheiro para manter e aumentar essas conquistas quando a produção da riqueza aumentou consideravelmente desde a Libertação, numa época em que a Europa estava arruinada? Tal só acontece porque o poder do dinheiro é tão grande, insolente, egoísta, com os seus servidores introduzidos nas mais altas esferas do Estado. Os bancos privados estão exclusivamente preocupados com os seus dividendos e com os altos salários dos seus dirigentes e não com o interesse geral. O fosso entre os mais pobres e os mais ricos nunca foi tão profundo e competição pelo dinheiro nunca esteve tão animada”.
Palavras gastas, velhas, dirá cinicamente o sistema pela voz dos seus intérpretes. Mas não. É o mesmo problema de sempre. Em cada época com os seus específicos contextos. Mas a questão de fundo é sempre a mesma, embora possa variar a forma de a resolver.
Há, porém, invariáveis que se mantêm constantes: não são os que tiram vantagem desta situação, aqueles que têm à sua guarda o sistema, que vão alterar o rumo das coisas. Tão pouco será no quadro do sistema que as criou, potenciou e as impõe que elas poderão ser alteradas.
A alteração terá de surgir de uma ruptura que somente o povo, na força imparável da sua vontade, poderá fazer.
É nesse sentido que vão ter de apontar todas as “indignações”. Indignações feitas acção, passada que seja a fase das lamúrias e dos queixumes.
ADITAMENTO
O livro de Stéphane Hessel é ainda importante a outro título num país como Portugal. Ele marca a diferença, em matéria de diagnóstico, entre a posição de um homem progressista que luta pelo bem comum e aponta caminhos de futuro e a dos reaccionários que se comprazem na descrição da catástrofe, sem nunca aprofundar as suas causas e sem ter a ousadia de apontar caminhos que toquem nos privilégios e interesses instalados, deixando sempre subentendido que os "rearranjos" a fazer têm como pressuposto inalterável o status quo do dinheiro!

sábado, 12 de março de 2011

O POVO EM LUTA!


GRANDES MANIFESTAÇÕES EM TODO O PAÍS

Animado pelos “Homens da Luta” e por mil e uma outras formas de intervenção espontânea o povo desceu à rua em todo o país e deixou muito claro o que pretende: uma ruptura completa com as práticas políticas vigentes.
Não adianta apresentar mais argumentos contra a irracionalidade desta governação opressora ou de qualquer outra igual a ela, institucionalmente saída dos mesmos pressupostos e portadora dos mesmos vícios e defeitos. Tão-pouco adianta arremeter contra aquele verdadeiro “covil de malfeitores” que regularmente se reúne em Bruxelas ou noutras capitais europeias, que aplaude a coragem dos que apenas têm a covardia de deixar os ricos incólumes e flagelam impiedosamente os mais pobres, confiscam o futuro dos jovens, promovem o desemprego dos que estão empregados, espoliam os reformados e os funcionários públicos e apresentam como supremo objectivo da sua governação a precarização do trabalho, despojado de todos os direitos, transformado na primeira das mercadorias descartáveis.
Ao ponto a que as coisas chegaram já nada disto adianta. O que adianta é que cada povo desempenhe o papel que lhe compete. E o papel do povo português no presente momento histórico é correr com eles. Correr com eles por qualquer meio.
É certo que neste momento muitos dos que hoje se manifestaram não têm ainda um objectivo claro para a luta em que estão participando, salvo o que decorre da situação em que se encontram que querem ver alterada. Mas breve saberão, pela continuação da luta, que esse objectivo não é alcançável nem pela sua massiva exibição perante o poder instalado, nem tão-pouco por via de procedimentos institucionais, aliás em crise de inoperância por todo o lado, mas apenas e só através de uma profunda ruptura social e política geradora de um novo tipo de sociedade
Mais tarde ou mais cedo toda a Europa vai ter que viver segundo um novo paradigma. E o que agora, neste tempo, está em jogo é saber se o paradigma por que vamos passar a viver é aquele que os titulares de todos os privilégios nos querem impor, continuando eles a viver segundo o paradigma anterior e a generalidade do povo reconduzida a uma espécie de novos escravos ou se vamos ter a coragem - nós, a grande maioria - de impor um novo paradigma mais justo, mais igualitário, que sirva de padrão e de medida a todos.
O reajustamento vai ser difícil, a memória das velhas gerações com os seus mitos e os seus modelos vai continuar presente por muito tempo, mas a escolha é cada vez mais imperativa: ou uma sociedade dual, com poucos de um lado e muitos do outro, e um enorme fosso a separá-los; ou uma sociedade mais homogénea na sua diversidade e pluralidade.
Para alcançar esta nova sociedade é preciso, como sempre, destruir a antiga, começando naturalmente por correr de vez com todos os seus representantes e intérpretes.
E como eles não permitem que “isto” se possa fazer pacificamente vai ter de se fazer como a História o ditar…

ACABOU! SÓCRATES FORA. JÁ!


NÃO É POSSÍVEL MAIS

Sócrates, sem tratar do assunto no Governo (o Conselho de Ministros não decidiu nem foi consultado), sem comunicar rigorosamente nada à Assembleia da República, mantendo o Presidente da República à margem, deslocou-se como vassalo a Berlim e depois a Bruxelas para apresentar um novo pacote de austeridade, feito à custa do roubo dos mais frágeis da sociedade portuguesa, representativo da expressão mais vergonhosa da política neoliberal, com total e ostensivo desprezo pelo povo e pelas instituições democráticas.
A forma como tudo se passou. As mentiras sucessivas. O completo descrédito a que o Primeiro Ministro chegou, não permitem esperar mais: Sócrates, fora!
O que virá a seguir neste momento já não importa. A convicção de muita gente é que o problema se não resolve com eleições. Complica-se e agrava-se com eleições. Mas isso é outra conversa, que também se não resolve com voluntarismos. A seu tempo se verá como…
O que de imediato interessa é o restabelecimento de um mínimo de dignidade. Um país quase milenário não pode ter no Governo quem não o saiba representar. Sócrates comportando-se como se comporta é indigno de representar o país. Fora!
Sócrates actua à margem do Estado e do Povo. Ignora as instituições democráticas. Despreza o povo. Só atende a boys. Fora!

ENTRE BANDIDOS


COMO ESCOLHER?

El País com aquela isenção que o caracteriza em política internacional diz hoje num artigo não assinado (e que não consta da edição on line) que Kadhafi dispõe de muito dinheiro na Líbia e que é com esses fundos que está a pagar mil dólares americanos por dia a cada um dos cerca de 4000 mercenários do Mali, do Níger ou do Sudão que lutam por ele.
Mil dólares por dia é muito dinheiro! É altura de fazer contas. Entre ser pago por um bandido a mil dólares por dia ou ser roubado por bandidos todos os dias…eis a questão!

sexta-feira, 11 de março de 2011

JAPÃO


O APOCALIPSE ACONTECEU

Hoje é dia de luto. Amanhã ajustaremos contas com os bandidos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A MOÇÃO DE CENSURA


ENFIM, O ESPERADO

A moção de censura não trouxe nada de realmente novo, salvo a alusão muito fugaz de Portas ao discurso de Cavaco Silva e algumas respostas de Sócrates a Louçã que mais pareciam dirigidas ao discurso de ontem do que propriamente ao proponente da moção.
O PSD, manifestamente “entalado” entre o discurso de ontem e a moção de hoje, optou por desvalorizar a moção, considerando-a surrealista e pouco credível, sem simultaneamente a rejeitar, e por esquecer momentaneamente o discurso de ontem.
É natural que o PSD actuasse assim, pois se não desvalorizasse a moção teria de votar contra, embora seja mais difícil justificar por que não a rejeitou, e também se compreende que tenha deixado momentaneamente na sombra o discurso de Cavaco, já que o seu aprofundamento obrigaria à apresentação de uma moção de censura. É, porém, provável que a actual direcção do PSD, para lá dos aplausos entusiasmados de ontem, também esteja ainda a ponderar os efeitos do discurso relativamente ao papel que o partido pretende desempenhar.
Portas praticamente nem à moção se referiu e aproveitou a sessão parlamentar para interrogar o Primeiro Ministro sobre questões várias da governação: contratos a prazo, BPN, juros da dívida, etc.
O PCP, pela voz de Bernardino Soares, coerentemente com a votação da moção criticou asperamente as políticas laborais de Sócrates, nomeadamente as propostas que foram apresentadas à concertação social.
Na segunda volta das intervenções a palavra pertenceu aos segundos-planos e o debate continuou no mesmo tom morno até ao fim, não sem que antes, Assis, a pretexto de responder a Louçã, e mais tarde também Sócrates, tivessem de facto respondido a Cavaco.
Infelizmente, ninguém quer saber do que se passa em Bruxelas, nem do próximo Conselho Europeu.
Feitas as contas, o resultado será o que antes se conhecia: o PS votará contra a moção; o PSD e o CDS abster-se-ão; e o BE e o PCP, serão a favor.