sexta-feira, 2 de outubro de 2020

TEXTOS PUBLICADOS NO FACEBOOK EM JUNHO

PARA MEMÓRIA FUTURA 



RTP

A RTP escolhe a dedo os seus correspondentes no estrangeiro. Este que está na América é incapaz de contar o que se passa. Acantonou - se numa avenida de Minneapolis e está manifestamente ansioso por começar a atacar os manifestantes

Bolas, é demais!

20/06/02

CENTENO

Querem saber quem é o Centeno como Ministro das Finanças? Leiam o programa económico com que o PS se apresentou às eleições em 2015 e logo perceberão o que vale o Centeno politicamente.

Os grandes ministros das finanças da primeira legislatura de António Costa chamam-se Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, apesar de sistematicamente travados por Centeno nas cativações.

Por último, Centeno mostrou a faceta mais lamentável da sua personalidade política durante a pandemia - uma covardia política como raramente se vê.

20/06/09

A INDEPENDÊNCIA DO BANCO DE PORTUGAL

Já aqui (no fb), e no Politeia, dissertamos longamente sobre a “independência” das entidades reguladoras. Não vamos, por isso, voltar a desenvolver o tema. Vamos apenas recordar que a “independência” das autoridades reguladoras é uma invenção do neoliberalismo destinada a afastar o Estado da defesa do interesse geral, colocando-o ficticiamente numa posição de igualdade relativamente aos privados que dominam as empresas cujas actividades as entidades reguladoras supostamente regulam. Ficticiamente, já que na realidade o que acontece é a quase completa subalternização do Estado relativamente aos interesses do capital.

Por isso, nos não parece pedagogicamente aconselhável discutir a nomeação do próximo governador do Banco de Portugal em função da sua maior ou menor proximidade com o partido X ou Y. De facto, a questão não está em saber se Carlos Costa não servia porque estava muito ligado ao governo de Passos Coelho ou se Centeno também não pode ocupar essas funções por antes ter desempenhado as de Ministro das Finanças. A questão está na falsa independência do Banco de Portugal e na desresponsabilização do governo por tudo o que nele se passa com pesadas consequências para os cidadãos em geral.

Como o tema é demasiado importante na governação de qualquer país, ele deve ser inequivocamente apresentado pelos partidos políticos que rejeitam o neoliberalismo bem como a sua institucionalização pela via dos múltiplos expedientes de que este se serve para afastar o Estado do papel que lhe compete – a defesa do interesse geral tal como o governo o interpreta em programas eleitoralmente sufragados pela via eleitoral. Embora não seja possível alterar os estatutos do Banco de Portugal nem os do BCE por via de declarações políticas, é possível contudo defender politicamente uma actuação dos bancos centrais que aponte no sentido de promover o desenvolvimento e o emprego, como interesses de primordial importância para o Estado enquanto representante do interesse geral, em vez de se aceitar passivamente uma actuação que tenha exclusivamente em vista a “estabilidade dos preços” e a defesa do interesse dos banqueiros, como desde há cerca de trinta anos tem acontecido por toda a União Europeia.

O Banco Central não existe para servir os bancos nem o capital financeiro. O Banco Central existe para defender e pôr em prática a política do governo no sector financeiro e na economia em geral. Somente por esta via se poderá garantir, nos quadros do sistema, a democraticidade da sua actuação. Erigindo-o em poder independente, politicamente irresponsável, está aberta a porta por onde tudo pode entrar sem que ninguém seja responsável pelo que entra. E foi assim que no curto espaço de 20 anos já entrou uma grande crise financeira cujas consequências se tem feito pesadamente sentir até hoje no “bolso” dos cidadãos.

20/06/09

A RTP3

Ontem à noite ou talvez já hoje de madrugada liguei a televisão. Estava na RTP 3. Joaquim Fidalgo comentava os títulos da imprensa de hoje. Falava do arquivamento do processo “Olof Palme” que, segundo o Ministério Público da Suécia, terá sido assassinado por um desenhador gráfico que se suicidou há 20 anos. Falava sobre a hipótese de ter havido ou não conspiração, sobre a hipótese de poder estar implicado algum dos inimigos políticos de Palme, ao rol dos quais logo foram acrescentados, com toda a convicção, pela fulana que tem a seu cargo o noticiário da noite, “a União Soviética e os países de Leste”. Um pouco admirado com aquela imputação, Joaquim Fidalgo limitou-se a dizer: “Muito provavelmente a extrema-direita sueca”.

Chamo a atenção deste episódio a título de exemplo e não tanto pelas eventuais consequências do comentário da senhora locutora. Esta fulana, cujo nome desconheço, mas que de há muito identifico como uma das fascistoides que pululam na RTP, é a mesma que há dois meses ou três meses ainda o Governo não tinha acabado de enumerar as medidas que havia tomado para tentar evitar a propagação da pandemia, já estava a desmerecer de tudo o que acabava de ser enunciado e a predizer as piores consequências para os portugueses, com a saúde dos quais ele se estará positivamente nas tintas, apenas se servindo deles como arma política contra todos que não partilham a sua cartilha política.

É de facto inadmissível que na RTP haja entre os seus funcionários quem se julgue dono do programa ou dos programas que tem a seu cargo com completo alheamento do verdadeiro conteúdo da função que desempenha e dos interesses que importa servir e defender. E mais estranho é ainda que o Governo se mantenha completamente à margem do que lá se passa para já não falar na ERC cuja credibilidade é ZERO! Escudando-se na falsa liberdade de imprensa, como algo de que se podem apropriar para propagandear a sua agenda política, esta gente da RTP sabe explorar como ninguém o preconceito que infesta e tolhe a consciência dos que se sentem incapazes de intervir numa área onde qualquer intervenção será sempre qualificada de censura por quem viola os seus deveres de funcionário e desrespeita o seu código deontológico por mais legítima e justificada que essa intervenção seja.

20/06/11

SOBRE AS ESTÁTUAS

Apenas isto: lembro-me perfeitamente do entusiasmo com que as televisões e a imprensa ocidental, os jornalistas e comentadores acompanharam a destruição ou desmantelamento das estátuas na extinta URSS e nos países do leste europeu.

Apreciaram muito…

20/06/13

ALMIRANTE TENREIRO

Lembram-se de Tenreiro? Os mais velhos, certamente. O Almirante Tenreiro era um amigo de Salazar, apoiante da ditadura, que durante o "Estado Novo" era identificado com o "tachista" típico do regime, tantos e tão variados eram os lugares que ocupava, além da actividade empresarial que também desempenhava.

Nessa altura nós, nos verdes anos da nossa juventude, acreditávamos que um exemplo daqueles só poderia existir na ditadura fascista de Salazar ou de outra mais ou menos parecida, como a de Franco, por exemplo.

Hoje, 46 anos depois do derrube da ditadura, na madurez da nossa idade, certamente que muitos dirão:

"Olhe que não. Isso também pode acontecer em democracia...E não há comparação possível entre as prebendas de ontem e as de hoje."

A que propósito me teria lembrado disto?

20/06/13

O CONTINENTE AMERICANO

Nada no mundo se assemelha ao continente americano. É um continente diferente de todos os outros. Certamente, que por toda a parte houve migrações O homem de que hoje descendemos terá nascido em África e daí migrou para todo o planeta. Ou mesmo que tenha nascido em vários outros lugares não ficou nos lugares onde nasceu.

Só que tudo isto se perde na voragem e na memória dos tempos, a ponto de, quando hoje se pretende fazer a reconstituição dessas migrações, haver mais dúvidas do que certezas.

No continente americano, com a configuração que hoje tem, o que se passou aconteceu "ontem", na Idade Moderna, desde há 500 anos para cá.

E o que se passou, resume-se em três palavras: conquista, extermínio e escravatura. E isto não tem paralelo com o que passou a partir daquela mesma data em qualquer dos outros dois grandes continentes: a Ásia e a África.

Portanto, os que hoje lá vivem - e eles são, em larga medida, os descendentes dos "fizeram" aquele continente - vão ter muito que penar se quiserem reconstituir a "pureza original" e nunca o irão conseguir por mais voltas que dêem ou por mais estátuas que derrubem. Mais lhes vale aceitar a História e construir um futuro que vá, gradual ou aceleradamente, esbatendo, até a erradicar, a pesadíssima herança dessa História, concedendo ao que resta dos povos originários e às centenas de milhões de descendentes de escravos uma verdadeira cidadania que elimine de vez as raízes da sociedade dual em que a maior parte do continente, para não dizer a totalidade, continua hoje a viver.

Esses descendentes dos conquistadores, exterminadores e esclavagistas, que se sentem envergonhados com a História do continente em que vivem, que juntem as suas forças aos milhões de enjeitados da fortuna, e construam uma sociedade nova que elimine de vez as raízes e as consequências da sociedade esclavagista em que nasceram e em que foram criados e educados para a perpetuar. Esse trabalho continua por fazer, tal o peso e a força das oligarquias dominantes, não obstante os esforços regularmente repetidos dos oprimidos, que de tempos a tempos parecem emergir com a força suficiente para iniciar essa mudança, mas que, ou por erros próprios ou por perfídia alheia, regularmente soçobram, e tudo volta à estaca zero sem se consolidar a parte mais importante do que parecia conquistado.

Aprender com a História significa tornar irreversíveis as conquistas dessa luta e isso, já se percebeu, não vai ser possível enquanto não for desmantelado o poder das oligarquias dominantes.

Façam isso e deixem as estátuas para mais tarde, para quando saírem vitoriosos dessa luta, essa sim, verdadeiramente refundadora do continente americano.

20/06/13

OS TELEJORNAIS

Hoje, fui vendo os três jornais da noite, saltitando de um para outro.

A primeira conclusão que se retira, mais ou menos consensual, creio, é a de que toda a informação televisiva tem a marca de direita. Não será, nem nada que se pareça, um direita extrema, mas é a de uma direita mansa que contextualiza factos e os envolve em explicações que tendem a passar por naturais, óbvias, como se não houvesse outras. É uma espécie de um estilo salazarista modernizado. É essa base.

E a segunda conclusão é a de que a Esquerda não tem uma única voz sua nos telejornais. Pode episódicamente aparecer alguém de esquerda relacionado com a noticia, como não poderia deixar de ser, a emitir uma opinião ou a defender uma posição, mas voz, voz mesmo com direito a assento, não há. Quanto muito alguém de centro ou do chamado centro esquerda, mas de esquerda, não.

O que não deixa de ser espantoso tendo em conta o número de pessoas que se situa nesse quadrante.

A CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Quando em Portugal há suspeitas de corrupção de pessoas ou entidades importantes, alicerçadas nas investigações das autoridades policiais e judiciais, o assunto é amplamente discutido na imprensa e nas televisões, a ponto de em algumas destas se constituírem autênticos "tribunais mediáticos", quase sempre sem a presença dos suspeitos ou de quem os defenda, que rapidamente fulminam os visados com sentenças demolidoras sem direito a recurso.

Curiosamente, está neste momento em curso um processo da maior importância, não apenas pelas entidades envolvidas como pelas consequências que o mesmo pode ter tido (e continuar a ter) para o erário público português, a confirmarem-se os indícios do MP, sobre o qual quase nada se sabe.

Não estamos evidentemente a advogar que em relação a este processo se constituam os conhecidos "tribunais pseudo populares" nas televisões nem que a imprensa vá desde já ditando as suas sentenças inapeláveis sobre o que está sendo investigado. O que gostaríamos era de ser mais bem informados sobre o que se está a passar. Em vão percorremos os jornais, revistas e as estações de televisão, nenhum deles nos presta essa informação elementar.

Por que será que tal acontece? Por que será que não faltaram centenas de artigos e debates sobre a "operação Marquês" nem sobre os múltiplos processos que o Benfica tem pendentes e não haja mais que secas notícias sobre a investigação que recai sobre dois altos cargos da EDP, indiciados pelo crime corrupção activa para obtenção de rendas excessivas? Por que será? Por que será que um assunto tão importante para o contribuinte português, que paga anualmente milhões de euros à EDP, não merece o interesse nem o empenhamento dos nossos impolutos jornalistas? Por que será?

20/06/15

RACISMO

Enquanto o grande Luís de Camões no século XVI se apaixona pela jovem chinesa, que imortaliza como a sua Dinamene num soneto que todos nós aprendemos a recitar de cor, outro grande poeta português do século XX apouca a sua grandeza defendendo aos 20 anos, aos 32 e aos 40 o racismo, a escravatura e a inferioridade das mulheres.

20/06/16

TEXTOS PUBLICADOS NO FACEBOOK EM MAIO

 



PARA MEMÓRIA FUTURA   



A HERDADE

A Herdade, filme de Tiago Guedes, que tão badalado foi desde que iniciou a sua apresentação, seja em festivais, seja nos circuitos comerciais de distribuição, decepcionou-me, com muita pena minha. Creio que é a primeira vez que me atrevo a fazer publicamente um comentário sobre um filme. E para que não haja mal entendidos quero que desde já fique claro que isto não é nem poderia ser uma crítica cinematográfica. Falta-me a competência para tanto. Não obstante, é necessário começar por dizer que acho a fotografia excelente, acho a interpretação da maior parte dos actores muitíssimo boa como muitíssimo boa é a sua direcção. Não é nada disso nem outras questões de natureza técnica o que está em causa na minha apreciação.

O que está em causa é a frustração que não pode deixar de sentir-se durante a exibição do terceiro e quarto episódios (o filme foi apresentado em episódios na RTP) à medida que nos vamos apercebendo que entre a primeira parte do filme (primeiro e segundo episódios) e a segunda não há a continuidade que se esperava e que a primeira parte amplamente justificava, qualquer que ela fosse na visão do realizador. O que não faz, a meu ver, sentido é transformar a segunda parte do filme no desenvolvimento praticamente exclusivo de algo episodicamente aflorado no seu começo.

Se o realizador tinha em vista, como parece que teve, dar uma ideia da história recente de Portugal (entre 1946 e 1991 ou eventualmente até aos nossos dias), seguindo as vicissitudes de uma família, latifundiária alentejana, com as suas específicas características não necessariamente generalizáveis, deveria na segunda parte fazer idêntico enquadramento da realidade política e socioeconómica que contextualiza a vida das pessoas, sem deixar de ter em conta o facto que infelizmente, bastante a despropósito, acaba por dominar toda a segunda parte do filme com completo desprezo pelos tais factores contextualizantes fundamentais à compreensão da vida das pessoas e à sorte dos seus empreendimentos.

Na primeira parte, o realizador dá-nos uma imagem de um latifundiário muito peculiar, marialva mas não desprovido de outros valores, independente, altivo mas com capacidade para compreender outros interesses além dos seus, não obstante desde cedo se ter percebido que a sua herdade (herdada do pai) é uma espécie de território independente, uma “zona franca” como lhe chamam os caudatários do regime, que lhe permite exibir com orgulho a sua independência e altivez perante o próprio regime fascista.

Casado com a filha do director da PIDE, um “filho da puta” como ele lhe chama, vê-se na necessidade de a ele recorrer para conseguir a libertação de um seu trabalhador, mecânico de máquinas agrícolas, filiado no Partido Comunista, tendo para tanto que pagar o tributo que desde há muito lhe vinha sendo exigido pelos altos dignitários do regime – um apoio explícito à guerra colonial, travada, como ele também costumava sublinhar, contra os “independentistas africanos”. Contra os “turras”, corrigem os fascistas.

Não se pense contudo que o João Fernandes – assim se chamava o protagonista – era um militante antifascista ou um simples militante oposicionista. O seu mundo era a sua herdade e a sua política era a sua independência e com uma e outra a possibilidade de emitir as opiniões e levar a cabo as acções que julgava adequadas a cada situação.

Não obstante este enquadramento inicial e o que subsequentemente resulta do 25 de Abril, com tudo o que ele representou para as regiões do país abrangidas pela Reforma Agrária, cujos primeiros embates, tanto quanto se depreende, ele consegue aguentar, com independência mas também com compreensão pelas inevitáveis mudanças, recorrendo ao diálogo e não desprezando o apoio dos seus próprios trabalhadores, num contexto em que a família está sempre presente, como pano de fundo, numa visão mais institucional do que afectiva; porém, na segunda parte, o realizador passa a dedicar a sua quase exclusiva atenção ao incesto que resulta de o filho da mulher do “maioral” se ter apaixonado pela filha do latifundiário, que, afinal, é sua irmã. Embora se saiba praticamente desde o início do filme que é do patrão o filho da empregada da casa – quando a mulher do latifundiário corrige o ministro do interior, referindo-se à criança: “Esse não é meu, é da Rosa” – isso não assume nenhum especial relevo na primeira parte do filme – a mulher sabe, como também sabe que ele andou com a sua irmã, antes do casamento – sendo esse apenas um dos múltiplos factores que caracterizam a personalidade do protagonista, sem contudo o representarem por inteiro.

Na segunda parte, numa cena fugaz percebe-se que a herdade tem os bancos “à perna”, os negócios não correm bem (mas porquê?), o protagonista embora guarde algumas das suas características mais marcantes, vai perdendo o brilho de quem perde o poder e já não depende de si para continuar a ser o que no passado tinha sido, e a “história” do filme passa a ser dominada pelo tal namoro entre os irmãos, cuja parentesco desconhecem, caminhando a decadência da herdade a par e ao lado da dramatização da situação das famílias envolvidas.

Sem herdeiro em quem confie, um filho droga-se, o outro (o da Rosa) abandona a herdade, sem dinheiro para pagar as dívidas, com a mulher desinteressada na continuação do casamento, João Fernandes fica só e vai ter um triste fim.

Numa palavra: falta contexto ao filme ou, como outros dirão: falta-lhe enredo…

20/05/02

A IGREJA

A Igreja que se cale e não se proponha disseminar a peste que foi o que historicamente sempre fez em circunstâncias análogas.

20/05/03

GUINÉ

Faz hoje 46 anos que regressei da Guiné onde cumpri, na Marinha, uma comissão de serviço militar de 24 meses.

O ambiente que encontrei na Guiné foi muito bom. Quer com os guineenses com quem tive a oportunidade de me relacionar, quer com os camaradas militares, principalmente os milicianos, mas também com muitos oficiais do quadro permanente de que fiquei amigo para a vida.

Escusado será dizer que durante aqueles 24 meses a política esteve permanentemente presente. À medida que o tempo passava e a situação militar se agravava, percebia-se que o regime estava num beco sem saída, embora não fosse nada seguro o que poderia vir a seguir. A extrema-direita já tinha dado sinais suficientes de que estava activa. Faltava saber se teria força suficiente para concretizar a ameaça. Rivalizando com esta, projectava-se a sombra de Spínola, nomeadamente depois do seu regresso a Lisboa. E Spínola era para nós uma tentativa de continuar por outras vias o mesmo objectivo

Com o desfecho do 16 de Março reavivaram-se medos antigos e consolidava-se a convicção de que as tentativas de derrube do regime pela via militar estavam condenadas ao fracasso.

Até que, dias depois, chegou a Bissau, vinda do Alfeite, uma fragata (ou corveta...) que trazia a bordo o primeiro-tenente Judas (irmão do José Luis Judas) que nos contou "direitinho" o que tinha acontecido e o que, dentro de pouco tempo, iria acontecer. O que tinha acontecido foi bem explicado e bem compreendido, mas já quanto ao que iria acontecer, a forte convicção do narrador não foi suficiente para nos incutir idêntico optimismo.

Os factos encarregaram-se porém de falar por si...

20/05/04

AINDA SOBRE O 1.º DE MAIO

Tendo em conta as reacções que continuam a vir a público sobre as comemorações do 1.º de Maio, a primeira coisa que ocorre dizer a quem as ouve é a de que não pode deixar de estranhar-se que nem o Presidente da República conheça a lei que promulgou nem o presidente do maior partido da oposição conheça as leis que regem a República, nomeadamente aquelas a que ele e o seu partido deram o seu assentimento ou não manifestaram relativamente a elas qualquer oposição. Evidentemente, que a lei obriga e vincula independentemente do conhecimento que dela se tem, só que não é vulgar que a ignorância da lei seja manifestada por quem interveio directamente no processo legislativo.

Se a Igreja queria gozar de uma excepção semelhante à que foi estabelecida para o 1.º de Maio só teria que fazer chegar essa sua vontade ao Presidente da República ou ao Primeiro Ministro e ela seria certamente atendida. Sem a excepção expressamente consagrada na lei, já seria mais difícil poder beneficiar de um comportamento semelhante ao que foi reconhecido aos manifestantes do 1.º de Maio, porque as normas excepcionais não são susceptíveis de aplicação analógica, contrariamente ao que deu a entender a Ministra da Saúde.

Se a excepção tivesse sido consagrada seria muito interessante tanto para os crentes como até para muitos não crentes assistir pela televisão na imensa esplanada do Santuário de Fátima a uma coreografia semelhante à que a CGTP montou na Alameda, com os altos dignitários da Igreja, à distância social recomendada, nas suas vestes talares, com convidados ilustres também em traje de gala e outros membros menores do clero participarem com pompa e circunstância numa cerimónia religiosa de grande efeito cénico, além, claro, do imposto pela devoção dos participantes.

A Igreja sempre tão atenta à exposição pública da sua fé não terá deixado de comemorar Fátima na modalidade imposta pela pandemia por desleixo ou por outra causa da mesma natureza. Talvez não seja ousado afirmar que nem sequer terá sido pelo trabalho organizativo que semelhante comemoração acarretaria, já que a Igreja é uma das instituições que em Portugal sempre revelou essa capacidade. A verdadeira razão talvez tenha sido outra: uma comemoração nos moldes impostos pela pandemia acarretar-lhe-ia um enorme dispêndio de fundos. Ficava caro e sem retorno. Ora, Fátima não existe para dar prejuízo!

20/05/05

O DIA DA VITÓRIA

Comemorar o 9 de Maio, dia da vitória, com um elogio a Franco não é necessariamente uma aberração, é apenas uma opção política. Mas afirmar que Portugal se manteve neutral na II Guerra Mundial, que a Península ficou à margem da guerra e que Hitler não tomou Gibraltar por Franco, em Hendaye, se ter recusado a entrar na guerra é dar da história uma visão incompleta que corre o risco de a deturpar, por muito que o objectivo seja apoucar Salazar (agora que ele já morreu há 50 anos…).

Vamos aos factos: No outono de 1940 Hitler já sonhava com uma Alemanha vencedora e porventura com um plano de paz que pusesse termo ao conflito no Ocidente europeu susceptível de reflectir a correlação de forças existente no campo militar. Depois de derrotada a França, ocupada a Polónia e dominada a Europa do norte, só faltava a rendição da Inglaterra e a repartição dos seus despojos imperiais pelos vencedores.

Para abreviar o termo do conflito, à Alemanha interessava a entrada da Espanha na guerra e a Espanha também estava interessada em sentar-se à mesa dos vencedores, desde que não tivesse que fazer um grande esforço, dada a penúria em que se encontrava, e pudesse tirar dessa participação uma grande vantagem. Foi assim, neste contexto bélico e de interesses não necessariamente coincidentes, que decorreu o encontro de Hendaye entre Hitler e Franco em finais de Outubro de 1940.

A situação de Espanha era à época deplorável. Completamente exaurida por uma guerra civil de três anos, a Espanha estava faminta, atrasadíssima, com péssimas vias de comunicação e militarmente fraca, apesar da vitória interna alcançada um ano antes.

Franco, como qualquer outro espanhol megalómano (de que Aznar nos tempos modernos é também um bom exemplo, mas não o único), sonhava com uma Espanha imperial. Daí que nas negociações com os alemães, mesmo quando conduzidas do seu lado por confessos simpatizantes nazis, a Espanha pretendesse como contrapartida da sua entrada na guerra, além de comida, combustíveis e fornecimento de material bélico em quantidades absurdas, a transferência dos territórios franceses do norte de África e Gibraltar, claro.

Os alemães jamais cederam a esta pretensão, Hitler inclusive. A justificação era muito óbvia: Hitler não queria hostilizar a França de Vichy, com a qual ainda contava para fazer a guerra à Inglaterra, e, portanto, não se ia comprometer com a entrega de vastos territórios de um potencial aliado, que na estratégia alemã era muito mais importante para o futuro próximo da guerra do que a da depauperada e miserável Espanha. Assim, no Protocolo que reflecte o ponto das conversações de Hendaye, a Alemanha limitou-se a aceitar:

“Além da união de Gibraltar, as potências do Eixo declaram que, em princípio, estão preparadas para dispor, no decurso do acerto geral em África, que se levará a cabo nos tratados de paz após a derrota da Inglaterra, que sejam cedidas a Espanha certas áreas em outras secessões territoriais em África com o mesmo valor. As reclamações a fazer pela Alemanha e a Itália à França não deverão ser afectadas por isso”.

Este compromisso, negociado por Ribbentrop, que a Alemanha aceitou fazer por escrito, não satisfez Franco nem o seu cunhado Serrano Süner, tendo por isso sido apenas assinado pelos embaixadores dos dois países, Monteros e Stohrer. A Espanha sabia que não tinha condições para entrar na guerra, embora quisesse fazer parte dos vencedores. E como a história demonstrou com outros aliados de Hitler, a Alemanha só teria perder, mesmo quando estava a ganhar, com um aliado como a Espanha.

Não obstante, Hitler ficou decepcionadíssimo com Franco e logo percebeu que dali não resultaria nada de útil. Se decidisse tomar Gibraltar teria de fazê-lo pelos seus próprios meios. Talvez por isso Franco tenha encarregado o seu estado-maior de preparar um plano para a invasão de Portugal com vista ao domínio da costa marítima, caso Hitler desencadeasse um ataque destinado a tomar Gibraltar, para obviar a um desembarque inglês nas costas portuguesas.

Como se sabe, nada disso aconteceu. A Alemanha, em fins de 1940, deparou-se com problemas no sudeste da Europa por um dos seus aliados se ter revelado incapaz de alcançar o objectivo a que se tinha prioposto – conquista da Albânia e da Grécia pela Itália. Logo a seguir as coisas também deixaram de correr bem no norte de África e passaram a correr muito pior depois da entrada dos Estados Unidos na Guerra (Dezembro de 1941) e a partir de Junho de 1941 as suas atenções focaram-se fundamentalmente na frente leste, onde apesar das facilidades iniciais, tudo começou a correr muito mal desde fins de 42.

Assim, a questão da Espanha deixou de ser relevante para a Alemanha. Quanto a Portugal, nem a Inglaterra nem a Alemanha estavam interessadas na entrada de Portugal na guerra. E Portugal, mesmo contra vontade própria, só não foi obrigado a entrar, porque quando a Inglaterra e os Estados Unidos fizeram as grandes exigências a Salazar, concedidas depois de um longo e complexo enredo negocial, a Alemanha já não estava em condições de belicamente as poder contrariar.

No governo de Salazar as simpatias dividiam-se entre ambos os contendores, embora numa primeira fase os simpatizantes do Eixo nazi-fascista fossem predominantes. Salazar começa por defender convictamente a neutralidade, mas fica muito abalado com a participação da URSS ao lado da Inglaterra e dos Estados Unidos, a ponto de não se coibir de censurar asperamente essa aliança em vários discursos.

Acabou por tudo lhe correr bem tacticamente. Até essa inusitada aliança, pelos seus efeitos posteriores. A vitória das potências do Eixo não lhe traria, em princípio, problemas de continuidade, embora tivesse de dar outra visibilidade à doutrinação nazi-fascista, o que não era completamente do seu gosto pelas movimentações populares que a transformação da União Nacional num partido de massas necessariamente implicaria. A vitória das forças aliadas, pelo contrário, constituiria do ponto de vista teórico um sério risco à sua continuidade. Quis o destino que a rápida emergência de um clima de Guerra Fria lhe tivesse garantido a continuidade de um lugar que doutro modo estaria em causa.

Salazar teve sorte, mas também teve o mérito de impedir, nomeadamente no seio das forças armadas, a formação de uma força moderada que gozasse da confiança da Inglaterra e dos Estados Unidos capaz de promover as mudanças cosméticas de que o regime necessitava para se legitimar “democraticamente” aos olhos das potências vencedoras.

Por um lado, o facto de a Península ameaçar virar exageradamente à esquerda em caso de deposição dos dois regimes de tipo fascista que nela governavam e, por outro, a agudização cada vez mais intensa da Guerra Fria, salvaram Franco e Salazar. Tiveram sorte tanto um como outro,

Aliás, era com essa mesma Guerra Fria num contexto já internacionalmente diferente com que Salazar contava vinte e tal anos mais tarde para resolver a seu contento as guerras coloniais. Só que ai o seu falhanço foi total e sem salvação possível por incapacidade de compreensão do mundo em que então vivia.

20/05/09

CENTENO E O NOVO BANCO

Nunca vi nem ouvi Centeno a fazer uma afirmação tão categórica sobre a necessidade de um financiamento como fez hoje (ou ontem) a propósito do Novo Banco.

A morte de pessoas às centenas não o impressionou tanto, se é que impressionou. Aliás, em matéria de pandemia, tem estado "desaparecido em combate", mas apareceu para defender a necessidade de financiamento do NB!

20/05/13

TAP - PARA AVIVAR A MINHA MEMÓRIA

Alguém me pode, pf, transcrever uma declaração do Sr. Rio ou do Sr. Moreira contra a privatização da TAP? Já nem peço uma declaração contra o contexto fraudulento e ilegítimo em que ocorreu a privatização decidida por Passos, Maria Luís e Portas, mas apenas contra a privatização “tout court”.

20/05/28

AMEAÇAS, EXTORSÕES, SANÇÕES, AGRESSÕES, MENTIRAS, ABANDONO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

São estas algumas das armas usadas por qualquer Estado terrorista. Fazendo da sua força o seu direito e erigindo o seu interesse por mais condenável que ele possa ser em única norma de conduta, a sociedade regride ao estado de natureza donde saiu antes de a racionalidade imposta pela convivência com os outros e com os seus lhe ter ditado um pacto sem a existência do qual nada distinguiria o homem do animal irracional.

20/05/30

TEXTOS PUBLICADOS NO FACEBOOK DE 23 A 30 DE ABRIL

 

PARA MEMÓRIA FUTURA 



LEONARDO MATHIAS

Foi com pesar que tomei conhecimento da morte do Embaixador Leonardo Mathias com quem contactei muito de perto no Ministério dos Negócios Estrangeiros durante o período em que foi o chefe da Representação Permanente de Portugal junto das Comunidades Europeias (REPER), em Bruxelas.

Se ideologicamente nada nos ligava, ele era um conservador oriundo do antigo regime e eu com passado antifascista e presença na linha da frente durante a Revolução de Abril, nem por isso as nossas relações deixaram de ser cordiais, principalmente durante as longas viagens para participação em reuniões da Comunidade Europeia com os países da África, Pacífico e Caraíbas (ACP).

Ele olhava com alguma sobranceria aristocrática a nova direita cavaquista, no poder durante o tempo em que desempenhou cargos importantes, e talvez fosse esse o traço de união que nos aproximava, por vias diferentes, na crítica conjunta dessa nova classe política.

Homem culto e amante da vida, deixou uma recordação simpática. Ao irmão, Embaixador Marcelo Mathias, as minhas sentidas condolências.

20/04/23

 

A UNIÃO EUROPEIA E OS JURISTAS

 Não vale a pena fazer nenhuma dissertação sobre o tema. Vale contudo a pena anotar a susceptibilidade de certos juristas portugueses que não deixam de sublinhar a ausência de fundamento legal para o endividamento da Comissão bem como para o financiamento directo dos Estados pelo BCE.  

Mas nunca vi nenhum deles preocupado pela institucionalização de um órgão que não está previsto nos tratados (Eurogrupo), por o Tribunal de Justiça da União Europeia ir muito para além da li dos tratados nas suas decisões, nem por os tratados não terem previsto o "novo corona vírus"( ah, ah, ah)!

20/04/25

25 de ABRIL COMEMORAÇÕES

As grandes Revoluções comemoram-se nos momentos mais difíceis, comemoram-se quando o país está ocupado, comemoram-se quando os exércitos invasores estão a poucos quilómetros do local das comemorações, comemoram-se mesmo com a presença dos "resíduos tóxicos" não erradicados, sejam eles antigos (CDS) ou novos (Chega).

20/04/2

ELEIÇÕES AMERICANAS

Depois das últimas palhaçadas de Trump, dei hoje comigo a pensar que se as eleições de Novembro próximo derem resultados muito ajustados, poderemos ter na América uma "cenaça" daquelas que a gente costuma ver noutros continentes.

Eleições contestadas, dois presidentes, etc.,etc.

20/04/27

O VIROLOGISTA PAULO PORTAS

Toda a gente acha normal que este antigo especialista em sondagens, submarinos, jornalismo e outras ciências seja agora virologista.

Então, não é óbvio que há aqui qualquer coisa escondida? Há uma lavagem de imagem, há alguém que está por trás desta lavagem de imagem e há um objectivo que se pretende alcançar.

O que acho estranho não é que Paulo Portas tente isto e que alguém esteja nisto interessado. O que acho estranho é que ninguém se interrogue por que razão vem um fulano como Paulo Portas diariamente debitar interpretações sobre o comportamento do vírus.

Dou apenas um exemplo: o que se passaria nas redes sociais e na imprensa se este papel estivesse a ser desempenhado por José Sócrates, por exemplo?

20/04/29

SIZA VIEIRA NA SIC N

Durante cerca de uma hora, Siza Vieira, Ministro da Economia, respondeu a um cerrado interrogatório do conhecido representante dos patrões, José Ferreira, que nem sequer tem a preocupação de disfarçar o papel que desempenha, ou não fosse ele empregado da SIC.

Como bem sabe quem já pisou os terrenos das "ajudas às empresas", não há no panorama jurídico português credor mais aguerrido do que o credor de uma liberalidade. Se o contrato é comutativo, com vantagens recíprocas, o credor empresário é, no quadro do sistema, um credor normal, certamente por ter consciência de que também ele é devedor perante o outro contraente. Se, porém, o seu crédito resulta de uma liberalidade, ele é, em princípio, intratável. Movido por uma voracidade que o transtorna, torna-se absolutamente insuportável enquanto não recebe o dinheiro, porventura por temer que a todo o momento esse dinheiro se esgote ou o doador mude de opinião.

Pois até nesse pormenor psicológico extremamente interessante, o jornalista José Ferreira se comportou como um desses empresários "credores" de liberalidades. Valeu-nos a excelente prestação do Ministro, que é inquestionavelmente um dos nomes com valor no Gabinete de António Costa.

Só foi pena que sobre a questão porventura mais interessante para certos sectores da audiência - a natureza da "ajuda" da UE - o Ministro não tivesse tido a oportunidade de expor com mais pormenor a sua posição, ou seja, a posição do Governo. Mas que é que isso interessava a José Ferreira? Importante é que o dinheiro chegue aos bolsos dos seus representados. Se quem o dá o recebe por empréstimo ou por uma via não onerosa, isso a ele já não lhe interessa.

20/04/30

A PESTE

Sempre que uma peste assola a humanidade, a primeira e mais comum reacção é encontrar um culpado, alguém que possa ser responsabilizado por esse mal que não conseguimos contrariar e pelas consequências que não somos capazes de evitar.

E isto tanto se passou com a peste que no século V AC devastou a Ática, como com outras posteriores, sejam elas a que ocorreu cerca de mil anos depois em todo o Mediterrâneo, seja com a mais conhecida de todas – a Peste Negra que na década de 40 do século XIV exterminou um número incalculável de vítimas desde os confins das estepes, passando pela China, Golfo Pérsico, Mar Vermelho e norte de África, até à nossa conhecida Europa, que à época ainda estava longe de se poder considerar o centro do mundo.

NA Europa, durante a Peste Negra, houve quem tivesse culpado as mulheres e desaconselhasse vivamente a “lascívia carnal com mulheres”, como aconteceu na Suécia e na Inglaterra, mas também houve quem tivesse culpado os judeus, como na Alemanha, infligindo-lhes castigos cruéis que quase os exterminaram em vastas regiões. Como alguém já disse: “É perigoso ter crenças diferentes em tempos de crise”.

Pois também agora, no século XXI, o civilizadíssimo espécimen do género humano não se poupa a esforços para imputar a terceiros a responsabilidade pela pandemia que está mudando radicalmente o nosso modo de estar na vida. Basta ouvir Trump ou o seu secretário de estado, Mike Pompeo, para não restarem dúvidas nem sobre a intenção que os anima nem sobre objectivo que os move. Mas não é preciso subir tão alto, basta percorrer aqui as nossas redes sociais para rapidamente se perceber que esses mesmos propósitos estão presentes na mente de pessoas aparentemente comuns, todavia possuídas de uma verdadeira fobia que nem sequer os deixa compreender o ridículo em que sistematicamente caiem ao assemelharem-se àqueles norte americanos histéricos que no auge da Guerra Fria, gritavam, fugindo: “Vêm ai os russos!”.

20/04/30