sexta-feira, 1 de abril de 2011

AS FALSAS LICENCIATURAS


MAIS UM SINAL DOS TEMPOS


Sempre nos jornais houve notícia dos que se queriam fazer passar por “doutores” sem o serem. Na maior parte dos casos nem necessidade tinham de falsificar documentos. A burla fundava-se na prática. Os casos mais conhecidos diziam respeito ao exercício de profissões liberais: médicos e advogados.

Agora, na época do empreendedorismo, as coisas passam-se ironicamente ao contrário. Querem passar por licenciados não para exercer por conta própria uma actividade profissional, mas para arranjar bons empregos, preferencialmente reservados às clientelas partidárias.

E é neste contexto que vem a conhecimento público o caso do vogal do Conselho de Administração dos CTT que apresenta em seu favor o cândido argumento, que, em linguagem praxista da Lusa Atenas, se poderia traduzir assim: “Então, se eu até tenho matrículas suficientes para ser “Dux Veteranorum”, porque não hei-de ter para ser dr., ainda por cima depois desta “coisa” de Bolonha?”.

Há tempos, a Clara Ferreira Alves em artigo do Expresso, sintomático de quem já perdeu a paciência para as inúmeras batotas existentes na sociedade portuguesa, queixava-se de que em Portugal, depois do alarido inicial, nenhum destes (e doutros ainda pior) casos tem consequências.

Às vezes até têm. Porém, opostas ao que se esperava: são premiados. Quem não se lembra de os jornais terem denunciado Carneiro Jacinto de, no MNE, se ter feito passar por licenciado em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, apesar nem os “calcanhares” lá alguma vez ter posto? Basta consultar documentos oficiais, públicos, do MNE, como o Anuário Diplomático, e vários despachos publicados no DR para não haver qualquer espécie de dúvida sob a forma como o dito cavalheiro era tratado.

E mais. Foi denunciada publicamente, por um ex-Ministro, a situação irregular, quanto a vencimentos, em que o ilustre cavalheiro se encontrava no gabinete de Freitas do Amaral, recebendo vultosos subsídios a que não tinha qualquer direito. E o que fez Freitas do Amaral? Publicou no DR um despacho atribuindo-lhe um vencimento quase idêntico ao do Primeiro Ministro. Despacho igualmente ilegal!

Mais tarde, mas ainda ao serviço, o dito cavalheiro declarou publicamente numa nota de imprensa que tinha pedido a exoneração de um lugar que há muito não exercia, por ter sido colocado em Lisboa. E o que lhe aconteceu? Freitas do Amaral ordenou que lhe fosse paga uma indemnização! Fantástico: pede a exoneração de um lugar que não desempenhava, continua a exercer a mesma função pela qual é principescamente remunerado e é indemnizado!

Mas não pensem que a história acaba aqui. Cerca de um ano mais tarde, Luís Amado, ao corrente de todos estes factos, vai repescá-lo a Silves, onde o dito cavalheiro acabava de ser derrotado pela estrutura local do PS para se apresentar como candidato a presidente da câmara, e nomeia-o conselheiro de imprensa em Washington, colocando em Nova York, em lugar expressamente criado para o efeito, o funcionário que desempenhava essas mesmas funções em Washington, para que o dito “lic.dir” pudesse lá ser colocado.

E agora digam lá se ser honesto garante estas vantagens?

4 comentários:

Anónimo disse...

Sócrates, mais ou menos justamente, (aparte a situação pessoal) não vai livrar-se de ser associado à onda avassaladora de de chico-espertismo e vigarice. O que se passou no ensino é indescritível, embora a maior parte das pessoas visse o que via e pouco se preocupasse desde que o génio caseiro obtivesse o almejado canudo de "doutor". Um exemplo: há em Portugal licenciados/mestres/docentes no ensino "superior" que nunca concluíram o antigo 5º ano do liceu (isto é verdade!!!). quando se fala nas situações relatadas no Post e outras do tipo Vara é preciso ter presente que o fenómeno vem de muito longe, não começou com o Sócrates (há aí um caso de Estab "Superior" licenciado no tempo de C. Silva, diz-se que com o seu beneplácito, que não se percebe a sua não inclusão nos famosos rankings ao lado das famosas Cambridge Harvard etc!!!). Um dia deste o engº Todo-Bom explicava bem a situação e ele sabe, se sabe!

Anónimo disse...

Hoje este tipo de maus exemplos vem de cima, infelizmente. Sinal dos tempos, de facto.
Quanto ao caso do rapaz Jacinto,foi exactamente o que descreve. Estou, como muitos outros, ao corrente do assunto.
P.Rufino

anamar disse...

Zé Manel,
como eu o comprendo...
Abraço, dos bons.
Ana

Anónimo disse...

E conhecem a "dr.ª" Maria Elisa, aquela que´depois de ter servido na RTP teve um cargo diplomático em Londres, reservado a titulares de licenciatura?