quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

VITOR CRESPO, MILITAR DE ABRIL


 

E TODOS, TODOS SE VÃO…



Abril ficou mais pobre. Mais um que partiu. Destacado elemento do MFA, depois da adesão da Marinha ao Movimento que viria a derrubar a ditadura, Vítor Crespo desde cedo demonstrou a sua inabalável frontalidade na defesa da Revolução ao fazer frente, na Pontinha, em 25 de Abril, ao todo poderoso Spínola, quando pura e simplesmente lhe disse: “Meu General, os tanques continuam na rua…”. E então Spínola foi obrigado a aceitar o que só mais tarde e à sua custa acabaria por compreender: que os “tempos gloriosos” da Guiné tinham definitivamente terminado.

Membro destacado da Comissão Coordenadora do MFA e do primeiro Conselho de Estado, Vítor Crespo foi nomeado Alto Comissário para a descolonização em Moçambique, na sequência dos trágicos acontecimentos do Rádio Clube de Moçambique, de 7 de Setembro de 1974, onde se manteria até à independência.

Membro do Conselho da Revolução desde a sua criação, não obstante as funções que desempenhava em Moçambique, Vítor Crespo nele continuou, com excepção de um pequeno interregno no Verão de 75, até à sua extinção em 1982.

Desempenhou ainda com grande brilhantismo e assinaláveis êxitos as funções de Ministro da Cooperação do VI Governo provisório. Foi com Vítor Crespo na cooperação que se fecharam os principais acordos sobre o contencioso colonial com Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Pode agora dizer-se, como registo da época, que foi com alguma mágoa que Vítor Crespo se viu afastado destas funções governativas no I Governo Constitucional. Mas esse afastamento tinha de ser compreendido como uma consequência inelutável da estratégia que Mário Soares pôs em prática, com a colaboração de Sá Carneiro e também de Freitas, em obediência às imposições da NATO e da “democrática Europa Ocidental” que nem cheiro dos militares de Abril aceitava nos Governos de Portugal.

A estratégia era clara e implacável: primeiro, afastá-los do governo; depois, extinguir o Conselho da Revolução. Os poucos que ficaram durante os governos de Soares, Sá Carneiro e Balsemão não tinham qualquer compromisso sério com a Revolução.

Depois do exercício das funções governativas e após a extinção do Conselho da Revolução, Vítor Crespo, como os demais militares de Abril, foi marginalizado na respectiva arma e politicamente mantido à distância. Somente em épocas de grande investida das forças reaccionárias, como durante o cavaquismo ou agora, é aqueles que tanto contribuíram para o afastamento dos militares de Abril se voltavam demagogicamente a lembrar deles, invocando-os na vã tentativa de reescrever a história.

Mas a História aí estará para homenagear como grandes nomes da Pátria aqueles que, fazendo Abril e derrubando a ditadura, acalentaram o sonho de transformar Portugal. E, entre eles, Vítor Crespo figurará!

3 comentários:

manuel pushkin disse...

Não temas:a terra que deu estes Homens de que nos lembramos com gratidão e respeito,continua a produzir gente de igual qualidade.Não os reconhecemos,mas estão aí. E quando o general da reacção ordenar "Fogo!",nem o novo Salgueiro Maia vai pestanejar,nem o novo cabo vai cumprir a ordem!

Anónimo disse...

É isso mesmo, muito bem dito!
Era eu ainda uma "chavalito" e, por mero acaso, de passagem pelo Porto onde vi passar uma manifestação cujo palavra de ordem era "Vasco Lourenço sim, Vasco Gonçalves não"! O futuro ex-General Vasco Lourenço deve ter acreditado na declaração de amor. Passado não muito tempo teve também oportuniadde de comprovar a sinceridade dos "manifestantes"
lg

Anónimo disse...

Já passaram vários dias desde a inclusão deste artigo, mas só agora é que descobri o Blog, e gostava de dizer que ouvi 3 horas de uma entrevista que há poucos meses passou na Antena 2 e gostei de tudo o que o Vitor Crespo disse até que a cerca de 20 minutos do final da longa entrevista fez-se escuridão com uma simples palavra "gonçalvismo" Que pena.
JC