quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O DEBATE DE CLEVELAND

O ÚLTIMO DEBATE
A generalidade dos comentadores norte-americanos é de opinião que o debate de ontem à noite se saldou por um “match nul”, o que, por outras palavras, quer dizer que ele não serviu para inverter o movimento ascensional de Obama desde a super terça-feira (5 de Fevereiro), traduzido em 11 vitórias consecutivas. Mas serviu para esclarecer alguns pontos que nos últimos dias, em virtude da propaganda cruzada de ambos os candidatos, estavam ficando algo confusos para os eleitores.
Assim, Hillary Clinton confirmou solenemente a sua promessa de pôr em prática um programa de saúde universal. Serviu também para confirmar que ambos os candidatos se opõem à NAFTA (Tratado norte-americano de comércio livre, ligando EUA, Canadá e México), embora Hillary Clinton não tivesse conseguido demonstrar que tinha a mesma opinião à época em que o seu marido o assinou (17 de Dezembro de 1992).
Nas questões económicas, o único ponto relevante do debate foi a discussão da política de emprego. E aí, Obama foi cortante, quando disse que se a Senadora não tinha sido capaz de concretizar as promessas que fez na cidade onde vive, Buffalo (NY), como se pode acreditar que seja capaz de o fazer no pais.
Na política externa, que Hillary tem como um ponto forte da sua candidatura, ela continuou a insistir na sua grande experiência na matéria, no seu completo domínio dos “dossiers” internacionais, enfim, tentando criar um contraste com a alegada inexperiência do seu opositor, sem, porém, jamais ousar dizer que ele não estava preparado para o desempenho do papel a que se candidata. Vale a pena ouvir a resposta de Obama: “Hillary diz que está preparada desde o primeiro dia. Preparada desde o primeiro dia para ceder a George Bush. Ela facilitou-lhe o mandato e deu-lhe a possibilidade de fazer o que ele queria”.
Uma outra questão importante, que, embora não passe desapercebida aos europeus, em regra não lhes merece o mesmo tipo de atenção, é a questão das relações inter-étnicas, principalmente no quadro da luta anti-islâmica que nos últimos oito anos tem dominado a política norte-americana. E a questão pôs-se, tendo a polémica fotografia como pano de fundo, a propósito de a igreja que Obama frequenta ter recompensado com uma distinção o “ministro” Farrakhan, líder anti-semita e anti-branco do Movimento “ Nation of Islam”. Obama fez a sua habitual profissão de fé na superação das diferenças de raça, género, etc., disse que tinha muitos amigos e conselheiros judeus na sua candidatura, sem contudo rejeitar expressamente Farrakhan. Hillary aproveitou para recordar que, aquando das eleições senatoriais de 2000, recebeu apoios racistas que foram por ela expressamente rejeitados. Obama lá foi dizendo que não via diferença entre as duas posições, mas se a questão era de palavras, também ele rejeita e denuncia, sem mais precisões. Enfim, enquanto Zapatero, em Espanha, e Ségolène Royal, em França, têm de fazer acrobacias, para não fugirem do politicamente correcto, ante as investidas xenófobas e de laivos racistas de Rajoy e de Sarkozy, na América passa-se exactamente o contrário. Quem tem de se justificar é quem se insinua ou se julga insinuado num movimento excludente…

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