terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O PARLAMENTO EUROPEU E O EGIPTO



O ÓBVIO ACONTECEU

Por menor que seja a simpatia política pela Comissão Europeia e pelos seus membros individualmente considerados, não pode, a propósito da “crise egípcia”, deixar de olhar-se para algumas atitudes do Parlamento Europeu como manifestações do mais pérfido cinismo político.
O Parlamento e muitos dos comentadores que pululam por essa Europa fustigaram a pobre senhora Catherine Ashton por passividade na “crise egípcia”, por não ter tido um comportamento interveniente, por não ter marcado alto e bom som o sempre nobre ponto de vista europeu sobre tudo o que diga respeito a revoltas populares!
Estes deputados não têm a menor vergonha. Pois se toda a gente sabe que, para os assuntos realmente importantes, a União Europeia só existe como entidade intergovernamental, na prática como directório franco-alemão, mais na prática ainda como entidade dominada pela Alemanha, seguida pela França, com a abstenção ou o desinteresse da Inglaterra, o que poderia dizer em seu nome a dita senhora? Repetir o que disse Berlusconi? Parafrasear Amado? Prever o que iria dizer Merkel? Copiar Sarkozy na crise tunisina? Antecipar as banalidades da declaração conjunta dos Ministros dos Negócios Estrangeiros?
O Parlamento Europeu apenas está a deitar poeira nos olhos de quem o escuta. Realmente, o que o Parlamento Europeu queria que dita senhora fizesse era um número capaz de criar a ilusão de que a Europa quer uma coisa diferente daquela que verdadeiramente quer. E o que a Europa quer é que o Egipto continue mais ou menos na mesma, mas que haja lá dentro quem saiba fazer isto criando a ilusão da mudança.
Mas como pode uma pobre comissária, sem poderes e sem prestígio, aventurar-se a tal intervenção?

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