sexta-feira, 22 de março de 2013

O REGRESSO DE SÓCRATES

 



TUDO VAI ACONTECER MUITO DEPRESSA
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Escrever sobre o regresso de Sócrates em tempos de grave crise é uma tarefa difícil de levar a cabo com a consistência exigível, porque a velocidade com que tudo se vai passar nestes próximos dois meses, em que todos os dias haverá novidades políticas típicas dos tempos de crise, muito difíceis de prever, limita consideravelmente a tentativa de antecipação dos efeitos que esse regresso tinha ou tem em vista alcançar.  
 
Todavia, o pano de fundo do regresso de Sócrates era facilmente compreensível. Depois do rotundo fracasso do governo e da inexistência do PS como partido de oposição, Sócrates achou que tinha condições para regressar à ribalta política. Para fazer o quê, logo se veria, mas antes de mais para demonstrar pela compreensão que as pessoas iriam fazendo das suas intervenções que este PS que agora está em acção, seja com Seguro, seja com Assis ou com Costa, está a léguas do PS que os socialistas e de todos aqueles que votam ou já votaram socialista gostariam que fosse.
Ao fim de quase dois anos de oposição, Sócrates não tem dúvidas em concluir, como, de resto, qualquer pessoa minimamente atenta, que este PS é politicamente inexistente. E se não caiu na mais pura irrelevância terá sido pelas intervenções intermitentes de Soares, que, apesar de velho e doente, foi o único que conseguiu durante aquele período levantar o moral das tropas socialistas.
O que Sócrates talvez não contasse é que tudo se precipitasse tão rapidamente. Muito provavelmente, quando fizer o primeiro comentário já o Governo estará demissionário.
Então, o que vai acontecer? Pelo lado do PS (Seguro, Costa e Assis) é fácil perceber o que eles querem. Eles querem eleições para ganhar ao PSD, nem que seja só por 1% de diferença, para que o novo governo seja formado sob a sua égide. Ou seja, com Seguro como PM. Depois vão obviamente fazer uma aliança com o novo Presidente do PSD (tentando que no novo governo fiquem conhecidas personalidades anti-Passos, como Ferreira Leite, Silva Peneda e outros semelhantes) e também com Portas, ao qual não hesitarão em atribuir um protagonismo desproporcionado relativamente ao seu peso eleitoral, só para que não fique de fora (isto, apesar de António Costa, até hoje, ainda não ter percebido que Portas jamais largará o certo pelo incerto). Portanto, um governo do Bloco Central apendiculado pelo CDS, a que os banqueiros e os patrões chamarão de salvação nacional ou qualquer coisa do género, é o que o PS quer. E provavelmente vai consegui-lo.
A outra alternativa é o PSD/CDS não abrirem mão do governo, apesar da demissão de Passos, e incitarem o PR a designar um novo Primeiro Ministro que tentaria formar um governo com o apoio parlamentar existente e, se possível, com a participação do PS. Não é uma hipótese que à partida deva ser excluída se, por exemplo, a pessoa escolhida for Silva Peneda ou alguém muito semelhante. Assis, aqui há tempos, já disse que aceitava, embora Seguro na actual conjuntura – e com Sócrates no “interior” – não tenha condições para dar a sua aceitação a um governo tripartido desta natureza. A moção de censura, nado-morto, que o PS resolveu esta noite apresentar depois de ter sabido do chumbo do TC, aponta nesse sentido. A alternativa seria o PSD/CDS continuarem com outro Primeiro Ministro (e provavelmente outro Presidente do PSD) se Cavaco for nessa. Não indo, lá terá de haver eleições.
O mais grave, porém, é o que virá depois. Uma coisa é certa: O PS de Seguro, Assis e Costa não tem qualquer alternativa à actual política. Isto não é um chavão. Trata-se de uma análise muito rigorosa de tudo o que o PS fez e disse nestes últimos dois anos. O PS demorou quase dois anos a compreender a crise do euro (e não é seguro que todos os que no Partido têm relevância política a tenham compreendido plenamente); depois, tanto os que estavam perto de Seguro, como os que aparentemente estavam afastados, de diferente do Governo apenas disseram: “reabilitação urbana” (com fundos restritos) e “descida do Iva na restauração para 13%”como medidas destinadas a estimular a procura e assegurar a sobrevivência de algumas pequenas empresas.
Quanto à Europa, que é o que verdadeiramente interessa, disseram: mais firmeza e mais busca de apoio dos que estão na mesma situação que nós. Embora não se tenha percebido bem para que seria essa maior firmeza e essa tentativa de busca de apoio, é razoável supor, pelo que tem sido dito pelos responsáveis políticos, a começar por Seguro, que seria para obter mais tempo para alcançar as metas do défice e, provavelmente, para pagar o empréstimo da Troika. Depois do estado a que chegou a economia portuguesa, isto não passa de uma ilusão, já que a recessão continuaria enquanto se mantivesse a política de austeridade. Que é também, segundo o PS, uma política para ficar. Ou seja, a política seria exactamente a do actual governo, só que levaria mais tempo a consumar-se e o empobrecimento, em vez de alcançado abruptamente, levaria mais algum tempo a atingir o resultado desejável.
Se o resultado assim descrito já era mau, ainda ficará pior se essa tal maior firmeza na Europa não obtiver qualquer resultado nem congregar qualquer aliança. E sobre isso o PS nunca falou. Nunca falou, nem falará, porque não tem qualquer resposta para dar. Ou seja, é uma outra versão da “fada da confiança”…
Em conclusão: o regresso de Sócrates irrita solenemente o PSD/CDS, na medida em que torna o PS mais exigente, mas também não agrada nada a Seguro, Costa e Assis, que ficam claramente subalternizados...

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Depois de, a esta hora, dar uma olhadela à 1ª pág. do Expresso on-line (com a carta de Seguro aos intermediários dos credores)o seu post cresce de credibilidade... se não é isso, é algo muito parecido com isso (só para não dizer que é mesmo isso)

Anónimo disse...

gostei